segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Kátia Coelho‏



Kátia já trabalhou em mais de 30 curtas. É professora de Fotografia Cinematográfica na Universidade de São Paulo/ Dep. de Vídeo e Cinema.

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
O curta metragem, historicamente, fez parte da formação de diretores consagrados.No mundo todo, é o formato usado pelos cineastas para o aprendizado de novas técnicas e para a experimentação de novas linguagens.

Existem vários curtas metragens de grande importância na história do cinema brasileiro, entre eles, "O Pátio", dirigido por Glauber Rocha.Na década de 60 , surgiu "Cinco Vezes Favela", onde cinco filmes de curta duração formavam um longa metragem.Esses filmes foram dirigidos por cineastas bastante reconhecidos,entre eles, Cacá Diegues, Joaquim Pedro de Andrade e Leon Hirszman.A produção contemporânea também é muito interessante.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
O curta vem, gradativamente, conquistando maior espaço na mídia e, atualmente é prestigiado por uma parcela do público que até pouco tempo desconhecia o formato.

Existe uma produção extensa de curtas realizada no Brasil através das escolas de audiovisual e de concursos estaduais e federais. Talvez por não ser um formato comercial de exibição, o curta não é alvo de muita atenção por parte da mídia e da crítica.Mesmo assim,em muitos momentos,em mostras e festivais, por exemplo, a crítica oferece bastante destaque ao formato.O crítico já visualiza que o bom curta metragista de hoje é o longa metragista do amanhã, que realizará os futuros filmes de longa metragem do cinema brasileiro.

Como deveria ser a divulgação dos curtas para atrair mais público?
Alguns espaços de exibição de curtas já tradicionais como, por exemplo,o Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo organizado por Zita Carvalhosa,tem suas salas de exibição sempre lotadas.As exibições de curtas metragens patrocinadas pela Petrobrás no Espaço Unibanco, dentre outros cinemas, também são sucesso de público e crítica.Alguns outros espaços começam a oferecer o formato em exibiçoes mais esporádicas como o Cine Sesc e a Sala Cinemateca. O vídeo digital, sua facilidade de captação, boa qualidade, orçamento reduzido para realização e a veiculação democrática desses trabalhos através da internet também colabora para a popularização do formato.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Não sei bem te responder...Devem existir muitos cineastas que dirigiram curtas e não necessariamente desejam ou conseguem dirigir um longa metragem devido à dificuldade de realização do formato ou mesmo por outros motivos.Creio que, em princípio, o curta é um formato de experimentação do longa metragem, mas, também pode representar um desejo de expressão de pessoas que atuam em outras áreas do audiovisual como comerciais ou TV que desejam realizar trabalhos mais culturais.Acontece bastante.Um exemplo interessante desse tipo de produção foi um concurso de realização de curtas metragens de ficção, escritos por redatores de publicidade, promovido pela Brasileira Filmes, produtora de publicidade, cujos filmes produzidos fizeram muito sucesso e foram muito bem distribuídos no Brasil todo.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não creio...O curta metragem é um formato delicioso...Prova disso é que, vez ou outra, vemos cineastas consagrados voltando ao formato por puro prazer como, por exemplo, Jorge Furtado, que dirigiu um curta para a internet no ano passado.

Você é a primeira Diretora de Fotografia no Brasil a dirigir a fotografia de um longa-metragem. Como foi o convite?
Minha carreira começou com uma formação clássica.Fiz faculdade de cinema, comecei trabalhando como assistente de câmera em filmes de longa metragem.Fui a primeira mulher no Brasil a exercer essa função no cinema.Então,vejo com naturalidade ter me tornado também, a primeira diretora de fotografia no cinema brasileiro.O meu filme de estréia na fotografia de longa metragem foi "Tônica Dominante" dirigido por Lina Chamie. O filme teve uma repercussão muito boa na crítica, o que ajudou a me tornar conhecida e seguir em frente.O filme ganhou prêmios nacionais e internacionais, entre eles prêmios de fotografia.

Como avalia a fotografia nos curtas?
Acho delicioso fotografar curtas metragens porque o pouco tempo de duração possibilita experimentações na imagem, que muitas vezes no longa metragem não é possível fazer sem se tornar cansativo, excessivo para quem assiste .

Você já trabalhou em mais de vinte curtas. O que te faz aceitar um convite para participar destas produções?
Bem, já trabalhei em bem mais que 20 curtas...Aceitar ou não um convite depende de vários fatores:um bom roteiro, uma boa química com o diretor que realizará o projeto, a certeza de que tenho algo a dizer a mim mesma e ao outro quando contar aquela história...Também tento visualizar uma parceria que pode ocorrer em um filme de longa metragem futuramente...

Essa construção de uma parceria foi uma experiência que aconteceu comigo várias vezes.A maioria dos longas metragens que tenho em meu currículo começou com uma parceria com o diretor em seu curta metragem.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
De forma alguma, preciso compartilhar idéias, dúvidas e certezas com alguém...