quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Henrique Goldman

O cineasta é diretor do filme ‘Jean Charles’ (2009), longa-metragem baseado na história do brasileiro de mesmo nome, confundido com terrorista e morto pela polícia de Londres. Paulista de 1961, radicado em Londres, começou a carreira de cineasta escrevendo e dirigindo documentários. Seu primeiro trabalho foi ‘New York, Babel Paradise’ (1983), documentário que retratava os jovens nas ruas de Nova York.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Nunca dirigi um curta. Comecei minha carreira trabalhando na televisão. Como tinha que me sustentar, concentrei-me em trabalhos remunerados. 
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Não sei. Raramente assisto curtas metragens e não acompanho este mercado.
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público
Não tenho uma opinião formada sobre isso. 
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Acho que sim. 
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não considero que o curta metragem seja uma forma inferior. No cinema não e' a duração que vale num filme.
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Não tenho nenhum projeto de curta, mas não descarto a possibilidade.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

BISTURI - Rejane K. Arruda


Cássia Kiss no Contexto de Os Inquilinos: O que se pode aprender?

A atuação de Cássia Kiss em “Os Inquilinos” (Sergio Biancchi, 2011) pode ser considerada uma referência para a observação de algumas operações para quem trabalha com a Direção de Atores no cinema.

O filme parte de uma poética realista, retratando o contexto social de uma família de classe média que, inesperadamente, vê a casa vizinha hospedada por estranhos. Barulhentos, arruaceiros, inconvenientes e agressivos, aquela presença causa bem mais do que o incômodo e as noites de mau sono. Ela interfere na vida de Valter (Marat Descartes), colocando à prova a sua capacidade de proteger a família e preservar o lar da invasão indesejada.

O contexto do filme não se circunscreve a esta família. O principal personagem é um cotidiano invadido pela violência. São ônibus queimados nas ruas – em uma explícita alusão às ações do PCC em São Paulo – toques de recolher, assassinatos, estupros. Uma ameaça generalizada empresta ao filme a atmosfera da paranoia com alguns momentos de suspensão (afinal, eles podem não ser bandidos, mas moleques mal educados) – até a confirmação final, regada com a crueldade (a mutilação de um senhor), a frieza (a vizinha reafirma a posição de locatária da bandidagem) e a sedução: o visível prazer das crianças e das mulheres quando o caso “cai na boca do povo” espelha, no olhar de Valter, a constatação da impossibilidade de mudança.

Mas é a condição social do pai de família que mais empalidece, quando percebemos que nem a carteira assinada (que é seu direito) ele pode reivindicar sob a pena de perder o trabalho de carregador de caixas. Trabalho que lhe suga a energia de dia; a pouca que lhe resta, pois à noite Valter vai à escola. Escola onde vemos a professora interpretada por Cássia Kiss lendo poemas e pondo em questão a posição de seus alunos frente ao mundo ameaçador. Diferentes alunos transpassam os poemas com o seu olhar, vivência e, também, a rigidez de uma tomada de posição – que a professora questiona em uma visível tentativa de provocar a reflexão e o deslocamento do discurso “da guerra”. Para ela, a violência não é a do mundo externo, mas a do estar vivo. O sangue não é o da morte, mas aquele que corre nas veias e “quer mais”.

E é mesmo um descomunal excesso que se percebe no choque entre o mundo comportado da família de Valter e os três arruaceiros, com suas garotas adolescentes, bebidas, drogas, armas, barulho, brigas e xingamentos. Afinal, porque tanto medo do contágio se não pela simples constatação que aquele excesso seduz? Um excesso que vemos também no olhar do transeunte, que para, estupefato, diante dos quadris rebolantes das quatro garotas púberes (uma delas a filha de Valter). O que dá o contraponto, o que salva (pode-se dizer) a garota, é o amor de pai – sem ambiguidade alguma. Um amor que se pode dizer puro e guardião da integridade da família. E que sustenta a sua posição até o final, mesmo que para isto tenha que se tornar um cão (mijando nos cantos do jardim); ou ser apedrejado pelos garotos da rua (para, por fim, desconcertado, dar um basta à festa dos vizinhos).

Propondo um “zoom” na atuação de Cássia Kiss, percebo algumas operações que vale a pena sublinhar para um campo ainda hoje nebuloso, que é a Direção de Atores. Uma das operações que se percebe é a necessidade do ator sustentar o tempo. Quando se trata de atores não adaptados à poética fílmica ou mesmo a uma poética do set (o que se faz quando o diretor diz “ação”?), a questão é: ele corre com o texto. Cássia sustenta palavra por palavra, ação por ação, em um exercício maduro de manejo do tempo, do ritmo e da evocação de certa reflexão. Cássia produz pensamento a partir do encadeamento de ações bem sustentadas. Sustentadas não apenas pela sua relação com os alunos – visivelmente presente (por exemplo, no momento em que ela, bastante à vontade, apoia a palma da mão na cabeça de um deles). Cássia evoca a imagem da professora mítica que nos inicia na poiesis do querer saber, da maiêutica. Também nos remete ao amor implicado nesta relação; outro tipo de sedução, portanto. Mas, sobretudo, nos oferece, enquanto performance de atriz, a perspectiva da construção do material oculto que se supõe pensamento; e que sustenta o tempo das ações lidas nas entrelinhas (exigindo a nossa interpretação e movimentando o desejo).

E em se tratando de questões tão mobilizadoras de uma posição no mundo (que será reafirmada pela morte de um aluno), ela sustenta o estranhamento. A simples escansão de um tempo – quando no final de uma cena é preciso encarar a razão que os apaixona; quando eles se vão e ela fica; ou quando duas posições se chocam, sem se saber qual delas “tem razão”.

Rejane Kasting Arruda é atriz, diretora e pesquisadora no “Centro de Pesquisa em Experimentação Cênica do Ator” (USP); professora de Direção de Atores na “Academia Internacional de Cinema” e de Atuação na “Oficina de Atores Nilton Travesso”.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Laddy Francisco

Foto recente da atriz.
 
Lady, a primeira pergunta é inevitável: como era a sua vida antes de ingressar na carreira artista? O que fazia, quais eram as suas ambições?
Comecei garotinha, tipo nove anos, cantando num programa chamado ‘Gurilandia’ na Rádio Guarany de Belo Horizonte. Cantava uma musica chamada, ‘O Sorriso do Paulinho’, e uma poema ‘Os Lírios’, todo domingo as 9h da manhã estava na rádio.
 
E assim levei minha vidinha, no colégio participava das festinhas e sempre comandava as apresentações, cantando dançando, falando... sempre!! Em casa brincava de teatro no quintal com cortinas cadeiras e banquinhos, as empregadas e vizinhas vinham assistir, cantava com minha irmã Leylah duetos muito engraçadinhos, sempre quase toda tarde. Mais tarde com a vinda da TV Itacolomi do Dr. Chateaubriand em Belo Horizonte, estava eu com 13 anos mais ou menos ,tive um programa infanto-juvenil, ainda na fase experimental da TV, eu e o Dr. Juscelino Kubitschek neste canal fiz vários programas ,o de maior sucesso foi o teatro Lourdes, a Praça é Nossa com Chico Anísio e varias outras coisas. Paralelo, fui enfermeira, trabalhei nas Rádio Minas e Rádio Inconfidência onde também fui diretora artística e tive vários programas lideres de audiência, fui aeromoça e eleita miss aerovias e muitas outras miss!!
 
Em que circustância virou atriz?
Depois de fazer de tudo nas Minas Gerais, em teatro e televisão, quis alçar novos voos e em 72 no fim do ano vim pro Rio de Janeiro , com as duas mãos atrás, comer o tal pão que o diabo amassou, mas venci.
 
Como decidiu criar o nome artistico ‘Lady Francisco’?
Na minha casa ´Leylah, Lyedem e eu que no cartório escreveram como Leyde, mas desde do jardim se escreve e sempre usei Lady. O Francisco é do meu pai plebeu, pois os restos do nome são da mãezinha Brazonado. Já tentei mudar no numerólogo, mas achei bobo, e voltei, naquele que já está no cosmos a tempos.
 
Seu primeiro trabalho na televisão foi em 'Jerônimo, o Herói do Sertão'. Quais as suas recordações deste trabalho?
Antes de Jerônimo fiz muita coisa na Itacolomi, muito teatro, seriado e trabalhei no palco muitas peças, muito recital de poesias, além e declamadora sou também poeta. De Jerônimo só tenho doces recordações, elenco de primeira, uma família, uma cumplicidade, um tudo. Tenho muitas saudades deste inicio aqui no Rio, desta querida novela.
 
Por que só depois de três anos você voltou a fazer televisão, em ‘Cuca Legal’? o que lembra deste trabalho?
Desculpa, acho que foi minha entrada na TV Globo, estou em duvidas, sei que foi um sucesso pois até a Escola Império Serrano, a minha escola, me homenageou, criou uma Ala chamada Cuca Legal.
 
De 1975 a 1984 você engrana praticamente uma novela na outra. Pecado Capital (1975), O Feijão e o Sonho (1976), Escrava Isaura (1976), Locomotivas (1977), O Pulo do Gato (1978), Pecado Rasgado (1978), Marron Glacê (1979), Baila Comigo (1981), Louco Amor (1983) e Transas e Caretas (1984). Quais os motivos que te levaram a ter uma sequencia quase frenética de trabalhos?
Trabalhei muito de 75-84 acredito era e sou boa profissional, nunca dei trabalho, respeitava todos e estava sempre pronta, texto decorado, uma perfeita mineira, e depois gente, não havia este mutirão de artistas, eram poucos, agora é artista pra da no pau. Só que atrizes e atores são poucos.
 
Em 1990, depois de um hiato de quase seis anos, você volta a fazer telenovelas ‘Barriga de Aluguel’. Parte da crítica considera que este seja o seu maior trabalho na TV. O que tem a falar?
Confesso que sou uma atriz sem padrinhos, e tanta coisa que passa na TV que sei que faria igual ou melhor, nunca tive grandes chances de um puta papel que me marcasse, mas o que me dão eu consigo aparecer e somar. Barriga não era pra mim, não sei o motivo que a outra desistiu, mas eu adorei!!!! Ate orei pra colega, amei ser aquela mulher forte, guerreira e dava sempre conselhos, broncas etc. Amei gravar com minha querida Claudia Abreu, a Dani Peres, que me queria muito, vinha sempre aqui em casa, e assistindo agora no Canal Viva descobri que sou uma atriz interessante e que a televisão não me deu o que eu merecia e mereço: oportunidades.
 
Logo em seguida você trabalhou em ‘As Noivas de Copacabana’, ‘Explode Coração’, entre outras produções na Globo, onde manteve um vinculo profissional por anos. Gostaria que comentasse a respeito desta relação.
Minha relação era sempre de amor á TV Globo, era funcionária ganhava uma merreca, mas ter meu cantinho era mais importante que um puta salário. Tanto que quando a Globo colocou a Sra....e a tal senhora me mandou embora, sem justa causa, quase morri, me senti órfã,’ tive uma grande úlcera que me maltratou ate eu dizer basta, ai sarei e ela coitada ficou doente, oro por ela.
 
Ai fui pra TV Record fazer um novela, contrato por obra, ‘Marcas da Paixão’, era no interior da Bahia em Jungo, uma experiência única, era um lugar sem conforto muita aranha, cobra corredeira ,mas vivi uma super amizade com os porquinhos e cabras de lá, íamos pro local de ônibus eles me esperavam, era uma festa, roubava comida para eles do hotel isto é pedia aos colegas que enchessem bastante nos pratos pra eu tirar. Confesso que chorei muito quando a novela terminou e eu me despedi deles, amo muito qualquer animal.
 

 
Após esses anos todos na Globo você foi contratada pela TV Record. Como foi trabalhar lá?
A minha participação com a Record foi só externa nunca tive contato maior nos estúdios, com diretores e autores, portanto o que eu vivi fora foi ótimo, tive maravilhosos colegas, direção ótima, foi uma boa experiência.
 
A TV Record tem a ambição de produzir telenovelas e miniséries com o mesmo pradão de qualidade e excêlencia da TV Globo. Pelo que viu ali, acha possível conseguir esse objetivo?
Eles têm tentado, mas acredito que falta muito para ter a qualidade da TV Globo a melhor do mundo em telenovelas e seriados, mas eles chegarão lá, o jornalismo é muito bom na TV Record. Em 2004 fiz um lindo trabalho em ‘Almas Gêmeas’, Dona Generosa, depois fiz um mini participação em ‘Duas Caras’ e ai fiquei de molho outra vez (6 anos) é duro amigo, mas ...
 
Seu mais recente trabalho na TV Globo foi na novela ‘Cheias de Charme’, onde viveu uma vidente contratada por Chayene (Claudia Abreu). Em algumas entrevistas li que você se emocionou com o retorno e confessou: 'Na hora do 'gravando', esqueci quem eu era, esqueci tudo'. Como foi isso?
Agora apareceu a vidente, uma pequena participação que me mostrou como sou amada e querida do público, me senti como estivesse estrelando a novela tantas foram as manifestações, recados, meu face “bombou”, e adorei!!! Fazer Kastrup. Agradeço a quem se lembrou de mim. Beijos para Miguel e Isabel autores.
 
Nessa novela você contracenou com a atriz Claudia Abreu, com quem viveu momentos marcantes profissionalmente e como amigas. Considera a atriz a maior expoente da tevê neste momento?
Na hora que Denise falou gravando a emoção me cegou, não sabia quem era, “emoções, coisas de atriz,” somos assim mesmo, meu reencontro com Cacau foi maravilhoso, há 20 separadas, fomos muito cumplices em Barriga ,ela é uma atriz generosa, linda e cada vez melhor como atriz. Foram duas grandes emoções abraçar Claudia e entrar no estúdio, que delicia!!!
 
Em 2011 você ficou com depressão pela falta de oportunidade de trabalho. Hoje, depois deste período, consegue entender por que ficou sem trabalhar? Quais as razões de terem escasseados os convites?
Não sei por que trabalho pouco será a idade? Mas se tem papeis pra mais velhos!! Não sei meu amor, tenho muita vergonha de pedir aos autores e diretores, às vezes falo numa entrevista, como agora e só sei que o que vier será sempre um presente, sei que tenho meu público e que nunca os decepcionarei. É tive depressão e estou segurando pra não ter recaída, pois ainda estou sem contrato... fazer teatro preciso também, de tudo alias... tudo, convite, etc.
 
Grande parte do seu trabalho é voltada para a comédia, que muitos consideram o gênero mais difícil de se trabalhar.  Mas ao que parece, é a sua preferência. É isso mesmo?
Não tenho preferência, só que adoro fazer meu povo rir, digo que sou uma palhacinha de Deus, mas sei fazer drama também e muito bem, tenho vários prêmios, desta forma. Não desanimo ainda vai ter um autor que vai me dar uma vilã, o sonho de toda atriz, amei Yara de ‘Barriga’ e Gisela de ‘Louco Amor’ que me fez viver um tempo na Europa representado naquele lindos palcos.
 
Você posou nua. Como foi esse trabalho?
Não posei no Playboy, fiz outras revistas como ‘Status’, ‘Elle’, ‘Sexy’, etc. tudo mais sensual. Gostei quando me convidaram pra Playboy achei que já estava madura demais fui boba, mas passou.
 
Assistindo a reprise de ‘Barriga de Aluguel’ que foi veiculada há mais de vinte anos e te vendo hoje em ‘Cheias de Charme’, parece que você não mudou nada. Você é vaidosa?
É verdade muitas pessoas dizem o mesmo ,mas mudei sim, acho que as pernas, o cabelo, o meu eterno sorriso são os mesmo, mas a bunda já não e´ a mesma (risos). Na sou muito vaidosa, acho até que sou ainda meio caipira, as vezes perua, lavo cabelo as vezes com sabão de coco, vou três vezes por ano retocar o cabelo, pois pinto da mesma cor que era deste mocinha. Não faço unha, pois não gosto que peguem em minhas mãos, sinto gastura. Agora uma coisa sou vaidosa, com a minha saúde, de 6 em 6 meses, vou ao dentista, acredita que tenho ainda 3 sisos, o quarto perdi este mês, ginecologista de 6 em 6 mês e toda a rotina de exames; não bebo, não fumo,(fumei quando jovem de piteira era chique), não tomo drogas, nem calmantes, nem antidepressivo, Adoro o meu Facebook, sou fácil de fazer amizade, sou protetora de animais, há mais de 55 anos, não tomo refrigerantes, nem como carne, levanto ás 6 da manha e bebo meio litro de agua com ameixas, agora querido, coloco logo batom vermelho antes de tudo e uma gotas de perfume Paris, coloco uma roupinha qualquer e vou tratar dos animais e passear com eles .
 

Ser considerada um símbolo sexual “abalou” sua trajetória artística? Como trabalhava a sua sensualidade?
Achava o máximo ser símbolo sexual, me envaidecia quando passava em obras e os peões paravam e mexiam comigo, mas só isso, vaidade mesmo de fêmea. Na verdade nunca fui provocativa, tinha uma sensualidade paralela a minha vida
 
Você trabalhou em filmes como  Sexo Selvagem dos Filhos da Noite’, ‘O Verdadeiro Amante Sexual’, ‘ Anjos do Sexo’, ‘Viúvas Precisam de Consolo’. Esses títulos nunca correspondiam ao seu conteúdo. Como você via isso?
É verdade trabalhei num montão de filmes que nada tinham a ver comigo, mas na verdade eu via estes filmes como uma experiência interessante, se fazia cinema por amor mesmo ,não tinham quase dinheiro, quase nada ganhávamos, mas curtíamos muito e olha... tinha é publico,! Podes crer,!. Já viu a lista de atores destes filmes? Top de linha, como se diz agora, tenho o maior orgulho de ter trabalhado nesta época!!
 
Sua vida está prestes a ser transformada em um documentário para o cinema, que levará o mesmo nome que seu livro, "Nunca fui Santa". Normalmente essas homenagens ocorrem quando uma determinada pessoa falece. Como recebeu esse convite?
Pois é de repente vendo um curta que fiz em Gramado “A Casa Errada”, com o diretor Maciel Brum, na produtora de Carlos de Andrade, o Carlão, da Vison Digital, e conversa vai e vem, fui contando “causos” da minha vida e o Carlão adorou, riu muito sugeriu o documentário, fiquei super feliz mas achei meio perigoso em se tratando de uma única personagem mas estão estudando uma forma criativa para o publico. Sim , simplesmente adorei a ideia; ainda mais estando viva, forte e consciente. Os dois decidiram contar minha historia, e sei que tenho publico para ir assistir, só que sem que um soubesse de outro, tive mais 4 convites pra mesma coisa: documentário. No momento estou na espera, mas parece ser do diretor Maciel, estou com tesão é claro. Chamará ‘Nunca Fui Santa’ ,o nome do meu livro que lancei final de 2004
 
Você fez filmes no cinema na época da Chanchada e Pornochanchada. Gostaria que falasse sobre o seu trabalho como atriz nesses dois períodos do cinema.
Pornochanchada ou Chanchada, tudo meio puro, só um seio podia aparecer, nada de explicito demais, tudo de leve, eram estórias que pareciam historias, era na verdade bom demais, nada de monopólio, como hoje, para alguns protegidos, todos trabalhavam, todos éramos felizes, estou contando e sentindo uma vontade louca de viver aqueles momentos.
 
Uma das maiores polêmicas da sua carreira foi no filme "Os Foragidos da Violência", de Luís Miranda, você estava decidida a recorrer à Justiça para que o filme não fosse exibido, afirmando que foi enganada nas cenas de lesbianismo. Pode contar sobre isso? A cena com Cátia Carneiro, é isso?
A única coisa falha foi ‘Os Foragidos da Violência’, teve uma cena surpresa de lesbianismo. Fiquei meio puta, mas fiz como profissional e a Cátia, lembro bem, uma dama de educada. Saiu linda a cena. Entrei sim na justiça, não por isso imagina!, Entrei, pois o diretor não me pagou uma merreca se quer, nunca fui atriz de reclamar de cachê, pois sempre adorei ajudar participando, pois quase sempre os idealistas tinham bolsos vazios mas este não, tinha cobertura,, mas entrei para ter o mínimo de dignidade como atriz.
 
Ai contratei na época considerado bom advogado, fazia um programa e TV, o Dr. Roberto Jéferson, o do mensalão! Tinha certeza que receberia o que me deviam, mas... para resolver era ótimo na época, ai ele entrou na política, ganhou e me abandonou, e ficou pro isso mesmo.
 
Vamos finalizar?
Vou te contar duas “coisitas” da atriz Lady. Eu fui a ultima atriz que fez teatro de revista no Rio, ou melhor, no Brasil no Teatro Carlos Gomes na pça. Tiradentes, era sucesso todos os dias, super lotado, texto inteligente, lindas coreografias, muita critica política, cada cenário de dar água na boca
 
Fiz ‘De Topless a coisa Cresce’ e “Tem Coisa na Abertura’, amei fazer, adorava tenho muitas saudades, foram as ultimas nesta época, Acabou o Teatro de Revista, quem viu, viu, que não viu nunca mais vera era único.
 
Pra terminar mais uma colher de chá: trabalhei com Beto Carreiro no circo, no globo da morte, era tipo 8 entradas por dia. Outra experiência deslumbrante, aliás já notou que gosto de tudo que faço e sempre com amor, com dinheiro sem dinheiro. Com conforto ou não amo minha profissão, que é minha missão.


sábado, 26 de janeiro de 2013

R.F.Lucchetti: Memória Cinematográfica

Não sabemos a origem desta entrevista que R.F.Lucchetti concedeu, não encontrei nenhum registro, supõe-se que tenha sido publicada na saudosa ‘Interview’.
De qualquer modo, segue a íntegra:
 Quem é R.F.Lucchetti?
Na verdade sou uma pessoa comum, bem comum. Gosto de passar despercebido e raramente falo o meu trabalho, a não ser com pessoas que professam o mesmo gosto que eu. Mas isso é tão raro... Detesto morar muito tempo num mesmo lugar para não tornar-me uma pessoa familiar na vizinhança. É por esse motivo que saio muito pouco. Meu mundo resume-se nas quatro paredes do meu gabinete. Ali tenho o Universo ao alcance de minhas mãos.
Como é o seu método de trabalho?
Eu não tenho uma fórmula ou um método de trabalho. Escrever tornou-se uma obrigação, não por inspiração, mas por opção, por não saber fazer outra coisa. E para que o trabalho possa fluir é necessário que eu seja pressionado por prazos de entrega. Sobre o motivo de eu ter atuado nas mais variadas frentes, foi porque tudo aconteceu a um só tempo. Em 1967 eu gravitava em torno de pequenas editoras. Para eles escrevia roteiros de histórias em quadrinhos e fotonovelas; contos e livros. Estes dos mais variados gêneros, escritos como ghost-writer. Foi também nesse ano que a televisão e o cinema entraram na minha vida.
Como nasceu seu gosto pelo horror?
O gosto pelos temas de horror, só posso dizer que ele é inato. Nasceu comigo. Desde que me recordo só achava interesse pelo maravilhoso, principalmente pelos contos de Edgar Allan Poe, Arthur Conan Doyle e Robert Louis Stevenson. Eles impressionavam-me de tal forma que meus primeiros textos foram calcados em temas desses autores.
Como foi trabalhar com Mojica e Ivan Cardoso?
José Mojica Marins e Ivan Cardoso são dois diretores únicos, donos de uma filmografia sem paralelo no nosso cinema. Eu tive a sorte de trabalhar com ambos e assim poder concretizar tudo quanto aspirava poder realizar no cinema. E isso só me foi possível por meio de alguém com a personalidade de um Mojica ou de um Cardoso. É como achar, não uma, mas duas agulhas no palheiro. Com Mojica foi o terror explicito, social; com o Ivan, o horror, o suspense, a sátira. Orgulho-me de ser parte integrante dessa filmografia diferenciada, cultuada por alguns e detestada por outros. Sempre me dei melhor com a minoria.
E o vampiro nos seus escritos?
Desde os meus primeiros escritos, ocupei-me do tema vampiro. Mas sem ter onde publicá-los permaneceram inéditos. Foi somente nos anos sessenta que consegui publicá-los. Alguns adaptados para as histórias em quadrinhos e outros nas coleções de terror dos pockets-books da Editora Bruguera que depois passou a chamar Cedibra.
O vampiro te fascina?
De todos os personagens que povoam o folclore terrorifico o vampiro é sem dúvida alguma o mais sedutor de todos. Ele está intimamente ligado à sensualidade. Há nele um halo de fascínio irresistível, arrebatador. Isso deve-se muito ao cinema que raramente mostra-o como um ser horripilante e amedrontador. Para seduzir suas vítimas ele apresenta-se como um encantador cavalheiro ou uma mulher de beleza irresistível e muitas vezes etérea. Pode-se dizer que o vampiro  é o mais belo de todos os monstros criados pelo ideário popular.
Tanto na literatura quanto no cinema, o personagem vampiro mais interessante para mim, continua sendo o conde Drácula. E na sua versão feminina, Carmilla – esta somente na literatura, porque até hoje não vi nenhuma versão cinematográfica que lhe fizesse jus. Quanto aos quadrinhos, os italianos Jorge Scudellari e Nico Rosso, foram os responsáveis por uma série memorável tendo Drácula como protagonista. Memorável quanto aos desenhos, talvez o melhor que se fez até hoje, mas comprometida no que se refere aos argumentos. Eles refletiam o pouco caso com que eram concebidos. Também merecem citação especial as nossas duas vampiras: Mirza e Naiara. A primeira uma criação de Eugênio Colonnese (dois anos antes da norte-americana Vampirella) e a segunda, criada graficamente por Edmundo Rodrigues, teve vários desenhistas. Mas foi na pena de Nico Rosso que ela encontrou sua melhor fase. Também faço restrições a seus argumentos (incluindo a Vampirella). Seus argumentos estão muito aquém de suas concepções artísticas. Para mim o quadrinho é uma arte que se completa com a perfeita integração: texto-desenho.
E a sua paixão pelas revistas pulps?
Foi ainda muito cedo, quando fui descobrindo outros notáveis expoentes do fantástico e do horror como: Sherin Le Fanu, E.T.A. Hoffmann, H.P. Lovecraft, Henry James, Guy de Maupassant, H.G. Wells, W.W.Jacobs, Theóphile Gautier, Ambrose Bierce e o pouco conhecido, mas extraordinário M.R.James. cada um deles contribuiu com uma parcela para a minha formação literária. E só para que você tenha uma ideia, todos eles frequentavam as páginas das revistas pulps!
Temos horror a tudo que foge ao normal?
É isso mesmo. Temos horror a tudo quanto foge ao normal. Mas também pode-se dar ao contrário: uma coisa estranha, por muito estranha que seja se ela perdura acaba tornando-se uma coisa normal. Quando o homem não encontra satisfação nas coisas de seu dia-a-dia, busca no irreal o “algo mais” que lhe permita fugir da vida sem aventura. E o homem estará pronto a precipitar-se em qualquer caminho que o leve ao imponderável.  O medo desconhecido é uma volta ao terrores ancestrais da espécie humana. Nossos antepassados eram perseguidos pelo desconhecido; o imprevisível parecia precipitar-se sobre eles e pertencer a esfera sobre as quais não tinham nenhum poder.
Como é a sua relação com os críticos?
Eu não levo muito a sério o que os críticos dizem. Respeito a opinião de cada um, seja de crítico ou não. Mas esse negócio de rotular o que é literatura e o que é subliteratura já há muito está superado. Não sei como ainda tem alguém se preocupando com isso. Acho que devemos ver as coisas por um outro prisma, o do bom senso: analisando o texto que se nos apresenta se está bem escrito ou mal escrito. É isso. O resto é puro preconceito.
Qual é o seu livro predileto?
Por um fator muito especial, meu livro predileto é ‘O Fantasma de Tio William’. Não sei precisar com exatidão o ano, se seria 1937 ou 1938. Minha família residia na Lapa, à rua Tito, próximo da Companhia Melhoramentos que conhecíamos como ‘Weiszflog’. De um lado da rua ficava a gráfica, um grande edifício e do outro, o depósito. Recordo-me bem, ele estava num imenso terreno baldio, por isso podíamos vê-lo por inteiro. Era um galpão feio, com muitas janelas envidraçadas e coberto com zinco que reluziam ao sol. Uma tarde, minha mãe, minha irmã Célia e eu andávamos pela calçada e quando chegamos diante do portão da gráfica, ele se abriu e um funcionário saiu empurrando um carrinho de quatro rodas repleto de livros. Atravessou a calçada à nossa frente, a caminho do depósito. Olhei para o interior do portão aberto e vi uma larga alameda calçada com paralelepípedos com a acesso à inúmeras dependências da gráfica. E me recordo do pensamento que me ocorreu naquele exato momento: “Um dia vou ter um livro publicado pela ‘Weiszflog’.”. O porque desse meu pensamento não sei. Mas, estranhamente em 1983, ou seja, 41 anos depois, ele se convertia numa realidade. Nesse ano a Companhia Melhoramentos publicou meu livro. Para mim é mistério. O que levou-me a ter o pensamento que “um dia eu teria um livro publicado pela ‘Weiszflog’.”? O mistério ainda é maior porque eu não fiz absolutamente nada para que meu desejo de menino se tornasse uma realidade, certamente eu jamais iria me recordar que um dia eu tivera esse pensamento... tão absurdo!
Tem muitas ideias na gaveta? Quais os seus próximos projetos?
As gavetas de minha escrivaninha e as prateleiras das estantes do meu escritório estão cheias de originais. No momento estou empenhado em reescrever alguns antigos textos e também terminei recentemente o scrit de um reality show intitulado “A Mansão dos 13 Condenados” e um game para TV: “O Jogo das Palavras”, só que não sei o que fazer com eles.
Há pouco espaço para escritores iniciantes?
Compreendo bem essa queixa. Falta mesmo espaço para aqueles que estão iniciando e queira publicar o seu livro. As editoras não arriscam num nome desconhecido, ou melhor, raramente arriscam. No passado tínhamos um grande número de revistas que abrangiam todos os gêneros, possibilitando aos que estavam iniciando, um veículo onde poderiam publicar suas produções, tornando-o conhecido nacionalmente. Era o primeiro passo para se chegar ao livro. Hoje, infelizmente, não vejo onde o novel autor possa exercitar. Existem os fanzines. Mas o fanzine é uma ação entre amigos. Ele gravita num universo muito restrito. Quanto a internet também não é a solução. Então, que posso eu dizer? Existe o fator sorte, como nos conta o ator Jack Black que dez o produtor apaixonado e obcecado, Carl Denham, no filme de Peter Jackson, ‘King Kong’. Ele conta que: “Ser escolhido para trabalhar neste filme foi como um sonho para mim, porque eu sou um grande fã do trabalho de Peter Jackson e de toda sua equipe e eu me recordo de falar para mim mesmo, enquanto assistia ‘O Senhor dos Anéis’, que eu precisava conseguir um teste com ele qualquer que fosse seu próximo trabalho. E eu ficava imaginando que ele faria depois da trilogia, mas logo descartei a ideia de trabalhar com ele. Foi então que recebi o telefonema para conversarmos sobre ‘King Kong’ e esse foi um daqueles telefonemas que algumas pessoas aguardam a vida toda para receber e eu o recebi”. Portanto, o jeito é batalhar e acreditar no sonho. “Siga seu coração que o sonho é a chave de tudo”.
Rubens Francisco Lucchetti (As Sete Vampiras) – Roteiro
1 – Qual foi a base do roteiro desse filme?
‘As Sete Vampiras’ nasceu como balé em 1971. O José Mojica Marins pretendia abrir uma boate do terror, em São Paulo, nos moldes do grand-guignol. Tinha até o local: confluências das avenidas Paulista e Angélica. Seria uma caverna, com estalactites pendendo de um teto desigual, decorada com teias de aranha, aranhas e morcegos; iluminada por archotes presos às paredes. Mesas e cadeiras imitando ossos humanos, alguns carunchados. As bebidas teriam coloração avermelhada e servidas em crâneos por sedutoras garçonetes vestidas à caráter, como vampiras (jovens muito brancas de plástica impecável e de longos cabelos negros caindo-lhes por sobre os ombros nus). A bilheteria no saguão da “caverna”, seria um buraco aberto na parede e a bilheteria, igualmente uma vampira. O ingresso recebido à porta por um “Drácula” que, ao invés de rasga-lo, jogaria-o no interior de um fogareiro. Cheguei a escrever todo o roteiro do que seria o primeiro espetáculo. Além do balé “As Sete Vampiras”, um humorista cadaverizado, andaria pela plateia e contaria piadas de humor negro, algumas até encenadas. Um dos esquetes que ainda me recordo referia-se a um grupo de alienados que assumiriam o controle do manicômio. Uma das funcionárias do manicômio, grávida de uns oito meses, seria amarrada à uma cadeira e um dos loucos, armado com uma longa espada, tranpassaria-lhe o ventre, e então, ouviria-se o grito do feto. Também haveria teatro. A primeira peça a ser encenada a adaptação de “O Coração Revelador”, de Edgar Allan Poe. Contávamos com uma excelente aparelhagem de som e o sonoplasta, um amigo meu que já havia colaborado com o Centro Experimental de Cinema de Ribeirão Preto. Tinha tudo para dar certo e ser um sucesso. Até hoje o Mojica não me disse porque o projeto não evoluiu.
Quanto terminamos ‘O Segredo da Múmia’, o Ivan Cardoso  queria uma ideia para o nosso próximo filme. Falei-lhe de ‘As Sete Vampiras’. Ele gostou do título e aprovou-o na hora. Como se tratava de um balé, tive de imaginar toda uma trama e a escrevi como se estivesse escrevendo uma novela para as revistas nas quais colaborei: ‘Policial em Revista’ e ‘X-9’, mas com os olhos voltados para as produções de Hollywood, dos anos de 1950.
2 – Quais foram as dificuldades encontradas?
A principal dificuldade para a realização de ‘As Sete Vampiras’ foi a falta de recursos financeiros. O Ivan trabalhou com uma verba exígua e isso impossibilitou-o de filmar o meu roteiro da forma como o escrevi. Por isso o filme está meio ininteligível. Também culpo a montagem.
3 – Além de escrever roteiros para filmes de terror, você também já trabalhou com roteiros de histórias em quadrinhos. Houve preocupação da sua parte em saber como utilizar a linguagem dos quadrinhos neste filme?
Tenho mais de trezentas histórias em quadrinhos que tiveram por base roteiros meus e desenhados pelos principais desenhistas brasileiros ou aqui radicados. Não, não houve nenhuma preocupação em utilizar a linguagem dos quadrinhos nesse filme. Mas devido eu ter lidado durante muitos anos com essa arte, ela está incorporada naquilo que escrevo. E, como antes dos quadrinhos trabalhei em rádio, escrevendo seriados, e ainda, simultaneamente escrevia contos e novelas para revistas pulps, acabei por assimilar suas linguagens que são correlatas porque todas trabalham com a imagem e hoje não seu mais desassociar uma das outras. Minha cabeça está repleta de imagens – quadrinhos é imagem, rádio é a imagem transformada em som e nas pulps o que prevaleciam eram boas histórias que possibilitassem a criação de boas cenas (imagens).
4 – De que forma a sua experiência com gibis de terror foi útil na produção do roteiro?
Nem tanto os gibis de terror, mas os quadrinhos em si. Como eu disse na resposta anterior, querendo ou não a gente acaba  por agregar ao trabalho que executamos o nosso universo e o meu universo foram os seriados de cinema e os de rádio, as histórias em quadrinhos (mais os jornalzinhos: ‘O Globo Juvenil’, ‘Suplemento Juvenil’ e ‘A Gazetinha’ e os comic books: ‘Mirim’ e ‘Gibi’, ambos tri-semanais que publicavam as histórias que saíam em tiras de jornais. Nunca gostei dos gibis mensais que publicavam histórias completas, geralmente de super-heróis. E eu não gosto de super-heróis).
5 – Nesse filme, há várias cenas em que o personagem ‘Raimundo Marlou’, o detetive particular, está lendo gibis de aventura policial (“X-9”, “Detective” e “Sherlock Homes”). Estes gibis serviram de inspiração para a criação deste personagem? Como surgiu essa ideia?
‘X-9’, ‘Detective’ e ‘Policial em Revista’ que Raimundo Marlou está lendo são revistas pulps que foram muito populares nos anos 40, 50 e 60, e a ‘Sherlock Holmes’ é uma revista de histórias em quadrinhos. Sempre procurei nos meus roteiros fazer referências e homenagens a tudo quanto me influenciou e que formam o meu universo.
O personagem Raimundo Marlou é uma homenagem a Raymond Chandler, um dos expoentes máximo da moderna literatura policial, criador do detetive Phillip Marlow. Chandler começou sua carreira de escritor na Black Mask, que era a principal revisa pulp de detetive & mistério dos Estados Unidos e Sherlock Holmes, o primeiro detetive consultivo do mundo.
Mas além dessas homenagens, faço outras mais, como o ‘Fantasma da Ópera’, de Gaston Leroux e ao filme ‘Sangue de Pantera’, autêntica obra-prima produzida por aquele que considero um dos maiores produtores que o cinema já teve: Val Lewton. Ele produziu (com orçamento reduzido, utilizando sobras de cenários de outros filmes), 11 filmes para a RKO no início dos anos 40, nove deles, compõe, como disse sabiamente o crítico Carlos Fonseca: “a mais extraordinária coleção de horror da história do cinema”. Cada vez me convenço mais de que ele é o Edgar Allan Poe do Cinema, pois foi quem melhor soube retratar o medo nas telas cinematográficas. Em ‘As Sete Vampiras’ homenageio Val Lewton, em particular no filme ‘Sangue de Pantera’, dirigido por Jacques Tourner, na sequência da piscina que o Ivan soube recompor de forma admirável.
6 – Como você enxerga a relação entre cinema e quadrinhos no Brasil?
Sinceramente, o que eu tenho visto são filmes usando personagens de quadrinhos. Talvez o filme que tenha se aproximado mais da linguagem dos quadrinhos foi ‘Cidade Oculta’, de Chico Botelho. O Chico Botelho conseguiu recriar toda a atmosfera sufocante de ‘The Spirit’, de Will Eisner. E isso, não acontece unicamente com o nosso cinema. Acontece também com o cinema dos outros países.
Mas, se até hoje o cinema não teve uma fiel transposição da linguagem dos quadrinhos, o mesmo não se pode dizer da televisão. Nela, vamos encontrar um exemplo notável: o ‘Chaves’. Nessa série, temos cenários, situações e personagens típicos dos quadrinhos.
7 – Tendo em vista sua experiência no roteiro deste filme, como você enxerga o potencial do cinema para adaptar a linguagem dos quadrinhos em geral?
As duas artes nasceram praticamente juntas. O que ambas têm em comum é que contam uma história por meio de imagens em movimento (no quadrinho este é sugerida). Só nisso é que se igualam. Nos quadrinhos os cortes espaço e tempo são muito mais bruscos do que no cinema. O leitor vai ter que criar em sua mente as ações que estão faltando entre um quadro e outro. Mas como o cinema é uma arte que congrega todas as demais artes, ele pode ser valer também dos quadrinhos.
8 – Me parece que depois de ‘As Sete Vampiras’, era para ter sido feito ‘Naiara, a Filha de Drácula’. Isso está correto?
É isso mesmo. Você não pode imaginar o meu entusiasmo quando o Ivan me ligou dizendo que estava pensando em fazer outro filme de vampiro, mais precisamente ‘Naiara, a Filha de Drácula’ (Naiara é uma personagem brasileira das histórias em quadrinhos dos anos de 1960, desenhada pelo Nico Rosso), e pediu-me para que fosse ao Rio, queria mostrar-me dois castelos, um na estrada Rio-Petrópolis e outro em Itaipava. Eu já tinha a história mais ou menos pronta quando encontrei-me com ele. Na verdade , foi toda imaginada durante a viagem de Ribeirão Preto ao Rio, feita de ônibus.
Trata-se de uma jovem brasileira, filha de uma cigana de origem romena que havia sido engravidada pelo Drácula. Os pais fugiram para o Brasil, onde a criança nasceu e fora deixada na porta de um orfanato com uma fortuna em ouro. A criança tornou-se uma linda jovem de fina educação, mas com uma fixação pelo Drácula, e chegava a sonhar com ele. Na verdade Drácula comunicava-se telepaticamente com ela. Por ocasião do seu casamento, ela recebeu do marido, como presente de viagem de núpcias, uma viagem ao castelo de Drácula. Coincidentemente, uma agência de turismo estava organizando uma excursão à Transilvânia...
9 – E você iria necessitar de um castelo...
Exatamente. Primeiramente viajamos à Itaipava. Porém, logo descartei o castelo. Era de estilo francês, muito bonito e não infundiria o mínimo terror (era até romântico). Na volta ao Rio, entramos numa estrada secundária a fim de ver o segundo. A estrada era toda assinalada por árvores com galhos desfolhados e estava iluminada por um sol de inverno.
De repente nos deparamos com o castelo, um edifício majestoso e espectral, todo cinza; e uma neblina começava a descer sobre a paisagem, parecendo querer saudar-me com uma visão escocesa. Em pouco tempo, todo o castelo estava envolvido por ela, (era como se a neblina quisesse abraça-lo), e suas torres, em poucos segundos tornaram-se totalmente invisíveis. O próprio edifício, uma massa fantástica fora tomado pela neblina convulsiva. Era um espetáculo encantador para mim que, pela primeira vez, estava diante de um castelo; mas certamente infundiria pavor numa pessoa influenciável. Foi uma viagem fantástica e inesquecível. Mas infelizmente o filme não chegou a ser feito, embora o roteiro se encontre pronto desde 1988; em seu lugar, o Ivan fez ‘O Escorpião Escarlate’.
Rubens Francisco Lucchetti (O Escorpião Escarlate) – Roteiro
10 – Como surgiu a ideia do filme?
Em três meses escrevi o roteiro de ‘Naiara, a Filha de Drácula’. Mas quando foi feita a análise técnica do roteiro, constatou-se que a verba que o Ivan dispunha não dava para produzi-lo. Fiquei, então, de sugerir ao Ivan um novo projeto. Me lembrei de ‘O Escorpião Escarlate’, um seriado radiofônico que eu escrevi em 1956. Falei sobre ele com o Ivan. O Ivan gostou do título e do argumento.
11 – Qual foi a base do roteiro para este filme?
A base para a feitura do roteiro foi todo ele inspirado no ‘Escorpião Escarlate’. A única diferença é que, ao invés do detetive Reginaldo Varela, personagem do seriado de rádio, eu o substitui por um personagem misterioso que age nas sombras, o Morcego.
12 – Quais foram as dificuldades encontradas?
A principal dificuldade foi a falta de recursos financeiros. O Ivan sempre trabalhou com orçamentos reduzidos e cada uma de suas produções  levava em média dois anos ou mais para ser concluída. Isso em cinema é uma loucura! Mas uma loucura que era sempre recompensada com o reconhecimento da crítica e do público.
13 – As histórias dos personagens “Anjo” e “Escorpião Escarlate” foram criadas originalmente por Álvaro Aguiar para uma novela radiofônica e posteriormente foram adaptadas os gibis pelo quadrinista Flávio Colin. Eles participaram/colaboraram para a realização do filme?
Na primeira versão do roteiro do filme ‘O Escorpião Escarlate’, como eu disse, havia um personagem misterioso, o Morcego, alter ego de o Sombra que infelizmente o Ivan Cardoso não o aceitou e impingiu-me o Anjo, um herói sem nenhuma empatia – com o agravante de estar cercado por muitos homens – frustrando-me totalmente, uma vez que eu fiquei privado de homenagear o maior herói das pulps – e que originou todos os demais heróis – dos quadrinhos, dos seriados de rádio e do cinema, do século passado. Era minha intensão, com o ‘Escorpião Escarlate’, homenagear todos os vilões mascarados do cinema – cuja identidade só era conhecida no final do último capítulo. E com o Morcego, homenagear todos os heróis mascarados. Tive brigas homéricas com o Ivan, tentando impor meu ponto-de-vista. Mas o Ivan foi renitente e quis por quis, o Anjo. Então, era isso ou nada.
“As Aventuras do Anjo” foi um popular seriado radiofônico apresentado pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro, entre 1948 e 1967. Criado por Péricles Leal, o Anjo alcançou maior sucesso ao ser escrito e dirigido – ainda em 1948 – por Álvaro Aguiar que desde o inicio da série foi também seu autor principal. Aguiar faria no filme o papel de ensaiador dos radiatores, se a morte não o houvesse surpreendido em 1988, aos 69 anos, meses antes do inicio das filmagens.
O Anjo teve uma revista de histórias em quadrinhos escrita pelo próprio Álvaro Aguiar e teve três desenhistas: Juarez Odilon, Walmir Amaral, mas quem mais a desenhou foi o Flávio Collin.
14 – Na realização do filme, houve alguma preocupação em utilizar a linguagem e o formato das radionovelas e das histórias em quadrinhos?
No meu roteiro procurei evidenciar a linguagem radiofônico na visualização de como se produzia uma radionovela que, infelizmente, o Ivan não teve condições de retratar no filme da forma como a concebi.
15 – Na sua opinião, existe alguma relação entre as radionovelas e os gibis? Se sim, isso de alguma forma contribuiu para a produção do filme?
Se formos analisar, eu acho que até existe. Nos quadrinhos temos os “balões” com os diálogos e o cenário desenhado; na radionovela temos o diálogo e o cenário sugerido pelo som, produzido pelo sonoplasta e pelo contrarregra.
 No meu roteiro procurei mostrar através da metalinguagem, a história sob os vários pontos-de-vista: o do autor, o das personagens e dos rádio ouvintes. O rádio tinha a seu favor aquilo que se apregoava como desvantagem: a falta da imagem. O som desenvolve nossa imaginação. Por intermédio do som, cada pessoa cria uma imagem de acordo com sua capacidade intelectual. O rádio era a extensão da imaginação. Foi isso que eu quis mostrar no meu roteiro.
16 – Qual foi a reação do autor ao saber que sua obra seria adaptada para o cinema?
O Álvaro Aguiar teve a satisfação de saber que seu personagem estaria num filme. Fui testemunha disso, quando, juntamente com o Ivan fizemos-lhe uma visita. O Álvaro morava numa casa modesta, no bairro de São Cristóvão. Infelizmente, ele não chegou a vê-lo. Os últimos anos de vida do Álvaro Aguiar foram melancólicos: atuava nos programas humorísticos da TV Globo.