sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Letícia Coura

 
Atriz, cantora e compositora. Desde 2001 integra a ‘Companhia Teatro Oficina Uzyna Uzona’. Também participou de espetáculos do grupo ‘Os Satyros’.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
O projeto, o diretor, o roteiro, o papel. e gosto de um desafio, e experimentar linguagens é um dos bons.
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acho que os jornais em geral estão dando cada vez menos espaço pra arte, pra discussões interessantes, com conteúdo, verticais, e críticas que realmente acrescentem alguma coisa, ou tenham realmente algo a dizer. Em compensação, temos um crescimento imenso de mídias alternativas, como esse seu blog por exemplo. Quem procura acha a informação que quer, e agora cabe aos artistas explorar esse meio infinito que é a internet.
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Eu me lembro que quando era criança e ia ao cinema, quase sempre via um curta antes do filme principal. E mesmo depois, não faz tanto tempo assim. Não sei porque isso parou de acontecer. Já fui a alguns festivais de curtas-metragens, mas não gosto de ver muitos filmes de uma vez. Se o filme é bom, você gosta de ver e ficar com aquela energia, aquela sensação que o filme te provocou. Se vemos vários em seguida, é informação demais, acaba ficando difícil aprofundar. Adoraria que voltasse a prática da exibição de curtas nos cine mas antes dos longas. E se for um curta longo (...), tipo com duração de uma hora, poderíamos inventar uma forma nova, tipo passa o curta longo, dá um pequeno intervalo no cinema, toma-se um café, e volta-se para assistir o longa. Porque também sair de casa pra ir ao cinema pra assistir um filme de curta duração, talvez seja um hábito difícil de instaurar nas pessoas.
 
Ou, melhor ainda, mais inventivo, criar formas de exibição ao ar livre, horários alternativos e mais baratos para os curtas nos cinemas, construir salas de cinema nos locais de trabalho, escolas, final do horário do almoço, e exibe-se um curta, sessões em paredões brancos dos prédios na madrugada, é só colocar a imaginação pra funcionar.
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Imagino que sejam linguagens diferentes. É difícil um longa poético o tempo todo. São poucos os cineastas que conseguem, ou querem isso. Os longas caem mais na prosa, na contação de histórias, e se a história é boa, ótimo. Mas os filmes poesia, criadores de linguagem, experimentadores, talvez esses a gente encontre mais nos curtas. O curta pode ser uma experimentação para um longa, mas eu prefiro os curtas que são experimentações em si.
 
E talvez a vontade de todo cineasta de fazer um longa tenha a ver com a forma já estruturada de exibição. Se houvesse uma para os curtas, provavelmente os cineastas explorariam mais essa linguagem, ou mesmo não cineastas.
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não tenho como responder isso. Não sou cineasta, mas como espectadora posso dizer que não tenho nada contra curtas, só que realmente é difícil conseguir assistir, eles não têm uma rede de distribuição e exibição organizada como os longas. E acho sem graça ver um filme no vídeo, ou no computador, só faço isso quando não tenho como assistir no cinema. Então acabo não vendo muitos curtas.
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Não. Adoro cinema, mas nunca pensei em dirigir um filme, nem curta nem longa. Não é a minha linguagem. Talvez trabalhar em algum roteiro, diálogos, fazer a trilha.