domingo, 27 de julho de 2014

Natalia Vooren

 
Atriz. Atuou em ‘NuConcreto’, espetáculo inspirado em conceitos da obra do geógrafo Milton Santos.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Um bom roteiro, com uma equipe bacana, e compatibilidade de datas... 
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acho que, como no teatro, tem muitos curtas ruins, muita gente que acha que fazer cinema é fácil, e isso acaba desacreditando um pouco a linguagem. E, de um modo geral, são projetos com pouca, ou nenhuma grana, feito na sua maioria por atores e diretores iniciantes, e a crítica e a mídia tem o foco muito guiado por interesses não necessariamente artísticos.   
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Gosto quando são exibidos antes dos longas-metragens, no cinema, já vi curtas muito bons em mostras de cinema, acho que talvez pudesse passar na TV do ônibus, ou do metrô, mas acho que só funcionaria com curtas de um minuto, ou algo assim. No sul, aos sábados, eram exibidos em TV aberta curtas gaúchos. Eu achava isso bem legal. 
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Acho que fazer curtas é uma grande escola, e aprimora muito o poder de síntese. Pra mim o curta é pro cinema o que o conto é pra literatura. Há quem considere escrever contos uma arte menor, mas escritores se consagraram com suas histórias curtas, e existem contos simplesmente inesquecíveis. Eu particularmente gosto muito. São histórias que ficam por completo na sua mente, e cada detalhe comunica algo. Acho que é importante saber o momento de parar, deixar um gosto de quero mais no leitor, ou expectador. A arte de criar bem está atrelada à arte do desapego, deve-se criar muito mais do que é visto, pra ficar no final só com o cerne, o que realmente importa, marca, comunica. Na sociedade em que vivemos as pessoas tem cada vez menos tempo para ficar fazendo uma coisa só, logo, histórias curtas podem ser um bom meio de comunicação e de propagação da arte.  
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não vejo muitos cineastas se dedicando a esse formato de maneira contínua e com propriedade. Penso que dedicar-se a uma linguagem é o único modo de aprimora-la, e gostar do que faz é o primeiro passo para que as outras pessoas gostem e para o negócio realmente de certo. Vivemos numa sociedade com muitos conceitos prontos do que é certo, do que é bom, ou aceitável, e é difícil romper isso. Pesa a escolha de fazer o que gosta, o que dá prazer, o que as outras pessoas não fazem, o que não dá muito dinheiro. 
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Num futuro próximo não, por enquanto prefiro atuar. Mas acredito que o meu maior dom se revele na função de diretora. E, justamente por isso, é tão importante ser dirigida, e conhecer de perto o funcionamento de todas as engrenagens que precisam funcionar pro trabalho dar certo.