quarta-feira, 28 de junho de 2017
sábado, 10 de junho de 2017
quinta-feira, 1 de junho de 2017
Os Trapalhões: a série
João Bourbonnais
atuou no histórico "Atrapalhando a Suate", filme de 1983, quando da
cisão do grupo. João é o quinto convidado da série, que é uma parceria da TV
Cidade com a Editora Laços. Confiram: https://www.youtube.com/watch?v=Px65rqQV_7E
Os Trapalhões: Carlos Koppa
CARLOS
KOPPA
Ator
Como
surgiu o convite para trabalhar com Os
Trapalhões?
Foi
o diretor, ele que me chamou. Fiz um bandido mascarado, metade era uma máscara
e metade era a minha cara. A Angélica tinha quatorze anos. Ele, o diretor, me
conhecia da televisão.
Antes
de iniciar essa parceria profissional com Os Trapalhões, você
já acompanhava os seus filmes?
Não
assistia aos filmes deles, sou muito diferente da turma. Não sou ator, sou um profissional,
profissional digno. Sou obediente, não dou palpites. Faço o que o diretor pede.
Mas não acompanho nada, esse filme eu não vi até hoje.
Quais
as suas principais recordações dos bastidores desse filme?
Eu
estava fazendo uma peça, a peça em si terminava todo mundo nu. Oh! Calcutá! era o nome
da peça. Foi no tempo do Hair,
no tempo em que todos ficavam nus. Fiz
mais cenas noturnas desse filme, Os Heróis
Trapalhões, porque saía do teatro e ia filmar. Nos bastidores, eu fiquei
muito revoltado: o Didi não deixava ninguém entrar
no trailer dele, nem Dedé, Mussum e Zacarias. Didi tem um rancor muito grande, tinha que ser chamado por alguém
para sair do trailer. Ninguém tinha acesso
direto a ele. Os três falavam mal dele, “o cara
quer tudo pra ele”. Nos shows,
60% eram dele; o restante era dos três. Eu tive, se não me engano, uma única cena com ele, no final; e, assim
mesmo, nós nem nos cumprimentamos.
Onde
esse filme foi realizado?
Foi
realizado no Parque do Povo, no Rio de Janeiro. Teve um acidente. Fazia parte
das filmagens o grupo Dominó, um deles caiu e quebrou o braço. Caiu de boca,
foi muito feio.
Renato
Aragão, Dedé, Mussum e Zacarias tinham como característica a irreverência. Até
nos bastidores das filmagens, eles brincavam muito. Isso procede? As filmagens
eram descontraídas?
Era
uma brincadeira, não tenha dúvida. Eles faziam muita piada, o humor de Renato
era o de comandante das coisas. No setor de trabalho, ele era muito simpático; e
ali os quatro se relacionavam bem.
Como
era o seu contato com o quarteto (Didi, Dedé, Mussum e Zacarias)?
Com
o Renato, eu não tive nenhuma possibilidade de relacionamento. Eu achei que ele
fosse mais gentil, mais humilde.
Que
representava, naquele período, trabalhar num filme dos Trapalhões, que eram
certeza de sucesso de bilheteria?
Foi
mais uma coisa que fiz, que está gravado no meu currículo. Os filmes deles são
vistos até hoje. Todo mundo falava do filme, quando eu saia às ruas. O filme dava
prestígio para o Renato, só pra ele.
Quem
era o maior comediante do grupo?
O
importante é o seguinte: cada um fazia uma coisa, tinha uma coisa para fazer; e
faziam bem. Eles se transformaram em um grupo muito fértil de ideias.
Renato
Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Ele
é realmente o chefe, quem comanda. Se não deu confiança para os outros três Trapalhões, quanto
mais para nós...
Gostaria
que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha
presenciado como testemunha ocular.
Eu
estava no camarim. Estava um calor danado, no nosso camarim, que era meu e dos
três (Zacarias, Mussum e Dedé); mas, no momento só estava eu, estudando. Liguei
o ar condicionado bem forte. Ficou gostoso lá dentro. Nessa hora, chegou a mãe
da Angélica, que era uma lavadeira, faxineira da Volkswagen. Ela não respeitava
ninguém. Entrou no camarim e desligou o ar condicionado, sem mais nem menos.
Falei: “Porra que é isso?”
Ela replicou: “É que minha filha
vai entrar aqui...”
Tomei uma atitude que não tomo. Ela falou grosso, e eu disse: “Vai pra porra!!!” Tinha
muito carinho pela Angélica, mas a mãe dela ficou famosa pelas loucuras e
grossuras que fazia nos bastidores do filme.
Os Trapalhões: Carlos Azambuja
CARLOS
AZAMBUJA
Assistente de fotografia
Como
e em que circunstância surgiu a oportunidade de trabalhar com Os Trapalhões?
Como
profissional de cinema, à época eu estava no mercado e fui contatado pelos
produtores da CineFilmes, que iriam alugar o equipamento (a segunda câmera) para
o filme e me chamaram para acompanhar o equipamento, assistindo e
supervisionando o seu uso.
Antes
de iniciar essa parceria profissional com Os Trapalhões, você
já acompanhava os seus filmes?
Pouco,
pois eram voltados para o público infantil.
Seu
único filme com o quarteto é O
Cangaceiro Trapalhão. Nessa produção, você
trabalhou como assistente de fotografia. É verdade que você foi convidado para
trabalhar nessa produção só porque sabia operar a câmera Arri BL III?
Não
exatamente. Participei porque já era um assistente de fotografia bem
conceituado no mercado e tinha a confiança dos proprietários do equipamento em questão.
E também porque não havia qualquer objeção ao meu nome por parte do resto da
equipe de câmera, com quem até já havia trabalhado harmoniosamente em ocasiões
anteriores.
Quais
as suas maiores recordações desse filme?
Várias...
Das locações fantásticas às mais diversas experiências de vida e de trabalho.
O Cangaceiro Trapalhão se
aproveitou do fato de, no ano anterior, a minissérie da TV Globo Lampião e Maria Bonita ter
feito sucesso. O filme repete os mesmos protagonistas e parte da equipe
técnica. Que achou dessa fórmula? Não aparenta uma certa preguiça para ousar e
fazer uma releitura?
Não
creio que seja “preguiça”,
mas talvez um resquício da velha e boa paródia que o cinema brasileiro sempre
fez em cima de diversos sucessos.
Esse
filme é dirigido por Daniel Filho. Como foi trabalhar com ele?
É um
diretor competente que sabia o que queria e tinha boa técnica.
E,
com Os Trapalhões,
como foi a convivência?
Tranquila
e cordial. No trato pessoal, eram até um pouco tímidos, na deles.
Por
que você só trabalhou nesse filme com eles?
Calhou
de ser assim. Profissionais de cinema são autônomos que a todo momento
estão trabalhando com equipes diversas e
em diferentes produções.
Renato
Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Não
sei dizer o quão perfeccionista ele foi ali. No entanto, acompanhava tudo com
interesse e dedicação.
Em
seu currículo no cinema, consta inúmeros longas-metragens. Gostaria que falasse
o que representou na sua trajetória esse trabalho com Os Trapalhões.
Foi
talvez a mais cara produção de que participei (fora os filmes publicitários), o
longa-metragem que dispôs de mais recursos.
Quem
era o maior comediante dos Trapalhões?
O
Didi, sem dúvida!
Por
que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e
estrelados pelos Trapalhões?
Não
sei se “rejeitam”;
mas talvez não tenham mesmo muito interesse, já que são produções comerciais
voltadas para o público infantil.
Como
classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Um
cinema comercial de boa qualidade, voltado para um público específico: as
crianças.
Hoje
você é professor adjunto da Escola de Belas-Artes da UFRJ, coordenador do
Núcleo da Imagem em Movimento, NIM/EBA/UFRJ, Membro permanente do Programa de
Pós-Graduação em Artes Visuais (CAPES 6) - PPGAV/EBA/UFRJ. Em sala de aula, há
curiosidade dos alunos a respeito dos Trapalhões?
Não,
quase nenhuma. Não me lembro de terem sido citados em qualquer ocasião. Até
porque o curso não é de Cinema, mas de Arte, o que orienta o foco das discussões
em outras direções.
Que
Os Trapalhões têm
a ensinar para os estudantes?
De
um modo geral, creio que eles confirmam que é possível fazer cinema nacional rentável
quando é voltado para o público infantil. O mesmo acontecia com a Xuxa, naquela
época.
Os Trapalhões: Carla Daniel
CARLA
DANIEL
Atriz
Como
surgiu o convite para trabalhar com Os
Trapalhões?
Na
época, eu estava fazendo uma novela e dei uma entrevista à Revista da TV, que me
perguntou o que eu sentia falta de fazer. Então, eu disse que queria fazer um
filme que fosse para o público infantil, que seria um presente poder trabalhar para
eles. E quem virou criança fui eu, quando recebi o convite.
Antes
de iniciar essa parceria profissional com Os Trapalhões, você
já acompanhava os seus filmes?
Sempre
tive um enorme carinho e admiração por eles. E lógico que, vendo seus programas
de tevê, não tem como não ser cativado. Sou dessa geração que viu os “Trapa” e a garotada.
Em
Os Fantasmas Trapalhões,
você é dirigida por J. B. Tanko, o cineasta que mais dirigiu Os Trapalhões. Como
foi ser dirigida por ele?
Esse
é um dos meus maiores orgulhos e acertos: ser dirigida pelo mestre J. B. Tanko,
a história do cinema. Aproveitei cada momento da sua presença. Quando não
estava representando, ficava sempre ao seu lado, prestando atenção em tudo, como
dirigia, posicionava a câmera. Ele sabia tudo. Era um cavalheiro, sério; porém,
doce, competentíssimo. Nesse filme estive com pessoas especiais, muito queridas.
E, olhando para trás, vendo na tela, foram tempos maravilhosos, aproveitando cada
momento. Deixaram saudade. Afinal, era muita risada!
Recorda-se
onde foi filmada essa produção?
Filmamos
em um estúdio que tinha na Avenida das Américas. Acredito que onde foi a
Tycoon. Posso estar enganada, mas era exatamente naquela área. Filmamos também
no castelo que tem na entrada de Petrópolis.
Você
não acha que Os Fantasmas Trapalhões era
muito soturno para um filme feito para as crianças?
Eu
fui na estreia do filme com o filho de uma amiga que era um xodó comigo. Ele assistiu
ao filme no meu colo. Em alguns momentos, ele ficou assustado; mas ele era bem
novinho. Já as outras crianças que estavam no cinema, ficavam eufóricas, riam,
assustavam-se, interagiam, riam de novo. Acho interessante a possibilidade do cinema
brincar com as nossas emoções. Começa aí o nosso pequeno espectador!
Nesse
filme você teve a oportunidade de atuar ao lado de Wilson Grey, um dos atores mais
icônicos da nossa filmografia. Que tem a falar a respeito dele?
Trabalhei
com ele várias vezes. Afinal, qual filme nacional de toda uma época que o
Wilson Grey não participou? Maravilhoso! Merece milhões de homenagens! Só sei
que não tem uma pessoa que, quando diz o seu nome, não fale com respeito,
admiração e carinho.
Outro
nome importante na história dos Trapalhões
é Dino Santana, irmão de Dedé Santana.
Como foi trabalhar com ele?
Convivi
muito pouco com ele. Tive muito mais contato com Dedé Santana. Esse, sim,
trabalhou muito com meu pai, quando os dois começaram.
Quais
as suas principais recordações dos bastidores de filmagens desse filme?
Na
minha cabeça vêm imagens... Mussum me apresentando um pote de pitangas. Foi a
primeira vez que comi essa fruta. Como o Mussum gostava de pitangas... O Dedé
me contando suas histórias da época de circo; conversas de espiritismo com
Zacarias, que era muito espiritualizado. Sr.Tanko, atrás de mim, dizendo para
mim: “Ruth (Ruth
era o nome do meu personagem) decotee!!!!”
(como eu tinha emagrecido bastante na época, o personagem tinha que ter seios
fartos e rebolar bastante; então, ele falava isso, e eu começava a rebolar!);
José Alvarenga Júnior, nosso outro diretor, sempre atencioso; e o Renato,
sempre tímido, quando não estava filmando, mas, se começasse uma prosa, ele
ia!
Que
representava, naquele período, trabalhar num filme dos Trapalhões, que eram
certeza de sucesso de bilheteria?
Quando
o filme estreou é que tive maior noção, porque, até então, eu só imaginava. Engraçado
que as crianças viam mais de uma vez...
Os Trapalhões: Caíque Martins Ferreira
CAÍQUE
MARTINS
FERREIRA
Assistente de produção e diretor de produção
Você
começou a trabalhar com Os
Trapalhões no filme que muitos consideram o maior
clássico do quarteto, Os
Saltimbancos Trapalhões. Como surgiu
a oportunidade de trabalhar com eles?
Eu
estava cursando Jornalismo na PUC-RIO e tinha como colega de curso o filho do
Renato, Paulo Aragão. Sabendo da minha vontade de conhecer produção de cinema,
fui convidado por ele a participar da produção do filme.
Sua
função era de assistente de produção. Quais eram as suas funções nessa área?
Como
eu não tinha nenhuma experiência na área, minhas funções eram relacionadas a “ajudar a produzir”, como se
fosse um estágio. Na época, não havia cursos de Cinema; e apenas a prática do
fazer era a escola. Fiz de tudo um pouco e aprendi tudo o que sei a partir da
experiência com eles. Como a R. A. Produções era a produtora, tive oportunidade
de conhecer todas as áreas e fases ligadas à produção de cinema, participando
da pré-produção, filmagens, edição e pós-produção de uma obra cinematográfica.
Que
você fazia antes de trabalhar com Os
Trapalhões?
Cursava
Jornalismo na PUC e havia trabalhado como fotógrafo freelance para uma
publicação semestral ligada ao IBRAPSI (Instituto Brasileiro de Psicologia).
Quais
são as suas principais recordações de trabalho em Os Saltimbancos Trapalhões?
A
maior talvez tenha sido ver de perto como se faz um filme, tudo o que envolve
essa atividade e o enorme trabalho de toda a equipe envolvida. Além disso, ter
participado da gravação e mixagem da trilha sonora do filme foi uma experiência
incrível.
Você
trabalhou diretamente com o Ivan Lins? Chico Buarque chegou a visitar o set de filmagem
para acompanhar também?
Não
que eu me lembre.
Nesse
filme você teve a oportunidade de trabalhar com o cineasta J. B. Tanko, que, apesar
de ter dirigido outros filmes de outros gêneros, ficou marcado mesmo como o
cineasta dos Trapalhões.
Fale a respeito do J. B. Tanko.
Um
diretor muito comprometido com o projeto e conhecedor do público para o qual os
filmes eram feitos. Sabia tomar decisões criativas, levando o público-alvo em
consideração e mantinha uma relação muito próxima aos atores e produção.
Por
que, na sua opinião, J. B. Tanko se deu tão bem com Os Trapalhões?
Tanko
era uma pessoa muito ética e correta, além de conhecer profundamente o grupo.
Acho que esses fatores criaram uma relação de amizade e respeito; e, na minha
opinião, o resultado do bom trabalho dele ajudou a criar um relação duradoura
com o grupo.
No
ano seguinte vocês começam a filmar Os
Vagabundos Trapalhões, que é uma história
mais árida, social. Como foi esse trabalho? Recorda-se onde foi filmado?
As
locações foram todas na Cidade do Rio de Janeiro, salvo engano.
Gostaria
que falasse daquela caverna onde Os
Trapalhões moravam. Como foi o processo de
construção daquele cenário?
A
caverna era uma locação na Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro. Não foi montada
em cenário.
Refiro-me
internamente, dentro da caverna. Todas as crianças ficaram com vontade de morar
lá.
O
cenário do interior da caverna, como eu disse. foi criado numa locação na
Floresta da Tijuca e não houve nenhum problema de adaptação do elenco em filmar
lá.
Outro
nome muito caro à história dos Trapalhões
é o ator Carlos Kurt. Ele atua nesse
filme. Fale a respeito dele.
Meu
contato pessoal com Carlos Kurt e, de maneira geral, com o resto do elenco se
dava apenas no set de
filmagem. Carlos era uma pessoa amável e sem “frescuras”,
era também comprometido com o trabalho. Um excelente profissional.
No
mesmo ano vocês lançaram Os
Trapalhões na Serra Pelada. Em termos
de logística, de produção, esse foi o filme mais difícil pra você?
Serra Pelada demandou,
sim, uma logística bastante complexa. Como na época eu ainda era assistente de
produção, não fui para Serra Pelada. Apenas uma equipe reduzida se deslocou
para lá, junto com Os Trapalhões,
para filmar os planos gerais que determinaram o que seria necessário em termos
de construção de cenário para a continuidade das sequências filmadas na região.
Os Trapalhões eram
muito populares à época. Como foi conter o assédio dos garimpeiros, durante as
filmagens?
Não
estava lá, mas imagino a loucura !
Tem
também, no final do filme, uma menção às Forças Armadas. Era uma permuta, em
razão da cessão para as filmagens no Sítio do Capim Melado, no Rio de Janeiro,
cedidas pelo Exército?
Esses
acordos não eram feitos por mim. Não sei responder.
Os Trapalhões na Serra Pelada é,
até hoje, um dos maiores sucessos de bilheteria do cinema nacional. Trabalhar
com Os Trapalhões
era sucesso garantido?
Os Trapalhões eram
campeões de bilheteria; mas, como tudo na vida, o sucesso nunca era garantido.
Na minha opinião, a qualidade dos filmes e o comprometimento do produto com o
público-alvo era o que garantia o sucesso.
Em
Os Trapalhões na Serra Pelada,
você trabalhou com dois saudosos ícones do cinema nacional: Wilson Grey e
Eduardo Conde. Fale deles.
Minha
relação com o elenco era basicamente durante as filmagens. Eram atores profissionais
e comprometidos com o trabalho.
Em
1993, realizaram O Cangaceiro
Trapalhão, inspirado na história do cangaceiro Virgulino
Ferreira da Silva, também conhecido como Lampião, o Rei do Cangaço. Como foi
trabalhar nessa produção?
Esse
filme talvez tenha sido a maior produção dos Trapalhões,
no que diz respeito a locações, cenas de ação e efeitos especiais. O trabalho
do diretor de arte, Mário Monteiro, foi muito meticuloso e técnico também. A
criação da “casa da bruxa”
(tanto interior como exterior) e a carroça dos Trapalhões ilustram
parte desse trabalho, tanto sob o ponto de vista técnico como de criação.
Lembra
onde a produção foi filmada?
Parte
no interior do Ceará, numa pequena cidade chamada Juatama, próxima a Quixadá, onde
a equipe ficou baseada. Parte no Rio de Janeiro e parte em Itaboraí.
Quais
as dores e as delícias de se trabalhar em locações sem estrutura para filmagem?
O
maior desafio é criar condições para equipe/elenco em locações sem estrutura. É
preciso um maior tempo de preparação, para que essa infraestrutura possa ser instalada.
O prazer de tornar isso possível é exatamente o de se vencer desafios.
O Cangaceiro Trapalhão se
aproveitou do fato de, no ano anterior, a minissérie Lampião e Maria Bonita,
da TV Globo, ter feito sucesso?
Acredito
que sim, mas não acho que foi determinante.
Foi
coincidência ou falta de criatividade o fato de, nesse filme, terem usado os mesmos
protagonistas da minissérie (Tânia Alves e Nelson Xavier), além dos roteiristas
Doc Comparato e Aguinaldo Silva?
Não
chamaria de falta de criatividade... de jeito nenhum. Acredito que a escolha se
deveu ao talento de cada um, principalmente porque a série da tevê não tinha o
caráter cômico do filme.
Esse
filme foi dirigido por Daniel Filho. Como foi trabalhar com ele?
Daniel
é um diretor muito talentoso, competente e criativo. Exigente com sua equipe e
atores e que sempre buscou as melhores parcerias em todas as áreas. O trato
pessoal foi bem tranquilo, nas situações mais difíceis. E, através de seu prestígio
como diretor, trouxe para o filme uma equipe excelente de técnicos e atores.
Por
que J. B. Tanko não prosseguiu com Os
Trapalhões?
Não
sei dizer; e, na verdade, nos próximos anos ele voltou a dirigir os filmes do
grupo.
Em
O Cangaceiro Trapalhão,
vocês contam com um time repleto de estrelas. Além dos já citados Tânia Alves e
Nelson Xavier, o filme conta também com Regina Duarte, Tarcísio Meira, Bruna
Lombardi, José Dumont e Cininha de Paula. Como é trabalhar em uma produção com
tanta estrela?
Talvez
tenha sido a maior produção do grupo. Locações remotas, efeitos especiais e
elenco estrelar exigiram uma produção muito bem planejada e eficiente. Nenhum
dos atores teve um comportamento de “estrela”,
com exigências absurdas. Existe uma grande diferença, na minha opinião, entre
atores “estrelas”
e “profissionais”.
Nosso elenco se comportou o tempo todo de maneira profissional, independentemente
do fato de serem grandes “estrelas”.
Em
alguma filmagem dos Trapalhões,
você se deparou com atores “estrelas”?
Se sim, como lidou com a situação?
Nunca
tive problemas com “estrelismos”.
Renato
Aragão era sempre o dono do filme. Que tipo de suporte ele dava para vocês
lidarem com essas “estrelas”?
Acredito
que a personalidade do Renato ajudava a criar um ambiente tranquilo
com toda a equipe. Ele, dono do filme e
a maior estrela do grupo, se adequava às
condições de produção de forma profissional; e isso dava a todos o tom do
projeto. Não havia exigências fora do
normal. Respeito, condições de trabalho dignas
tanto para o elenco como equipe eram exigidas; mas sem nenhum tipo
de regalias absurdas para ninguém.
A
presença dessas “estrelas”
foi um pedido do Daniel Filho?
Qualquer
escolha de elenco é uma escolha do diretor e produtores. A partir do roteiro,
atores são sugeridos em função dos personagens e da trama. Sem dúvida, o
Daniel, enquanto diretor, teve uma participação muito importante nessas
escolhas; mas, colocá-las como “exigência”,
vai além do que realmente aconteceu. As escolhas e convites foram feitas em
função do roteiro e da qualidade que se buscava para o filme em todos os
sentidos.
Muita
“estrela”
em um filme significa mais dor de cabeça?
Absolutamente,
não. Respeito e condições dignas são as coisas fundamentais para um
relacionamento profissional com qualquer tipo de pessoa.
1983
foi o ano que marcou a ruptura dos Trapalhões.
De um lado ficou Renato Aragão, que filmou O Trapalhão na Arca de Noé;
e de outro, na DeMuZa, ficaram Dedé, Mussum e Zacarias, que filmaram Atrapalhando a Suate.
E você? De que lado ficou?
Continuei
trabalhando na Renato Aragão Produções.
Foi
uma escolha difícil? O fato de ficar de um lado poderia lhe render algum tipo
de inconveniente, boicote, por parte do outro lado?
De
forma nenhuma.
É
verdade que Renato Aragão queria O
Trapalhão na Arca de Nóe fosse o
melhor filme da sua carreira, para mostrar ao Dedé, Mussum e Zacarias que
poderia ter uma trajetória sem os três?
Não
acredito que o Renato tivesse essa preocupação.
A
separação durou poucos meses, e já no ano seguinte o quarteto voltaria e
filmaram Os Trapalhões e o Mágico de Oróz.
É nessa produção que você assumiu a direção de produção dos filmes dos Trapalhões. Como foi
isso?
Acredito
que foi uma transição natural dentro da profissão.
Quem
o promoveu?
Não
lembro; mas, como eu disse, foi uma transição natural.
Quais
as responsabilidades de um diretor de produção?
Comandava a equipe de produção em todos os sentidos; acompanhar, discutir e aprovar, com
a assistência de direção, o plano de trabalho; contratar equipe técnica, elenco,
locações, equipamento; e supervisionar toda a logística de produção/ filmagem,
além de ser responsável pela pós-produção do filme e administrar o orçamento do
filme.
Os Trapalhões e o Mágico de Oróz foi
dirigido por Dedé Santana e Victor Lustosa, outro nome muito importante na
filmografia dos Trapalhões.
Fale a respeito do Victor.
Victor
foi, em muitos filmes do Trapalhões,
um excelente assistente de direção e, por mérito, dirigiu, junto com Dedé, Os Trapalhões e o Mágico de Oróz.
É uma pessoa do mais fino trato e conhecedor dos processos de direção e
produção.
Esse
filme foi realizado pela Renato Aragão Produções em parceria com De-MuZa
Produções. Foi fácil administrar a relação de interesses dessas duas empresas no
filme?
Não
houve nenhum problema.
Tinha
ainda algum resquício de conflito ou tudo já estava superado?
Absolutamente.
Esse
filme é uma paródia do clássico O
Mágico de Oz. Ao fazer uma paródia sempre se corre o
risco de comparações. Até que ponto vale a pena seguir esse caminho?
Por
ser uma paródia, não acho que as comparações façam sentido. Não era um remake.
Gostaria
que falasse a respeito de Arnaud Rodrigues. Ele atuou nesse filme, mas foi
muito mais que isso nos Trapalhões,
não é?
Arnaud
teve uma história longa e muito próxima do grupo. Era muito querido e admirado
por todos.
No
início do filme, uma cena clássica, para mim, em que Tony Tornado interpreta o Carcará.
Como foi o trabalho de produção daquela cena/daquele número musical?
Filmamos
com duas câmeras, grua, carrinho e câmera na mão. Os ensaios aconteceram
antecipadamente... com o coreógrafo que também estava presente na filmagem.
Roberto
Guilherme, apesar de ser um nome constante nos programas da televisão dos Trapalhões, pouco
aparecia no filme. Em Os
Trapalhões e o Mágico de Oróz, ele fez o
papel de um comerciante. Por que Roberto Guilherme não tinha muito espaço nos
filmes?
Não
sei até que ponto concordo com essa afirmativa, já que ele participou de vários
filmes.
Logo
após, vocês lançaram A Filha dos
Trapalhões, filme dirigido por Dedé Santana. Como
era o Dedé na direção?
A
experiência como ator que Dedé tinha, tendo sido dirigido por vários diretores,
deu a ele um entendimento muito claro da função de um diretor. Acho que, como diretor,
foi tão competente quanto como ator.
A Filha dos Trapalhões foi
realmente baseado no filme O
Garoto, de Charles Chaplin, por quem Renato
Aragão tem verdadeira admiração?
Sinceramente,
não sei dizer.
Onde
foi filmado?
Todo
na cidade do Rio de Janeiro, com muitas locações na Barra da Tijuca.
Os Trapalhões no Reino da Fantasia é
um filme ousado. Poucos filmes no Brasil se aventuraram na combinação de
animação (realizadas nos Estúdios Mauricio de Sousa) e live action, com Os Trapalhões em
cena. Conte a respeito dessa produção.
Foi
realmente uma inovação. Vários aspectos técnicos tiveram que ser levados em
conta, e acredito que o resultado ficou acima do esperado.
O
fato de “casar”
uma apresentadora infantil popular com o grupo humorístico de maior sucesso do
país era uma combinação certeira para os filmes?
Certamente
foi uma combinação que beneficiou a todos.
Qual
era a posição do Beto Carrero dentro dos Trapalhões? Ele
participou desse filme. Mas a sua influência era grande. Ia além, não ia?
Não
sei dizer. Minha relação com o Beto dizia respeito apenas aos filmes em que, de
certa forma, ele participava ou apoiava.
Como
era a relação dos Trapalhões com
a Embrafilme?
Os
projetos do grupo eram grandes sucessos de bilheteria, o que proporcionava uma
relação profissional de interesse mútuo.
Celso
Magno, mais conhecido como Baiaco, era o dublê principal do Renato Aragão. Em
que momentos ele era acionado e em que momentos Renato Aragão assumia o risco?
Baiaco
era um grande artista circense; e, quando a cena necessitava de habilidades específicas
de circo ele era acionado. Não era um dublê no sentido de “cenas de risco” . Na grande maioria
das vezes, o próprio Renato atuava; e o Baiaco era responsável por atuar em
situações nas quais a habilidade específica era necessária.
Como
era a relação de trabalho dos Trapalhões
com o artista José Luiz Benício, que
produziu todos os cartazes dos filmes do quarteto?
Uma
parceria em vários trabalhos. Benício conhecia muito bem o grupo e usava seu
talento para transmitir nos cartazes o espírito de cada filme.
Chegamos
ao filme Os Trapalhões e o Rei do Futebol.
Quais as suas principais recordações desse filme?
As
filmagens de segunda unidade para planos gerais, feitas durante o intervalo de um
jogo real entre Flamengo e Vasco, com o Maracanã lotado. Foi uma grande
estratégia de produção que funcionou muito bem na montagem.
Onde
ele foi filmado?
Todo
na cidade do Rio.
Foi
fácil convencer o Pelé a participar do filme?
Não
participei desse acordo, mas acredito que não deve ter sido difícil. O
argumento do filme é assinado por Renato e Pelé; portanto; a parceria vai além
do Pelé como ator.
O
mítico Carlos Manga dirigiu Os
Trapalhões e o Rei do Futebol. De quem
partiu a ideia de convidá-lo? Como foi trabalhar com ele?
O
convite partiu do próprio Renato. Manga era um diretor exigente e muito
competente. Na verdade, trabalhar com profissionais assim não é difícil.
Esse
filme marcou o fim da sua trajetória com Os Trapalhões no
cinema. Por que isso aconteceu?
Após
o lançamento do filme, fiz uma viagem longa para fora do Brasil e no meu retorno
aceitei um convite do Paulo Thiago para fazer a direção de produção do filme Jorge, Um Brasileiro. Acredito
que tenha sido o fim de um ciclo na minha carreira profissional. E aconteceu
naturalmente. Guardo as melhores lembranças e sou muito grato a todos da R. A.
Produções, onde tive a oportunidade de crescer profissionalmente. Sem dúvida, o
período que trabalhei com eles foi uma grande escola e fundamental na minha
vida profissional.
Você
é, certamente, um dos profissionais que mais tempo trabalhou com Os Trapalhões. Como
conseguiu ficar tanto tempo trabalhando com eles?
Na
época, a R. A. Produções produzia dois filmes dos Trapalhões por ano,
todo ano. A continuidade no trabalho com eles se deu de forma natural, a partir
de Os Saltimbancos Trapalhões;
e a oportunidade que me foi oferecida de subir na carreira contribuiu para essa
parceria de muitos anos.
Quem
era o maior comediante do grupo?
Como
grupo, completavam-se; e cada um com suas características e personalidades, contribuía
para o sucesso do grupo.
Renato
Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
O
Renato estava sempre presente em todas as decisões e acompanhava de perto tudo,
mas dava autonomia a cada um dos profissionais que faziam parte de sua equipe.
Acredita
que essa característica de Renato o torna diferente, um profissional de
sucesso?
Profissional
de sucesso, sem a menor dúvida.
Por
que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados
pelos Trapalhões?
Acho
sinceramente que isso mudou. Houve época em que pode ter sido assim, talvez por
ser um cinema de sucesso comercial, voltado para o público. Se foi, acredito
que essa visão tacanha mudou. Basta ver os grandes nomes de artistas, técnicos,
compositores, roteiristas etc. que trabalharam nas produções do grupo.
Você
trabalhou com diversos profissionais técnicos nos filmes dos Trapalhões. Quem você
destacaria, assim como você, como figuras históricas na trajetória cinematográfica
do quarteto?
Infelizmente,
alguns desses técnicos já faleceram; mas eu citaria os seguintes: J. B. Tanko,
Antônio Gonçalves (diretor de fotografia), José Tavares (técnico de som),
Geraldo José (técnico de ruídos de salas), Jaime Justo (montador), Antonio Pacheco
(maquiador), entre outros...
Os Trapalhões: Cacá Diniz
CACÁ
DINIZ
Produtor executivo
O
senhor trabalhou em diversos filmes dos Trapalhões. Como surgiu
o primeiro convite para trabalhar com eles?
A
partir das relações de trabalho com profissionais que faziam parte da “família cinematográfica Os
Trapalhões”. A energia que rolava era luminosa e, durante as filmagens de Os Vagabundos Trapalhões,
aproximei-me do cinema que eles faziam.
Eu queria fazer parte daquele mundo. Surgiu pelo Cinema.
Antes
de iniciar essa parceria profissional com eles, o senhor já acompanhava os seus
filmes?
Sim.
A televisão foi o veículo de apresentação e convivência, os filmes
desenvolveram uma relação de respeito e amizade.
O
senhor é um dos profissionais que tiveram uma longa parceria profissional com o
quarteto. A que se deve essa longa parceria?
A
felicidade de estar nessa aventura, parceria profissional no sentido mais amplo
e prazer de fazer parte do time, incluindo os profissionais que acompanhavam Renato
Aragão nas diferentes áreas de entretenimento que atuavam (circo, teatro popular,
televisão), enfim era todo “o dia a dia”
de preparação, filmagem e exibição que estimulava querer fazer mais filmes.
Que
de fato, um produtor como o senhor, fazia quando trabalhava com Os Trapalhões? Onde
começava e terminava o seu trabalho?
Começava
no momento em que o Renato Aragão sinalizava que era hora de começar, feito uma
partida de futebol: vestia a camisa e fazia de tudo para jogar os noventa
minutos e, se fosse necessário, jogar a prorrogação e ir para a disputa nos
pênaltis, comemorar com a galera nos cinemas.
Os
filmes tinham como público-alvo só as crianças?
Por
natureza, crianças e cinema se parecem, não como público alvo, mas como essência
da diversão que se estende ao longo da vida.
Os Trapalhões sempre
tentaram criar longos vínculos com profissionais (cineastas como J. B. Tanko,
José Alvarenga Júnior, entre outros). Isso era uma ideia do Renato, de trabalhar
com quem já conhecia?
É a
característica mais gratificante perceber que o Renato Aragão, o produtor sério,
e o palhaço Didi fazem o possível e o que for necessário para manter todos os
profissionais na roda-gigante do processo de criação e execução dos filmes.
Isso exige uma grande capacidade de determinação e energia.
O
cinema dos Trapalhões lançou
diversos profissionais, sejam eles atrizes, atores e técnicos de cinema. Essa
era uma diretriz que Renato colocava para vocês?
Não
como uma colocação, mas como o exercício constante de criação e renovação, procurando
novos caminhos, realização do imaginário pessoal, teimosia de criança.
Quais
as suas principais lembranças de bastidores de filmagens com Os Trapalhões?
A
simplicidade no relacionamento profissional, algo próximo das brincadeiras da
infância.
Que
tem a dizer do ator Carlos Kurt? Ele tem uma participação muito ativa no cinema
dos Trapalhões.
As
personagens do universo dos Trapalhões oferecem
dezenas de oportunidades de permanência. O ator Carlos Kurt representa essa característica;
e suas atuações se enriqueciam, a cada nova participação.
Dedé
Santana tinha muito interesse na área de direção. Ele dirigiu alguns filmes dos
Trapalhões.
Como avalia o trabalho dele como cineasta?
Dirigir
um filme dos Trapalhões é
um exercício de barganha com o Renato Aragão. Para o Dedé Santana, o desafio
era ainda maior, pois a troca de interesses se fazia também com o Mussum e o
Zacarias.
Qual
foi o melhor diretor dos filmes dos Trapalhões
e por quê?
Todos.
Porque é prazeroso o trabalho, ver as salas de cinema cheias e ver crianças, hoje
adultos, vivendo o imaginário como se tivesse acontecido ontem.
O
cinema dos Trapalhões tinha
como caracteristica a paródia de filmes, contos ou clássicos da literatura
estrangeira. Era uma fórmula que sempre seguiam e deu muito certo. Os críticos
diziam que eles ficavam numa zona de conforto e nunca ousavam. Qual é a sua
análise a respeito?
Zona
de conforto é algo inimaginável para quem faz cinema. Mais de cento e vinte
milhões de pessoas foram aos cinemas, os filmes continuam sendo exibidos. Gerações
se revezaram, diante das palhaçadas do grupo. Esses são os críticos que se
redescobrem há mais de quarenta anos.
Quem
era o maior comediante do grupo?
Os
quatro com suas particularidades se completavam, e o Renato trabalhava com
segurança para a manutenção desse perfil.
Renato
Aragão tem fama de ser superprofissional, atento do roteiro ao cartaz do filme,
perfeccionista. Isso procede?
Sim,
é procedente. Devo acrescentar que essa busca era feita com muito cuidado e
reflexão, considerando a realização de suas ideias e agregando sugestões de todos
os demais.
Acredita
que o cinema era a grande paixão do Renato, mais que a televisão? Na sua visão,
de onde vinha essa característica tão profissional do Renato? Dedé, Mussum e Zacarias
eram preocupados somente em atuar?
Sim,
vinha do conflito pessoal entre o advogado com formação acadêmica e o menino
travesso que persiste dentro dele. Dedé, Mussum e Zacarias se divertiam com a
confusão que esse conflito gerava e atuavam expondo este paradoxo.
Por
que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados
pelos Trapalhões?
A
rejeição é parte do processo de criação, é parte das diferenças e diversidades de
situações que envolvem realizações pessoais e exposição pública. E dissolvesse com
o tempo.
Como
classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Diversão
infantil que atende aos desejos de sonhar, transgredir as regras do universo adulto
e levar à condição humana seriamente bagunçada.
Tião
Macalé era considerado o quinto Trapalhão.
Quais as lembranças dele?
Não
participei dessa convivência profissional. Como espectador, divertia-me muito;
mas não existiu um quinto Trapalhão.
Os Fantasmas Trapalhões marcou
certas rupturas na produção cinematográfica do quarteto. As filmagens passaram
a ser feitas, em sua maioria, em um universo fechado, ou seja, em estúdio.
Cenários e figurinos pré-fabricados se tornaram mais presentes, facilitando a
produção. Isso foi proposital?
É
fundamental entender esse movimento. Foi proposital, mas não por esses motivos.
A criação dos argumentos e roteiros, responsabilidade do Renato, exigiam magia.
A engenharia de arte e produção desenvolveram ferramentas e atitudes com às
quais estávamos identificados e atendiam ao próprio grupo serem vistos nesse
formato.
Outra
mudança é com o dito cinema “social”
dos Trapalhões,
típico de vários filmes anteriores como Os Trapalhões e o Mágico de Oróz.
De quem foi a ideia de seguir nessa diretriz?
O
cinema é social por legitimidade, por atestado de nascimento. As diretrizes, análises
pueris e fantásticas não se encaixam nesses condicionamentos racionais.
Os Trapalhões tinham
também outra proposta: inserir diversas atrações midiáticas do momento, com a
intenção de atrair para as salas de cinema o maior número possível de
espectadores dos mais diferentes gostos e faixas etárias. Por esse motivo,
tornou-se frequente, a partir desse filme, a presença de personalidades da tevê
como, por exemplo, o grupo Dominó e Gugu Liberato. Isso era o melhor a fazer,
pensando na visão de um exigente e diversificado público infanto-juvenil?
É da
natureza do cinema ser infantil, ser juvenil, ser adulto. Não se obedece a uma
exigência, faz-se com prazer e da melhor forma possível.
O
senhor acompanhou Renato Aragão em filmes solos, os mais recentes. Na sua visão,
que mudou em Renato Aragão e o seu cinema, daquele tempo e o de hoje?
Não
foi o Renato Aragão e seu/nosso cinema que mudou. O time não é aquele que nos
encantava com suas palhaçadas. Não se explica ou se justifica, apenas sentimos
sua presença e sua ausência.
Gostaria
que contasse uma história curiosa, desconhecida, que o senhor tenha sido
testemunha ocular.
As
cenas de brigas e de conflitos físicos eram uma constante no dia a dia das
filmagens. Numa delas, o diretor empolgou-se e entrou numa de filme de Ação; e a
sequência foi perdendo a graça. O Renato (Didi) em cena, parou tudo e explicou que
esse não era o filme que estava roteirizado: a gente bate, a gente briga; mas é
carinhosamente.