"As HQs dos Trapalhões" no site Redação Multiverso: http://www.redacaomultiverso.com.br/noticias/escritor-rafael-spaca-lanca-livros-sobre-hqs-dos-trapalhoes/
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017
As HQs dos Trapalhões
Agora com a capa
definitiva! Lançamento em abril.
Os
Trapalhões formaram o grande quarteto do humor na TV durante gerações. Ao longo
de décadas, criaram cenas clássicas e personagens inesquecíveis que
contribuíram muito para a cultura nacional. Mas a influência de Didi, Dedé,
Mussum e Zacarias não ficou restrita à televisão, suas trapalhadas fizeram
história no cinema e também nos quadrinhos.
O
livro traz depoimentos dos
profissionais envolvidos na produção dos quadrinhos, originais, estudos de
personagens e uma história inédita!
Com
prefácio de Dedé Santana e
ilustração de capa de Bira Dantas.
terça-feira, 21 de fevereiro de 2017
As HQs dos Trapalhões
Matéria do Universo HQ a respeito do livro "As HQs dos Trapalhões": http://www.universohq.com/noticias/rafael-scapa-lanca-livro-sobre-as-historias-em-quadrinhos-dos-trapalhoes/
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017
sábado, 4 de fevereiro de 2017
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017
Os Trapalhões: a série
A
série “O Cinema dos Trapalhões” (TV Cidade), apresenta seu primeiro convidado, o
Prof. Dr. Sidney
Leite, que analisa numa perspectiva ampla, o que foi e
o que representa o cinema produzido pelo quarteto mais querido do Brasil.
Assistam: https://www.youtube.com/watch?v=9hJ221DysEg&feature=youtu.be
Os Trapalhões: Alípio Rangel
ALÍPIO
RANGEL
Produtor
Nos
filmes dos Trapalhões você
integrou a equipe de produção em diversos longas-metragens. Como surgiu a
oportunidade de trabalhar com eles?
Minha
primeira chance no cinema foi dada pelo Renato Aragão, quando ele foi produzir
o filme O Trapalhão na Arca de Nóe.
Eu tinha vindo ao Rio para passar um fim de semana e depois ir a Campinas fazer
pós-graduação. Tudo deu errado; e, ele vendo minha decepção, perguntou se eu
queria fazer produção de cinema. Na época, meu irmão Del Rangel foi o diretor
do filme e também me bancou. Comecei minha vida cinematográfica no único filme
que não teve a participação do quarteto.
Realmente
você chega no momento mais conturbado da história dos Trapalhões. Causou-lhe
estranhamento trabalhar numa produção sem os outros três icônicos Trapalhões?
Sim,
foi complicado fazer o filme sem eles. Até o próprio Aragão sentiu-se órfão, pois
foram anos e anos trabalhando juntos. Eles todos sentiram isso, tanto é que só
chegaram a fazer um filme. Não havia como ficarem separados.
Dedé
Santana, Mussum e Zacarias fizeram, concomitantemente a O Trapalhão na Arca de Noé,
o filme Atrapalhando a Suate.
Além da competição nas salas de
cinema, houve também nos bastidores?
Sinceramente,
não sei quanto aos quatro; mas havia entre as equipes uma disputa para ver quem
produzia o melhor filme. Ficávamos um acompanhado as filmagens do outro, uma
curiosidade normal, absolutamente normal. Mas nos falávamos sempre, e teve até
momentos em que uma equipe ajudou a outra. No decorrer das filmagens,
emprestamos negativos para eles, já que a encomenda da DeMuZa ainda não havia
chegado e não podiam parar as filmagens.
É
verídica a história de que Renato Aragão queria fazer de O Trapalhão na Arca de Noé o
grande filme da sua carreira para provar aos três integrantes recém-separados que ele teria
condições de seguir sem eles?
Desconheço
esse assunto. Os quatro não estavam felizes, e não havia como fazer um grande
filme sem todos juntos. A separação deles foi apenas no cinema, eles continuavam
a ser Os Trapalhões na
TV Globo. Não houve problemas na amizade deles. Apenas não filmaram juntos uma
única vez.
Você
é sobrinho do Renato Aragão. Isso, de certa forma, facilitou seu ingresso no
mercado cinematográfico?
Na
verdade, na época o mercado de cinema era muito pequeno; e eu passei a fazer
parte da equipe fixa da Renato Aragão Produções, que era a empresa que produzia
os filmes dos Trapalhões.
Depois que saí da Renato Aragão Produções, fiz mais uns quatro ou cinco filmes;
e, então, segui minha carreira de administrador de empresas.
Além
de você, outros integrantes da família do Renato Aragão chegaram a trabalhar com
ele no cinema. Para citar alguns: Evelise Aragão, Caxa Aragão, Paulo Aragão,
Del Rangel, entre outros. O fato de empregar muitos parentes não causava ciumeira
no restante da equipe?
Não,
isso nunca aconteceu. O cinema sempre foi uma “indústria familiar”, e o fato
de ele ter pessoas da família nunca causou problemas para ninguém. O Renato Aragão
sempre foi uma pessoa extremamente profissional, sempre deu chances a muitas
pessoas, independente de ser do mesmo sangue ou não. A Renato Aragão Produções
foi uma escola de cinema para muitos profissionais; e todos os que tiveram a
sorte de trabalhar para Os Trapalhões,
trazem, com certeza, dentro de si lembranças maravilhosas e orgulho de terem
feito parte desse grupo inesquecível.
A
R. A. Produções era uma produtora gigantesca, com estúdios e infraestrutura de primeiríssimo
nível. Fale mais a respeito da R. A. Produções.
Sim,
era uma grande produtora. Mas a verdade é que, já naquela época, a maior parte
dos equipamentos eram terceirizados; e acho que ainda hoje é assim. Tínhamos câmeras,
moviolas etc.; entretanto, a grande maioria dos equipamentos era alugado na época
dos filmes.
O
tratamento era igual? Tinha espaço para desconfiança?
Posso
te afirmar que o fato de ser da família trazia exigências ainda maiores, só fazia
o filme seguinte quem realmente demonstrasse um grande profissionalismo. O
Renato Aragão dava a chance, e quem a tivesse que tratasse de trabalhar sério para
seguir com o grupo. Eu sou prova disso. Ele me deu a chance; e, mesmo sendo da
família e um cara com formação superior completa, tive que começar como estagiário
do assistente de produção. Lembro que, dentre outras funções, servia cafezinho e
refrigerante no set.
Interessante
essa informação. Todos vocês começavam em cargos mais baixos e iam progredindo
à medida que iam evoluindo no trabalho?
Isso
aconteceu mais especificamente comigo, pois não tinha experiência nenhuma
de cinema. As pessoas da família que
trabalhavam nos filmes já eram profissionais da
área.
Dedé
Santana conseguiu emplacar o Dino Santana em algumas produções
cinematográficas. Não me recordo se tinha mais algum familiar ligado ao
trabalho dele em Os Trapalhões.
Mussum e Zacarias tinham?
O
Dino era outra pessoa bastante séria e profissional. Teve a chance dele, fez
alguns filmes; mas, ao mesmo tempo, ele tinha outros trabalhos como ator e
produtor. O Zacarias e o Mussum nunca indicaram nenhum familiar para trabalhar nos
filmes.
Os Trapalhões no Rabo do Cometa,
Os Trapalhões e o Mágico de Oróz e
Os Três Mosquiteiros Trapalhões foram
produções em que você trabalhou. Gostaria que falasse
como era trabalhar na equipe de produção destes filmes.
Era
um trabalho árduo. Tínhamos muitos contratos com empresas como Embrafilme, exibidores
e distribuidores que estipulavam datas para que o filme estivesse pronto. Não
havia chance para erros. Os filmes dos Trapalhões
não podiam se dar ao luxo de ficar dois
ou três meses para serem produzidos. Eram filmes produzidos em quatro semanas,
não mais que isso. A palavra atraso não fazia parte do nosso vocabulário.
Conte
mais a respeito do seu dia a dia na produção dos filmes. Que faz exatamente a
equipe de produção de um filme?
Falando
resumidamente, esse cara viabiliza a produção do filme num todo. Transforma em
realidade o que o roteiro pede, é quem obtém os meios materiais necessários
para a realização das filmagens. É o elo entre toda a equipe do filme.
Você
disse que os filmes eram rodados, normalmente, em quatro semanas. Em que meses
do ano eram filmados?
Geralmente,
as pré-produções começavam em março ou abril; e o filme se estendia até no
máximo o início de junho para então estrear nas férias do meio de ano. O
segundo filme do ano começava em agosto ou setembro para ficar pronto em
dezembro e ser exibido já no início das férias de fim de ano. Eram dois filmes por
ano.
Como
era o ambiente de filmagem?
Melhor
impossível. Conheço Os Trapalhões há
pelo menos quarenta e cinco anos e nunca vi nenhum deles alterar o tom de voz.
Nunca ouve qualquer estresse em função de qualquer um dos quatro. Eu costumo
dizer que o set de
filmagem era mais engraçado e prazeroso do que os próprios filmes. Você está me
fazendo ficar emocionado e saudoso. Esses quatro caras deviam ser proibidos de
morrer. Não existe hoje ninguém como o Didi, Dedé, Mussum e Zacarias.
Pena
não haver making of dos
filmes. Esse material de bastidores poderia nos revelar muito mais dos Trapalhões, não é?
Alguma
coisa existe, sim. Principalmente dos filmes mais recentes. Antes não existia
muito essa mentalidade de se produzir essa peça; mas, com certeza, é uma mídia
fantástica e os bastidores dos filmes dos Trapalhões
daria um outro filme. Era pura alegria.
Quais
as maiores dificuldades em produzir um filme dos Trapalhões?
Não
concordo quando você usa a palavra “dificuldades”,
prefiro usar “desafios”
porque, sinceramente, não havia dificuldades. Os desafios eram muitos; pois, como
coloquei na resposta anterior, não havia chance de errarmos, já que era sempre
esperado em todo o Brasil que nas férias de junho e de fim de ano tivesse um
novo filme dos Trapalhões.
Veja só que belo desafio. As pessoas esperavam ansiosas por essas datas e
sempre com a expectativa de ser um filme melhor que o anterior. Era muito bom
fazer parte desse ambiente.
Você
trabalhou em outras produções cinematográficas sem os Trapalhões. Que tinha
de diferente? Que tornava uma produção fílmica dos Trapalhões diferente
das demais?
Não
podemos ser hipócritas, e é certo que os filmes dos Trapalhões tinham
sempre dinheiro. Não havia a incerteza se ficaria pronto ou não. Sabíamos que
semanalmente seu cachê estaria depositado na sua conta bancária. Não quero
dizer com isso que se esbanjava dinheiro. Não faltava, mas não havia espaço
para gastos excessivos. O orçamento tinha que ser honrado fielmente. A maior
diferença que senti quando trabalhei em outros filmes foi, sem sombra de
dúvidas, o ambiente. Com Os Trapalhões era
puro prazer.
Mas
eles pagam melhor ou era tudo tabelado?
Existe
uma tabela salarial mínima exigida pelo sindicato, e a Renato Aragão Produções pagava
sempre acima desses valores. Era uma produtora reconhecida no mercado como a
que melhor pagava.
Você
é um dos profissionais que mais tempo trabalhou com Os Trapalhões. Como
e por que conseguiu ficar tanto tempo com eles?
Sou
administrador de empresas; e isso também foi um fator decisivo, pois passei também
a trabalhar em outras áreas da Renato Aragão Produções. Com certeza, fui um dos
que mais tempo trabalhou com eles.
Chegou
a fazer trabalhos administrativos dentro da R. A. Produções? Se sim, qual?
Eu,
como administrador de empresas, tive a chance de passar nas áreas
administrativa, financeira e até na comercial. Foi uma experiência riquíssima.
Renato
Aragão, além de artista, também gostava da burocracia da empresa?
O
Renato Aragão não deixava de ir à produtora. Não sei como ele arranjava tempo
para ainda dar expediente na empresa. Ele acompanhava tudo. Sabia também do que
se passava com cada funcionário, que, aliás, eram pessoas que frequentavam inclusive
a casa dele. Iam às festas, desde o jardineiro, faxineiro, a moça do cafezinho
até os diretores. Nunca houve qualquer discriminação, os mais humildes também
mantinham uma relação de amizade e tinham o mais absoluto acesso à ele.
Podemos
considerar Renato Aragão um dos maiores e melhores produtores de cinema do
país?
Posso
te dizer que ele foi, sim; mas acho que uma das maiores contribuições do Renato
Aragão para o cinema também foi o fato de ele ter formado muitos e muitos
profissionais, ainda mais numa época em que não havia faculdades de Cinema ou
de Audiovisual. A Renato Aragão Produções foi, sem sombra de dúvidas, uma
grande escola de cinema.
Renato
Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Sim,
ele é um cara que gosta de qualidade. É exigente, mas extremamente cordato. É
uma pessoa que sabe dividir, sabe ouvir, sabe voltar atrás. Mesmo sendo o dono
da bola, sempre respeitou cada profissional que fazia parte de sua equipe, nunca
impôs nada a ninguém.
Quem
era o maior comediante do grupo?
Cada
um tinha/tem seu estilo. O Mussum era fantástico, com sua simplicidade, seu
humor fácil e gostoso. O Zacarias, com aquela ternura dele, fazia um humor jamais
visto. O Dedé é o maior “escada”
que conheço, não existe ninguém como ele. O Renato Aragão é um cara engraçado por
natureza, ele nasceu para fazer rir.
Quem,
na sua opinião, é o maior vilão de todos os tempos nos filmes dos Trapalhões: Eduardo
Conde, Carlos Kurt ou Roberto Guilherme?
Que
saudades dessas feras. Como já falei, você está me emocionando e fazendo-me ficar
nostálgico. Tive pouquíssimo contato com o Eduardo Conde; o Guilherme para mim
não era um vilão, e sim mais um Trapalhão. Para mim, o Carlos Kurt é
insubstituível.
Como
classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Filmes
inocentes, sem a pretensão de serem acadêmicos. Filmes produzidos com amor.
Filmes pensados para as crianças e adultos que trazem dentro de si a criança
que já foram um dia. Os Trapalhões queriam
fazer as pessoas felizes, isso é o que interessava para aquele quarteto fantástico.
Eles conseguiram, com seus fimes, alegrar mais de cem milhões de pessoas numa época
em que o Brasil estava chegando aos cem milhões de habitantes. Isso não existe
no mundo.
Por
que os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Sou
um cara muito franco e direto... é melhor que eu me exima de dar essa resposta!
Você,
além de ter trabalhado com os Trapalhões,
conviveu com eles por mais de 45
anos. Fora do cinema e da televisão eles eram humildes? Como eram sem as “máscaras”?
Eles
eram Os Trapalhões,
sempre alegres, bem-humorados, sacanas, piadistas. Ajudavam muito a quem
precisava deles. Os Trapalhões que
eu conheci e com quem convivi não tinham máscaras e eram humildes, sim. Fico
muito chateado, na verdade puto mesmo, quando vejo algumas matérias na mídia ou
em redes sociais falando mal deles ou do Renato Aragão, que sempre foi o mais
visado por ser o líder, o pai dos Trapalhões.
Esse Renato Aragão de que a imprensa fala ou falava é desconhecido para mim.
Gostaria
que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha
presenciado como testemunha ocular dessa sua convivência com eles.
É
impossível falar de um fato ou curiosidade apenas. Uma coisa que as pessoas não
sabem ou talvez não acreditem e que era algo que chamava a atenção de quem
convivia com aqueles quatro Trapalhões é
que eram muito amigos realmente. Posso te garantir que se amavam. Eram como
irmãos que estavam sempre se sacaneando. Eram extremamente unidos. Um morava no
coração do outro, um sabia identificar o olhar do outro. Eles se olhavam e já
estavam se comunicando. Eram uma verdadeira família. Só quem conviveu
intimamente com eles pode entender o que representavam um para o outro. Eu sou
um cara extremamente feliz por ter tido a dádiva de viver na família Os Trapalhões. Aproveito
para te agradecer por esses momentos. Como já disse mais de uma vez: fiquei profundamente
emocionado, voltei num tempo de pura felicidade e alegria, tempo que
infelizmente não volta mais. Se você me perguntasse: “Você faria tudo de novo?” Eu te diria que faria
com ainda mais vontade, iria me entregar ainda mais, daria ainda mais o meu
sangue, meu amor, minhas horas de vida profissional dedicando-me a eles. Viva
os eternos Trapalhões!
Os Trapalhões: Alexandre Boury
ALEXANDRE
BOURY
Diretor
Você
encarou o desafio de dirigir o programa A Turma do Didi na
TV Globo, a partir de 1998. Vocês enfrentaram muita resistência dos fãs mais
saudosos dos Trapalhões,
que enxergavam neste programa uma heresia contra Os Trapalhões e sua
formação original?
Não
enfrentamos resistência, pois o retorno do Renato Aragão se deu muitos anos
após o grupo ter acabado; e, naquela época, a internet
ainda não existia e a comunicação dos
saudosos fãs não se manifestou a ponto de ser notícia.
Tadeu
Mello (Tatá), Edson Cardoso (Jacaré) e Marcelo Augusto (Marcelo) eram a representação
de Zacarias, Mussum e Dedé, respectivamente?
Não
há como negar a semelhança dos arquétipos; porém, os de A Turma do Didi e Os Trapalhões são
personalidades diferentes.
A Turma do Didi ficou
no ar entre outubro de 1998 e março de 2010. Um recorde até hoje não igualado
por programas de humor, principalmente aos domingos. A que se deve esse feito?
Ao talento
de Renato Aragão.
O
ator Roberto Guilherme é uma presença importante nos programas do Renato
Aragão, tanto em Os Trapalhões
como em A Turma do Didi.
Entretanto, no cinema, sua participação é quase nula. Qual a razão?
Ele
é um ator “escada”,
de esquetes e não um ator que constrói uma personagem. Um filme tem que trazer
elementos diferentes do programa.
Como
foi dividir com o Paulo Aragão a direção dos filmes O Trapalhão e a Luz Azul e
Didi, O Cupido Trapalhão?
Muito
prazeroso. Ele é uma pessoa incrível em todos os sentidos.
Funciona
esse método de dividir a direção?
Se
houver sintonia, sim.
Um
fato importante em O Trapalhão e
a Luz Azul é a participação do Dedé Santana no
filme. Como foi dirigir o Dedé?
Foi
bem tranquilo.
Dedé
Santana chegou a dirigir alguns filmes dos Trapalhões. Ele tentava
acompanhar seu
trabalho?
Não,
só entrava no set para
atuar.
Qual
a razão da participação do Dedé nesse filme ser tão curta?
Pelo
roteiro, esse era o único personagem em que Dedé se encaixava; e também
não foi tão curta assim a participação
dele.
Após
O Trapalhão e a Luz Azul,
você dirigiu Um Anjo Trapalhão.
O convite para dirigir esse filme deve-se ao sucesso obtido no trabalho
anterior?
Esse
foi o primeiro trabalho que fiz com o Renato. Foi um Especial de Natal
produzido pela TV Globo e exibido em 24 de dezembro de 1997. A decisão de exibi-lo
no cinema foi devido ao seu sucesso na televisão.
Por
que dessa vez você divide a direção com o Marcelo Travesso e não com o Paulo
Aragão?
Eu
ainda não conhecia o Paulo Aragão e havia feito a novela Vira-Lata com o Marcelo;
e o Mario Lúcio Vaz, diretor artístico da Globo, nos escalou para dirigir o
especial.
Qual
a razão da ausência de Dedé Santana nesse filme?
Ele
era funcionário do SBT, e o especial era da TV Globo.
É
verdade que Renato Aragão costuma participar de todo o processo fílmico de uma
produção? Ele chegava a interferir em outros setores que não o dele?
O
Renato, além de fazer o personagem Didi Mocó, é também produtor de seus filmes
e exerce essa função de maneira muito competente.
Em
Didi, O Cupido Ttrapalhão você
volta a dividir a direção com Paulo Aragão. Nunca pensou em assumir sozinho o
comando da direção de um filme do Renato? Nesse filme você teve a oportunidade
de dirigir Mauro Mendonça, Oscar Magrini, Rosamaria Murtinho, Herson Capri,
entre outros grandes atores. Entretanto, no mesmo filme, você dirige a
apresentadora Jackeline Petkovic, o cantor Daniel, a dançarina Dany Bananinha,
o ex-BBB Kléber Bambam, entre outros. Um desafio, não?
Tive
a oportunidade de dirigir sozinho um dos filmes do Renato; porém, optei por
dividir a direção com meu pai, Reynaldo Boury, que na época estava aposentado pela
TV Globo. Não há dificuldades, se for respeitado o limite de cada “ator”.
Seu
último filme com Renato Aragão é Didi
Quer Ser Criança. Por que foi o último?
Após
dez anos trabalhando com o Renato, decidi que era hora de voltar às novelas. Queria
me integrar novamente em outros projetos.
Nesse
trabalho você divide a direção com Reynaldo Boury. Como foi essa parceria?
Conforme
disse acima, dividi a direção com meu pai Reynaldo Boury e foi muito bom poder
trabalhar com ele no cinema, um campo novo para ele, que tem mais de sessenta
anos de televisão. Atualmente, ele é o diretor geral das novelas do SBT.
Como
foi dirigir Lívian Aragão? Já era perceptível a ideia de transformá-la em uma
atriz?
Lívian
Aragão sempre mostrou ter um talento nato para ser atriz. Em nada me surpreende
ela estar cada vez mais em evidência.
O
cineasta J. B. Tanko foi o profissional que mais dirigiu os filmes dos Trapalhões. Você
procurou fruir alguma característica dele em seu trabalho?
Não.
Cada diretor tem suas referências; e eu gosto muito de Woody Allen, Mel Brooks,
George Lucas e James Cameron. No cinema nacional admiro Daniel Filho e José
Padilha.
Qual
a sua opinião a respeito de J. B. Tanko?
Um
ícone para o cinema brasileiro, com uma história belíssima e diversificada, com
trabalhos de diferentes naturezas, tanto no Brasil como no exterior.
J.
B. Tanko, Fauzi Mansur, Victor Lima, Adriano Stuart, Daniel Filho, Del Rangel, Carlos
Manga, Roberto Farias, José Alvarenga Júnior foram alguns dos cineastas que
dirigiram Os Trapalhões.
Em sua opinião, qual foi o maior trabalho de direção já realizado em um filme
dos Trapalhões?
Os Saltimbancos Trapalhões, de
J. B. Tanko.
Como
você classifica o cinema dos Trapalhões?
Marcou
toda uma geração durante anos. Eram filmes que toda a família ia ao cinema para
assistir. Todo ano havia uma expectativa para o próximo filme deles.
Qual
foi o maior filme que você dirigiu com o Renato e qual ficou aquém do que você
queria?
O
maior foi Didi Quer Ser Criança,
o que ficou aquém do que eu queria foi O Anjo
Trapalhão, pois foi um produto feito para a tevê
e que acabou indo parar no
cinema. O enquadramento foi para 3/4, formato de televisão na época, e não 16/9. O orçamento e o equipamento
técnico não eram de nível cinematográfico.
Que
representa na sua carreira ter dirigido Renato Aragão?
Representa
um grande orgulho, uma honra e um presente de ter tido a oportunidade de
aprender a dirigir comédias com o maior palhaço do mundo: Renato Aragão, a quem
só comparo ao Charles Chaplim.
Os Trapalhões: Alex Gill
ALEX
GILL
Ator, músico do grupo Polegar
Você
atuou no filme Uma Escola Atrapalhada. Como
e em que circunstância recebeu o convite para atuar nesse filme? Como foi a
experiência?
Sim, atuei junto com o
grupo Polegar, que foi convidado pelo próprio Renato Aragão para participar do
filme. Assim como todos da minha banda, eu fiquei super feliz, pois, desde
criança, sempre fui muito fã do trabalho dos Trapalhões. Mesmo
não sendo ator, foi uma experiência única e muito gratificante estar ali aprendendo
e participando com todo o elenco, a produção e ainda participando do último
filme que reuniu os quatro Trapalhões juntos.
Que
representava, naquele período, protagonizar um filme com Os
Trapalhões?
Os
Trapalhões eram sucesso absoluto nos filmes e no programa de tevê nessa época,
e todo artista que participava dos filmes deles automaticamente era super
bem-aceito pelo público. Creio que isso também tenha ajudado a nos dar mais
prestígio.
Você
pertencia ao grupo Polegar, um
dos maiores fenômenos musicais de todos os tempos no Brasil. Esse filme, de
certa maneira, era uma forma de beneficiar a imagem do grupo, dos Trapalhões
ou dos dois?
Eu creio que era bom
para todos. Bom para eles (Os Trapalhões),
por ter artistas em evidência participando do filme; e bom para nós, porque
acabava agregando mais uma modalidade na nossa carreira. Aprendemos muito com a
equipe, a direção e a produção.
O
número de discos vendidos e de shows aumentaram
após esse filme?
Bem, não sei dizer
números específicos, mas acredito que tenha contribuído também para a conquista
dos nosso discos de platina e platina duplo (marca superior a quinhentos mil
discos vendidos). A rotina de shows sempre
foi muito intensa, fazíamos shows quase
todos os dias. E, nesse período da gravação do filme, conseguimos dispor um
pouco mais do nosso tempo livre para as filmagens. Mesmo assim, nos finais de
semana não tínhamos folga, estávamos sempre viajando por todo o Brasil.
Quais
as suas maiores lembranças do filme Uma Escola
Atrapalhada?
Era tudo muito legal,
meio mágico até. Nós fizemos reuniões no início, tipo um laboratório, em que a
produção nos estimulava a criar nossos próprios personagens (garotos vindos do
interior para a capital) e até os atores profissionais nos ajudavam, dando
dicas de interpretação, dando alguns toques. Portanto, foi muito gostoso ter participado
dessa experiência.
Como
foi a sua participação no filme Uma Escola Atrapalhada, como
compôs o seu personagem?
Bem, a participação foi
da banda toda. Eu, como o caçula da turma, não tive um papel muito expressivo.
Mas dediquei-me de coração para fazer o melhor que eu pude e contribuir nas
cenas em que eu estava escalado para atuar com meus companheiros de banda.
Quais
as lembranças de bastidores do filme? Como foi o seu contato com Os
Trapalhões?
Ah, era muito legal,
quando encontrávamos os atores nos sets de filmagem, O Selton
Mello, o Leonardo Bricio, o Supla, a Angélica, o Nill (Dominó) e todos os
outros atores. Eu sempre pegava dicas de interpretação com os veteranos. E, quando
não estávamos filmando, conversávamos bastante também, brincávamos de imitar
personagens de desenhos infantis pelos corredores, cantávamos músicas. Enfim,
era uma farra, quando estávamos de folga das cenas. Afinal, todos nós éramos
muito novos na época.
O
filme foi o último com a participação de Zacarias, que faleceu naquele ano. A aparição
dele no filme é melancólica, muito magro, abatido. Como foi o seu contato com
ele? Ele já estava doente?
Como era tudo muito
corrido, não tivemos um contato mais próximo com Os
Trapalhões, durante as filmagens. Mas, sempre que nos encontrávamos com
eles, sempre foram muito simpáticos e
carinhosos com a gente. Sim, o Zacarias estava um
pouco abatido. A gente percebia um cansaço nele; entretanto, não imaginávamos que
ele estivesse tão doente. De qualquer forma, sempre levarei uma lembrança fantástica
desse quarteto sensacional que me alegrou e alegrou o nosso povo
inúmeras vezes com sua criatividade, suas brincadeiras, suas piadas... Eu defino
Os
Trapalhões como quatro adultos que tinham um coração de criança, porque
eles dedicaram a maior parte do seu trabalho ao público infantil.
Os
personagens de Zacarias, Dedé Santana e Mussum fizeram apenas uma breve aparição.
A sensação é que pareciam figurantes no filme. Isso procede?
Eles compunham junto
com o Didi os seus personagens; no entanto, a trama toda se voltava mais para o
Didi, que liderava a turma toda.
Havia
o interesse dos Trapalhões e de
vocês, do grupo Polegar, em realizar mais filmes juntos?
Sim, havia interesse,
sim. Mas, depois que o Zacarias faleceu, acredito que eles se desmotivaram um
pouco; e acabou não acontecendo.
Quem
era o maior comediante do grupo?
Cada pessoa tem o seu
gosto; e acho que, em cada situação que eles criavam, cada um deles brilhava de
forma diferente. Mas acredito que, se não estivessem os quatro juntos ali, a
coisa não teria dado certo. Era um trabalho de equipe, ao meu ver; e, assim
como numa banda, todos são importantes para a coisa acontecer. Nos bastidores,
o Mussum era muito divertido, contava piadas; o Zacarias estava visivelmente
cansado; o Dedé e o Didi eram um pouco mais reservados; mas todos sempre muito
simpáticos com a gente.
Renato
Aragão tem fama de ser perfeccionista. É verdade? Ele acompanha tudo?
Algumas vezes ele
acompanhava; outras, não. Mas, quando tinha cenas com ele participando, a gente
procurava dar o melhor, para não ter que repetir muitas vezes. No geral, sempre
repetíamos as cenas, para dar opção de tomadas diferentes das câmeras. Isso era
normal.
Por
que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e
estrelados
pelos Trapalhões?
Isso eu não sei dizer,
até porque não faço parte do mundo do cinema, minha área é musical. Mas acho
uma pena essas pessoas não reconhecerem o trabalho desses quatro astros, que eu
considero como “gênios do humor” da
época.
Como
classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Bom, eu classifico um
cinema leve, criativo, divertido, com intuito de entreter as pessoas. Ao mesmo
tempo, as histórias sempre passavam mensagens para fazer as pessoas refletirem
mais sobre as situações e temas abordados. No caso do filme Uma
Escola Atrapalhada, por exemplo, foram abordadas diversas questões
referentes a comportamento, convivência social, imprudência, descuidos com
gravidez precoce, discriminação por classe social etc... Acho que esse tipo de
coisa ajuda a alertar as pessoas na vida real.
Gostaria
que falasse o que representou para você trabalhar com Os
Trapalhões, que carregaram, por muito tempo, o
cinema nacional nas costas.
Para mim, foi uma
experiência única, como já disse anteriormente, até por já ser fã do trabalho
deles desde criança. Depois, conhecê-los pessoalmente e ainda atuar juntos em
um filme. Foi um presente maravilhoso toda essa experiência de filmagem,
responsabilidade, comprometimento com a equipe toda, o elenco, saber como
funciona todo o mecanismo de filmagem, pois sempre são feitas várias cenas para
escolher a melhor e tornar a história mais emocionante para o público.
Os Trapalhões: Alcione Mazzeo
ALCIONE
MAZZEO
Atriz
Você
trabalhou com Os Trapalhões no
filme O Incrível Monstro Trapalhão.
Como e por quem recebeu o convite para trabalhar com eles?
Foi
o Renato Aragão quem me convidou para fazer a mocinha do filme. Nessa época, eu
também gravava o programa dos Trapalhões
na TV Globo.
Que
representava, naquele período, trabalhar em um filme com Os Trapalhões?
Era
da maior importância para qualquer atriz; e, para mim, muito especial, pois,
além de trabalhar com o grupo de maior sucesso no mundo infantil, tinha grande afeto
por eles. Senti-me homenageada, ao ser escolhida para fazer a mocinha do filme,
ao lado do Didi.
Onde
essa produção foi filmada?
No
autódromo de Interlagos e no Playcenter, o saudoso parque de diversões, em São
Paulo.
Durante
as filmagens havia muita improvisação?
Sempre!!
Eles eram muito criativos e novas ideias não paravam de surgir.
Quais
as recordações que possui do filme?
As
melhores possíveis. Tudo realizado sempre na maior alegria e vitalidade!! Muito
divertido trabalhar num mundo mágico, que é um parque de diversões, apoiados
numa excelente equipe técnica, com colegas amorosos e talentosos como Eduardo
Conde e Felipe Levy. As cenas no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, atraíam
muitos expectadores, a maioria jovens. Nessa época, eu tinha uma imagem sexy,
por ter sido modelo, capa da Ele Ela,
Playboy,
entre outras revistas do gênero. Só que sou muito simples e aparecia de
sandalinha baixa, jeans,
sem maquiagem, cumprimentando todo mundo. O público estranhava...
Como
foi o seu contato com o quarteto?
Eles
sempre foram muito carinhosos e cuidadosos comigo!! Guardo até hoje uma
ametista que o Zacarias me deu. Mussum e Zacarias brincavam sempre. Nunca os vi
reclamar, fofocar ou se queixarem. Didi e Dedé já eram mais sérios; mas o
astral do grupo sempre foi alto, sempre positivo!
Quais
as lembranças da direção do cineasta Adriano Stuart, nessa produção? Como ele
conduzia todo o processo fílmico?
Já
havia trabalhado noutros filmes com o Adriano; mas nesse ele estava mais brincalhão,
super à vontade com as cenas de corrida, tombos e brigas, já que tinha vasta
experiência no humor pastelão e estava muito acostumado a dirigir Os Trapalhões.
Por
que, na sua visão, os críticos e a Academia, rejeitam os filmes produzidos e estrelados
pelos Trapalhões?
Puro
preconceito!! A situação está bem melhor agora. O humor está em alta; mas, até
pouco tempo atrás, as pessoas viam o gênero como algo menor. Os atores da linha
de shows também
não eram valorizados, nem pelos próprios colegas, gerando a necessidade de se
migrar para o Drama, a fim de ganhar respeitabilidade. No entanto, é muito difícil
fazer rir, é preciso excelente timing!!
E, em geral, os atores de Comédia brilham em papéis sérios, como o Chico
Anysio, no filme Tieta do Agreste.
Como
classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Ingênuos,
românticos.
Gostaria
que contasse alguma curiosidade ou fato que tenha presenciado como testemunha
ocular.
Tanto
tempo... difícil lembrar!! Mas algo que lembro até hoje é que todos ficamos
hospedados no mesmo hotel, num lugar afastado, em São Paulo. Jantávamos todos
juntos, menos o Renato Aragão, que, noutra mesa, negociava com empresários,
arquitetava novos projetos. Impressionava-me
sua mente voltada constantemente para os negócios. Deve ser por isso que é tão
bem-sucedido, realmente não para!! Sou muito grata aos Trapalhões originais:
Didi, Mussum, Zacarias e Dedé Santana, pela oportunidade que tive em trabalhar tantas
vezes com eles, por tudo que aprendi e pelo carinho com que sempre me trataram.
Gostaria muito que a imagem deles ficasse preservada na imaginação do público brasileiro!
Viva Os Trapalhões!!
Alcione Mazzeo nos bastidores com Os Trapalhões.
Os Trapalhões: Afonso Nigro
AFONSO NIGRO
Ator, músico do grupo Dominó
Como surgiu o convite para o grupo Dominó trabalhar com Os Trapalhões?
O Renato Aragão nos convidou, através da gravadora Sony Music, devido ao grande sucesso do grupo.
Antes de iniciar essa parceria profissional com Os Trapalhões, vocês já acompanhavam os filmes deles?
Claro! Éramos fãs e já havíamos cantado no programa deles.
Quais as suas principais recordações dos bastidores de filmagem com Os Trapalhões?
Muita brincadeira, sem perder o profissionalismo.
Renato Aragão, Dedé, Mussum e Zacarias tinham como característica a irreverência, até mesmo nos bastidores das filmagens. Eles brincavam muito. As filmagens eram descontraídas. Isso procede?
Ríamos o tempo todo, era uma grande família.
Como era o seu contato com o quarteto (Didi, Dedé, Mussum e Zacarias)?
De admiração e amizade, quando estávamos juntos ou visitávamos a casa, principalmente do Renato Aragão, éramos muito bem tratados!
Que representava, naquele período, trabalhar num filme dos Trapalhões?
Era a certeza de que o grupo era um grande sucesso.
Em Os Fantasmas Trapalhões, o quarteto reedita uma parceria de sucesso com o cineasta J. B.Tanko. Quais suas lembranças de trabalho com esse diretor?
Um diretor muito competente e paciente conosco, que éramos novatos.
Esse filme foi o último de Tanko com Os Trapalhões. Como era a sintonia do quarteto com o diretor?
Sintonia total, eles formavam uma equipe perfeita.
Os Fantasmas Trapalhões marca certas rupturas na produção cinematográfica do quarteto. As filmagens passam a ser feitas, em sua maioria, em um universo fechado, ou seja, em estúdio. Cenários e figurinos pré-fabricados se tornam mais presentes, facilitando a produção. Isso foi proposital?
Sim, os estúdios R.A. Produções eram do Renato Aragão; e, além disso, davam mais agilidade às gravações.
Como Flávio Migliaccio conduziu todo o processo fílmico de Os Trapalhões na Terra dos Monstros, seu segundo filme com o grupo? Como era a sintonia dele com a equipe?
Uma coisa que o quarteto sempre soube fazer foi escolher seus diretores, todos muito competentes.
Quem era o maior comediante do grupo?
Talento, Didi. Naturalmente engraçado, Mussum.
Renato Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso é verdade? Ele acompanha tudo?
Muiito!!! Perfeccionista, compenetrado, profissional etc...
Por que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Acho que porque a preocupação era de ter grande sucesso e bilheteria.
Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
O mais divertido, leve, bem-humorado do cinema nacional.
Os Trapalhões sempre “brincaram” em parodiar filmes e clássicos estrangeiros de sucesso. Que pensa a respeito dessa linha que eles seguiram?
Esse tipo de “paródia” sempre foi muito comum no cinema e na tevê brasileira.
Gostaria que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha presenciado como testemunha ocular.
Os quatro tinham personalidades muito diferentes: Mussum, sempre brincalhão e engraçado; Dedé, o galã, gente boa; Zacarias, compenetrado e talentoso; Didi, artista e empresário.
Os Trapalhões: Revista Rolling Stone Brasil
O Palhaço Triste
Antônio Renato Aragão, o Didi,
comandou um circo eletrônico que levou trapalhadas à TV brasileira nos anos 70,
80 e 90, uma época em que o politicamente correto era o rir ingênuo. Também
responsável por quase 50 filmes de valor indiscutível para o cinema brasileiro,
o humorista vê sua graça, a do passado, adquirir ares cult, enquanto tenta, no
presente, renovar seu público.
por POR RICARDO FRANCA CRUZ
Pelos ares cult que a atração
ganhou enquanto envelhecia, a Geração YouTube talvez saiba, mas não custa
relembrar: não existia nada tão bom, engraçado e divertido para a família
brasileira nos domingos como assistir a Os Trapalhões na Globo - ainda que
Silvio Santos fosse o Rei do Domingo naqueles distantes anos (o humorístico viveu
até 1996). Nem nada tão unificador. O tema de abertura do programa estava para
a felicidade assim como o do Fantástico, por mais que mude, está para a
depressão de segunda-feira. Didi Mocó à frente - quer dizer, Antônio Renato
Aragão -, o grupo reunia talentos máximos como Dedé Santana (Manfried
Sant'Anna), o icônico Mussum (Antônio Carlos Bernardes Gomes) e Zacarias (Mauro
Faccio Gonçalves). E em torno deles reuniam-se a madame, a doméstica, o
presidente, o metalúrgico, o poeta, o analfabeto, todo mundo que possuía em
casa, ou na rua, um aparelho de televisão. Todos se transformavam na entidade
"ô da poltrona!", alegórico bordão do mestre.
Se ali ele era sempre Didi Mocó,
vulgo para o quase nobre Didi Mocó Sonrisal Colesterol Novalgino Mufumbo,
palhaço-chefe de um circo eletrônico freqüentado assiduamente por milhões e
milhões todas as semanas, líder natural de uma trupe de saltimbancos 100%
brasilis transmitidos a toda nação, viveu nos cinemas do vagabundo Bonga ao
pseudocovarde Cinderelo, passando por Pilo e, claro, todos os Zés - Zé Cação,
Zé Grilo e Zé Galinha, entre outros. Na pele de qualquer uma de suas personas -
"Didi é meu alter ego", Didi, digo, Aragão, desfaz-se - ele sacaneava
quase ingenuamente negros, gays, gordos, feios e nordestinos, para o horror
destes monitorados anos 2000. E às vezes até pitava uma bituquinha de cigarro
industrializado (como o faz Bonga) numa época em que o politicamente bacana era
fazer o povo rir. Com o corpo treinado, ferramenta tão fundamental quanto as
gravatas com desenhos toscos de mulheres nuas que acompanhavam os ternos de
corte extragrande que usava, fazia acrobacias, malabarismos, dava saltos
mortais e driblava qualquer concorrência naqueles domingos verdadeiramente
legais.
Trapalhão mais bem-sucedido entre
os quatro, Didi - Meu Deus! Renato Aragão! - insiste em buscar o amor das
crianças com sua Turma do Didi, da qual faz parte o companheiro Dedé, e com os
bem-sucedidos filmes que protagoniza com a filha temporã, Livian - hoje
somam-se quase 50 obras de valor indiscutível para a cinematografia nacional.
Mas não há mais, ao que parece, espaço nobre para o verdadeiro palhaço
eletrônico no humor brasileiro. As gostosas naturais, os mauricinhos
engraçados, os repórteres escrachados e os intelectuais politizados dominam a
cena. Mas não no meu coração, onde Didi, e não Renato Aragão, reina absoluto.
É ele, Renato Aragão, de camisa
azul clara por dentro das calças brancas, cinto branco e tênis de corrida da
mesma cor que me recebe em sua mansão em um condomínio de luxo da Barra, no
Rio. Extremamente gentil e educado, o senhor à minha frente tem o corpo ainda
forte, o aperto de mão firme, mas o andar tímido e os olhos tristes. A voz que
me leva em uma viagem pelas terras felizes, ou não, da infância e da
adolescência, conta que na cena da ressurreição do Auto da Compadecida, de
Ariano Suassuna, quebrou o joelho "na primeira cambalhota", e fica
verdadeiramente embargada e assume tons mais baixos quando fala da saudade que
sente de Os Trapalhões. Apontando para a farta mesa de frios, salgados, pães e
acepipes, posta ao lado da enorme piscina, oferece: "Antes de começar a
entrevista, come aí um engasga-gato para deixar o bucho feliz". Difícil me
conter e não confessar o inconfessável: "Sou seu fã, Didi". "Ô
meu querido, que bom. Você me deixa muito feliz, mas eu sou o Renato", e
sorri um dos únicos sorrisos que se formariam em seu cansado rosto naquelas
horas em que falamos.
Comparando o senhor com seu maior personagem, Didi Mocó...
Senhor, não, por favor. É "você".
Pessoalmente você parece uma pessoa triste. E o Didi é alegre.
Eu não sou triste. Sou comportado, preocupado e respeitador, antes de tudo. Um
cidadão comum. E tímido, sou um cara muito tímido. As pessoas, às vezes, as
crianças, que não têm muito discernimento, mas têm muita sensibilidade, acham
que o Renato Aragão é o Didi, e esperam encontrá-lo derrubando uma banca de
jornal, correndo desastrado por aí, mergulhando de roupa na piscina. Mas eu sou
somente um pai de família comportado e sem graça.
Se acha mesmo um cara sem graça?
Pessoalmente, sim.
Mas eu vejo você falando e me dá vontade de rir.
Vou te contar por quê: você tem a referência do Didi. E por mais que você seja
instruído, por mais que tenha cultura, não desassocia o Didi do Renato Aragão.
Isso te incomoda?
De jeito nenhum. No começo, eu sentia uma certa rejeição a isso. "Peraí,
eu sou o Renato!" Mas foi por muito pouco tempo. O Didi atropelou o Renato
Aragão.
Demorou para você aceitar o Didi Mocó?
Eu o compreendi, não o aceitei. Não tinha como não o compreender. Um personagem
maravilhoso, como é que eu podia rejeitar meu próprio personagem? E eu vendo na
televisão o Didi fazendo aquelas coisas. Aquilo não sou eu. Porque eu, em sã
consciência, não faria aquelas merdas que o Didi faz, não seria porra-louca daquele
jeito. Acendeu a luz do refletor, eu viro outra pessoa.
Você está com 71 anos?
Sabe que eu não sei? Não sei que idade eu tenho. Depende do dia que eu acordo.
Tem dia que eu acordo com 90 anos, tem dia que eu acordo com 15. Tento o mais
que posso fugir da idade. Talvez ela me alcance um dia, mas não vou deixar.
O que te faz rir de verdade?
Do que eu rio, mesmo, é de palhaço de circo, o autêntico. Aquele palhaço
tradicional mesmo, que escorrega, sabe? Aí, eu me desprendo, me entrego.
Você ainda vai ao circo?
Fui muito às sessões desses grandes circos quando eu trabalhava com Os
Trapalhões. Não resistia e ficava vendo por trás da cortina. E aqueles palhaços
estavam tão distantes, tão acima de mim. Eu me emocionava muito. O palhaço de
circo me fazia rir demais. E chorar também. Hoje em dia não precisa muita coisa
pra chorar.
Você tem netos de mais de 20 anos de idade, filhos na casa dos 40.
Como é, na sua idade, ser pai de uma garotinha?
Recomendo. Quando a Livinha nasceu, eu tinha um netinho de 5 anos mais ou
menos. Aí, foram apresentar ela a ele - "Olha aqui a sua tia." E ele
ficou meio confuso com aquela história - "Ela é minha tia? Mas ela não vai
mandar em mim não, né?" Foi um confl ito de gerações. Ser pai nessa idade,
pra mim particularmente, é maravilhoso. Porque a tua idade já diz que você
chegou a uma espécie de aposentadoria, mas a Livinha me fez reviver, remoçar.
Tive de começar tudo de novo, fralda, educação, brinquedo. Tudo aquilo que um
pai novo faz com seu primeiro filho. Então, isso me dá uma energia muito
grande, uma vitalidade. Ela traz três crianças da idade dela pra passar a noite
aqui em casa, é muito bom, vou me sentindo mais novo.
Sua infância foi feliz?
Minha infância foi muito boa, não foi sofrida. Na cidade de Sobral, no interior
do Ceará, fiquei mais ou menos de 1935 até 1940 e poucos, e durante uns dois
anos não havia luz elétrica. Tinha uma vida muito boa, mas convivi ao lado de
muita pobreza, que sentia na pele de criança, mas sabia que eu não tinha aquela
fome. Adorava ficar com eles, naquelas casinhas de sapê, dava bola de futebol
pra eles. Lembro que um dia um amigo disse: "Vou pra casa almoçar" e
eu fui junto. O pai dele era o que a gente chamava de carreteiro, ganhava uns
trocados botando as malas na cabeça e levando para a casa a pé da estação de
trem, porque não tinha transporte. Aí, eu fui na casa dele, e ele: "Eu vou
almoçar". O pai dele entrou e tinha na mesa um copo separado com água e
ração de raspadeira. Ele misturou, pegou duas bananas e comeu com casca e tudo.
Foi o almoço. E eu fiquei olhando para aquilo. Criança não dá muita bola pra
isso, mas aquilo ficou em mim até hoje.
Como eram seus pais?
Meu pai era um gênio. Rígido. Era muito sério. Foi poeta, era industrial.
Escreveu muitos livros. Escreveu uma coluna numa revista, de Sobral para o Rio
de Janeiro. Mas ele perdeu a visão. Ele, ávido por leitura, lia jornal velho na
lamparina, e foi assim que queimou o nervo ótico de tanto ler. Porque lá não
tinha informação nenhuma. Ele foi fundador, professor e diretor de um colégio
sem nunca ter assistido a uma aula na vida. Autodidata. Meu pai é uma
referência muito grande para mim. Minha mãe era professora diplomada, tinha uma
cultura. Tem-se, em geral, a idéia de que você chegou ao Rio de Janeiro, vindo
do Ceará, para tentar a sorte apenas com uma trouxinha nas costas. O
estereótipo do nordestino que saiu da miséria e venceu na cidade grande. Eu
deixo que tenham essa imagem, nunca revelo que fui de classe média alta. Nunca
desdigo esse estereótipo porque isso é muito bonito também. Muita gente pensa
até que eu nasci no circo, que sempre fui de circo. Não digo que é verdade, mas
também não crio essa ilusão. Eu já vim para o Rio contratado para trabalhar na
televisão.
Como nasceu o Didi Mocó?
O Didi não nasceu comigo, como muitos pensam. O Didi foi uma coincidência muito
grande. Eu tinha um sonho de ser comediante como o Oscarito, que foi
maravilhoso, minha referência multinacional. Mas como eu iria ser um Oscarito
num lugar onde não tinha televisão, não tinha rádio, e o preconceito com quem
fosse de teatro era enorme? Ou era almofadinha, como eles chamavam, ou era
bicha ou era marginal. Quando estava no 5º ano de Direito, falei: "Vou
tirar esse sonho da minha cabeça". Aí, veio a TV Ceará, e pensei:
"Como eu vou entrar lá? Não sou engraçado, não tenho a mínima graça. Sou
uma pessoa muito tímida, vou chegar lá e dizer que quero ser comediante?"
Mas havia um curso de realizador em que você acumulava as funções de direção,
produção e redação. Eram 25 candidatos concorrendo a cinco vagas, eu fiz e
passei. Quando o cara me chamou pra ver se eu estava aprovado, tinha as listas
dos aprovados e dos reprovados. Eu, claro, fui na dos reprovados, mas não
estava lá meu nome. E o cara: "Então procure entre os aprovadas". E
eu estava lá, em primeiro lugar. "Sua mesa é esta, sua sala é esta e você
vai escrever a programação humorística de inauguração da TV Ceará." E eu
respondi: "Pô, eu não sou nada, sou um blefe. Nunca fiz isso na
vida". E ele sabia disso e disse: "Você não é viciado em nada, não
veio do rádio. Eu vi sua prova..." - eu havia escrito na prova uma
comédia, uma sitcom - "...é isso o que eu quero, cinema e televisão, é
imagem, não é voz." E eu: "Mas, rapaz, eu não sou nada disso. Eu
tenho uma prova na faculdade hoje, não posso escrever". Cheguei em casa
pensando o que é que eu iria fazer. Comecei a escrever sobre a cidade, "a
televisão chegou", e aí vai, "passageiro Renato", eu pensando
num nome... De repente, veio direto no papel: Didi. Acho que já estava escrito
antes de eu escrever. Ali o Didi nasceu.
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Se Os Trapalhões existisse atualmente, “seria o
maior sucesso da televisão”, diz Renato Aragão
O
eterno Didi, que acaba de completar 80 anos, fala ainda sobre as críticas que
sofreu recentemente e reclama do meme “no céu tem pão?”
por REDAÇÃO
13 de Jan. de 2015 às 20:08
“É mais uma etapa, um acidente
geográfico”, diz Renato Aragão sobre completar 80 anos nesta terça, 13. “São as
pessoas que me alertam de que eu fiz 80 anos, eu não percebo que tenho essa
idade, que sou um senhor. Na verdade, adquiri foi muita experiência na vida e
na carreira”, completa o ator, hoje indissociável do personagem Didi, que
integrava o quarteto Os Trapalhões.
O mais novo octogenário do entretenimento chega a esse momento
ainda se desafiando. Depois de décadas a fio como um ícone da televisão e do
cinema, Aragão fez sua estreia no teatro ano passado, ao lado do amigo e colega
de Os Trapalhões Dedé Santana. No último fim de semana, enquanto estava no
palco durante o musical Os Saltimbancos Trapalhões, ganhou uma homenagem
capitaneada pela filha adolescente, Lívian, que o deixa emocionado até agora.
“Não desconfiei de nada! Armaram com todos os artistas, com a TV Globo. Na
história, minha filha faz papel de menino e depois se revela como mulher. Nessa
hora de se revelar, ela veio falar que ia homenagear uma pessoa que faz
aniversário, entrou bolo, não sabia de nada”, conta, ainda contente. “Nunca
pensei em fazer teatro. De repente fui encarar esse desafio. E está indo muito
bem, estão aceitando muito. Gostei muito desse presente de aniversário.”
Aragão, acima de tudo, se mostra
lisonjeado com o carinho do público. “Talvez seja o Didi mais do que eu. Ele
completa 55 anos, já se misturou com o Renato Aragão, me dá força. E o público
também me dá força. É uma responsabilidade muito grande ter passado pelas três
gerações que o Didi passou”, afirma. “Não posso dizer que vou me aposentar. Até
pode ser. Mas não agora.”
Ao longo de 2014, Aragão deu muitos
sustos no público, virando manchete por causa de problemas de saúde graves
relacionados a um infarto e a uma infecção urinária. Segundo ele, sua
inquestionável fé, sempre demonstrada ao longos dos anos, é uma das razões para
não se deixar abater. “É o que me dá animo de alcançar mais uma idade. Não sei
mais quanto tempo vou viver depois dos 80, mas não tenho medo de nada. Cuido da
alimentação, da saúde, que é para ter uma longevidade, mas não sei quem é que
calcula isso”, diz.
Lembrando a importância de Didi Mocó para a própria carreira e
para a história do humor no Brasil, Aragão justifica o sucesso do personagem
com as características mais marcantes dele. “Não sei se é a ingenuidade, aquele
humor simples, que não quer ofender ninguém – por mais que haja um
policiamento. É humor limpo, família.” O tema, inevitavelmente, o faz cair na
entrevista recente que deu para a revista Playboy e
que foi motivo de muito debate nas redes sociais. Na entrevista, ele afirma
que, antigamente, homossexuais, negros e gordos não se ofendiam da forma como
acontece atualmente.
“Isso tudo não foi dito. Alguém não
leu tudo. É que eu fazia uma brincadeira com o Mussum: ‘Ô, Paraíba’, ‘Ô,
Negão’. Não era para ofender uma classe”, reforça, tentando “justificar” que “a
ofensa era entre eles”. “O sucesso se tornou o oitavo pecado capital”, declara.
“Você não pode fazer sucesso que as pessoas começam a inventar. Nunca tentei
ofender ninguém. Ao contrário, eu quero é conquistar! Deus me livre fazer uma
piada que vai afastar qualquer alguém. Eu amo os negros, homossexuais, os
gordos.”
“Eu fui quem mais sofreu preconceito na vida como comediante e
ator”, continua. “Eu sempre fui discriminado por fazer esse tipo de humor [mais simples]. Não liguei para isso, quanto mais
criticavam, mais aumentava a bilheteria. O povo sempre teve carinho comigo e me
defendeu. Alguém que ofende tem que ser criticado mesmo. Nem queria falar sobre
esse assunto porque as pessoas gostam de levantar polêmica. Mas vou repetir
mais uma vez: eu nunca ofendi negros, homossexuais, gordos, nem ninguém.
Levantaram essa lebre contra mim.”
Quando os papéis se invertem e
Aragão fala sobre se sentir ofendido por outras pessoas, é ele quem se revolta
ao lembrar da repercussão da história-triste-que-virou-meme “no céu tem
pão", um vídeo compilando as diversas ocasiões em que Renato Aragão narrou
o episódio verídico de uma criança que, antes de morrer de fome, perguntou se
no céu havia pão. E Aragão ainda não perdoou.
“Esse pessoal é muito maldoso, isso
foi uma realidade que aconteceu. Deviam ir passar fome lá no Nordeste, ver uma
seca...", diz Aragão, irritado. "Dois anos seguidos de seca e teve
uma criança que falou isso para a mãe porque não tinha o que comer. Que
maldade, que sacanagem, fiquei muito triste com isso, as pessoas ficarem
zombando do falecimento de uma pessoa com fome.”
Saudade
Nenhum tópico passa pela boca do ator sem que ele lembre da saudade que tem
d’Os Trapalhões. Sempre categórico em afirmar que jamais retomaria o grupo sem
Mussum e Zacarias, que morreram em 1994 e 1990, respectivamente, ele tenta
imaginar como seria o programa da trupe hoje, uma época em que o humor é
recebido de uma forma completamente diferente. E não se acanha em dizer: “Seria
o maior sucesso da televisão hoje”. Mesmo em outros tempos? “Eu poderia sofrer
preconceito, como sofremos”, diz, afirmando que seria tudo igualzinho. “O nordestino
sofrido, o galã da periferia, que é o Dedé, o “negão” da mangueira, o Mussum, e
aquele menininho mineiro que não queria crescer [Zacarias]. Era a
cara do Brasil.”
Ele ainda lembra com nostalgia de
uma das encenações preferidas daquele período. “Não sei contar piada, eu sei
encenar piada. O Didi é sempre Didi, o que muda é a situação em volta dele. O
que foi mais marcante para mim são aqueles clipes que fazia. Sidney Magal,
Maria Bethânia, Ney Matogrosso”, relembra, afirmando que adoraria fazê-los de
novo.
Passado e futuro
Se o legado de Renato Aragão após mais de meio século de carreira é imensurável
e difícil de resumir, o aniversariante não tem dificuldade em apontar com
precisão de onde vem a inspiração pessoal.
“Os maiores de todos os tempos? Oscarito, no Brasil.
Universalmente, o [Charles] Chaplin. Eles são gênios.
É a única definição que posso te dar. São gênios inimitáveis.” Já nos dias de
hoje, Aragão reforça o apreço que tem pelo trabalho do grupo Porta dos Fundos.
Eles são muito bons, maravilhosos! Falam tanto palavrão... é isso que digo
quando falo que é pesado. Porque eles não precisam falar, são muito bons. Estão
começando um novo marco de humor”, crava.
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