Roberto
Guilherme
Ator
Como
surgiu a oportunidade de atuar no filme Dois na Lona?
O
Ted Boy Marino era, na época, o ídolo total do Telecatch (programa
de televisão criado na extinta TV Excelsior do Rio, Canal 2, dedicado à
exibição de combates de luta livre que combinavam encenação teatral, combate e
circo); e nós pertencíamos à TV Rio, canal 13. Nesse filme, houve uma inversão
de papeis. O Renato Aragão é o treinador; o Ted Boy Marino, o aprendiz; e eu, o
campeão de telecatch.
Fiz aula de telecatch para
aprender as técnicas. Tudo era fantasia. Como eu já tinha sido da escola de
paraquedistas, já sabia um pouco. Tinha uma certa noção da coisa. Foi aí que me
escolheram.
Foi
aí que você conheceu o Renato Aragão?
Eu
era fã do Renato Aragão, desde a época da TV Tupi. Então, eu trabalha na TV
Excelsior, e via todo domingo o Renato na televisão e sempre comentava a respeito
dele. Eu dizia: “Um dia, vou trabalhar com esse cara.”
Quando o Renato foi contratado pela TV Excelsior, veio me procurar. Ele falou
com o Wilton Franco. O Wilton era muito brincalhão, sabia do meu desejo de
trabalhar com o Renato, que queria me convidar para trabalhar com ele. O Wilton
Franco, na brincadeira, disse: “Convida.
Se ele aceitar, pode ir.” Incrível!!! Eu
querendo, sonhando trabalhar com ele; e ele me chama. A partir daí; nasceu uma
grande amizade. Somos amigos, compadres, irmãos de sangue (doei o meu para ele.
Por isso, ele anda tão saltitante).
Seu
próximo filme com o quarteto foi Os
Trapalhões e o Mágico de Oróz, em 1984.
Isso é, depois de dezesseis anos você voltou a filmar com Renato Aragão. Por
que isso aconteceu?
É
muito simples explicar. Devido à minha multiplicidade de trabalhos. Eu fazia o
programa Os Legionários,
um humorístico que era exibido aos domingos, às 19h na TV Excelsior do Rio de
Janeiro e de São Paulo (mas o programa era feito no Rio) e no qual eles
aprontavam muito comigo. O próprio Renato Aragão escrevia a maior parte dos
esquetes cômicos. Ele fazia muitas sátiras e críticas ao Exército brasileiro.
Ele fazia piadas comigo, com o personagem do Sargento Pincel. E essas piadas
começaram a ficar “populares”
demais pelo país. Era o maior sucesso na época. Nessa época, eu fazia muita
coisa: dublagem, fazia programas, estava em todas. E acabei ficando à parte na
linha de filmes dos Trapalhões.
E aí, quando as coisas se acalmaram, comecei a fazer mais cinema.
Seu
próximo filme foi Xuxa e Os
Trapalhões em O Mistério de Robin Hood. Como
foi filmar sem o Zacarias?
Todos
nós éramos muito engraçados em cena. Fora, éramos todos tímidos. Éramos tranquilos,
ninguém fumava. Zacarias não bebia, Dedé bebia pouco. Mussum e eu bebíamos
mais. Até hoje, eu sou tímido. A ausência do Zacarias, claro, causou muita
tristeza, sim. Sentíamos muito a falta dele; mas era estranho, parecia que ele
estava com a gente, durante as filmagens nos programas, no cinema. Era muito
estranho isso.
Como
é viver um vilão?
Até
hoje, as pessoas me olham como o personagem e têm medo de mim. Isso se deve
também pelo meu porte. Mas eu sou um cara legal, educado. Eu era considerado o
vilão mais querido do Brasil.
Como
define o cinema dos Trapalhões?
Nosso
humor, era para a família, para todos, para idosos, adultos e crianças. Difícil
ser superado até hoje. No atual programa Zorra,
eu reaprendi a fazer uma nova forma de humor dentro da televisão. É cinema
dentro da tevê. Eu faço o mesmo quadro várias vezes, para pegar diferentes
ângulos. É muito legal. Eles juntaram um elenco idoso com a nova geração, essa
junção ficou muito bacana. Tem um pouco dos Trapalhões
aí. Talento não tem idade. A idade não é
sinônimo de velhice. Essa formatação fez do Zorra
uma verdadeira equipe, graças à visão
geral da produção, comandada pelo diretor de núcleo Maurício Farias.
Quem
era o melhor dos Trapalhões?
Até
hoje ninguém sabe dizer quem era o melhor, porque um dependia do outro para
aparecer. É preciso cultivar os ídolos.
Carlos
Kurt, Maurício do Valle ou Roberto Guilherme? Quem foi o maior vilão da
história dos Trapalhões?
O
Kurt levava o vilão para o lado mais pesado. O Maurício era mais
interpretativo. Tinha também o Átila Iório. Ele fazia um vilão da pesada
também. Pra recuperar o meu lugar, eu decidi raspar o cabelo e fazer do
Sargento Pincel um sargento bem durão e bobalhão. Acontece que esse personagem
se transformou no vilão mais querido.
E
esse vilão não funcionaria também no cinema? Não poderia ser melhor explorado nos
filmes dos Trapalhões?
Esse
vilão poderia se encaixar até melhor no cinema, em razão do enquadramento, dos
cortes. Eu poderia fazer até melhor do que fiz na televisão, graças aos
recursos do cinema. No cinema, você tem muito mais tempo para trabalhar o
personagem, mais condições de fazer com calma. A televisão é uma loucura.
O
que era os Trapalhões no
cinema?
O
cinema era praticamente a continuação da televisão. Promovíamos os filmes na
televisão, e no cinema promovíamos o programa de tevê. A gente dava
continuidade do que fazíamos na tevê. No cinema, nosso humor tinha essa
continuidade. Os Trapalhões até
hoje fazem sucesso, sejam nas reprises, nas vendas dos DVDs, no recém-lançado
musical no teatro. Onde tiver alguma referência a respeito dos Trapalhões, haverá
sucesso. Será sempre assim. O brasileiro precisa sorrir, precisa largar o celular
(acho ridículo esta postura: às vezes, a pessoa está do lado da outra e não se
falam, ficam conversando pelo celular!!!), precisa ver televisão, ir ao cinema,
ao circo, divertir-se e sorrir. E quem fazia isso com maestria eram Os Trapalhões, tanto no
circo, na televisão e no cinema.