Juninho
Bill
Ator
Você
atuou no filme A Princesa Xuxa e os Trapalhões.
Como e por quem recebeu o convite para atuar nesse filme? Como foi a
experiência?
Foi
nossa empresária que nos avisou. E ficamos bem felizes, depois nos encontramos com
a Xuxa e ela também confirmou nossa participação. Foi legal demais. Lembro-me
de muitos episódios dos bastidores. Havia muitas crianças no filme também, e
sempre arrumávamos umas brincadeiras pra passar o tempo.
Relembre
alguns episódios de bastidores.
Durante
as gravações, jogamos futebol com bolas de isopor, fazíamos fileiras de caixas e
cadeiras para saltar, lutávamos, corríamos pra passar o tempo das gravações.
Que
representou para você trabalhar numa produção estrelada pelos Trapalhões, que eram fenômenos
de bilheteria?
Foi
legal demais, Os Trapalhões eram
bem prestativos. O Dedé me ensinou bastante... “Não olha pra câmera!”, dizia
ele.
Dedé
foi a pessoa que mais o orientou? Quais outras dicas ele lhe passou?
Não
me recordo de todas.
A Princesa Xuxa e os Trapalhões é
de 1989. Na época, você era uma das estrelas do Trem da Alegria. Quais as suas
lembranças dessa produção?
Poxa,
muitas coisa. A roupa era bem engraçada. E eu não curti usar no começo; depois,
que eu vi outras crianças vestidas com os mesmos trapos, acostumei-me.
Talvez
a Xuxa, que foi modelo, não se incomodasse. As roupas eram, de certo modo,
cômicas também, né?
Sim,
eram cheias de trapos; e fizeram uma sunga com juta.
Como
foi a sua participação no filme, como compôs a sua personagem?
Eu
nem sou e nem era ator, mas fiz minha parte. Nem lembro o nome do meu
personagem. Não parei pra pensar em personagem, não. A Xuxa disse no primeiro dia
que o pessoal da equipe esperava muito de como eu era mesmo. E fui.
Como
foi o seu contato com Os
Trapalhões?
Lembro-me
de um dia de filmagens irmos pra casa do Renato e brincarmos muito com a
família dele. Churrascão, piscina! Lembro-me do Dedé mandando eu zoar o
Mussum...
Essa
irreverência e molecagem eles tinham até mesmo fora do ambiente profissional? Você
percebia que isso era espontâneo?
Era
sim, eles sempre procuravam algo pra zoar durante as gravações
Qual
foi a sua zoeira com o Mussum?
Todas
as brincadeiras eram espontâneas, mas o intuito era fazer o Mussum ficar nervoso
igual ele ficava na televisão.
Renato
Aragão, Dedé, Mussum e Zacarias tinham como característica a irreverência. Até
nos bastidores das filmagens, eles brincavam muito. Isso procede? As filmagens
eram descontraídas?
O
Renato era meu ídolo, e eu me tornei “amigão”
dele. Ele me tratava como criança e ao mesmo tempo como artista. O Dedé era o
que mais fazia as piadas e mandava a gente zoar toda a equipe. Dizia, por
exemplo: “Chama o Mussum
de Buça!”
Aí, pentelho que eu era, sem noção, chamei-o de “Buça” quase a filmagem toda,
até que a mãe do Rubinho me explicou que “Buça”
era abreviação de boceta. O Mauro era tranquilo; e eu adorava andar ou
encontrar com ele, quando não estava caracterizado de Zacarias. Eu me sentia
importante de estar perto dele.
O
quarteto, ao lado da Xuxa, eram os maiores chamarizes, naquele momento, para
uma produção cinematográfica (sucesso de público entre as crianças, carisma etc.).
Isso acabou acontecendo, já que a bilheteria foi de mais de quatro milhões de
espectadores (4.310.000). Qual a sua análise, hoje, dessa combinação entre Xuxa
e Os Trapalhões?
Sucesso
em dobro!
Renato
Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo? Ele
participava da escolha do elenco?
Poxa,
ele comandava mesmo. Eu sabia que escolhia quem participaria do filme deles,
mas não sei se era só ele que decidia.
Quais
as lembranças da direção do cineasta José Alvarenga Júnior, nessa produção?
Foi
meu primeiro contato com o filme. Chegamos à produtora, e ele nos explicou a
história tim tim por tim tim. Eu fiquei muito feliz de ouvir em primeira mão o roteiro
do próximo filme dos Trapalhões com
a Xuxa. Ficava imaginado a cena com seus detalhes. E o Alvarenga foi muito “massa” comigo, tinha uma
atenção com minhas pentelhices. E também era muito cuidadoso com o trabalho de
cena. Lembrei-me de uma que foi cortada do filme, que era uma barreira com laser vermelho de segurança
do castelo. Ficamos horas pra gravar. E, por fim, ele me disse: “Não dá, o laser parece um barbante.”
No dia seguinte, fizemos a mesma cena com duas lanças caindo sobre minha cabeça
e do Renato.
Na
sua opinião, qual era o maior ator do quarteto?
Talvez
o próprio Mauro, que botava a peruca e mudava a personalidade. Porque todos, na
verdade, representavam a si mesmos, tanto na tevê como nos filmes.
Você
sempre cita o Mauro com bastante carinho. Quando você o encontrava nos bastidores,
conversavam sobre o quê?
Durante
as filmagens, lembro-me de que falei com ele sobre espiritismo. Eu pensei que
ele estava dando um passe na Amanda Acosta e fui falar com ele.
E
o maior humorista?
Ah...
não dá.
A Princesa Xuxa e os Trapalhões foi
filmado onde?
No
Rio de Janeiro, em Jacarepaguá, acho.
A
história tinha características futuristas, passa-se em outro planeta, em pleno espaço
sideral. Num planeta chamado Antar. A produção foi ousada. Ela, de alguma forma,
foi pensada em se basear em filmes como De Volta para o Futuro,
que fazia sucesso na época?
Acho
que era mais Mad Max com
Star Wars.
Paulo
Reis, que interpretou o vilão Ratan nesse filme, está espetacular no papel. Que
tem falar sobre ele?
Putz!
Vi o Paulo apenas em uma gravação, o vilão não tinha diálogo com a gente. Apenas
uma cena. O Paulo voltou conversando na nossa Kombi, e eu dormindo...
Por
que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados
pelos Trapalhões?
Porque
eles não são inteligentes, não é? Falar bem de filme popular tira o prestígio.
Como
classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Eu
gostava dos filmes dos Trapalhões,
antes mesmo de ser gente ou entrar no Trem da Alegria. A meu pedido, minha mãe
me levou ao cinema, quando eu tinha uns cinco anos de idade, pra ver O Cangaceiro Trapalhão (acho
que é esse o título).
Gostaria
de saber quais as recordações que você possui de um personagem que era
considerado o quinto Trapalhão:
Tião Macalé.
Eu
adorava ele. Ele era doido, doido, doido. Eu zoava muito com ele; e ele me adorava,
falava que ia me pegar e tal. Mas... Um episódio ficou marcado: o Tião Macalé
não gostava do Flamengo; e, certa vez, fiz a plateia inteira gritar “Flameeeengoo! Flameeeengooo!”, nas
gravações do programa. Ele apontou o dedo pra mim e veio na minha direção. Eu
corri dele e fiz a plateia cantar mais forte, porque achei que fosse
brincadeira. Até que o Dedé segurou ele, e o Mussum falou pra mim sair um
pouco. Paramos a gravação. Saí do estúdio. Aí, falaram que ele ficava muito
puto, muito nervoso, quando faziam aquilo. Percebi a veracidade da coisa e a
agressão que eu fiz ao Tião. Depois de uns minutos mais ou menos, a gravação
reiniciou; e o Tião Macalé me olhava feio e resmungava baixinho, enquanto a
cena rolava. Tremi as pernas. E, passado alguns meses, ele morreu. Nunca mais o
vi. Acho que proibiram o roteiro de me colocar com ele. Mas eu queria me desculpar,
falar com ele no mesmo dia. Ou em outro dia talvez. Mas não rolou. O Tião foi
um grande humorista brasileiro!