Sylvia
Massari
Atriz
Como
surgiu o primeiro convite para trabalhar com Os Trapalhões?
Eu trabalhava na antiga TV Tupi, na
Urca, no Rio de Janeiro; e Wilton Franco, que dirigia o programa, me convidou.
Depois, em São Paulo, ainda na Tupi, havia uma primeira parte do programa,
dirigida por Tito Di Miglio e na qual fazíamos musicais. Havia um elenco de
cantores, entre os quais Agnaldo Rayol, Wanderley Cardoso, Rosemary, todos
consagrados na época. Eu estava começando e adorava fazer parte do grupo.
Fizemos muitos sucessos da Broadway e recebemos excelentes críticas.
Antes de
iniciar essa parceria profissional com Os Trapalhões, você já
acompanhava o programa ou os seus filmes?
Sim. Eu adorava o programa, que ainda
não tinha Mussum nem Zacarias. Eu ainda me lembro deles com Wanderley Cardoso,
Vanusa e Ted Boy Marino.
Apesar da
longa parceria que você firmou com o quarteto, nunca surgiu convite ou
oportunidade de trabalhar também no cinema com eles?
Chegamos a falar sobre isso, mas eu
sempre estava no teatro e não poderia assumir as filmagens.
Quais as
suas principais recordações dos bastidores de trabalho com o quarteto?
Sempre muita brincadeira. Era muito
divertido trabalhar com Renato, Mussum, Dedé e Zacarias. O clima era muito bom,
e entrávamos em cena sem nenhuma tensão... parecia que estávamos ali nos
divertindo!
Tião
Macalé era considerado o quinto Trapalhão. Quais as lembranças dele?
Cheguei a trabalhar com o Tião. Ele
era ingênuo, engraçado e fazia todo mundo rir.
Que tem a
falar sobre o Carlos Kurt, presença sempre constante nos Trapalhões?
Kurt era um excelente profissiobnal.
Sempre era “saco de pancada” e adorava isso.
Renato
Aragão, Dedé, Mussum e Zacarias tinham como característica a irreverência. Até
nos bastidores das filmagens, eles brincavam muito. Isso procede? As filmagens
eram descontraídas?
O tempo todo! Zacarias era muito
inteligente e excelente ator. Mussum, mais irreverente; Dedé mais sério; e
Renato, aquele que pregava peças nos companheiros. Vivia improvisando em cena,
e eu tomei muitos banhos de água fria inesperados. Tive peruca arrancada em
cena e muitas outras brincadeiras, que ele fazia comigo e com todo o elenco.
Como era o
seu contato com o quarteto (Didi, Dedé, Mussum e Zacarias)?
Eu cheguei também a ser quase “a
quinta trapalhona”. Tenho capas de revistas, com eles, e muitas
reportagens. Meu marido, Mário Wilson, foi redator-chefe e diretor do programa
na Tupi e na Globo. Ele foi, ao lado de Roberto Mendonça, empresário do grupo,
na época, um dos responsáveis pela transferência dos mesmos para a TV Globo. Eram
muito amigos e, assim, frequentávamos a casa do Renato e ele a nossa. Isso fazia
com que fôssemos bastante íntimos.
Que
representava, naquele período, trabalhar com Os Trapalhões, que eram
certeza de sucesso de grande audiência?
Era importante pra mim, que estava
começando. Eles sempre me trataram com muito carinho. E muito da minha atual
experiência e desenvoltura no palco eu devo a esse convívio.
Quem era o
maior comediante do grupo?
Renato sempre foi o líder e o que mais
fazia palhaçadas, o grande comediante! Dedé, o amigo, o que sempre segurou com
muita garra e humildade o seu papel de coadjuvante. Ele fazia tudo para que o
Renato brilhasse. Mussum, que veio de um conjunto musical, era aquilo que
sempre pareceu ser: irreverente, talentoso; porém, mais sério. O grande ator do
grupo era Zacarias. Ele fazia tipos brilhantes, com muita competência!
Gostaria
que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha
presenciado como testemunha ocular.
Eu vi muitas coisas, como cenários
desabando na hora da gravação, roupa rasgando, porta caindo, tiro de revólver
falhando e aqueles erros clássicos, que não iam ao ar, mas que deixavam a
plateia “chorando de rir”. Sei de alguns fatos que não vi, acontecidos
com o Renato e contados por ele. Ele é sobrevivente de dois acidentes
horríveis. O primeiro: numa viagem da formatura dele como advogado, o avião
bateu numa montanha; e morreram muitos amigos dele. Ele se salvou e salvou
muita gente que estava com hemorragia e coisas assim. Ele fez torniquetes com a
gravata, segurou uma barra pesada até a chegada do socorro. O segundo: um
capotamento de uma kombi, onde também se salvou, agarrando aquele laço de couro
que havia nos carros antigos, sem cinto de segurança. Fora dos palcos, o Renato
é um homem mais sério; e, uma vez num aeroporto, um garoto veio com o pai pedir
um autógrafo. Ele assinou no papel do garoto; e o pai pediu que ele desse uma
cambalhota, para o menino rir. Evidentemente, ele se recusou; e, depois de
muita insistência, o pai do garoto começou a dizer as piores coisas, chamando a
atenção de todos que estavam no saguão.