Poeta e
cineasta. Dirigiu o curta-metragem Porr Gentileza, filme a respeito do Profeta Gentileza.
O que te faz aceitar participar de produções em
curta-metragem?
O
que me faz aceitar é originalidade do projeto, o interesse que ele me provoca.
E isso vale tanto para curtas quanto para longas, peças de teatro, etc.
Por
que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em
geral?
Não vejo desta maneira. Meu curta Porr Gentileza, por exemplo, teve
crítica na Folha de São Paulo, quando foi exibido na TV Cultura. Há muito tempo
o curta conquistou seu espaço na mídia brasileira, talvez desde o tempo de Ilha das Flores, de Jorge Furtado. Claro
que os longas, que movimentam muito mais recursos e profissionais, que são
lançados nos cinemas, têm muito mais espaço, e é natural que seja assim. Mas há
muitos programas de TV dedicados a curtas, há um dicionário de curtas-metragens
excelente, um registro da produção brasileira, e o próprio trabalho que você
desenvolve no blog, fatos que demonstram
que o curta não é mais o patinho feio que foi há duas décadas atrás.
Na
sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Há a chamada lei da obrigatoriedade,
que foi muito polêmica por ter sido deturpada pelos exibidores. Essa lei, que
eu saiba, não foi revogada, ainda está em vigor, só não é aplicada. Um curta antecedendo
cada longa nas salas de cinema é um formato que funciona e que podia retornar,
agora mais bem pensado, selecionando-se os curtas com critério e os colocando
de acordo com o longa a ser exibido. A Prefeitura de Porto Alegre tem um edital
público que faz isso, e me parece muito bem sucedido, o Curta nas Telas.
É
possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um
trampolim para fazer um longa...
Há escritores que só escrevem contos,
se especializam nisso, e não ambicionam escrever romances. Dalton Trevisan,
grande escritor brasileiro, tem mais de 30 livros publicados, e apenas um
romance. Se o cineasta só se interessa pela forma curta, porque não exercê-la? Claro
que o curta funciona muitas vezes como uma escola: gasta-se menos tempo e
dinheiro para realizá-lo, e por isso se dispõe de mais liberdade também. Vários
cineastas realizam curtas como estudo para os longas que querem realizar:
Cláudio Assis fez isso, realizando Texas Hotel antes de seu Amarelo Manga. Isso
me parece legítimo e inteligente.
O
curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não creio nisso. Mas obviamente
não tem o mercado que os longas têm. Mas que cineasta terá a coragem de negar a
grandeza de filmes como Um Cão Andaluz
(Buñuel), Neblina e Sombras (Resnais),
Now (Santiago Alvarez), La Jetée (Chris Marker), A Velha a fiar (Humberto Mauro), Di (Glauber Rocha), Ilha das
Flores (Furtado) e tantos outros? A curta duração destas obras não tem nada
a ver com sua qualidade, elas são obras maiores que a maioria dos
longas-metragens produzidos.
Pensa
em dirigir um curta futuramente?
Sim. Apesar
de ter um projeto de longa em andamento, gravei um material no sertão
nordestino há dois anos no que deve me render um curta experimental em breve.