Crédito: Ronaldo
Júlio.
Você começou a
trabalhar como ator na TV Continental. Como era o seu dia a dia lá e o que
fazia naquela época? Quais os trabalhos que realizou?
Em 1961 assinei
meu primeiro contrato de carteira assinada como ator. Fazia os teleteatros às
sextas feiras além das novelas bíblicas, aos domingos, o “Teatro de câmera”,
dirigido por Gilberto Brea. Tudo era ao vivo.
Depois foi para
a Tupi e atuou no “Grande Teatro Tupi”. Como foi isso?
Isso foi em 1963/64, nessa ocasião o “Grande Teatro Tupi” dirigido por
Carlos Lage. Nessa época já existia o vídeo tape. Era gravado como se fosse ao
vivo, quando errávamos, tínhamos que começar tudo de novo desde o começo.
Anos depois, foi
convidado pela TV Globo para integrar o elenco de teledramaturgia. Como e em
que circunstância recebeu esse convite?
O convite partiu de Paulo Graça, filho de Graça Mello, então diretor
artístico da TV Globo, para fazer um teste. Estavam dando oportunidade aos
novos de então.
Você inaugurou a
TV Globo. Hoje, depois desse hiato, acreditava que a emissora se tornaria uma
das maiores do mundo?
Eu acreditava já naquela época que a TV Globo seria
a nossa emissora de televisão com caráter industrial. Viria para ficar.
Acervo pessoal. Capitão Furacão.
A personagem
‘Capitão Furacão’ você interpretava, então um jovem de 26 anos. Quais as suas
principais recordações desse trabalho?
As minhas criações artísticas sempre foram de personagens mais idosos do
que eu. Nunca me achei um galã romântico. Quando surgiu o Furacão, eu imaginei
como um velho lobo do mar e, sua credibilidade para o público infanto-juvenil
foi a coisa mais gratificante, manifestadas até hoje pelas crianças.
Ainda há imagens
desse trabalho ou tudo se perdeu?
Infelizmente não. Existem fotos do meu arquivo. Naquela época não
quiseram fazer o programa gravado, nem gravavam par arquivo como se faz
atualmente. O programa era diário voltado para apresentar desenhos animados e
séries para TV. Eu o produtor e diretor Helio Tys criamos atrações e atividades
entre um filme e outro a cada dia.
‘Capitão
Furacão’ é considerado o "avô" de programas infantis como o Xou da
Xuxa, Angel Mix e Gente Inocente. Quais as diferenças das crianças da época do
Capitão para as crianças dos programas citados?
Os programas infantis da atualidade são
apresentados por jovens e cativam muito mais as crianças pequenas. Naquela
época as crianças e pré-adolescentes se sentiam motivadas a vocações através do
que apresentávamos nos intervalos dos filmes. Tanto que hoje, há oficiais de
alta graduação da Marinha brasileira que seguiram a carreira, motivados em
terem visto o Capitão Furacão.
Quais eram as
principais características que o programa tinha e que o tornou um sucesso?
Entre tantas coisas apresentadas, os passeios marítimos que organizávamos
em parceria com a Marinha, visitas guiadas e exposições de modelismo naval.
Estórias de piratas que lançavam garrafas ao mar com mensagens, sempre
divertidas. Concursos e homenagens a todos os países em datas históricas, sem
qualquer barreira política.
Acervo pessoal. Capitão Furacão nos estúdios da TV Globo.
Quando o Capitão
saiu do ar a TV Globo lançou o seriado “Vila Sésamo”, que entrou em seu lugar.
Nessa época, você levou o seu Capitão para a TV Rio, onde passou a se chamar
“Clube dos Grumetes”, ficando no ar por mais seis meses. Por que durou pouco
tempo?
Estreamos com um patrocinador, porém lamentavelmente a TV Rio estava com
seus dias contados. Durou seis meses e acabou.
Sua saída da
Rede Globo foi tranquila?
Eu estava cansado e um tanto frustrado pela emissora não realizar “As
Aventuras do Capitão Furacão” como sempre foi meu desejo. Eu sempre fui ator e
queria atuar naquilo que gostava e sabia. Então, pedi para sair.
Muitas séries de
sucesso no Brasil e no mundo exibidas pelo programa ‘Capitão Furacão’ entre
elas: Superman, Os Três Patetas e a mais famosa foi a série Zorro,
protagonizada por Guy Williams, Henry Calvin, Don Diamond, George Lewis, Gene
Sheldon e muitos outros atores dos anos 1950. Você fazia a seleção desses
programas?
Não, quem cuidava disso era o departamento de telecine e logicamente a
direção da emissora pela parte artística.
Há uma grande
quantidade de produtos vendidos que aludem aos programas infantis. Acredita que
se o seu programa fosse veiculado hoje, ganharia muito mais dinheiro?
Sem dúvida, mas eu não iria com muita sede ao pode. Haveria uma seleção.
Atualmente estou voltado para algo que as crianças sabem dominar. A Internet,
por isso estou com o Capitão Furacão na TV Atlântica, uma emissora de televisão
somente transmitida pela Internet.
Considera a
programação dedicada ás crianças, muito fraca atualmente?
Que programação? Há até na TV fechada alguns canais voltados para esse
público, mas não algo que gere fatores motivadores sejam vocacionais ou de
cultura.
Acervo pessoal. Durante o programa.
Após o programa é que você passou a ser dublador?
Não, após o programa
voltei a dublar e atuar em teatro. Também fiz filmes, no meu histórico posso
citar Meteoro de Diego De La Texera, Copacabana da Carla Camurati, mais
recentemente Red Brazil e As fantásticas Aventuras do Capitão, esse baseado no
livro de Jorge Amado. Além de vários curtas metragens e atuação em novelas e
programas de TV.
Você fez a voz de inúmeros personagens de desenhos animados e filmes
famosos, como "Harry Potter e a Pedra Filosofal", "Harry Potter
e o Cálice de Fogo" e em outros grandes filmes. Qual o trabalho que mais
te deu orgulho?
Dentre os filmes
dublados, sem dúvida foi “A Família soprano” foi muito marcante onde dublei
James Gandolfini.
Como foi essa transição, sair da frente das câmeras e fazer dublagem?
Eu gosto de toda
atividade artística, por isso não fico muito tempo longe das câmeras. O ator
deve ocupar todo o espaço e atividade onde se apresentar.
O que é necessário para ser um grande dublador?
Precisa ser ator.
Interpretar esquecendo que é você e sim o ator que vai dublar dando-lhe suas
características na interpretação, principalmente o sentimento e ritmo dele, não
o seu.
Quais eram as suas referências?
Meus gurus são Magalhães Graça, Orlando
Drumond, Ênio Santos, Joaquim Motta, Milton Rangel e tantos outros mestres com
os quais eu aprendi a bela arte de dublar.
As pessoas te reconhecem nas ruas?
Muitos me reconhecem, às
vezes só pela voz. Perguntam logo: O senhor é dublador, não é?
Para finalizar, gostaria de saber se a falta de informação e cultura
televisiva são os grandes responsáveis pelo pouco conhecimento que as pessoas
possuem da sua trajetória.
Não, tudo é questão de
época. Tudo muda, porém eu na televisão sempre fui o Capitão Furacão, tanto que
nunca quis colocar meu nome no crédito do programa. Em novelas não interpretei
papéis de personagens que marcasse. Também o teatro onde atuo muito, o grande
público não tem tanto acesso, gostaria que pudessem ir mais. No mais, hoje uso
a mensagem para meus grumetes, “No coração e na mente, sempre com vocês”.