Reinaldo
Elias
Figurinista
Como
surgiu a oportunidade de trabalhar na produção de figurino do filme O Cangaceiro Trapalhão?
Quem
assina o figurino do filme é Marília Carneiro, renomada figurinista da TV Globo
e que também assinou vários trabalhos em teatro e cinema. Ela me chamou para
fazer parte da equipe de figurino do filme.
O
filme O Cangaceiro Trapalhão veio
na esteira de sucesso da minissérie Lampião
e Maria Bonita, exibida pela TV Globo. O filme contou
com Aguinaldo Silva
e Doc Comparato, roteiristas da minissérie, assim como também teve o casal de
protagonistas, Nelson Xavier e Tânia Alves. Em relação ao figurino, vocês
partiram do zero ou utilizaram as referências e peças da minissérie?
Fizemos
a mesma pesquisa que foi feita pela minissérie, que também teve os figurinos assinados
pela Marília Carneiro. Porém, o Daniel Filho lançou o desafio de dar um
diferencial ao filme, sem perder as informações do cangaço, mas revisitadas com
humor. Refizemos várias vezes os desenhos de figurino, até chegar na aprovação
da direção. Consistiu basicamente numa mudança na palheta de cor e na proporção
das roupas, sobretudo as do Renato.
Não
tinham receio de comparação, já que essa minissérie foi pioneira na proposta de
renovação da linguagem na teledramaturgia da TV Globo? A minissérie foi
estruturada com cuidadosa pesquisa histórica, o que não excluiu a inserção de
elementos ficcionais na trama.
Nunca
percebi essa preocupação de comparação, pois a abordagem “trapalhão” por si só
já era um diferencial, com o intuito de divertir o público-alvo infanto-juvenil.
Explique
para os leitores como é o trabalho de composição e de produção de um
figurinista.
O
trabalho começa com a leitura e decupagem do roteiro. Depois, vem a pesquisa e
conversas com a direção, para escolher o “caminho”
do visual do filme, no caso do figurino. Processo semelhante acontece na
cenografia e produção de arte. Uma vez aprovada a proposta e os desenhos,
partimos para a produção das peças, o que, em geral, envolve vários profissionais
de costura, modelagem das roupas, tinturaria, aderecista, sapateiro etc. Daí,
marcamos a prova de roupa com elenco, para uma prova técnica de figurino para
ajustes e montagem, uma espécie de edição das roupas. Em seguida, é mostrado
para a direção, que aprova, rejeita ou modifica o look.
Por
que você só trabalhou nesse filme com Os
Trapalhões?
Na
época, eu era freelance e
fui chamado para esse filme. Depois, outras coisas surgiram; e fui seguindo. E
não houve outras oportunidades com essa trupe. Não foi uma escolha minha.
Que
esse filme representa na sua carreira?
Esse
filme especificamente não teve grande impacto na minha carreira, até porque eu
era assistente da Marília. Mas foi legal conhecer aquelas pessoas de cinema e ver
como aquilo funcionava. Foi uma boa experiência profissional para outros trabalhos
futuros em cinema.
Como
Daniel Filho conduziu o processo fílmico dessa produção?
Ele
tinha uma atitude sempre questionadora, o que na época estranhei. Mas, depois, percebi
que foi importante para tirar a equipe da zona de conforto e ir fundo em outras
possibilidades. Percebi a importância daquela atitude, quando vi o filme
pronto, na estreia, no antigo Cine Ryan, na Avenida Atlântica. Tinha um grande
impacto visual e era muito benfeito e dirigido.
Renato
Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Eu
não tive muito contato com ele, durante as filmagens; mas o percebi bem tranquilo
durante as provas de roupa, até porque ele sabia que estava em boas mãos e que
Daniel estava atento a tudo.
Quem
era o maior comediante do grupo?
Essa
pergunta é bem difícil de responder, pois cada um ali tinha seu lugar e suas qualidades.
Dá para ver, durante os esquetes.
Como
classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Na
época, para nós, profissionais, era um filão disputado, pois eles sempre
buscaram, tanto na equipe quanto no elenco e direção, pessoas com excelência em
suas áreas de atuação. O que resultou em uma série de filmes bons para a faixa infanto-juvenil,
que em nossa filmografia nunca foi tão bem agraciada como na série dos filmes
dos Trapalhões.
Por
que os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos
Trapalhões?
Essa
pergunta remete a uma questão complexa; e o que eu disser aqui será apenas minha
opinião, pois não tenho embasamento para uma resposta conclusiva. Nossa
referência de filmes no Brasil sempre foram os filmes americanos. Os filmes dos
Trapalhões eram
feitos dentro de um universo regional e tratando de repertório de ideias e
humor nacionais. Talvez, por isso, uma certa rejeição da Academia, mas cuja
crítica sempre ficou em segundo plano, uma vez que a aceitação do público e da
bilheteria falaram mais alto.