quarta-feira, 29 de julho de 2009

Paulo César Pereio

Atuou em quase cem filmes como ator, participando de muitas de suas obras decisivas, passando por suas correntes artísticas importantes como o Cinema Novo, Cinema Marginal, Pornochanchada, e imprimindo a seus personagens traços de sua personalidade: a irreverência, a corrosiva ironia, a anarquia e o deboche.

Você já fez uma porrada de curtas, qual que é o grande barato de um curta-metragem?
Eu acho que é a mesma coisa, é fazer cinema, é um filme curto, em geral o orçamento é proporcionalmente muito menor, porque você vê que um curta que pode ter 15, 20 minutos, e um longa tem 90 minutos pode até um pouco mais, então quer dizer é mais técnica sempre e o orçamento é muito menos do que 10% o orçamento do longa.

O curta no Brasil inclusive, não tinha possibilidade de veiculação, agora se abriu com a projeção digital, com exibição na televisão, no Canal Brasil, principalmente, e nos festivais de curtas, mas o prazer é o prazer de fazer cinema, não muda muita coisa, tem uma vantagem que fica mais relaxado e que em geral tem um aspecto experimental, e eu sou chegado a isso, e não trabalhar com cara muito rígido, poder experimentar.

Por não tem tanta pressão do mercado e da crítica... talvez seja um grande fator de fazer um curta, não ficar tanto naqueles padrões do cinemão...
Eu acabei de dizer isso cara, engraçado eu acabei de dizer isso, que tem mais liberdade de experimentação, agora trabalhar com jovem não é necessariamente bom, não, tem jovens que são insuportáveis, um dia um cara que estava viajando, um curta aí que eu fiz, estava viajando em estar na direção mais do que estar dirigindo, ele falou assim para mim, eu estava na Praça da Sé ao sol, era verão de terno azul marinho, e ele falou assim para mim, não sue, tem umas coisas as vezes com jovem que enche um pouco o saco, mas tudo bem, eu não acho que seja assim, o que eu tinha acabado de dizer foi a sua pergunta seguinte, eu tinha dito que o curta é mais livre, dá para experimentar.

Você acha que dá para contar uma história em tão pouco tempo de metragem?
Mas é claro, existem novelas, existem contos, eu vi um curta uma vez que tinha, eu acho que tinha 2 minutos e era bem interessante.

E você acha que também os veículos de divulgação, tem o Canal Brasil, a própria TV Cultura que exibe, mas tem poucas salas de cinema que exibem o curta, ele é pouco visto, isso de certa forma te chateia?
Não, eu acho que isso é uma luta que o pessoal que realiza curta e tal, tem que fazer, eu sempre gostei de curta, eu amo muito e eu amei um clube de cinema em Porto Alegre que passava muitos curtas, quando eles exibiam inclusive da Inglaterra, documentários, curtas etc., eu acho que isso é um fenômeno do brasileiro... esse negócio de não dar importância para o curta.

E da crítica, você acha que é uma crítica viciada que só quer falar do cinemão, e não quer falar do curta, é meio marginalizado do próprio meio da imprensa?
Eu acho que a crítica, não deve ser uma crítica adjetiva, acho que a crítica de cinema deve ser uma crítica estimulante, o papel do crítico ser muito mais de dar estímulo, agora evidentemente, que o jornal coloca o crítico que tem a ver com o processo comercial da coisa, não se dá muito ao trabalho de ficar criticando, dando livre interferência, recomendando ou desencomendando um negócio que está dando mercado, absolutamente, mas eu acho que o papel do crítico é de estímulo não de adjetivo.

E os cineastas, a maioria dos cineastas famosos, grandes diretores, eles começam com o curta e tem uma projeção, um grande sucesso, vão para o longa e nunca mais faz um curta, e alguns atores, quando não tem muito o que fazer, fazem um curta. Você acha que o curta é marginalizado no próprio meio artístico?
Eu acho que não, eu acho que isso que você está dizendo não acontece, eu me lembro que teve uma época que teve uma sessão inteira de cinema com vários curtas, tinha um que era “história extraordinária”, sei lá, tudo cineasta consagrado... eu me lembro que Fellini fazia curtas e juntava com outros diretores, e isso já aconteceu no Brasil também, três diretores do cinemão, numa sessão inteira de cinema, dessas de 2 horas, com curtas-metragens, é evidente que pelo desprestígio que tem pela falta, pela coisa não estar armada direito para a comercialização, o cara que faz o cinemão, ele fica no cinemão.

Dos curtas que o senhor fez, qual que o senhor destaca?
Eu me lembro que eu gravei um recentemente sobre o Camboja, que eu achei muito interessante, porque eu não trabalho só como um ator eu trabalho também como narrador, eu recentemente gravei um do André Ferezini, sobre o Camboja que eu gostei muito, mas eu não boto na minha cabeça, as coisas em ordem, é ordem da memória, ordem afetiva entende? Porque eu não exercito a crítica adjetiva, essa crítica que eu falei mal, eu não exercito, isso é bom? Isso é ruim, mas eu não exercito isso, e hoje e sinto a arte, se eu começar a ficar crítico adjetivamente eu jogo tudo que eu critico para dentro da minha cabeça e me proíbo de fazer aquilo. Eu não posso mais pisar na bola, então eu evito o exercício da classificação qualitativa disso, daquilo, as vezes eu tenho prazer numa filmagem e isso é o que importa entende.

Tem algum curta em vista que o senhor vai fazer?
Atualmente não sei, as coisas aparecem assim subitamente, eu estou sempre de olho, para você ver, o ano, nesses últimos anos, eu devo ter feito uns 40 curtas, então eles vão surgindo e eu vou fazendo.

E o que te leva a aceitar um convite?
Eu gosto de trabalhar com gente nova, com gente que futuramente vai estar no cinemão, porque o pessoal do cinemão já enjoou um pouco de mim, então a chance que eu tenho de ter um trabalho no futuro, uma espécie de aposentadoria. Essa gurizada ainda vai fazer bons filmes.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Fernanda D'Umbra

Fernanda já fez mais de 40 peças com o grupo ‘Cemitério de Automóveis’, uma das mais underground e ovacionadas do teatro brasileiro contemporâneo , é conhecida pela influência da literatura beatnik, dos quadrinhos, do cinema e do blues.

Fernanda, você que é uma atriz de teatro, o que você acha que o teatro pode ajudar no cinema especificamente no curta-metragem?
Eu acho que o ator de teatro é um cara que aprende a interpretar porque ele tem que saber mesmo, a linguagem de teatro depende muito dele. A gente não tem os recursos que nos favorecem, como tem no cinema e na TV, que é uma edição, que é uma câmera que vem te ajudar, no teatro a gente tem que aprender a ser bom quase que sozinho ali, então um ator de teatro via de regra é um ator que sabe interpretar, o que ele precisa quando vai para o cinema de curta-metragem, é conseguir adaptar aquele saber que ele tem da interpretação para aquela linguagem e jogar com ela, porque ao mesmo tempo que o cinema te favorece, porque ele te dá os recursos que o teatro não tem, ele também pode te passar a perna porque tem que também saber lidar com esses recursos. No quesito interpretação eu acho que o ator de teatro tem muito a oferecer para o cinema, curta, média e longa-metragem.

E você pensa, por exemplo, em enveredar para essa área? Por que eu sei que o Ivan Cabral já fez curtas, o pessoal do Sátyros, tem essa vontade de experimentar, de contestar o que está por aí dessa linguagem cinematográfica.
Olha, depois que eu comecei a fazer TV, que eu estou fazendo agora uma série na GNT, muito me interessava por esse assunto câmera, e ele começou a mexer com meu imaginário, se eu disser que já tive idéia de fazer um curta, é mentira, nunca tive, mas agora eu posso te dizer que eu devo vir a ter interesse em enveredar por aí, porque as tecnologias estão mais fáceis, o acesso está mais fácil e a gente vai acabar fazendo alguma besteira uma hora ou outra.

Você falou de tecnologia, tanto do celular que dá para gravar curta, câmeras digitais, tem uma proliferação muito grande. O que você acha que uma pessoa tem que fazer para diferenciar um trabalho, fazer um trabalho bacana, nessa avalanche de curtas que tem por aí?
Se o cara quer ser diferente tem que ser bom, e ser bom significa ter um certo talento para a coisa, não é o equipamento que faz o bom cineasta, é a cabeça dele, é o que ele tem lá dentro, é o que ele quer mostrar do jeito que ele quer mostrar. Então o que eu acho que vai diferenciar no final das contas, como o acesso está fácil, todo mundo vai sair fazendo, o que vai diferenciar é a cabeça de quem tá com aquele negócio na mão.

Qual é o grande barato de um curta?
È de contar de maneira sucinta uma boa história, eu gosto de história, eu acho a coisa da linguagem pela linguagem bem sacal, mas também pode ser que seja até uma limitação minha estética, não estou aqui me colocando, estou assumindo até uma possível limitação, mas um curta que me conte uma boa história eu acho bem bacana.

O curta tem um poder de síntese muito grande, você acha que dá para contar uma história em tão pouco tempo de metragem? O teatro geralmente é de 50 minutos para cima, se pudesse ser filmado, nunca seria um curta, você acha que dá para contar uma história em tão pouco tempo?
Acho que dá, dá para você fazer isso de várias formas, dá para você fazer isso no roteiro, na montagem, e eu acho que dá sim, acho que dá fácil para contar uma história curta.

Você também é autora, interpreta e tudo mais, você acha que poderia escrever, e produzir, dirigir um curta, já que você me falou que pode vir a ter essa idéia no futuro? Se tivesse agora uma idéia que tivesse que fazer um curta agora, qual o curta que você faria?
Idéia de um curta agora, eu acho que eu faria uma curta sobre uma pessoa que abandona todas as tecnologias e tenta continuar vivendo na cidade grande assim, sem celular, sem internet, pelo menos por um tempo e ver o que acontece na vida dela, é uma experiência que eu estou tentando fazer comigo agora, mas na verdade você me pegou de surpresa, eu não sei que idéia teria, agora eu acho que eu não teria problema nenhum em escrever e dirigir se eu conseguisse alguém para fazer uma direção de fotografia comigo, e fazer uma parceria ai comigo, resta saber se eu vou achar esse alguém, se eu achar eu vou fazer sim.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Clarisse Abujamra

O primeiro contato de Clarisse com câmera de cinema foi em 1968 no filme ‘As Amorosas’, de Walter Hugo Khouri. Em 79, participou de ‘Gaijin’, de Tizuca Yamasaki. Mas, o seu mais importante trabalho foi no filme ‘Anjos do Arrabalde’, de Carlos Reichenback, que lhe rendeu o Prêmio Governador do Estado como a melhor atriz do ano de 1987.

O curta para uma atriz que está em televisão e está em teatro ele é pouco visto, pela pouca divulgação que tem na própria mídia e também nos cinemas e tudo mais, isso de certa forma chateia, porque para uma atriz ela quer ser vista por milhões de pessoas, ela quer ver seu trabalho amplificado, isso de certa forma te chateia para aceitar um convite, e o que te faz aceitar um convite para um curta?
Não me chateia em absoluto, me chateia usando essa palavra que você usou, num quadro geral da falta de divulgação que um artista não estou falando só de teatro, o interprete, todos ocupam um espaço mínimo dentro da mídia, isso é uma grande lástima, nesse sentido sim, quanto a atriz fazer, acho que todo o ator ou interprete, ele não perde a chance, nunca, de um personagem, é sempre o prazer, eu fiz só dois curtas para o pessoal de faculdade, etc, mas foi um prazer enorme porque é um exercício, cada veículo requer um tipo de preocupação, então você está sempre se exercitando, eu nunca penso nesse setor, talvez eu esteja até errada, mas quando me convidam para fazer se isso pintar na minha cabeça vai ser uma coisa bem depois, mas nunca é uma premissa, nunca é uma questão para dizer não, se vai ter divulgação ou não, porque eu estou nessa vida a muito tempo e eu sei como é.

O curta, algumas pessoas dizem que ele é o grande movimento do cinema, devido a muitos cineasta ou não cineastas fazerem curtas porque tem muita facilidade com a mídia tanto com celular, câmeras digitais e tudo mais e tem uma vazão para experimentação. Você acha que isso é o que instiga a um trabalho de curta? Porque a TV já tem um formato padrão, ao autor, a interprete e tudo mais.
Eu acho que sim, porque ele por si só, já abre uma certa facilidade e depois eu tenho uma fé muito grande nessa garotada que faz curtas ou não, que você vê que com certeza amanhã vai querer fazer um longa, por mais que ele se especialize, que seja só paixão o curta, fatalmente é um laboratório para ele encarar um longa metragem, ou mesmo se aperfeiçoar naquilo e conseguir uma síntese maravilhosa, eu acho o curta uma coisa super interessante e fértil, e agora com essa facilidade que está tendo agora de fazer, não estranho que ele ganhe um terreno maior.

Sobre o poder de síntese do curta, você acha que dá para contar uma história em tão pouco tempo de metragem?
Eu acabei de ler um conto e uma autora francesa, o livro é assim pequenininho, o texto é uma página, e ela cona tudo,daí cabe o saber fazer.

No seu trabalho, você que teve dois curtas , o modo de preparação para atuar em um curta é diferente de um filme, de uma novela ou de uma peça?
Não, obviamente a diferença é do modo interpretar, eu não vou interpretar no cinema da maneira que eu interpreto no palco, como nesse teatro que onde nós estamos agora aqui, esse palco tem 150 lugares eu não vou soltar a voz tanto quanto eu tivesse em um teatro com 700 lugares, então só nesse sentido que muda, e as vezes o curta tem uma certa liberdade para o interprete de voar um pouquinho mais, de prosperar mais com o diretor, as vezes é até mais fértil.

Você acha que o curta é um gênero menor dentro do cinema?
Não em absoluto, você pode ter um longa-metragem, eu sou fascinada pela competência, então se o cara é competente ele vai ser absolutamente maravilhoso, se ele for incompetente ele vai ser em um longa, em um curta, e no que ele quiser, e eu acho que ele é belíssimo.

Qual é o grande barato de curta-metragem, tanto o que te leva a assistir um curta, e qual que você acha que é o grande barato de um curta?
O que me excita num curta é que você vê a coisa da síntese do pensamento, o cara tem que ir na mosca, porque se ele não for ele está ferrado, esse talento de conseguir no curta-metragem uma idéia, isso me fascina.