Matéria de hoje no Caderno 2, do jornal "O Estado de S.Paulo": http://cultura.estadao.com.br/noticias/literatura,as-hqs-dos-trapalhoes-mostra-como-foi-a-empreitada-do-grupo-no-mundo-dos-gibis,70001778123
domingo, 14 de maio de 2017
sábado, 13 de maio de 2017
As HQs dos Trapalhões
Organizado por Rafael Spaca.
Prefácio de Dedé Santana
Textos de Marcus Ramone, Jal, Denison Lemos.
Capa de Bira Dantas e Jânio Garcia.
Depoimentos de 28 profissionais que trabalharam nas HQs dos Trapalhões.
Compre na Amazon! http://amzn.to/2q4fPbv
Mais informações: http:// www.estronho.com.br/blog/ as-hqs-dos-trapalhoes/
segunda-feira, 8 de maio de 2017
As HQs dos Trapalhões
Matéria do blog "Caderno da Lua" a respeito do lançamento do livro "As HQs dos Trapalhões" (Editora Estronho): https://cadernodalua.com/2017/05/08/rafael-spaca-lanca-livro-sobre-hqs-dos-trapalhoes-pela-editora-estronho/
segunda-feira, 1 de maio de 2017
Os Trapalhões: a série
César
Sandoval foi quem criou para a Editora Abril o gibi com os Trapalhões crianças,
é dele também a arrojada estratégia de marketing para quarteto, assim como a
elaboração das vinhetas de abertura dos filmes. A série é uma parceria da TV
Cidade com a Editora Laços. Confiram: https://www.youtube.com/watch?v=cnDX7VDCqmY
Os Trapalhões: Breno Moroni
BRENO
MORONI
Ator
Você
atuou no filme Os Heróis Trapalhões – Uma Aventura
na Selva, sua estreia no cinema com eles (antes
já tinha atuado em dezenas de filmes). Como e por quem recebeu o convite para
atuar nesse filme? Como foi a experiência?
Olha,
eu fui convidado pelo próprio diretor, o José Alvarenga Júnior. Na época,
eu fazia bastante cinema. Ele me
convidou; e foi uma experiência incrível, porque
o José Alvarenga é um dos maiores,
melhores e mais experientes e mais práticos diretores
cinematográficos do Brasil. O José Alvarenga tem uma coisa que combina
muito com Os Trapalhões, que é o
talento para o improviso e a rapidez. Eles trabalham
muito rápido, filma muito rápido, tanto Os Trapalhões como o
Alvarenga. Então, é
uma escola de cinema que tem muito da televisão, que é a objetividade.
Que
representava, naquele período, atuar em um filme com Os Trapalhões, que eram
certeza de sucesso de bilheteria?
Em
relação às bilheterias, eu nunca me preocupei com isso. Porque ganhava cachê. Eu
ganhava uma coisa certa; então, não dependia de bilheterias. Mas, de qualquer
maneira, o sucesso de bilheteria significava o sucesso de ser reconhecido nas
ruas como uma pessoa que trabalhou com Os
Trapalhões. Tem sempre alguém aí de meia-idade que
vem me dizer: “Na minha infância, eu via muito você
nos filmes dos Trapalhões, era muito
bom, gostava muito.”
Então,
esse sucesso aconteceu, sim; mas não tinha nada a ver com bilheteria no meu
caso. Foi uma experiência muito boa. Eles são bastante profissionais. Eu lembro
uma vez que teve a estreia de um dos filmes; Os
Trapalhões se atrasaram por causa de um voo, e eu
tive que substituí-los no palco para uma plateia de milhares de pessoas. Tinham
milhares de pessoas lá; e eu tive que ficar improvisando durante muito tempo,
por uns quarenta, cinquenta minutos... Não me lembro bem, mas fiquei entretendo
o público que esperava Os Trapalhões;
e eles não chegavam. E no meu improviso eu usava técnicas de linhas de
improvisação deles e fui brincando com o povo e tal; e deu certo, porque a
plateia nem percebeu que eles estavam tão atrasados, ficou parecendo até uma
introdução da apresentação deles que eles fizeram assim que chegaram.
Nesse
filme você tem a oportunidade de trabalhar com não-atores, como Angélica e Luma
de Oliveira. Como é para você, com tanta experiência no currículo, contracenar
com estrelas populares, mas que não são atrizes?
Em
relação à Luma de Oliveira, a gente não teve muito relacionamento, não. Foi mais
um trabalho técnico. Não chegamos a papear muito, não. Agora, com a Angélica
foi muito bom. Ela era muito nova; e nós começamos a conversar sobre política,
tema que as pessoas não conversam com ela; e ela era uma pessoa muito preocupada
com o Brasil. Naquela época, ela tinha sido convidada pelo Fernando Henrique
Cardoso para ir a Brasília para representar artistas em alguma solenidade; e
ela veio conversar comigo, pedir minha opinião se deveria ir ou não. E eu disse
a ela que nós, artistas, temos muito mais poder que qualquer político. E, por
isso ela, deveria manter a posição dela de não servir de garota-propaganda de
nenhum político, porque ela era muito mais poderosa que qualquer político.
No
ano seguinte você volta a trabalhar com ele em A Princesa Xuxa e Os Trapalhões.
Como surgiu esse convite?
Eu
não lembro como surgiu o convite; mas, na época, eu trabalhava tanto com a Xuxa
quanto com Os Trapalhões,
com o Alvarenga e com o pessoal da Ponto Filmes. Era uma turma que fazia cinema
no Rio de Janeiro, e eu participava dessa turma. E foi muito bom, pois eu
conhecia a Xuxa há muito tempo, do tempo da TV Manchete, do tempo dos desfiles,
participamos de desfiles juntos. A Xuxa sempre me pareceu uma profissional
exemplar, uma operária da arte dela, do ofício dela, independente do conteúdo,
que às vezes é questionado. Mas ela chega sempre na hora, está sempre pronta,
ela arruma suas coisinhas no camarim, as suas maquiagens, coisinhas bobinhas.
Ela é educada com todo mundo, nunca vi ela dar um chilique, ela é uma excelente
profissional.
Como
foi o seu contato com o quarteto?
Era
com os quatro sempre na hora das cenas; no intervalo, a gente se dispersava um pouco.
O Renato gosta de ficar no camarim quieto, concentrado. Com cada um era uma
história. Com o Dedé, eu tinha conversas meio espiritualistas; com o Mussum, era
mais umas brincadeiras, umas piadas, ele era uma pessoa muito divertida. O
Zacarias falava pouco; por incrível que pareça, era um homem tímido. E o
Renato, como eu disse, era mais na dele, ficava concentrado. Pouca conversa à
toa, as conversas eram mais profissionais: falávamos de coisas relacionadas às cenas,
às ações, aos efeitos, os dublês.
Uma Escola Atrapalhada foi
o último filme com a participação de Zacarias, que faleceria naquele ano. A
aparição dele no filme é melancólica, muito magro, abatido, numa cena curta.
Como foi o seu contato com ele? Ele já estava doente?
No
filme, Uma Escola Atrapalhada,
minha filha, Joana Moroni, também participou. Eu não me lembro do Zacarias
doente. Eu me lembro dele alegre, brincando, ou seja, sendo o Zacarias. Eu
nunca me dei conta de que ele estava tão doente. Talvez eu tenha achado ele
mais magro; mas, quando filmávamos com Os
Trapalhões, era sempre um ambiente de muita
alegria, muita festa, cordialidade, solidariedade. Então, eu acho que essas
coisas encobriram. E, naturalmente, ele entrou nessa onda de não se deixar
abater, né? É compreensível. A pessoa, quando está num momento triste na vida,
a vida no cinema se torna melhor que a vida real.
O
personagem de Zacarias, assim como os de Dedé Santana e Mussum, fez apenas uma
breve aparição. A sensação é que pareciam figurantes no filme. Isso procede?
Foi
pequena, assim como a minha foi muito pequena nesse filme. Mas isso foi numa
época em que o cinema usava muitas pessoas, elenco grande, participações pequenas
de pessoas bem famosas como éramos considerados na época.
Após
esse filme, você trabalhou em mais um filme com Os Trapalhões, O Mistério de Robin Hood,
o quarto e último da parceria. Por que foi o último?
Foi
muito bom. Eu pude não só realizar meu trabalho de ator, mas também das minhas
pesquisas e estudos em relação a dublê, aquelas cenas de carros correndo, de
porrada, de luta. Os Trapalhões também
me deram essa possibilidade. Eu estudei técnicas de dublê na Inglaterra e
acabei virando diretor de dublê. Continuei as pesquisas no Ceará e no Rio de
Janeiro e nos filmes dos Trapalhões eu
podia aplicar todo o meu conhecimento, todas as acrobacias, truques, dar tiros de
efeito, de festim. Então, foi bem importante esse filme para mim.
Qual
foi a sua percepção, em relação ao clima durante as filmagens, sem o Zacarias?
Fazia
falta, era uma quebra. Porque era um trabalho de quarteto. Não existe ator
principal, são todos “escadas”
uns dos outros, são todos comediantes. Assim como os trabalhos de dupla de
atores como O Gordo e O Magro, assim como os trabalhos de trios como Os Irmãos
Marx. É um estilo de representação. E é muito difícil, porque a vaidade, às
vezes, acaba com esses grupos maravilhosos, como aconteceu com Os Beatles, por
exemplo, que acabou se separando porque, talvez, seus integrante não tenham
compreendido a extensão, a importância do trabalho em grupo. E Os Trapalhões tinham isso,
porque vieram do circo; e o circo sempre foi o coletivo.
Nesse
filme, Roberto Guilherme e Tião Macalé participam. Como foi trabalhar com eles,
que ajudaram a construir a história dos Trapalhões?
Com
o Roberto Guilherme, fiz pouco trabalho direto. Fizemos algumas coisas na
televisão. Na TV Globo eu participei de alguns programas deles também. E o Tião
Macalé está entre aqueles grande atores com quem eu tive a honra de trabalhar.
Ficaria aqui alguns minutos falando de todos os artistas, de todos os mestres
da Comédia com quem eu tive a oportunidade de trabalhar na TV Manchete,
naqueles programas de Comédia que eles faziam lá. No cinema e no teatro,
trabalhei com muitos. E o Tião Macalé é um patrimônio da cultura popular
brasileira.
Quem
era o maior comediante do grupo?
Eram
os quatro. Mas no backstage,
nos intervalos das filmagens, o Mussum, com certeza, era o mais engraçado. Eu
tenho muita saudade do Mussum, gostava muito dele. Eu era pai solteiro e levava
a minha filha nas filmagens; e quem ficava cuidando da minha filha, durante as
filmagens e nos intervalos, era o Mussum. Ele vivia com ela no colo, dava
beijinhos, carinho. Ele era uma pessoa fenomenal, muito carinhoso, muito
amoroso, humilde, muito aberto. E a lembrança maior que tenho é ele com a minha
filha, a Joana Moroni, que hoje tem 33 anos, no colo dele, brincando e ele
fazendo caretas pra ela.
Renato
Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Sim,
ele acompanha toda a produção. Geralmente, os argumentos são dele. Depois, ele
participa do roteiro e acompanha as filmagens, faz reunião de cenografia, de
tudo.
Acredita
que essa característica de Renato o torna diferente, um profissional de
sucesso?
Essa
característica do Renato não é o que o torna diferente, torna-o normal. O que
acontece, talvez, é que esse acompanhamento, essa vontade de ser perfeccionista,
isso deve acompanhar todo e qualquer artista. Se você fica deitado na praia esperando
a fama, o sucesso, talvez você até encontre um produtor que te chame para fazer
Malhação...
ou algo do tipo. Mas artistas do nível dos Trapalhões
são artistas de treinamento, que estudaram teatro, circo, música. Então, é fundamental
que se pratique, que se estude, que se treine, que se ensaie. Atores do nível
dos Trapalhões,
do nível do Chaplin, eles têm tudo pronto, são atores prontos, são atores que
você joga no meio do palco e eles começam a entreter uma plateia, dominar uma
plateia, chamar a atenção, fazer coisas interessantes, fazer coisas que ninguém
faz. A origem dos Trapalhões é
o circo, que é a mesma origem do Chaplin, do cinema mudo, do teatro físico.
Para ser um ator de verdade, profissional, há de se estudar sempre, tem que ser
como Os Trapalhões:
cantam, dançam, representam, fazem acrobacias, fazem de tudo na arte. Penso que
é importante falar sobre o Baiaco e o Napoleão, que são os dublês dos Trapalhões.
Eu
tive uma relação muito boa com eles; depois, acompanhei-os na vida de circo
deles, conheci a história pessoal de cada um. E eles, como muitos naquela
equipe, vinham do circo; e o circo era o que fazia o cinema dos Trapalhões se tornar
uma família, era uma solidariedade, diferente da televisão, em que o ator é um
indivíduo, um produto único. No circo, as famílias se unem para sobreviverem
juntas; e Os Trapalhões tinham
esse espírito.
Por
que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados
pelos Trapalhões?
Existe
essa resistência por falta de cultura. Acho isso uma ignorância, porque são
estilos diferentes. Não se pode comparar com filmes do Cinema Novo. Temos que
parabenizar as pessoas que fazem arte no Brasil. Os Trapalhões, durante anos,
conseguiram fazer dois filmes por ano. Isso era muito importante para o Brasil.
Empregava os técnicos, atores. Criava bilheteria, criava empregos. Agora, o que
acontece é que existe um preciosismo no cinema nacional, onde algumas pessoas
demoram cinco, dez, ou mais anos para realizar um filme.
Então,
quando veem Os Trapalhões fazendo
filme com os pés nas costas, isso causa uma certa inveja, um certo ciúmes.
Gostaria
que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha
presenciado como testemunha ocular durante essa produção em que você trabalhou
com Os Trapalhões.
É
preciso falar da Ponto Filmes, do Cacá Diniz e da Yurika Yamasaki, que eram pessoas
fabulosas, que tinham todas essas características boas dos Trapalhões dentro da
produção. Eram pessoas de fácil lida, muito simpáticos, solidários. Eu acho que
Os Trapalhões tiveram
o sucesso que tiveram por conta também desses dois, que são pessoas muito
valorosas, muito importantes para o cinema nacional. Os dois merecem uma
citação em letras de ouro, porque a Ponto Filmes foi, durante muito tempo, um
ponto de resistência do cinema brasileiro no Rio de Janeiro.
Os Trapalhões: Braz Chediak
BRAZ
CHEDIAK
Roteirista
Você
trabalhou na estreia de Renato Aragão no cinema. Como recebeu o convite para
escrever o roteiro de Na
Onda do Iê-Iê-Iê?
Eu
havia datilografado o roteiro de uma comédia para o diretor Aurélio Teixeira, que
se passava na Polícia Militar. Como estávamos vivendo sob a ditadura, o filme
foi proibido antes mesmo de ser filmado. Disseram que denegria a imagem da
polícia a filha do Coronel se apaixonar por um soldado e – pior ainda – ter um
ou dois soldados trapalhões
era inadmissível.
Como
havia sido convidado para trabalhar como assistente de direção, fui à noite à
casa do Aurélio, sem saber do fato. Cheguei lá e encontrei todo mundo triste, o
Aurélio, o produtor Jarbas Barbosa, a atriz Gracinda Freire, mulher do Aurélio.
Enfim, todo mundo estava tenso, chateado. Contaram, então, da proibição. E
levei um susto. Eu estava sem dinheiro e precisava de um trabalho urgente. E,
na minha ingenuidade de um quase menino do interior, perguntei por que não
escreviam outro roteiro. O Aurélio me olhou com cara feia, perguntando: “Você acha que é fácil, garoto?”
Respondi: “Acho que não é difícil.”
O
Aurélio já ia me xingar, quando a Gracinda falou: “Deixa o menino tentar, Zé!” Na
intimidade, ela chamava o Aurélio de Zé e o Jarbas Barbosa o chamava de Lelo.
Ele
então disse que eu escrevesse qualquer coisa, qualquer ideia. E ali mesmo, sentado
no chão, com um bloco e uma caneta, fiz uma sinopse.
Não
era novidade. Na realidade, era o mesmo roteiro que tinha sido proibido, só que
mudei os ambientes e os personagens. Ao invés do coronel, coloquei um dono de
gravadora; ao invés do soldado galã, coloquei um cantor; no lugar da competição
esportiva, coloquei um concurso de calouros.
Ninguém
percebeu. O Aurélio leu a pequena sinopse e disse: “Acho que dá um filme. Olha isso, Jarbas.”
O
Jarbas leu e sua feição foi modificando. Começou a falar, alegre: “Nessa cena, eu coloco o Renato e Seus Blue Caps; nesta, eu
coloco The Fevers...” E assim
sucessivamente.
Para
ele, Jarbas, que era irmão do Chacrinha, colocar os músicos era fácil; ninguém cobraria
e daria publicidade. O Chacrinha era um rei dentro da televisão e faria uma boa
divulgação do filme. Na
mesma hora, o Aurélio me perguntou em quanto tempo eu faria um roteiro.
Respondi que em uma semana. Contrataram-me no ato; e, no dia seguinte, comecei
a escrever na casa do diretor, pois lá eu podia almoçar de graça. Fiz
primeiro a estrutura aristotélica, com começo, meio e fim, como era em todos os
filmes da época. Depois, era só preencher com a ação cênica e os diálogos.
E
diálogo era minha especialidade, já que eu estudava Nelson Rodrigues todos os
dias.
Eu
escrevia rapidamente; e o Renato Aragão, então começando, colocava as piadas ou
gags.
E,
assim, conseguimos fazer o roteiro em uma semana ou quinze dias, não me
recordo.
O
filme foi um sucesso tão grande que, no dia seguinte ao lançamento, encontrei o
Jarbas na rua. E ele me disse “Chediak,
as filas pra ver o filme dobram o quarteirão. Os gerentes estão rasgando as entradas no meio para vender
dois ingressos...” Antes, eu havia trabalhado como ator
no filme O Homem Que Roubou a Copa
do Mundo,
do Victor Lima, e feito a assistência de direção de Giorgio Moser (diretor italiano)
numa série para a RAI (televisão italiana) baseada em contos de Robert Louis
Stevenson. Mas Na Onda Do Iê-Iê-Iê foi
meu primeiro trabalho atrás das câmeras para o cinema brasileiro.
O
filme tem muitos números musicais. Como foi o desafio de “amarrar” a história entremeada
com as músicas?
Como
a história se passava num ambiente musical, não houve problemas. No concurso de
calouros era fácil: o ator que fez o papel principal foi o cantor Sílvio César
e o cantor que disputava o “trono”
era o Paulo Sérgio que, na época, imitava o Altemar Dutra e em seguida fez uma
brilhante carreira imitando Roberto Carlos.
Ambientei
a maioria das cenas em locais que permitiam músicas, como boates, estações de
tevê etc. E olha que tinha muita gente: Wilson Simonal, The Fevers, Leno e
Lilian, Wanderlei Cardoso, Rosemary, Clara Nunes, Os Vips, Renato e Seus Blue
Caps, Ed Lincoln, além do Sílvio Cesar, que era o ator principal. No conjunto
do Ed Lincoln, o rapaz que toca baixo sou eu e o baterista era o Miltinho, que
hoje está no programa do Jô Soares. Quando
você tem uma boa estrutura dramática, as dificuldades são mais fáceis de serem
superadas.
Quais
foram as suas referências para montar a estrutura do roteiro?
Olha,
Rafael, eu gostava mesmo era de John Ford, Elia Kazan, Hitchcock, Fellini etc. Mas,
em minha cidade, Três Corações, havia assistido a todos os filmes com Elvis
Presley, Pat Boone e outros cantores da época e percebi que as histórias, as estruturas
dramáticas, eram iguais. Mais ou menos o que acontece com as novelas de hoje.
Então, talvez tenha sido essa a referência para o roteiro.
Renato
Aragão e Dedé Santana ajudaram no tratamento do roteiro?
O
Renato, sim. Foi ele quem criou as piadas, as gags.
Não interferiu na estrutura, pois ela estava bem costurada. E, quando se tem
uma estrutura assim, não se deve mexer, porque pode desmoronar tudo. O Renato é
muito profissional. Por isso, fez essa brilhante carreira que conhecemos.
Renato
Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
O
cinema é a arte do diretor, e o Aurélio era muito seguro em sua direção. Ele sabia
tudo, da maquiagem à luz, da interpretação à montagem. E não achava bom o ator
participar da parte técnica. Por gostar de meu trabalho como roteirista e assistente,
ele permitiu que eu participasse de tudo, até o lançamento. Compreendia que eu
estava aprendendo direção e, como ele, precisava entender de tudo. Mas o
Renato, que estava começando na televisão, partiu para outro trabalho logo que
as filmagens terminaram.
O
argumento é seu também?
Sim.
O
filme foi dirigido por Aurélio Teixeira. Como foi trabalhar com ele?
Foi
ótimo. Ele entendia de tudo o que se refere ao cinema, e aprendi muito. Fizemos
até uma parceria e trabalhamos juntos em: Mineirinho
Vivo ou Morto, com o Jece Valadão e Leila
Diniz nos papéis principais; Juventude
e Ternura (com a Wanderléia, o Ênio Gonçalves como
galã e Anselmo Duarte como o bandido), Os Mansos,
com Jardel Filho, Sandra Bréa, Felipe Carone, Ary Fontoura, o próprio Aurélio
como ator (excelente). Também eu fiz um papel e dirigi um episódio.
Como
galã da história que dirigi, convidei o Paulo Coelho, que, mais tarde, se tornaria
escritor de sucesso em todo o mundo. Mesmo depois de eu já ter dirigido Navalha na Carne, voltei a
trabalhar com o Aurélio Teixeira. Foi em Meu Pé de
Laranja Lima,
no qual dirigi os atores infantis, pois o Aurélio não tinha muita paciência com
criança.
Quais
as suas principais recordações desse filme?
São
muitas. Fiz amizades com pessoas que admirava, como Mário Lago, por exemplo, do
qual fui amigo até sua morte e chegamos a escrever um roteiro juntos (mas isso
é outra história). Leila Diniz era minha companheira de papos, já que ela era
amiga de Gracinda e ia todas as noites na casa do Aurélio; e, terminado o
trabalho, íamos juntos até a TV Rio, onde ela se encontrava com o Henrique Oscar,
seu namorado na época. Depois, ela trabalhou conosco em Mineirinho Vivo ou Morto.
Enfim, todo filme é uma história, uma vida.
Você
construiu uma grande trajetória no cinema, assim como Renato e Dedé. Qual a
importância desse filme na sua carreira?
Como
foi meu primeiro filme brasileiro atrás das câmeras, vi, de cara, como é fazer
um filme em nosso país. Aprendi muito a técnica, tomei intimidade com a câmera,
com produção, direção, montagem, sonorização, mixagem etc., coisa que me foi
útil para os filmes que dirigi.
Imaginava
que esse filme era só o começo de uma grande trajetória no cinema de Renato e
Dedé, que, futuramente, iriam criar Os
Trapalhões e “dominar” o cinema do
país?
Percebi
que o Renato era um grande trabalhador e amava seu trabalho. O Dedé gostava
muito da direção, também. Vivia me perguntando sobre lentes, movimentos de
câmeras etc. Eu vi logo que fariam uma grande carreira na tevê, mas eles foram
além: fizeram uma grande carreira na televisão e no cinema, o que é muito
difícil, em todo o mundo.
Já
dava para perceber o talento deles dois?
Claro.
O talento e a disciplina. E que tinham garra. Por isso, fizeram uma carreira brilhante.
Fazem parte do imaginário do País.
Nos
números musicais, além de várias canções compostas e interpretadas por Sílvio César,
há ainda a apresentação de diversos artistas de sucesso da época: Paulo Sérgio,
Wilson Simonal, Wanderley Cardoso, Rosemary, Clara Nunes, The Fevers, Os Vips.
A escolha desses artistas foi sua?
Não.
A escolha foi do Jarbas, talvez orientado por seu irmão, o Chacrinha. Aliás, o
filme se passa, em grande parte, no programa do Chacrinha. Tem uma cena no
filme, no programa do Chacrinha que, se você prestar a atenção achará no
auditório o Jece Valadão, a Gracinda e alguns atores da época. Eles estavam na TV
Rio, onde foi feita a cena, e assistiram às filmagens do auditório, onde foram
filmados.
Por
que, após esse filme vocês não trabalharam mais juntos?
O
Renato viu meu trabalho escrevendo o roteiro e no set de filmagens e, depois do
filme, convidou-me para fazermos outros filmes. Mas eu não aceitei, achei que
ainda não estava preparado para dirigir. O J. B. Tanko aceitou e fez grandes sucessos
com a dupla. O Tanko era um diretor tarimbado, muito bom. Eu precisava fazer
mais assistências, aprender mais.
Qual
a sua avaliação a respeito do cinema dos Trapalhões?
Muito
boa. Lembro que os assistia junto com as crianças; e elas riam sem parar,
imitavam o Renato, o Dedé, o Zacarias, o Mussum. Meu filho, o músico Yassir
Chediak, me fala dos Trapalhões até
hoje. Eles fizeram parte da alegria de gerações.
Que
representou, em termos de linguagem cinematográfica, o cinema dos Trapalhões?
São
comédias muito benfeitas, bem dirigidas, com uma turma de grandes artistas. Sua
linguagem influenciou muito a nova geração de comediantes.
Por
que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados
pelos Trapalhões?
A
velha crítica. A nova crítica é feita por pessoas que cresceram vendo Os Trapalhões e têm uma
visão diferente. Não só deles, mas do cinema brasileiro como um todo. Hoje, todo mundo que gosta de
filmes compreende a importância dos Trapalhões
na história de nosso cinema.
Gostaria
que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha
presenciado como testemunha ocular.
Bom,
quem ia fazer a mocinha era uma atriz de nome, já consagrada, conhecida do
grande público. Para fazer o teste de fotografia com roupas, ela levou uma
garota como ajudante.
Era
no estúdio do Herbert Richers. O Aurélio fez o teste, me chamou à sua sala e
disse: “Chediak, dirija o teste com a garota
que está com a fulana.” Chamei o fotógrafo disponível na hora
e fiz alguns ensaios fotográficos. A garota era fotogênica, reagia etc. Foi ela
a escolhida. Era Valentina Godói. Outra coisa interessante é que, anos depois,
diziam que quem iria fazer o papel era a Leila Diniz, mas que o Aurélio a
substituiu. Não é verdade. Como disse acima, Leila Diniz ia todas as noites à
casa do diretor e era nossa amiga. Já estava escalada para um próximo filme: Mineirinho Vivo ou Morto. Ah,
um caso que presenciei e ri muito: fomos filmar na casa de um milionário, na
Gávea. A senhora, dona da casa, já idosa ficou maravilhada, quando viu o Mário
Lago. Lá pelas tantas, começaram a falar do regime militar e a senhora disse: “Sr. Mário, dizem que na Rússia comem criancinhas. É verdade?”
Como sabemos, o Mário era um comunista de carteirinha. Então ele olhou para a
tal mulher e respondeu, sério: “É
verdade, minha senhora. Bem assadinhas são uma
delícia!”
Ela fez o Sinal da Cruz e caiu na gargalhada, enquanto o próprio Mário fazia
força para não rir.
Os Trapalhões: Bia Seidl
BIA
SEIDL
Atriz
Você
atuou no filme Os Trapalhões e o Mágico de Oróz.
Como e por quem recebeu o convite para atuar nesse filme? Como foi a
experiência?
Era
apenas uma cena, na qual eu fazia a Virgem Maria. Poder representar a mãe de
Jesus foi realmente muito emocionante.
Que
representava, naquele período, atuar em um filme com Os Trapalhões, que eram
certeza de sucesso de bilheteria?
Tinha
esse sonho como atriz. Estar ao lado deles sempre significou uma espécie de
graduação na carreira.
Esse
foi o primeiro filme após a reconciliação do quarteto, que havia se separado em
1983. Como você viu esse reencontro? Havia algum resquício da briga? Como foi o
seu contato com o quarteto (Didi, Dedé, Mussum e Zacarias)?
Foi
maravilhoso em todos os sentidos, poder conhecê-los e sentir como eram amorosos
e simples. Uma aula de comportamento profissional e generosidade.
Logo
depois, você foi novamente convidada a trabalhar com o quarteto. Dessa vez em Os Fantasmas Trapalhões.
Ser
uma das mocinhas dos filmes deles era selo de garantia. Quando recebi a
ligação, mal pude acreditar!
Quais
as suas recordações desse trabalho?
Muita
alegria, risadas, carinho e aprendizado.
Nesse
filme o quarteto reedita uma parceria de sucesso com o cineasta J.B.Tanko. Quais
as lembranças de trabalho com esse diretor?
Como
todo diretor deve ser: rígido e amoroso. E, pra mim, um querido!
Por
que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados
pelos Trapalhões?
Por
puro preconceito e ignorância.
Como
classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Comédia
da melhor categoria, poesia em sua essência.
Gostaria
que contasse alguma curiosidade ou fato que tenha presenciado como testemunha
ocular.
Apenas
posso dizer que me sinto agraciada pela oportunidade que tive. Comecei minha
carreira trabalhando com grandes atores e Os
Trapalhões têm lugar de honra no meu coração.
Os Trapalhões: na Bloch
OS TRAPALHÕES
O HUMOR NA BASE DO
PASTELÃO
Em 1964, um homem deixava a cidade de Sobral, no Ceará, e
desembarcava no Rio de Janeiro. Na bagagem, trazia muitos sonhos e planos. Mas
o sonho principal era vencer como humorista e fazer rir todo o país.
No começo, como em todo o início da realização de um sonho,
foi muito árduo e muitas vezes ele pensou em retornar ao Ceará. Mas, no final,
falava mais alto sua perseverança e a certeza em seu inesgotável talento. Sua
garra o empurrava para a frente, para que ele concretizasse o sonho. O que foi
ótimo para nós, pois sentimos alegria e damos gostosas gargalhadas, vendo-o e
aos seus parceiros, nas suas impagáveis trapalhadas. Porque o que eles fazem
melhor, mesmo sendo homens sérios, é graça. Uma graça gostosa e espontânea, que
nos transporta para um mundo de alegria e divertimento.
Os quatro conseguem manter os sotaques das pessoas nascidas
em suas cidades. Didi faz o gênero do nortista sofrido e se aproveita muito bem
disso, embora, às vezes, se mostre esperto o suficiente para se sair bem das
encrencas que arruma. O Muçum faz uma mistura de malandro do morro e passista
de escola de samba, falando sempre na Mangueira. Zacarias é o mineirinho
ingênuo, que consegue sempre desarmar, com a sua ingenuidade típica, o homem da
cidade, que tenta se divertir às suas custas e o Dedé é o cidadão fluminense,
que está sempre disposto a levar vantagem, tentando ser mais esperto que os
outros, mas sempre levando desvantagem em tudo que apronta para cima dos três.
Antes de ser formado o quarteto que hoje são OS TRAPALHÕES,
Didi – Renato Aragão – testou várias pessoas na tentativa de encontrar os
parceiros ideais, o que só ocorreu com a descoberta do Dedé, do Muçum e do
Zacarias. Os quatro, juntos, formam o que de melhor existe no humor brasileiro,
conseguindo, até, quebrar recorde de bilheteria no cinema nacional, algo muito
difícil para humoristas brasileiros. Eles conseguem sucesso em tudo que fazem,
nos mostrando que o talento e a perseverança quebram todas as barreiras e preconceitos.
O nome TRAPALHÕES surgiu por causa da forma de humor do
Didi, que sempre arruma trapalhada, mesmo agindo certo e da bagunça que é
feita, tudo na base do pastelão. Nós torcemos para que eles continuem, por
muito tempo ainda, como os TRAPALHÕES, capazes de nos transmitir o riso gostoso
e fácil.
Texto publicado na revista Super-Trapalhões nº 1 – 1986. Edição de
Bloquinho – Bloch Editores S.A.
Os Trapalhões: em Portugal
OS TRAPALHÕES:
SUCESSO EM PORTUGAL
No ar pelo canal português SIC, o programa dos Trapalhões é
líder absoluto de audiência e já conquistou os corações da terrinha.
Tudo bem, Charles Chaplin (o bom e velho Carlitos) é o
mestre do humor do nosso século. Mas o Brasil também possui o seu mestre: o
cearense Renato Aragão, que se tornou mais conhecido entre a criançada como
Didi. Ou melhor: Didi Mocó Sonrisal Colesterol. E não é só no Brasil que Didi e
sua turma conquistaram crianças de todas as idades. O mesmo tem acontecido em
Portugal, onde Renato Aragão e o inseparável Dedé Santana são líderes de
audiência.
Tudo graças ao programa Os
Trapalhões em Portugal, que encabeça a audiência da TV lusa. No ar já há
alguns meses pelo canal SIC, o humorístico tem atingido constantemente picos de
28,5 pontos de audiência, na frente das populares novelas brasileiras.
Não é demais lembrar que não estamos falando de reprises,
mas de material inédito, gravado especialmente para nossos amigos da terrinha.
Renato Aragão, Dedé Santana e o Sargento Pincel são os únicos brasileiros no
elenco, de resto formado inteiramente por portugueses. Para se ter uma ideia do
sucesso, o programa infantil que está em segundo lugar na audiência atinge 10
pontos a menos que Os Trapalhões.
No Brasil, a coisa não é diferente. Em uma pesquisa feito no
inicio do ano, por um instituto paulista, foi perguntado a pessoas de todas as
classes sociais quem já tinha dado mais momentos alegres para o Brasil. O rei
Pelé e Ayrton Senna empataram em primeiro lugar, apontados por 96% das pessoas.
Nossos Trapalhões vinham logo em terceiro, considerados por 87% dos
entrevistados os sujeitos que mais tinham dado ao brasileiro momentos alegres e
divertidos. Momentos que, no que depender da gente, também estarão nessa
revista.
Texto publicado na revista As Aventuras do Didi. Bloch Editores S.A.
Edição nº 1. 1996.
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