Revista TOP.
terça-feira, 29 de setembro de 2015
sexta-feira, 25 de setembro de 2015
Vanessa Alves – coletânea de imagem e palavras
O crítico Christian Petermann comenta as
últimas estreias do cinema e entrega ao apresentador Ronnie Von um exemplar do livro “Vanessa Alves –
coletânea de imagem e palavras”. O link: http://www.tvgazeta.com.br/videos/estreias-cinema-240915/
Vanessa Alves - coletânea de imagens e palavras
Entrevista que concedi hoje na TV Geração Z. Falo a respeito do livro "Vanessa Alves - coletânea de imagens e palavras": http://mais.uol.com.br/view/gbe66bkt0nd9/15622940?types=A&
terça-feira, 22 de setembro de 2015
Penna Filho (in memoriam)
Cineasta. Na sua
filmografia constam mais de 30 produções. Dirigiu atores como Mazzaroppi
e trabalhou para diversas emissoras de televisão. Na TV Globo de São Paulo faz
reportagens especiais para os principais jornalísticos e programas como
“Fantástico” e Globo Repórter, até 1976. Faleceu neste ano.
Qual é a importância histórica do curta-metragem na
filmografia nacional?
Vejo o curta como o formato ideal para os diretores estreantes, porque ele
permite o exercício e a experimentação. A prática na sua realização dá
segurança para o grande voo do longa-metragem. É difícil encontrar no cinema
brasileiro um cineasta importante que não tenha começado a carreira através do
curta. Dentre os
melhores filmes brasileiros, incluo alguns curtas-metragens que nada ficam a
dever aos filmes para o longa-metragem. Começo pelo conjunto da obra de
Humberto Mauro. Mas considero a década de 60 como a mais importante porque
revelou vários novos talentos, como Linduarte Noronha com o seu clássico
"Aruanda", Paulo Cesar Sarraceni com "Arraial do Cabo",
Leon Hirszmann com "A Pedreira", Joaquim Pedro de Andrade, com
"Couro de Gato" - os dois últimos do longa "Cinco vezes
Favela", e Vladimir Carvalho, com "A Bolandeira".
O que nós temos de mais
expressivo como arte cinematográfica tem o curta como berço, não apenas pelo
empenho artístico, mas principalmente pelo olhar humanista e crítico dos seus
autores.
O que te
faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Um
tema forte do ponto de vista social e político, que provoque reflexão, mas que
permita a poesia. O diabo é que assim como eu tenho meus próprios projetos - e
há algum tempo estou mais direcionado para o longa - quem poderia me convidar
não o faz porque também faz seus projetos.
Conte
sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Fiz
poucos curtas, sendo alguns de encomenda, os chamados institucionais, que não
passavam de comerciais de DEZ minutos exibidos nos cinemas, da mesma forma que
os produzidos por Jean Manzon e Primo Carbonari. O primeiro curta de caráter
cultural foi "Mensagem", de 1967, uma encomenda do antigo MEC -
Ministério da Educação e Cultura para a Documental Filmes, de SP, onde já
estava dirigindo comerciais para televisão. Foi uma oportunidade muito melhor
do que a oferecida para outros jovens que começavam. O filme era sobre o
relacionamento dos pais com filhos portadores de necessidades especiais, com
enfoque muito interessante: mais do que os excepcionais, os pais é que
precisavam ser educados e preparados para entender e aceitar o que o destino
lhes reservou. Infelizmente, não tenho uma cópia desse filme.
Outro
trabalho interessante foi "Herança", de 1976, sobre um oleiro negro
beirando os 90 anos, que ainda vivenciou a escravidão. A "herança"
era o trabalho que ele passava aos seus descendentes, todos empregados de uma
mísera olaria na periferia paulistana. Integrava o projeto coletivo
"Cinema de rua" da Raiz Produções, com curtas de vários profissionais
do núcleo paulista do Globo Repórter e Fantástico, onde trabalhei entre
1971/76. Nessa condição, ganhou prêmio especial da Jornada do Curta-Metragem da
Bahia.
Somente
em 1995 voltaria ao curta com "Naturezas Mortas", cujo projeto
vencera o III Prêmio Resgate do Cinema Brasileiro, edital de 1994. É um filme
que me deu muitas alegrias, com reconhecimento em festivais no Brasil e
exterior. Um dos prêmios mais gratificantes foi o "Margarida de
Prata", concedido pela CNBB, uma versão brasileira do Prêmio europeu do
Ofício Católico, conhecido como OCIC, porque contemplava obras que tinham um
olhar humanista e voltado para os direitos do homem. Este filme viria servir de
inspiração para "Das Profundezas", meu último longa, em montagem,
vencedor do edital catarinense de 2011.
Fiz
outros também, como "Victor Meirelles - Quadros da História" ,
abordando a obra do pintor catarinense na sua fase de telas históricas,
selecionado para os festivais de Gramado, Vitória e Brasília, e "Fendó m-
Tributo a uma Guerreira", sobre uma índia centenária sobre a etnia kaigang
e conflito de terras no oeste catarinense, também com participação e premiações
em festivais. A maior parte da minha produção
foi na televisão - Globo e Cultura/SP -, mas voltada exclusivamente para o
documentário de média-metragem.
Por que
os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
A maioria
da mídia dá atenção ao que considera mais interessante para os seus leitores.
Muitos
veículos estão mais interessados no sensacionalismo barato. Falta espaço para o
curta, como falta espaço para o nosso cinema como um todo - normalmente, só
entra na pauta o que nos é desfavorável. Vejo esse quadro assim: a mídia
praticamente não dá espaço para a nossa cultura, o que é fácil de constatar
diante da pobreza dos raros “cadernos 2” de vários jornais.
Raríssimos filmes despertam
interesse da mídia. As exceções correm por conta de alguns críticos mais
sensíveis, como Luiz Zanin e Luís Carlos Merten, do Estadão. De uma forma
geral, é o conjunto do cinema brasileiro que é marginalizado.
Na sua
opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Precisávamos
cumprir a lei do curta do início dos anos 70. Não tenho muita clareza se a lei
ainda existe. Há quem afirme que ela não foi revogada. O interessante dessa lei
era - ou é - estabelecer que um curta brasileiro deveria antecipar a exibição
de um longa estrangeiro, remunerando o produtor com determinado número de ingressos
vendidos. Os exibidores fizeram tudo que estava ao seu alcance para boicotar o
curta, eles mesmos encomendando produções de baixíssimo nível para produtoras
como a Amplavisão, de Primo Carbonari, "obras" que mereciam muitas
vaias da plateia. Dessa forma, criou-se uma imagem desfavorável não apenas para
o curta, mas para o conjunto do cinema brasileiro.
Outra janela, mais adequada
ainda, seria a televisão, principalmente a por assinatura. O que vemos, porém,
é desalentador, pois com raríssimas exceções de alguns canais (os legislativos,
o Canal Brasil, emissoras oficiais como TV Brasil e TV Cultura/SP) a televisão
brasileira não dá valor ao curta, como também não dá valor ao nosso cinema como
um todo. O que interessa é a produção norte-americana, principalmente a que
privilegia o entretenimento alienante.
O
curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção)
é o grande campo de liberdade para experimentação?
Não
tenho dúvida. Não podemos esquecer que o cinema começou com filmes de curta
metragem. Foi através desse exercício que grandes nomes construíram a linguagem
e fizeram do cinema a arte mais popular da história da humanidade. Todo o
começo da obra de Chaplin foi nesse formato, onde ele experimentou a exaustão.
Há inúmeros exemplos, desde Bunuel/ Dali, com "Cão Andaluz", de 1929.
No início da sua carreira, Alain Resnais ganhou prestígio com seus curtas sobre
artes. Não foi gratuitamente que ele nos encantou - pelo menos a mim - com o
seu Hiroshima, Meu Amor e o pouquíssimo lembrado O Ano Passado em Marienbad.
O
curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
É,
sim, mas não obrigatoriamente. Sei de muitos cineastas desde a minha geração
que começaram no longa. Um bom assistente, fotógrafo ou montador, enfim,
qualquer um que atue profissionalmente em cinema pode começar no longa-metragem.
Qual é a
receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Bem,
Rafael, eu não tenho essa receita e creio que nem os chefões do cinemão
norte-americano tem. Um exemplo que sempre lembro é "Cleópatra" que
quase levou a Fox a falência. Aqui, a expectativa de alguns é ter a chancela da
Globo Filmes ou conseguir a "distribuição" de uma major
norte-americana, uma "Columbia do Brazil", "Paramount do
Brazil" e outras menos lembradas, que usufruem dos nossos incentivos
fiscais. Nesse caso, os elencos devem ser "globais" e terem um certo
padrão que não faz o gênero de alguns, como é o meu caso. Eu não tenho
preconceito, não. A história do cinema prova que para haver grandes filmes
muitos filmes de qualidade inferior precisam ser produzidos. Fiquemos no
exemplo do cinema italiano: para que houvesse De Sica, Fellini, Germi,
Visconti, Scola e tantos outros mestres e faroestes inqualificáveis - claro,
com as exceções de Leone, Corbucci e mais alguns que agora me fogem - foram
feitos? No que me concerne, o que eu faço está invariavelmente na contra
corrente, dai não saber como vencer essa luta.
Pensa em dirigir um curta
futuramente?
Penso, não, sonho. Mas preciso que os produtores que
pediram roteiros meus vençam o edital para curtas daqui de Santa Catarina.
Mariana Muniz
Atriz, bailarina, diretora e coreógrafa. A partir de
1989 começa a atuar em solos de sua própria criação e mais recentemente cria
sua própria Companhia com projetos contemplados pelo Programa Municipal de
Fomento à Dança.
O que te faz aceitar participar de
produções em curta-metragem?
A
possibilidade do exercício cênico com a câmera e o desafio da síntese que
significa trabalhar com curtas. Aceito
participar quando percebo que vejo a possibilidade de entrar em contato com
assuntos e realidades ficcionais ou documentais que me interessam, que me
tocam.
Conte sobre a sua experiência em
trabalhar em produções em curta-metragem.
Participei
como atriz em três curtas. Um exercício para finalização de um curso na Oficina
Três Rios, sob a direção de um diretor japonês, ótimo- Joel Yamaji; outro sob
direção de Luiz Otávio de Santi, inspirado na obra de Samir Yasbek: O Fingidor,
e, um outro, sobre a vida de uma pessoa que teve derrame cerebral e estava numa
cama prestes a morrer, onde eu era sua esposa. Foram todas
experiências muito fortes, pois foram feitas em condições não ideias do ponto
de vista financeiro, mas envolviam uma profunda vontade e necessidade de
contar, através de imagens, aquelas histórias, aquelas visões.
Por que os curtas não têm espaço em críticas
de jornais e atenção da mídia em geral?
Não sei!
Talvez porque são um formato mais exigente, em termos midiáticos, do ponto de
vista do mercado?
Tenho
assistido bastante coisa, quando possível, no canal Brasil. Adoro ver
curtas de diretores como Chaplin, Mac Laren, Polanski, dentre outros. Cláudio
Gimenez, meu companheiro, é fanático por cinema e tem bastante material. Ele é
fotógrafo da companhia de teatro e dança que dirijo e fez as fotos de dois
desses curtas-metragens que realizei como atriz.
Na sua opinião, como deveria ser a exibição
dos curtas para atingir mais público?
Talvez exibição
nos intervalos das programações da TV e no cinema, antes do começo das
exibições dos longas. Ou mesmo, programações específicas para sua exibição, nos
cinemas e nos canais de TV.
O curta-metragem para um profissional (seja
ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para
experimentação?
Sem dúvida
deve ser. Não sou especialista em cinema, mas imagino que, assim como na música
e em outras artes, as peças curtas, ou contos, ou mesmo dramaturgias de peças
curtas são um gênero em si e também podem ser experimentos para outros vos mais
longos.
O curta-metragem é um trampolim para fazer um
longa?
Não sei se
diria trampolim, mas pode ser um veículo de inspiração e experimentação para
fazer um longa-metragem.
Qual é a receita para vencer no audiovisual
brasileiro?
Não sei se
podemos falar em receita de sucesso. No meu fazer artístico nunca me pautei por
essa ideia de descobrir como fazer sucesso. O que significaria vencer no
audiovisual brasileiro?
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Como eu
disse, não tenho intenções de trabalhar na criação de filmes, curtas ou longas.
Sou uma apreciadora da arte do cinema e gostei muito de fazer os experimentos
de atuação com câmera, tanto nos curtas como no único longa que fiz, mas foram
experimentos sempre como atriz.
Andradina Azevedo
Ator e diretor. Na universidade, dirigiu, fotografou e
montou alguns curtas-metragens. Em parceria com Dida
Andrade, fundou a produtora Filmes da Lata e dirigiu os
premiados curtas-metragens: “Para que não me
ames” (2011); “O capitão chamava Carlos” (2010) e; “A triste história de Kid-Punhetinha” (2012).
Em 2013, a dupla estreou o longa-metragem “A bruta flor do
querer” (2013)
no 41º Festival de Gramado, onde receberam os prêmios de melhor direção e
melhor fotografia (Gallo Rivas).
O que te faz
aceitar participar de produções em curta-metragem?
Quando não é um projeto
meu (de direção minha) acho que duas coisas são relevantes: a qualidade do
roteiro e do que se quer dizer com esse roteiro e quem é o realizador. Se o
realizador é um jovem que tem gana de estudar e se doar pelo cinema e fazer as
coisas bem feitas, eu sinto muita vontade de ajudar.
Na
sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Além dos modelos padrões
de festivais eles deveriam saber explorar mais a internet. Porque um festival acaba sendo para um número pequeno de pessoas e
acredito que os festivais deveriam fazer umas exibições, via internet ou TV
durante o festival para que outras pessoal também assistissem e votassem.
O curta-metragem
para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande
campo de liberdade para experimentação?
Acho que sim.
O curta-metragem é
um trampolim para fazer um longa?
Não necessariamente um
trampolim, pois você pode fazer bons curtas, mas ainda não conseguir apoio para
realizar um longa-metragem. Acredito que é mais uma fase de se exercitar e
aprimorar o domínio da linguagem cinematográfica para depois conseguir realizar
um bom longa. Hoje tem muitos diretores
que não fazem curtas e vão direto pro longa. Diretores que fazem publicidade e
acreditam que a publicidade pode ser uma boa escola. Mas apesar de serem bons
na publicidade (e isso eu admiro) acho que eles vão pro cinema com muitas
deficiências. Acredito que publicidade pode ser uma boa escola pra se fazer
publicidade, mas nunca para o cinema.
Qual
é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Se soubesse venderia caro.
(risos).
Mas eu vejo dois
caminhos: o primeiro e mais explorado caminho é a "politica" e contatos.
Pois o cinema brasileiro é um nicho bem fechado e é bem difícil entrar e ter
aceso ao "mingal". Mas quando se tem os contatos, as amizades ou o
parentesco com gente importante, você já tem um bom caminho andado, mas isso
não garante ninguém como bom cineasta. O outro caminho é
simplesmente o trabalho intenso, estudo sério e muita fibra e força de vontade.
Isso não te garante o sucesso, mas vai te deixar solidamente bem preparado e é
só assim que se torna um bom profissional. E assim acredito que pode demorar,
mas uma hora o cara chega lá!
Em suma acho que o
segundo caminho é o mais importante e o qual mais se deva investir. Mas ao
mesmo tempo o cara tem que saber jogar com o primeiro caminho.
Pensa em dirigir um
curta futuramente?
No momento penso mais em fazer um segundo longa ou
trabalhar em algo na TV como uma minissérie. Mas sem dúvida ainda farei outros
curtas-metragens.
Fransérgio Araújo
Ator
e diretor. No cinema, em 2000, atua no filme “Através da Janela”, de
Tata Amaral.
O que te
faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Uma
história convincente com um fundo de mensagem subentendida, que critique a vida
que levamos e nos transporte pra uma outra realidade. Como diria
Truffaut: o prazer dos olhos.
Conte sobre a sua experiência em
trabalhar em produções em curta-metragem.
Não fiz
muitos curtas, fiz agora um curta com Pedro Severein e fui muito bom. Essa
curta é muito importante pra mim porque perdi meu pai enquanto filmava. Mais
houve uma época quando trabalhei no Teatro Oficina que era muito chamado, mais
comecei a me entediar porque muitos estudantes fazem muitas porcarias de curta.
Considero uma linguagem difícil.
Por que os curtas não têm espaço
em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acredito
que é por ter uma linguagem que se aproximaria do clip. (risos). Na verdade
sinto que é porque o retorno pra mídia é mais rápido, mais barato e eficaz.
Vide o sucesso do Festival do Minuto.
Na sua opinião, como deveria ser
a exibição dos curtas para atingir mais público?
No inicio
das novelas, aconteceriam um boom e muitas pessoas poderiam filmar e ter ideias
novas também. Teve uma ocasião que exibi um pequeno documentário com as imagens
do Gláuber Rocha. Em festas e em grandes telões também poderia ser bem legal.
O curta-metragem para um
profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o
grande campo de liberdade para experimentação?
Pelo
contrário exige mais conhecimento de cinema, o Pedro Severien, por exemplo, o
diretor do curta-metragem que filmei novembro do ano passado no Recife, Pedro tem
um conhecimento grande de cinema e é fã de filmes de vampiros e no curta que
filmamos o "Loja de Répteis" eu sentia muita certeza na sua direção
porque ele entendia a força de uma imagem. E isso não é liberdade é aprisionar
conhecimento e saber usá-lo, e aí sim filmando um curta-metragem, você pode
sim, revolucionar. Só a liberdade pela liberdade fabrica muitas imagens merdas,
veja o que muitos publicitários fazem em TV.
O curta-metragem é um trampolim
para fazer um longa?
Com
certeza. Ir chegando aos poucos num longa-metragem, acredito ser o que todo
individuo artista de cinema merece percorrer.
Qual é a receita para vencer no
audiovisual brasileiro?
Sinto que
hoje existe uma mistura muito confusa pra mim, a "imagem" está
espalhada em todo contexto da vida, em celulares em tablets, Youtube,
pirataria, TV aberta, TV fechada, hologramas até, enfim, você precisa ser muito
original pra vencer neste mercado muitas vezes extremamente fútil, mais isso
também tem a ver com a imagem. Ou seja sinto ser um trabalho bem difícil,
exige sensibilidade do interessado.
Pensa em dirigir um curta
futuramente?
Gostaria sim se tiver esta
oportunidade até porque sou filho de fotógrafo, e aprendi a enquadrar uma
imagem, sincronizar, ver a luz, tudo isso me emociona. E até tenho algumas ideias.
Bernard Attal
Cineasta.
Dirigiu e
produziu os curtas-metragens “29 Polegadas” (2005); “ Ilha do Rato” (2006) e; “Passeio
de Bicicleta” (2009).
Qual é a
importância histórica do curta-metragem na filmografia nacional?
O Brasil
é dum dos três países que mandam mais filmes para o Festival de Clermont
Ferrand, o mais importante do mundo para curtas-metragens. Além disso, o Brasil
tem a maior politica de fomento a produção de curtas-metragens.
O que te
faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Necessidade
de aprender todas as etapas de fazer um filme, o que fazer curtas-metragens te
proporciona, mas não é possível no formato de longa-metragem que tem uma logística
muito mais complicada.
Conte
sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Dirigi e
produzi três curtas: “29 Polegadas” (2005), “Ilha do Rato” (2006), “Passeio de
Bicicleta” (2009), que juntos participaram em mais de cem festivais no redor do
mundo.
Por que
os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acho que
o espaço para critica duma forma geral se reduziu bastante. Então é normal que
a mídia se foca nos filmes que tem nomes conhecidos.
Na sua
opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Deveria
ser respeitada a obrigação legal de passar nas salas curtas antes dos longas-metragens,
pelo menos em algumas sessões. Quase nenhum exibidor hoje cumpre essa
obrigação, mas porque também não é possível de impor a ninguém esse tipo de
regra. Tem que ter dialogo entre os exibidores e o poder público, para ver como
isso pode funcionar sem prejudicar ninguém.
O
curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção)
é o grande campo de liberdade para experimentação?
Claro. O
cinema hoje é cada vez mais formatado pra satisfazer o gosto de um publico mais
conservador. Então, somente fazendo curtas, você tem essa liberdade para
experimentar.
O
curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Sim, mas
também tem cineastas que fazem curtas a vida toda, e estão, se tornaram referência
nesse formato. E só assistir esses filmes que são coletâneas encomendadas por
grandes festivais para ver que é um formato difícil que ate grandes cineastas
de longas não acertam.
Qual é a
receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Fora da
obstinação que requere qualquer tipo de arte, não tem.
Pensa em
dirigir um curta futuramente?
Gostaria, sim.
Ju Colombo
Atriz.
Atuou nas telenovelas “Sete Vidas” e “Em Família”.
O que te
faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
A magia do cinema é muito sedutora, produzir e atuar
em curtas traz a possibilidade de vivenciarmos este processo em um formato mais
curto e não menos maravilhoso. Outro ponto bacana é a possibilidade de ousar na
linguagem, aliada à liberdade de falar sobre o que se quer, sem o compromisso
com a "venda" do produto, neste mercado restrito do cinema.
Conte
sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Atualmente, estou iniciando a produção de um curta
sobre o universo afrodescendente. Em parceria com a Cia. de Teatro Heliópolis,
Mario Masetti e a Redoma Digital, estamos vivendo uma experiência incrível.
Formatar o roteiro, estruturar a produção com uma equipe jovem e cheia de
vontade e, principalmente, trazer um argumento que abarque tão diversas e
profundas experiência no universo do negro, tem sido ímpar. Que o resultado
contemple este rico processo!
Por que
os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Assim como em outras artes, esta é uma conquista
que, aos poucos ganha amplitude, principalmente na cultura alternativa. Os
veículos de divulgação ainda são direcionados para uma mídia de resultados que
abafa a diversidade cultural. Temos um caminho a trilhar e esta
responsabilidade é nossa, artistas comprometidos com a produção cultural proativa
e não refém da manipulação negativa da informação e formação cultural.
Na sua
opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público
Cada vez mais, em diversos espaços alternativos e
educativos.
O
curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção)
é o grande campo de liberdade para experimentação?
Certamente, as possibilidades de realização e
criatividade são incríveis e amplas. Uma vez que o compromisso maior é com o
que se quer comunicar, além das atuais facilidades tecnológicas para a
realização, a produção de curtas é um próspero tubo de ensaio de linguagens!
O
curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Experiência viciante, (risos). Penso também nas possibilidades
profissionais oferecida, com as diversas áreas envolvidas na produção. É porta
aberta para outras artes também.
Qual é a
receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Insistir no sonho e pensar em argumentos que
dialoguem com as particularidades e necessidades da nossa cultura. Um olhar
focado nas inquietações humanas com certeza ecoa na curiosidade das pessoas.
Pensa em
dirigir um curta futuramente?
Vai rolar, (risos). Estou adorando esta
possibilidade, 'inda mais ao lado de profissionais que admiro!
Bruno Kott
Ator, diretor, cenógrafo. No cinema, atua nos filmes:
"Carisma Imbecil", de Sérgio Bianchi (2012), "Reféns"
(2012), de Anselmo Ramos e "O Pesar da Dúvida" (2012), de Rafael Nani.
O que te
faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Um bom roteiro e um diretor com um objetivo claro do que pretende alcançar com
o curta.
Conte
sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Nos
últimos anos, devido ao crescimento dos cursos de audiovisual nas
universidades, a demanda de curtas metragens tem crescido bastante, muitos
projetos bons e outros nem tanto. No caso dos curtas-metragens de faculdade, é
muito importante levar em conta o processo individual do estudante. é claro que
o desejo é sempre de realizar um bom trabalho mas sem esquecer que o projeto é
um espaço para experimentação artística e principalmente pratica do grupo. Por
se tratar de um trabalho com pouca exposição e nem sempre os melhores recursos,
é importante se identificar com o projeto, por isso fiz poucos curtas, mas os
que fiz me ajudaram muito a construir minha identidade artística e
profissional.
Por que os
curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Já foi
pior. Hoje em dia, existem canais que exibem curtas metragens na tv aberta e
paga e o crescimento dos festivais ajuda o divulgar o meio. Acredito
que com a expansão do formato de vídeos curtos para a internet os curtas se
beneficiarão bastante.
Na sua
opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Sinto que
Festivais e Mostras sempre são os melhores lugares para a exibição. Acredito
que o filme precisa da sala de cinema para se concretizar, mas não há como
negar o poder que a internet tem para ampliar o publico e democratizar o
formato.
O
curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção)
é o grande campo de liberdade para experimentação?
Depende
do momento de cada artista. Se for um curta acadêmico, é um ótimo espaço para
se profissionalizar e criar uma identidade artística. se realizado por um
profissional mais experiente pode ser um ótimo lugar para ousar e testar novas
linguagens e propostas.
O
curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Trampolim
eu não sei, talvez para integrantes da equipe técnica sim, mas para o ator
participar de um longa os fatores mais subjetivos, como perfil físico e
temperamento artístico, ou seja se a sua forma de se relacionar é aquilo que o
diretor acredita para o personagem. Uma coisa não como negar, estar a vontade
num set e compreender o formato audiovisual, ajudam bastante a trabalhar mais.
Qual é a
receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Sinceramente
não sei. Depende do que é vencer para cada um. Vencer para mim é conseguir
realizar na pratica o que passo horas pensando.
Pensa em dirigir um curta
futuramente?
Atualmente dirijo e escrevo o programa “No Divã do Dr. Kurtzman” para o
Canal Brasil. estou formatando uma série de ficção para a TV a Cabo e
escrevendo para o Teatro. Mas assim que tudo isso passar (e passa bem rápido)
pretendo dirigir o curta "Onde esta o gato" de Daniel Morozetti.
segunda-feira, 21 de setembro de 2015
Conversações com R.F.Lucchetti
Resenha a respeito do livro “Conversações com R.F.Lucchetti”
no site Skoob: http://www.skoob.com.br/livro/resenhas/522317/edicao:529730
quarta-feira, 16 de setembro de 2015
R.F.Lucchetti
Entrevista que o escritor e roteirista Rubens Francisco
Lucchetti concedeu para a Rádio Unesp: http://podcast.unesp.br/perfil-10082015-rubens-francisco-lucchetti-entrevista-2345
Déo Garcez
Ator. No
teatro, dentre outras, fez peças de Nelson Rodrigues, Plínio Marcos, Shakespeare, Maquiavel, Jean Genet e Harold
Pinter. Na televisão, esteve em novelas de grande sucesso, como "Xica da
Silva" e "Mandacaru" (Manchete), "O Cravo e a Rosa"
(Globo), "Canavial de Paixões" (SBT), "A Escrava Isaura",
"Prova de Amor", "Caminhos do Coração" e "Os
Mutantes" (Record). Em
2007, recebe o Troféu Raça Negra de Melhor Ator pelo Bené, de "Caminhos do
Coração". Em 2010, ganhou o Arlequim de Melhor Ator do Festival de Teatro
do Rio com "Morte Sobre a Lama", de Ricardo Torres.
O que te faz aceitar participar de
produções em curta-metragem?
Porque curto muito fazer cinema, uma arte que fica para o futuro, seja curta
ou longa-metragem. Se o projeto for desafiador, e eu tiver disponibilidade de
tempo, vou querer fazer.
Conte sobre a sua experiência em
trabalhar em produções em curta-metragem.
Tem sido uma experiência bem interessante e enriquecedora. Eu me envolvo da
mesma forma que me envolveria fazendo um longa-metragem, teatro, ou televisão.
Foco muito na criação do meu personagem, acompanhando, quando possível, os
outros itens da criação. E isto faz com que eu esteja sempre aprendendo um
pouco mais.
Por que os curtas não têm espaço em
críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Não sei. Talvez porque o curta, infelizmente, seja considerado como um
produto a ser exibido praticamente só em festivais de cinema. E daí deem a ele
menos atenção do que mereceria.
Na sua opinião, como deveria ser a
exibição dos curtas para atingir mais público?
Para que ele atingisse um público maior, talvez fosse o caso de voltar à
existência a lei que obrigava sua exibição nos cinemas, antes do longa. Uma boa
divulgação também é fundamental.
O curta-metragem para um profissional
(seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para
experimentação?
No curta, há muito mais facilidades com relação à participação de pessoas
interessantes, tanto no elenco quanto na ficha técnica, por diversos motivos:
tempo de execução, descomprometimento com o mercado formal, possibilidade de
grandes personagens, nem sempre disponíveis em outras mídias, etc. Há também a
questão financeira, que envolve infinitamente menos custos do que na realização
de um longa. O próprio resultado do trabalho pode influenciar na frequência da
exibição, já que o diretor e/ou produtor, caso não fiquem tão satisfeitos com o
produto final, podem optar por não exibi-lo muitas vezes. Quando você não
precisa atender a interesses outros que não sejam exatamente os da criação
artística, naturalmente você fica mais livre para dar mergulhos ou saltos. Que
são sempre mais desafiadores do que a mera caminhada.
O curta-metragem é um trampolim para
fazer um longa?
Como diria Caetano Veloso, “ou não”. Com certeza, muitos estudantes
recém-formados em cinema começam pelos curtas. É uma forma de aprender a fazer,
experimentar e exercitar para depois se arriscar a fazer um longa. Mas... há
pessoas que acham a linguagem do curta mais interessante, mais livre, mais
aberta à experimentação, e preferem ficar apenas com eles. Há espaço pra todo
mundo, sempre.
Qual é a receita para vencer no
audiovisual brasileiro?
Receitas não existem. Mas uma mistura de talento, disposição, sorte, ótima
rede social, muita determinação, boas escolhas, etc., etc., etc., pode ser que
ajude.
Pensa em dirigir um curta
futuramente?
Não. Meu grande barato é mesmo atuar.
Flávia Bertinelli
Atriz e diretora. Dirigiu o premiado espetáculo
"Jogo de Cenas" e "O Rapto", ambos roteiros inspirados na
commedia dell’arte. Atualmente trabalha com a Cia. Le Plat Du Jour; ministra workshops e oficinas sobre o uso da
máscara como impulso criativo e pesquisa a linguagem teatral em suas mais
diversificadas manifestações.
O que te
faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Projetos que dilatem um olhar conciso, porém curioso, sobre obviedades.
Conte
sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Senti-me
deliciosamente como peça de um jogo composto por camadas, que vão se justapondo
por um único objetivo.
Por que
os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Talvez
não seja a pessoa indicada para diagnosticar o desinteresse crítico e
financeiro sobre a divulgação de curtas e me perca tentando explicar o que tem
sido muito difícil em compreender. A cultura tem sido um local de muita luta
por parte de muitos artistas, que se tornam contorcionistas e criam projetos em
conformidade de editais, para sobreviverem. Não há um olhar mais atento para a
cultura, para a criação, nas mais diversificadas áreas culturais, e aqui,
incluo os curtas. Falta de incentivo público, de políticas públicas, de
investimento privado que vise qualidade de retorno; formação de público. Sinto
a cultura isolada, ante um cenário político que cruza os braços e ri antes
mesmo de ouvir a piada, como se ela fosse a própria, não há escuta, não há
interesse (...) ainda.
Na sua
opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Deixar de
ser um ideário. Ir ao curta, tem que se tornar um ritual, como ir ao teatro, ao
museu, ao show. "Vou ao cinema ver um curta!" E não, " Vou ao
cinema que passa primeiro um curta, mas logo em seguida, passará o longa".
É costume, é ousadia e iniciativa por parte de quem cria, de quem faz, junto às
instituições.
O
curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação,
direção ou produção) é o grande campo de liberdade
para experimentação?
Experimentação,
pra mim, é inerente à obra de arte, que deve ter por excelência, o
inacabamento, e neste meu ponto de vista, incluo, sem dúvida, o curta-metragem.
O
curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
São
universos que falam a mesma língua, mas com peculiaridades bem específicas.
conservando a individualidade de cada uma delas, não vejo problema alguma, uma
servir de trampolim, escada, para outra.
Qual é a
receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Falta-me
experiência para decifrar a receita, e o óbvio já disse em perguntas
anteriores. Qualquer novidade, aviso e divulgo em redes sociais!
Pensa em
dirigir um curta futuramente?
Seria muito imaturo dizer que sim
neste momento, mas não descarto possibilidades. Adoro dilatar cantos e olhares
sobre ideias.
Miguel Barbieri Jr.
Crítico de cinema da Revista "Veja SP". Edita o blog "Tudo sobre Cinema": http://vejasp.abril.com.br/blogs/miguel-barbieri/
Qual é a importância histórica do
curta-metragem na filmografia nacional?
Acho importante historicamente porque muitos cineastas famosos começaram
pelo curta-metragem: de Glauber Rocha a Jorge Furtado, Beto Brant, etc. E, até
nestes pequenos filmes, eles já provavam que tinham um grande potencial pela
frente. “Ilha das Flores”, do Furtado, é uma obra-prima.
Por que os curtas não têm espaço em críticas
de jornais e atenção da mídia em geral?
Acho que,
justamente, pela curta duração dele. Quem vai querer sair de casa, enfrentar
trânsito, pagar estacionamento (ou transporte público) e entrar no cinema para
ver 10/15 minutos de filme? Por outro lado, quando os curtas estão reunidos,
tipo Festival de Curtas ou Anima Mundi, eles levam multidões aos cinemas. Por
outro lado, a mídia não dá atenção justamente porque não é foco primordial do
público. No espaço que a mídia tem, ele sempre vai recair sobre os longas-metragens.
Na sua opinião, como deveria ser a exibição
dos curtas para atingir mais público?
Eu acho que
para uma divulgação maior, um curta deveria ser exibido antes de um longa. Me
lembro que muuuuitos anos atrás, isso acontecia. Mas não sei se o público iria
gostar dessa ideia. Antes de ver o longa, ele “engole” propagandas e trailers.
Imagina se pega um curta ruim (o que não é difícil) pela frente?
O curta-metragem para um profissional (seja
ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para
experimentação?
Acho que
num curta, o diretor ou produtor tem, sim, uma liberdade maior porque não há a
obrigação de agradar ninguém nem de ter um retorno financeiro em troca. Em
geral, os curtas-metragens vão para festivais e, se ganhar prêmios, melhor.
O curta-metragem é um trampolim para fazer um
longa?
Sim. É uma plataforma de experiência. Acredito que 100% dos
curtas-metragistas têm vontade de dirigir um longa (só não se se eles
conseguem).
Qual é a receita para vencer no audiovisual
brasileiro?
Fazer algo
popular, mas de qualidade. Já ficou provado que, agora, o povo gosta é de
comédia. Então, as produtoras estão se armando para produzir vários filmes do
gênero. Nesta barca, entram comédias populares boas (como “Vai que Dá Certo”) e
ruins (como “Os Penetras”). Acho que para dar certo, o cinema precisa atender
às necessidades do mercado, mas sem esquecer da qualidade artística (bons
roteiros, atuações, técnica etc.).
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Dizem que todo crítico é um cineasta frustrado (risos). Não concordo
inteiramente com a frase, mas acredito que muitos críticos gostariam, ao menos,
de provar o outro lado. É sempre fascinante ver cinema (nas filmagens e quando
pronto). E, claro, como todo crítico, tenho sim vontade de fazer um filme, sobretudo
um documentário – acho o nível dos documentários nacionais muito baixo.
Thelma Guedes
Autora de telenovelas formada
em Letras e Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (USP).
Roteirista
da TV Globo desde 1997, escreveu para diversos programas
e séries, entre eles o “Sítio do
Picapau Amarelo”. Em 2009 foi ao ar a primeira novela de Thelma Guedes com roteiro
original, em parceria com Duca Rachid, pela Rede Globo, “Cama de Gato”. É dela também “Cordel
Encantado” e “Joia Rara”.
O que te
faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Sou autora de televisão. A minha única experiência com cinema, que foi com um
curta-metragem, foi um roteiro adaptado de um conto meu "O Retrato da
Felicidade", feito há muitos anos. Acabei participando da direção e
montagem também. Aceitei fazer este curta, porque adoro curtas! Acho que obras
curtas, como poema, conto e curta-metragem, são oportunidades raras de dizer
muito com pouco, em pouco espaço, em pouco tempo. Algumas obras muito especiais
da literatura e do cinema podem vir dessas realizações mais breves.
Conte
sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Em
"O Retrato da Felicidade" fiz um roteiro que era quase o texto do
conto dito sobre imagens. Havia poucas falas. E foi muito difícil pra mim
transformar um conto tão subjetivo, em que havia a viagem psicológica dentro da
mente de um louco, para algo audiovisual. A experiência foi rica, embora muito
difícil também em relação à feitura da coisa. Cinema é caro. E na época (faz
alguns bons anos) eu e meu parceiro, na verdade, quem produziu e lutou pelo
filme, o ator Wagner Molina, não conseguiu apoio, nem patrocínio. Foi bem duro
fazer. Contamos com a ajuda dos amigos, que se juntaram e, sem cobrar um
vintém, fizeram a coisa acontecer: Rodrigo Castelhano, Dora Castellar e a atriz
Ana Lúcia Torre.
Por que
os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Boa
pergunta. Não entendo por que curta-metragem é tão desprestigiado no circuito
comercial. Ele só vive de festivais, não é? Acho um espaço super importante
para roteiristas, cineastas, diretores de arte, figurinistas, diretores de
fotografia, técnicos. Espaço de liberdade, experimentação, ensaio, aprendizado,
formação! Uma pena mesmo... Mas acho que os criadores têm que tentar mudar
isso...
Na sua
opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Acho que
poderia ser como foi no passado: abrindo os filmes de longa. Eu adorava ir ao
cinema e ver os curtas antes. Tive gratas surpresas. E todo mundo adorava...
O
curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção)
é o grande campo de liberdade para experimentação?
Sim, já
disse isso na resposta anterior. E reforço: é um espaço fundamental para que
nosso cinema cresça e apareça! Precisamos de campos de formação e
experimentação para jovens profissionais!!!
O
curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Acredito
que sim. Grande parte dos cineastas de longa passaram pelo curta. Mais do que
um trampolim, acho que é uma rede de segurança pro profissional chegar no longa
com mais autoconfiança, com ferramentas e fundamentos sedimentados da sua
profissão. É como o piloto de avião que precisa, antes de pilotar um avião de
verdade, pilotar num simulador.
Qual é a
receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Não tem
receita. Cada profissional faz o seu caminho. O meu caminho eu sempre apontei
para a literatura. O audiovisual na televisão surgiu como uma forma de eu
expressar aquilo que expresso literariamente. Ainda não consegui chegar ao
cinema. Mas quero muito. É um sonho que ainda gostaria de realizar. Quem sabe
eu consigo? A vida do caminhante é caminhar. Talvez a receita seja esta: não
parar nunca... Como o cineasta português Manoel Oliveira, que tem mais de cem
anos e ainda está cheio de projetos!
Pensa em
dirigir um curta futuramente?
Olha: eu sempre penso na escrita,
no roteiro, mas você está me dando uma linda ideia. Macaquinho no sótão da
minha cabeça começam a pular... (risos).
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