terça-feira, 29 de setembro de 2015

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Vanessa Alves – coletânea de imagem e palavras


O crítico Christian Petermann comenta as últimas estreias do cinema e entrega ao apresentador Ronnie Von um exemplar do livro “Vanessa Alves – coletânea de imagem e palavras”. O link: http://www.tvgazeta.com.br/videos/estreias-cinema-240915/

Vanessa Alves - coletânea de imagens e palavras


Entrevista que concedi hoje na TV Geração Z. Falo a respeito do livro "Vanessa Alves - coletânea de imagens e palavras": http://mais.uol.com.br/view/gbe66bkt0nd9/15622940?types=A&

terça-feira, 22 de setembro de 2015

R.F.Lucchetti


Entrevista de Rubens Francisco Lucchetti para o programa "Biografias". 


Penna Filho (in memoriam)


Cineasta. Na sua filmografia constam mais de 30 produções. Dirigiu atores como Mazzaroppi e trabalhou para diversas emissoras de televisão. Na TV Globo de São Paulo faz reportagens especiais para os principais jornalísticos e programas como “Fantástico” e Globo Repórter, até 1976. Faleceu neste ano.

Qual é a importância histórica do curta-metragem na filmografia nacional?
Vejo o curta como o formato ideal para os diretores estreantes, porque ele permite o exercício e a experimentação. A prática na sua realização dá segurança para o grande voo do longa-metragem. É difícil encontrar no cinema brasileiro um cineasta importante que não tenha começado a carreira através do curta. Dentre os melhores filmes brasileiros, incluo alguns curtas-metragens que nada ficam a dever aos filmes para o longa-metragem. Começo pelo conjunto da obra de Humberto Mauro. Mas considero a década de 60 como a mais importante porque revelou vários novos talentos, como Linduarte Noronha com o seu clássico "Aruanda", Paulo Cesar Sarraceni com "Arraial do Cabo", Leon Hirszmann com "A Pedreira", Joaquim Pedro de Andrade, com "Couro de Gato" - os dois últimos do longa "Cinco vezes Favela", e Vladimir Carvalho, com "A Bolandeira".

O que nós temos de mais expressivo como arte cinematográfica tem o curta como berço, não apenas pelo empenho artístico, mas principalmente pelo olhar humanista e crítico dos seus autores.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Um tema forte do ponto de vista social e político, que provoque reflexão, mas que permita a poesia. O diabo é que assim como eu tenho meus próprios projetos - e há algum tempo estou mais direcionado para o longa - quem poderia me convidar não o faz porque também faz seus projetos.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Fiz poucos curtas, sendo alguns de encomenda, os chamados institucionais, que não passavam de comerciais de DEZ minutos exibidos nos cinemas, da mesma forma que os produzidos por Jean Manzon e Primo Carbonari. O primeiro curta de caráter cultural foi "Mensagem", de 1967, uma encomenda do antigo MEC - Ministério da Educação e Cultura para a Documental Filmes, de SP, onde já estava dirigindo comerciais para televisão. Foi uma oportunidade muito melhor do que a oferecida para outros jovens que começavam. O filme era sobre o relacionamento dos pais com filhos portadores de necessidades especiais, com enfoque muito interessante: mais do que os excepcionais, os pais é que precisavam ser educados e preparados para entender e aceitar o que o destino lhes reservou. Infelizmente, não tenho uma cópia desse filme.

Outro trabalho interessante foi "Herança", de 1976, sobre um oleiro negro beirando os 90 anos, que ainda vivenciou a escravidão. A "herança" era o trabalho que ele passava aos seus descendentes, todos empregados de uma mísera olaria na periferia paulistana. Integrava o projeto coletivo "Cinema de rua" da Raiz Produções, com curtas de vários profissionais do núcleo paulista do Globo Repórter e Fantástico, onde trabalhei entre 1971/76. Nessa condição, ganhou prêmio especial da Jornada do Curta-Metragem da Bahia.

Somente em 1995 voltaria ao curta com "Naturezas Mortas", cujo projeto vencera o III Prêmio Resgate do Cinema Brasileiro, edital de 1994. É um filme que me deu muitas alegrias, com reconhecimento em festivais no Brasil e exterior. Um dos prêmios mais gratificantes foi o "Margarida de Prata", concedido pela CNBB, uma versão brasileira do Prêmio europeu do Ofício Católico, conhecido como OCIC, porque contemplava obras que tinham um olhar humanista e voltado para os direitos do homem. Este filme viria servir de inspiração para "Das Profundezas", meu último longa, em montagem, vencedor do edital catarinense de 2011.

Fiz outros também, como "Victor Meirelles - Quadros da História" , abordando a obra do pintor catarinense na sua fase de telas históricas, selecionado para os festivais de Gramado, Vitória e Brasília, e "Fendó m- Tributo a uma Guerreira", sobre uma índia centenária sobre a etnia kaigang e conflito de terras no oeste catarinense, também com participação e premiações em festivais. A maior parte da minha produção foi na televisão - Globo e Cultura/SP -, mas voltada exclusivamente para o documentário de média-metragem.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
A maioria da mídia dá atenção ao que considera mais interessante para os seus leitores.
Muitos veículos estão mais interessados no sensacionalismo barato. Falta espaço para o curta, como falta espaço para o nosso cinema como um todo - normalmente, só entra na pauta o que nos é desfavorável. Vejo esse quadro assim: a mídia praticamente não dá espaço para a nossa cultura, o que é fácil de constatar diante da pobreza dos raros “cadernos 2” de vários jornais.
Raríssimos filmes despertam interesse da mídia. As exceções correm por conta de alguns críticos mais sensíveis, como Luiz Zanin e Luís Carlos Merten, do Estadão. De uma forma geral, é o conjunto do cinema brasileiro que é marginalizado.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Precisávamos cumprir a lei do curta do início dos anos 70. Não tenho muita clareza se a lei ainda existe. Há quem afirme que ela não foi revogada. O interessante dessa lei era - ou é - estabelecer que um curta brasileiro deveria antecipar a exibição de um longa estrangeiro, remunerando o produtor com determinado número de ingressos vendidos. Os exibidores fizeram tudo que estava ao seu alcance para boicotar o curta, eles mesmos encomendando produções de baixíssimo nível para produtoras como a Amplavisão, de Primo Carbonari, "obras" que mereciam muitas vaias da plateia. Dessa forma, criou-se uma imagem desfavorável não apenas para o curta, mas para o conjunto do cinema brasileiro.
Outra janela, mais adequada ainda, seria a televisão, principalmente a por assinatura. O que vemos, porém, é desalentador, pois com raríssimas exceções de alguns canais (os legislativos, o Canal Brasil, emissoras oficiais como TV Brasil e TV Cultura/SP) a televisão brasileira não dá valor ao curta, como também não dá valor ao nosso cinema como um todo. O que interessa é a produção norte-americana, principalmente a que privilegia o entretenimento alienante.

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Não tenho dúvida. Não podemos esquecer que o cinema começou com filmes de curta metragem. Foi através desse exercício que grandes nomes construíram a linguagem e fizeram do cinema a arte mais popular da história da humanidade. Todo o começo da obra de Chaplin foi nesse formato, onde ele experimentou a exaustão. Há inúmeros exemplos, desde Bunuel/ Dali, com "Cão Andaluz", de 1929. No início da sua carreira, Alain Resnais ganhou prestígio com seus curtas sobre artes. Não foi gratuitamente que ele nos encantou - pelo menos a mim - com o seu Hiroshima, Meu Amor e o pouquíssimo lembrado O Ano Passado em Marienbad.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
É, sim, mas não obrigatoriamente. Sei de muitos cineastas desde a minha geração que começaram no longa. Um bom assistente, fotógrafo ou montador, enfim, qualquer um que atue profissionalmente em cinema pode começar no longa-metragem.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Bem, Rafael, eu não tenho essa receita e creio que nem os chefões do cinemão norte-americano tem. Um exemplo que sempre lembro é "Cleópatra" que quase levou a Fox a falência. Aqui, a expectativa de alguns é ter a chancela da Globo Filmes ou conseguir a "distribuição" de uma major norte-americana, uma "Columbia do Brazil", "Paramount do Brazil" e outras menos lembradas, que usufruem dos nossos incentivos fiscais. Nesse caso, os elencos devem ser "globais" e terem um certo padrão que não faz o gênero de alguns, como é o meu caso. Eu não tenho preconceito, não. A história do cinema prova que para haver grandes filmes muitos filmes de qualidade inferior precisam ser produzidos. Fiquemos no exemplo do cinema italiano: para que houvesse De Sica, Fellini, Germi, Visconti, Scola e tantos outros mestres e faroestes inqualificáveis - claro, com as exceções de Leone, Corbucci e mais alguns que agora me fogem - foram feitos? No que me concerne, o que eu faço está invariavelmente na contra corrente, dai não saber como vencer essa luta.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Penso, não, sonho. Mas preciso que os produtores que pediram roteiros meus vençam o edital para curtas daqui de Santa Catarina.

Mariana Muniz


Atriz, bailarina, diretora e coreógrafa. A partir de 1989 começa a atuar em solos de sua própria criação e mais recentemente cria sua própria Companhia com projetos contemplados pelo Programa Municipal de Fomento à Dança.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
A possibilidade do exercício cênico com a câmera e o desafio da síntese que significa trabalhar com curtas. Aceito participar quando percebo que vejo a possibilidade de entrar em contato com assuntos e realidades ficcionais ou documentais que me interessam, que me tocam.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Participei como atriz em três curtas. Um exercício para finalização de um curso na Oficina Três Rios, sob a direção de um diretor japonês, ótimo- Joel Yamaji; outro sob direção de Luiz Otávio de Santi, inspirado na obra de Samir Yasbek: O Fingidor, e, um outro, sobre a vida de uma pessoa que teve derrame cerebral e estava numa cama prestes a morrer, onde eu era sua esposa. Foram todas experiências muito fortes, pois foram feitas em condições não ideias do ponto de vista financeiro, mas envolviam uma profunda vontade e necessidade de contar, através de imagens, aquelas histórias, aquelas visões.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Não sei! Talvez porque são um formato mais exigente, em termos midiáticos, do ponto de vista do mercado?
Tenho assistido bastante coisa, quando possível, no canal Brasil. Adoro ver curtas de diretores como Chaplin, Mac Laren, Polanski, dentre outros. Cláudio Gimenez, meu companheiro, é fanático por cinema e tem bastante material. Ele é fotógrafo da companhia de teatro e dança que dirijo e fez as fotos de dois desses curtas-metragens que realizei como atriz.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Talvez exibição nos intervalos das programações da TV e no cinema, antes do começo das exibições dos longas. Ou mesmo, programações específicas para sua exibição, nos cinemas e nos canais de TV.

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Sem dúvida deve ser. Não sou especialista em cinema, mas imagino que, assim como na música e em outras artes, as peças curtas, ou contos, ou mesmo dramaturgias de peças curtas são um gênero em si e também podem ser experimentos para outros vos mais longos.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Não sei se diria trampolim, mas pode ser um veículo de inspiração e experimentação para fazer um longa-metragem.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Não sei se podemos falar em receita de sucesso. No meu fazer artístico nunca me pautei por essa ideia de descobrir como fazer sucesso. O que significaria vencer no audiovisual brasileiro?

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Como eu disse, não tenho intenções de trabalhar na criação de filmes, curtas ou longas. Sou uma apreciadora da arte do cinema e gostei muito de fazer os experimentos de atuação com câmera, tanto nos curtas como no único longa que fiz, mas foram experimentos sempre como atriz.

Andradina Azevedo


Ator e diretor. Na universidade, dirigiu, fotografou e montou alguns curtas-metragens. Em parceria com Dida Andrade, fundou a produtora Filmes da Lata e dirigiu os premiados curtas-metragens:Para que não me ames” (2011); “O capitão chamava Carlos” (2010) e; “A triste história de Kid-Punhetinha” (2012). Em 2013, a dupla estreou o longa-metragem “A bruta flor do querer” (2013) no 41º Festival de Gramado, onde receberam os prêmios de melhor direção e melhor fotografia (Gallo Rivas).

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Quando não é um projeto meu (de direção minha) acho que duas coisas são relevantes: a qualidade do roteiro e do que se quer dizer com esse roteiro e quem é o realizador. Se o realizador é um jovem que tem gana de estudar e se doar pelo cinema e fazer as coisas bem feitas, eu sinto muita vontade de ajudar.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Além dos modelos padrões de festivais eles deveriam saber explorar mais a internet. Porque um festival acaba sendo para um número pequeno de pessoas e acredito que os festivais deveriam fazer umas exibições, via internet ou TV durante o festival para que outras pessoal também assistissem e votassem.

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Acho que sim.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Não necessariamente um trampolim, pois você pode fazer bons curtas, mas ainda não conseguir apoio para realizar um longa-metragem. Acredito que é mais uma fase de se exercitar e aprimorar o domínio da linguagem cinematográfica para depois conseguir realizar um bom longa. Hoje tem muitos diretores que não fazem curtas e vão direto pro longa. Diretores que fazem publicidade e acreditam que a publicidade pode ser uma boa escola. Mas apesar de serem bons na publicidade (e isso eu admiro) acho que eles vão pro cinema com muitas deficiências. Acredito que publicidade pode ser uma boa escola pra se fazer publicidade, mas nunca para o cinema.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Se soubesse venderia caro. (risos).

Mas eu vejo dois caminhos: o primeiro e mais explorado caminho é a "politica" e contatos. Pois o cinema brasileiro é um nicho bem fechado e é bem difícil entrar e ter aceso ao "mingal". Mas quando se tem os contatos, as amizades ou o parentesco com gente importante, você já tem um bom caminho andado, mas isso não garante ninguém como bom cineasta. O outro caminho é simplesmente o trabalho intenso, estudo sério e muita fibra e força de vontade. Isso não te garante o sucesso, mas vai te deixar solidamente bem preparado e é só assim que se torna um bom profissional. E assim acredito que pode demorar, mas uma hora o cara chega lá!

Em suma acho que o segundo caminho é o mais importante e o qual mais se deva investir. Mas ao mesmo tempo o cara tem que saber jogar com o primeiro caminho.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
No momento penso mais em fazer um segundo longa ou trabalhar em algo na TV como uma minissérie. Mas sem dúvida ainda farei outros curtas-metragens.

Fransérgio Araújo


Ator e diretor. No cinema, em 2000, atua no filme “Através da Janela”, de Tata Amaral.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Uma história convincente com um fundo de mensagem subentendida, que critique a vida que levamos e nos transporte pra uma outra realidade.  Como diria Truffaut: o prazer dos olhos.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Não fiz muitos curtas, fiz agora um curta com Pedro Severein e fui muito bom. Essa curta é muito importante pra mim porque perdi meu pai enquanto filmava. Mais houve uma época quando trabalhei no Teatro Oficina que era muito chamado, mais comecei a me entediar porque muitos estudantes fazem muitas porcarias de curta. Considero uma linguagem difícil.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acredito que é por ter uma linguagem que se aproximaria do clip. (risos). Na verdade sinto que é porque o retorno pra mídia é mais rápido, mais barato e eficaz. Vide o sucesso do Festival do Minuto.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
No inicio das novelas, aconteceriam um boom e muitas pessoas poderiam filmar e ter ideias novas também. Teve uma ocasião que exibi um pequeno documentário com as imagens do Gláuber Rocha. Em festas e em grandes telões também poderia ser bem legal.

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Pelo contrário exige mais conhecimento de cinema, o Pedro Severien, por exemplo, o diretor do curta-metragem que filmei novembro do ano passado no Recife, Pedro tem um conhecimento grande de cinema e é fã de filmes de vampiros e no curta que filmamos o "Loja de Répteis" eu sentia muita certeza na sua direção porque ele entendia a força de uma imagem. E isso não é liberdade é aprisionar conhecimento e saber usá-lo, e aí sim filmando um curta-metragem, você pode sim, revolucionar. Só a liberdade pela liberdade fabrica muitas imagens merdas, veja o que muitos publicitários fazem em TV.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Com certeza. Ir chegando aos poucos num longa-metragem, acredito ser o que todo individuo artista de cinema merece percorrer. 

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Sinto que hoje existe uma mistura muito confusa pra mim, a "imagem" está espalhada em todo contexto da vida, em celulares em tablets, Youtube, pirataria, TV aberta, TV fechada, hologramas até, enfim, você precisa ser muito original pra vencer neste mercado muitas vezes extremamente fútil, mais isso também tem a ver com a imagem. Ou seja sinto ser um trabalho bem difícil, exige sensibilidade do interessado.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Gostaria sim se tiver esta oportunidade até porque sou filho de fotógrafo, e aprendi a enquadrar uma imagem, sincronizar, ver a luz, tudo isso me emociona. E até tenho algumas ideias.

Bernard Attal


Cineasta. Dirigiu e produziu os curtas-metragens “29 Polegadas” (2005); “ Ilha do Rato” (2006) e; “Passeio de Bicicleta” (2009).

Qual é a importância histórica do curta-metragem na filmografia nacional?
O Brasil é dum dos três países que mandam mais filmes para o Festival de Clermont Ferrand, o mais importante do mundo para curtas-metragens. Além disso, o Brasil tem a maior politica de fomento a produção de curtas-metragens.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Necessidade de aprender todas as etapas de fazer um filme, o que fazer curtas-metragens te proporciona, mas não é possível no formato de longa-metragem que tem uma logística muito mais complicada.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Dirigi e produzi três curtas: “29 Polegadas” (2005), “Ilha do Rato” (2006), “Passeio de Bicicleta” (2009), que juntos participaram em mais de cem festivais no redor do mundo.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acho que o espaço para critica duma forma geral se reduziu bastante. Então é normal que a mídia se foca nos filmes que tem nomes conhecidos.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Deveria ser respeitada a obrigação legal de passar nas salas curtas antes dos longas-metragens, pelo menos em algumas sessões. Quase nenhum exibidor hoje cumpre essa obrigação, mas porque também não é possível de impor a ninguém esse tipo de regra. Tem que ter dialogo entre os exibidores e o poder público, para ver como isso pode funcionar sem prejudicar ninguém.

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Claro. O cinema hoje é cada vez mais formatado pra satisfazer o gosto de um publico mais conservador. Então, somente fazendo curtas, você tem essa liberdade para experimentar.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Sim, mas também tem cineastas que fazem curtas a vida toda, e estão, se tornaram referência nesse formato. E só assistir esses filmes que são coletâneas encomendadas por grandes festivais para ver que é um formato difícil que ate grandes cineastas de longas não acertam.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Fora da obstinação que requere qualquer tipo de arte, não tem.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Gostaria, sim.

Ju Colombo


Atriz. Atuou nas telenovelas “Sete Vidas” e “Em Família”.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
A magia do cinema é muito sedutora, produzir e atuar em curtas traz a possibilidade de vivenciarmos este processo em um formato mais curto e não menos maravilhoso. Outro ponto bacana é a possibilidade de ousar na linguagem, aliada à liberdade de falar sobre o que se quer, sem o compromisso com a "venda" do produto, neste mercado restrito do cinema. 

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Atualmente, estou iniciando a produção de um curta sobre o universo afrodescendente. Em parceria com a Cia. de Teatro Heliópolis, Mario Masetti e a Redoma Digital, estamos vivendo uma experiência incrível. Formatar o roteiro, estruturar a produção com uma equipe jovem e cheia de vontade e, principalmente, trazer um argumento que abarque tão diversas e profundas experiência no universo do negro, tem sido ímpar. Que o resultado contemple este rico processo!

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Assim como em outras artes, esta é uma conquista que, aos poucos ganha amplitude, principalmente na cultura alternativa. Os veículos de divulgação ainda são direcionados para uma mídia de resultados que abafa a diversidade cultural. Temos um caminho a trilhar e esta responsabilidade é nossa, artistas comprometidos com a produção cultural proativa e não refém da manipulação negativa da informação e formação cultural.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público
Cada vez mais, em diversos espaços alternativos e educativos.

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Certamente, as possibilidades de realização e criatividade são incríveis e amplas. Uma vez que o compromisso maior é com o que se quer comunicar, além das atuais facilidades tecnológicas para a realização, a produção de curtas é um próspero tubo de ensaio de linguagens!

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Experiência viciante, (risos). Penso também nas possibilidades profissionais oferecida, com as diversas áreas envolvidas na produção. É porta aberta para outras artes também.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Insistir no sonho e pensar em argumentos que dialoguem com as particularidades e necessidades da nossa cultura. Um olhar focado nas inquietações humanas com certeza ecoa na curiosidade das pessoas. 

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Vai rolar, (risos). Estou adorando esta possibilidade, 'inda mais ao lado de profissionais que admiro!

Bruno Kott


Ator, diretor, cenógrafo. No cinema, atua nos filmes: "Carisma Imbecil", de Sérgio Bianchi (2012), "Reféns" (2012), de Anselmo Ramos e "O Pesar da Dúvida" (2012), de Rafael Nani.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Um bom roteiro e um diretor com um objetivo claro do que pretende alcançar com o curta.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Nos últimos anos, devido ao crescimento dos cursos de audiovisual nas universidades, a demanda de curtas metragens tem crescido bastante, muitos projetos bons e outros nem tanto. No caso dos curtas-metragens de faculdade, é muito importante levar em conta o processo individual do estudante. é claro que o desejo é sempre de realizar um bom trabalho mas sem esquecer que o projeto é um espaço para experimentação artística e principalmente pratica do grupo. Por se tratar de um trabalho com pouca exposição e nem sempre os melhores recursos, é importante se identificar com o projeto, por isso fiz poucos curtas, mas os que fiz me ajudaram muito a construir minha identidade artística e profissional.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Já foi pior. Hoje em dia, existem canais que exibem curtas metragens na tv aberta e paga e o crescimento dos festivais ajuda o divulgar o meio. Acredito que com a expansão do formato de vídeos curtos para a internet os curtas se beneficiarão bastante.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Sinto que Festivais e Mostras sempre são os melhores lugares para a exibição. Acredito que o filme precisa da sala de cinema para se concretizar, mas não há como negar o poder que a internet tem para ampliar o publico e democratizar o formato.

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Depende do momento de cada artista. Se for um curta acadêmico, é um ótimo espaço para se profissionalizar e criar uma identidade artística. se realizado por um profissional mais experiente pode ser um ótimo lugar para ousar e testar novas linguagens e propostas.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Trampolim eu não sei, talvez para integrantes da equipe técnica sim, mas para o ator participar de um longa os fatores mais subjetivos, como perfil físico e temperamento artístico, ou seja se a sua forma de se relacionar é aquilo que o diretor acredita para o personagem. Uma coisa não como negar, estar a vontade num set e compreender o formato audiovisual, ajudam bastante a trabalhar mais.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Sinceramente não sei. Depende do que é vencer para cada um. Vencer para mim é conseguir realizar na pratica o que passo horas pensando.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Atualmente dirijo e escrevo o programa “No Divã do Dr. Kurtzman” para o Canal Brasil. estou formatando uma série de ficção para a TV a Cabo e escrevendo para o Teatro. Mas assim que tudo isso passar (e passa bem rápido) pretendo dirigir o curta "Onde esta o gato" de Daniel Morozetti.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Conversações com R.F.Lucchetti


Resenha a respeito do livro “Conversações com R.F.Lucchetti” no site Skoob: http://www.skoob.com.br/livro/resenhas/522317/edicao:529730

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

R.F.Lucchetti


Entrevista que o escritor e roteirista Rubens Francisco Lucchetti concedeu para a Rádio Unesp: http://podcast.unesp.br/perfil-10082015-rubens-francisco-lucchetti-entrevista-2345

Déo Garcez


Ator. No teatro, dentre outras, fez peças de Nelson Rodrigues, Plínio Marcos, Shakespeare, Maquiavel, Jean Genet e Harold Pinter. Na televisão, esteve em novelas de grande sucesso, como "Xica da Silva" e "Mandacaru" (Manchete), "O Cravo e a Rosa" (Globo), "Canavial de Paixões" (SBT), "A Escrava Isaura", "Prova de Amor", "Caminhos do Coração" e "Os Mutantes" (Record). Em 2007, recebe o Troféu Raça Negra de Melhor Ator pelo Bené, de "Caminhos do Coração". Em 2010, ganhou o Arlequim de Melhor Ator do Festival de Teatro do Rio com "Morte Sobre a Lama", de Ricardo Torres.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Porque curto muito fazer cinema, uma arte que fica para o futuro, seja curta ou longa-metragem. Se o projeto for desafiador, e eu tiver disponibilidade de tempo, vou querer fazer.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Tem sido uma experiência bem interessante e enriquecedora. Eu me envolvo da mesma forma que me envolveria fazendo um longa-metragem, teatro, ou televisão. Foco muito na criação do meu personagem, acompanhando, quando possível, os outros itens da criação. E isto faz com que eu esteja sempre aprendendo um pouco mais.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Não sei. Talvez porque o curta, infelizmente, seja considerado como um produto a ser exibido praticamente só em festivais de cinema. E daí deem a ele menos atenção do que mereceria.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Para que ele atingisse um público maior, talvez fosse o caso de voltar à existência a lei que obrigava sua exibição nos cinemas, antes do longa. Uma boa divulgação também é fundamental.

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
No curta, há muito mais facilidades com relação à participação de pessoas interessantes, tanto no elenco quanto na ficha técnica, por diversos motivos: tempo de execução, descomprometimento com o mercado formal, possibilidade de grandes personagens, nem sempre disponíveis em outras mídias, etc. Há também a questão financeira, que envolve infinitamente menos custos do que na realização de um longa. O próprio resultado do trabalho pode influenciar na frequência da exibição, já que o diretor e/ou produtor, caso não fiquem tão satisfeitos com o produto final, podem optar por não exibi-lo muitas vezes. Quando você não precisa atender a interesses outros que não sejam exatamente os da criação artística, naturalmente você fica mais livre para dar mergulhos ou saltos. Que são sempre mais desafiadores do que a mera caminhada.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Como diria Caetano Veloso, “ou não”. Com certeza, muitos estudantes recém-formados em cinema começam pelos curtas. É uma forma de aprender a fazer, experimentar e exercitar para depois se arriscar a fazer um longa. Mas... há pessoas que acham a linguagem do curta mais interessante, mais livre, mais aberta à experimentação, e preferem ficar apenas com eles. Há espaço pra todo mundo, sempre.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Receitas não existem. Mas uma mistura de talento, disposição, sorte, ótima rede social, muita determinação, boas escolhas, etc., etc., etc., pode ser que ajude.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Não. Meu grande barato é mesmo atuar.

Flávia Bertinelli


Atriz e diretora. Dirigiu o premiado espetáculo "Jogo de Cenas" e "O Rapto", ambos roteiros inspirados na commedia dell’arte. Atualmente trabalha com a Cia. Le Plat Du Jour; ministra workshops e oficinas sobre o uso da máscara como impulso criativo e pesquisa a linguagem teatral em suas mais diversificadas manifestações.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Projetos que dilatem um olhar conciso, porém curioso, sobre obviedades.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Senti-me deliciosamente como peça de um jogo composto por camadas, que vão se justapondo por um único objetivo.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Talvez não seja a pessoa indicada para diagnosticar o desinteresse crítico e financeiro sobre a divulgação de curtas e me perca tentando explicar o que tem sido muito difícil em compreender. A cultura tem sido um local de muita luta por parte de muitos artistas, que se tornam contorcionistas e criam projetos em conformidade de editais, para sobreviverem. Não há um olhar mais atento para a cultura, para a criação, nas mais diversificadas áreas culturais, e aqui, incluo os curtas. Falta de incentivo público, de políticas públicas, de investimento privado que vise qualidade de retorno; formação de público. Sinto a cultura isolada, ante um cenário político que cruza os braços e ri antes mesmo de ouvir a piada, como se ela fosse a própria, não há escuta, não há interesse (...) ainda.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Deixar de ser um ideário. Ir ao curta, tem que se tornar um ritual, como ir ao teatro, ao museu, ao show. "Vou ao cinema ver um curta!" E não, " Vou ao cinema que passa primeiro um curta, mas logo em seguida, passará o longa". É costume, é ousadia e iniciativa por parte de quem cria, de quem faz, junto às instituições.

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Experimentação, pra mim, é inerente à obra de arte, que deve ter por excelência, o inacabamento, e neste meu ponto de vista, incluo, sem dúvida, o curta-metragem.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
São universos que falam a mesma língua, mas com peculiaridades bem específicas. conservando a individualidade de cada uma delas, não vejo problema alguma, uma servir de trampolim, escada, para outra.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Falta-me experiência para decifrar a receita, e o óbvio já disse em perguntas anteriores. Qualquer novidade, aviso e divulgo em redes sociais!

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Seria muito imaturo dizer que sim neste momento, mas não descarto possibilidades. Adoro dilatar cantos e olhares sobre ideias.

Miguel Barbieri Jr.


Crítico de cinema da Revista "Veja SP". Edita o blog "Tudo sobre Cinema": http://vejasp.abril.com.br/blogs/miguel-barbieri/

Qual é a importância histórica do curta-metragem na filmografia nacional?
Acho importante historicamente porque muitos cineastas famosos começaram pelo curta-metragem: de Glauber Rocha a Jorge Furtado, Beto Brant, etc. E, até nestes pequenos filmes, eles já provavam que tinham um grande potencial pela frente. “Ilha das Flores”, do Furtado, é uma obra-prima.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acho que, justamente, pela curta duração dele. Quem vai querer sair de casa, enfrentar trânsito, pagar estacionamento (ou transporte público) e entrar no cinema para ver 10/15 minutos de filme? Por outro lado, quando os curtas estão reunidos, tipo Festival de Curtas ou Anima Mundi, eles levam multidões aos cinemas. Por outro lado, a mídia não dá atenção justamente porque não é foco primordial do público. No espaço que a mídia tem, ele sempre vai recair sobre os longas-metragens.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Eu acho que para uma divulgação maior, um curta deveria ser exibido antes de um longa. Me lembro que muuuuitos anos atrás, isso acontecia. Mas não sei se o público iria gostar dessa ideia. Antes de ver o longa, ele “engole” propagandas e trailers. Imagina se pega um curta ruim (o que não é difícil) pela frente?

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Acho que num curta, o diretor ou produtor tem, sim, uma liberdade maior porque não há a obrigação de agradar ninguém nem de ter um retorno financeiro em troca. Em geral, os curtas-metragens vão para festivais e, se ganhar prêmios, melhor.

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Sim. É uma plataforma de experiência. Acredito que 100% dos curtas-metragistas têm vontade de dirigir um longa (só não se se eles conseguem).

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Fazer algo popular, mas de qualidade. Já ficou provado que, agora, o povo gosta é de comédia. Então, as produtoras estão se armando para produzir vários filmes do gênero. Nesta barca, entram comédias populares boas (como “Vai que Dá Certo”) e ruins (como “Os Penetras”). Acho que para dar certo, o cinema precisa atender às necessidades do mercado, mas sem esquecer da qualidade artística (bons roteiros, atuações, técnica etc.).

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Dizem que todo crítico é um cineasta frustrado (risos). Não concordo inteiramente com a frase, mas acredito que muitos críticos gostariam, ao menos, de provar o outro lado. É sempre fascinante ver cinema (nas filmagens e quando pronto). E, claro, como todo crítico, tenho sim vontade de fazer um filme, sobretudo um documentário – acho o nível dos documentários nacionais muito baixo.

Thelma Guedes


Autora de telenovelas formada em Letras e Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (USP). Roteirista da TV Globo desde 1997, escreveu para diversos programas e séries, entre eles o “Sítio do Picapau Amarelo”. Em 2009 foi ao ar a primeira novela de Thelma Guedes com roteiro original, em parceria com Duca Rachid, pela Rede Globo, “Cama de Gato”. É dela também “Cordel Encantado” e “Joia Rara”.

O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Sou autora de televisão. A minha única experiência com cinema, que foi com um curta-metragem, foi um roteiro adaptado de um conto meu "O Retrato da Felicidade", feito há muitos anos. Acabei participando da direção e montagem também. Aceitei fazer este curta, porque adoro curtas! Acho que obras curtas, como poema, conto e curta-metragem, são oportunidades raras de dizer muito com pouco, em pouco espaço, em pouco tempo. Algumas obras muito especiais da literatura e do cinema podem vir dessas realizações mais breves.

Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em curta-metragem.
Em "O Retrato da Felicidade" fiz um roteiro que era quase o texto do conto dito sobre imagens. Havia poucas falas. E foi muito difícil pra mim transformar um conto tão subjetivo, em que havia a viagem psicológica dentro da mente de um louco, para algo audiovisual. A experiência foi rica, embora muito difícil também em relação à feitura da coisa. Cinema é caro. E na época (faz alguns bons anos) eu e meu parceiro, na verdade, quem produziu e lutou pelo filme, o ator Wagner Molina, não conseguiu apoio, nem patrocínio. Foi bem duro fazer. Contamos com a ajuda dos amigos, que se juntaram e, sem cobrar um vintém, fizeram a coisa acontecer: Rodrigo Castelhano, Dora Castellar e a atriz Ana Lúcia Torre.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Boa pergunta. Não entendo por que curta-metragem é tão desprestigiado no circuito comercial. Ele só vive de festivais, não é? Acho um espaço super importante para roteiristas, cineastas, diretores de arte, figurinistas, diretores de fotografia, técnicos. Espaço de liberdade, experimentação, ensaio, aprendizado, formação! Uma pena mesmo... Mas acho que os criadores têm que tentar mudar isso...

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Acho que poderia ser como foi no passado: abrindo os filmes de longa. Eu adorava ir ao cinema e ver os curtas antes. Tive gratas surpresas. E todo mundo adorava...

O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Sim, já disse isso na resposta anterior. E reforço: é um espaço fundamental para que nosso cinema cresça e apareça! Precisamos de campos de formação e experimentação para jovens profissionais!!!

O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Acredito que sim. Grande parte dos cineastas de longa passaram pelo curta. Mais do que um trampolim, acho que é uma rede de segurança pro profissional chegar no longa com mais autoconfiança, com ferramentas e fundamentos sedimentados da sua profissão. É como o piloto de avião que precisa, antes de pilotar um avião de verdade, pilotar num simulador.

Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Não tem receita. Cada profissional faz o seu caminho. O meu caminho eu sempre apontei para a literatura. O audiovisual na televisão surgiu como uma forma de eu expressar aquilo que expresso literariamente. Ainda não consegui chegar ao cinema. Mas quero muito. É um sonho que ainda gostaria de realizar. Quem sabe eu consigo? A vida do caminhante é caminhar. Talvez a receita seja esta: não parar nunca... Como o cineasta português Manoel Oliveira, que tem mais de cem anos e ainda está cheio de projetos!

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Olha: eu sempre penso na escrita, no roteiro, mas você está me dando uma linda ideia. Macaquinho no sótão da minha cabeça começam a pular... (risos).