Fotografia: Luis
Abramo, Fotografo, Alexandre Ramos, na câmera, Jorge Durán, e Gabriel Durán,
produtor e montador.
Jorge Duran é roteirista e diretor
que ficou conhecido pelos roteiros de Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia
(1977), Pixote, a Lei do Mais Fraco (1981) e O Beijo da Mulher-Aranha
(1984), os três dirigidos por Hector Babenco. Como cineasta fez: Não Se Pode Viver Sem Amor; Proibido Proibir e; A Cor Do Seu Destino.
O que
te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Não tenho
participado diretamente em produções de curta-metragem. A El Desierto Filmes,
nossa produtora, tem participado sim, e quem tem cuidado disso são Pedro Rossi
e Gabriel Durán, também sócios. Eu acho importante receber produções de
curta-metragem, já que os considero tão difíceis de produzir e realizar quanto
o longa-metragem. Mais ainda, porque sabemos que são feitos com mais esforço
que dinheiro.
Por que
os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acredito
que os curtas, embora alguns tenham as mesmas ou mais qualidades que alguns
longas, nunca terão a visibilidade de estes últimos. Não acho isso bom, mas uma
realidade. Na época que o curta era exibido obrigatoriamente, no começo passavam
bons curtas nos cinemas. Isso foi sendo deturpado e como se falava na época, os
próprios exibidores faziam arremedos de filme de poucos minutos, que foram
criando um mal estar no publico. A Motion Picture, naqueles anos fez vir Jack
Valenti, ou como se chame o sujeito, que era o chefão naquela época, para fazer
lobby contra a obrigatoriedade da exibição dos curtas junto com um longa, sendo
muito bem recebido pela sociedade brasileira, políticos, militares e
autoridades. Uma mesquinharia, falta de interesse no cinema brasileiro e, para
ser claro, considero que foi causado pó uma estupidez e falta de critério quase
congênita.
Na sua
opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Não me
ocorre uma forma, porque ver eles na TV é um paliativo, mas não uma solução, já
que muitos deles visavam a exibição em salas de cinema. Talvez criar uma mostra
mensal de curtas selecionados, por uma semana em Centros culturais espalhados
pelo Brasil, ajude. No Chile, um cinema do grupo Hoyt, dedicava uma das tantas
salas todas as segundas feiras a exibição de curta-metragem. Não sei se ainda
fazem isso. Não acredito que exibidores vão se interessar no “produto”, como é
chamado por eles e distribuidores, por não ter nenhuma vantagem econômica. Outra
forma seria pleitear que aqueles cinemas que recebem incentivos fiscais para
existir, passem obrigatoriamente curta-metragem.
É
possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um
trampolim para fazer um longa...
Não vejo
o curta-metragem como trampolim. Seria como imaginar o escritor de contos como
um sujeito se preparando para escrever um romance. Viver, pagar as contas,
fazendo curtas, acredito que seja difícil. Mas combinado com atividades no
cinema, como produzir, distribuir, escrever e outras formas de ganhar a vida,
podem permitir que alguém se dedique a fazer curta-metragem, já que podem ter
saída comercial eventual. Não acredito que fazer curta-metragem ajude muito a
entender a mecânica de fazer um longa. São absolutamente diferentes, mas não
excludentes. Eu nunca consegui escrever um curta, já que quando estava na
página sete ou dez, sempre reparava que ainda nem tinha entrado no assunto. Já
tentei varias vezes, sem êxito. Mas ainda consigo fazer um que seja. Acho extremamente
difícil fazer um bom curta-metragem, assim como um longa. Você deve lembrar
daquela clássica desculpa “me perdoe por lhe escrever esta carta tão longa, é
que não tive tempo para lhe escrever uma curta”.
O
curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não
acredito. Qualquer cineasta sabe respeitar e apreciar um bom filme.
Pensa
em dirigir um curta futuramente?
Planejo
fazer um documentário e um curta-metragem, já que ainda não consegui fazer.
Ideias não faltam, mas vou ter que tomar coragem e estudar bastante.