Ator.
Seu inicio como ator foi em 1990, quando
atuou na minissérie ''Boca do Lixo'', na TV Globo. Como foi esse trabalho?
Iniciei
profissionalmente na carreira de ator em 1980, com o espetáculo de teatro
''Tango'' e em cinema, no filme '' Ato de violência''. Nos dez anos seguintes,
atuei basicamente em teatro. Meu início na TV foi em 1990. Para mim foi algo
inusitado, já que estava mais habituado ao teatro, onde tudo é maior no gesto,
na projeção vocal, na expressão corporal. Foi um exercício de adaptação e
aprendizado do veículo e da linguagem, onde tudo é mais rápido na construção
das personagens, mais sutil, sem exageros.
Em 91, fez: “Floradas na Serra”, na TV
Cultura. Quais as lembranças desse período?
Lembro
com saudade que a ''TV Cultura'' produzia muito e com bastante qualidade.
Participar dessas produções foi importante para mim, por conviver com o
trabalho de uma TV pública, com princípios e ações que prezavam pelo conteúdo.
Na mesma época participei do projeto IPÊ, um seriado da mesma emissora que
tinha como tema a literatura brasileira.
Logo depois você foi para a Rede Globo e em
93, participou da minissérie “Agosto”. Como e qual circunstância apareceu o
convite para ingressar na emissora?
O
diretor Paulo Ubiratan, me convidou para fazer um teste após assistir uma peça
que eu encenava na época em São Paulo. Felizmente correu tudo bem, em pouco
tempo comecei a gravar essa minissérie do Globo que foi um sucesso.
Mesmo que velado, o sonho de todo artista é
fazer parte da equipe da Rede Globo, por uma série de razões (visibilidade,
salário, possibilidade de vínculo extenso, etc.) e para você, como é?
Mesmo
fazendo trabalhos no teatro e em outras mídias, não temos como comparar a
projeção que a TV globo oferece. É claro que depois de trabalhar na emissora,
passei a ser mais conhecido e reconhecido pelo meu trabalho, isso é bom! Até
hoje pessoas me param na rua perguntando sobre trabalhos antigos.
Você participou de um episódio do seriado
“Você Decide”, como foi seu trabalho de composição para este trabalho? O
programa possibilitava muita liberdade para o ator?
O
programa trabalhava com roteiro fixo, porém com dois finais gravados, ou seja,
o trabalho de composição de personagem não foi diferente das séries ou novelas.
Entre 1995 e 1997 você conseguiu uma sequência
emendando um trabalho no outro: ‘Malhação’ (95), ‘O Rei do Gado’ (96), ‘Por
Amor e Ódio’ e ‘Anjo Mau’ (97). Como foi esse período?
Foram
anos muito bons, além destes trabalhos fiz “Irmãos Coragem”, “Mulher” e “ Sai
de Baixo”. A ponte aérea foi meu endereço fixo do período... (risos). Cansativo
mas muito produtivo.
A novela “Éramos Seis”, foi um relativo
sucesso. Como foi trabalhar nessa novela e como foi trabalhar com outro padrão
de fazer televisão, no SBT?
Naquele
período o SBT estava investindo em teledramaturgia e as produções eram bem
cuidadas e tinham um retorno consolidado junto ao público.
Outra emissora que você trabalhou foi Rede
Record onde fez ‘Metamorphoses’. Como foi o trabalho na emissora?
Além de
“Metamorphoses” fiz “Por Amor e Ódio”. O processo de criação dos personagens
era muito livre, tanto que em “Metamorphoses” podíamos criar e improvisar
durante as gravações.
‘JK’ é uma minissérie e ‘Divã’ um seriado.
Nos dois títulos você trabalhou. A pergunta é: como se prepara para atuar em
diferentes plataformas que exigem tempo maior ou menor de participação?
A plataforma é a mesma: teledramaturgia. Para o ator a preparação vem não apenas
do roteiro e do texto, mas também da direção que aponta as nuances do
personagem.
Ainda lhe falta um papel maior na televisão?
Acho
que para nós atores o maior papel sempre está por vir.
O que ainda espera na sua carreira?
Continuar
criando e buscando novas formas de pensar, emocionar e dizer.
Apesar de todos esses trabalhos mencionados
na televisão, podemos considerá-lo um ator de teatro? É ali que está a sua
essência?
O
teatro é a base de formação para o ator. A pesquisa para interpretação é
construída por meio de estudo, investigação, prática, intuição, prontidão e
contato com o público. Tais fatores preparam o profissional para outros
desafios, seja TV ou cinema.
A caixa preta do teatro de certo modo não é
intimidatória para o grande público? Ela não é muito canônica?
Apesar
de gostar muito do teatro de rua, acho que a caixa preta do teatro é mágica e
ancestral. Existe um sagrado no teatro que instala as pessoas a uma viagem.
Esse espaço tanto poder estar circunscrito ao tradicional como nas ruas ou em
outros espaços. O que importa é o sonho.
Por que você fez pouco cinema?
Gostaria
de ter feito mais, os 11 trabalhos que participei me deixaram a vontade de
novos desafios.
Quais as chances de um novo cineasta lhe
“fisgar” e contar com a sua participação no filme dele? O que ele precisa para
te conquistar?
Chances?
Todas! Basta ter um bom roteiro e a vontade de me ligar!
O curta-metragem é o maior campo de liberdade
para um ator?
O curta
geralmente oferece a possibilidade de um roteiro mais livre e uma interpretação
menos convencional. No cinema, a liberdade maior é sempre do diretor.
Para finalizar, gostaria que falasse como é
viver com a incerteza. Vocês atores, quando não tem um contrato de longo prazo
com uma emissora, precisam se desdobrar para viver, como fazem?
Pode
parecer estranho, mas a incerteza faz parte da arte como dizia Da Vinci. Como autor, diretor e
consultor também obtenho prazer, realização e retorno. Todas as atividades me
completam.