Atriz e diretora teatral. Atuou em espetáculos como ‘Histórias por
Telefone’ e ‘A Ilha’. É considerada uma das expoentes das artes cênicas no
país.
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Adoro curtas. Aliás, adoro bons
curtas - já que acho extremamente difícil de acertar a mão num curta-metragem.
Como atriz, não considero o curta um gênero menor, mas uma obra que tem suas
próprias regras, por isso não há a menor hesitação em aceitar fazer um caso o
roteiro ou a proposta me agradem. Ontem mesmo uma pessoa que eu não via há um
bom tempo me perguntou se eu tinha raspado há cabeça (há dois anos) para fazer
um filme. Disse que sim - um curta-metragem de Pedro Sotero e Daniel Bandeira
que ainda não foi lançado. “Você raspou a cabeça para fazer um curta?? E vale a
pena??” Claro. Acho que tudo na arte vale a pena se você acredita no sentido do
que está fazendo.
Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em
curta-metragem.
Uau, essa é uma pergunta difícil. Já fiz uns 10 curtas-metragens
e cada um foi uma experiência completamente diferente da outra. Posso te dizer
que já fiz muitas loucuras - como escalar a torre condenada de uma igreja para
fazer um plano na janela; ser submetida há 30 horas de aplicações de tatuagens
em um final de semana; tomar dois litros de café e fumar 12 cigarros no mesmo
dia (eu não fumo) para fazer um plano sequência, dormir em um sofá diferente de
Lausanne a cada noite para filmar com Fernando Coimbra na Suíça... Mas de uma
forma geral posso dizer que os curtas que fiz me deram muitas alegrias... e
histórias para contar!
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da
mídia em geral?
Essa foge da minha alçada. Mas é
uma pena essa falta de atenção que os curtas recebem no Brasil.
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir
mais público?
É bom ver os curtas extrapolando as
sessões de festivais. Tem alguns cinemas e cineclubes que exibem uma sessão de
curta ante de uma sessão de longa em sua programação. Gosto dessa prática. A
pessoa não precisa ver o curta se não quiser, mas, se chegar um pouco antes do
início do longa que saiu de casa pra assistir, quem sabe não têm uma boa
surpresa? Em alguns canais de TV também começam a aparecer curtas-metragens na
programação. Isso é ótimo! Acho que ainda é preciso formar um público para os curtas-metragens
que extrapole a classe cinematográfica.
O curta-metragem para um profissional (seja ele da atuação, direção ou
produção) é o grande campo de liberdade para experimentação?
Sem dúvida. É muito mais barato
fazer um curta do que um longa. E em geral a estrutura é muito mais leve, os
compromissos menos opressores. Muitas vezes são os curtas que apontam novos
caminhos, novas possibilidades de se pensar e de se fazer cinema. Isso é uma
das coisas que faz do curta um gênero tão especial.
O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Pode ser, mas não necessariamente.
Como se tratam de formas artísticas diferentes, usando a lógica inversa, um
ator pode perfeitamente fazer uma dezena de longas e depois fazer um curta de
que goste sem que isso signifique que ele está regredindo na carreira. Mas
também é verdade que um bom curta pode chamar a atenção de outros realizadores
para tal ator ou atriz.
Qual é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Isso depende muito do que você considera “vencer”. Na minha forma de ver o
cinema (e a arte) seria alguma coisa como: ser coerente consigo mesmo e honesto
com o seu trabalho, ele ser, de alguma forma, vital para você, entregar-se cem
por cento por cento a cada coisa que realizar e, por fim, trabalhar muito. Acho
que é a única forma da coisa “dar certo”.
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Olha, eu dirijo teatro, mas sempre
pensei que dirigir cinema - por depender de uma parafernália técnica que foge
completamente do meu domínio - não fosse para mim. Então, se você me
perguntasse isso alguns anos atrás, eu diria um grande não, mas hoje já começo
a crer que não é impossível... Já tenho até alguns argumentos numa pasta
secreta do meu computador. Rs.