Atriz.
Você é atriz e preparadora corporal de cinema e TV. O que mais falta ao
seu currículo?
O que falta é poder atuar mais, mais
oportunidades, o artista está sempre insatisfeito, quero muito fazer outro
longa-metragem. Trabalhar com outros diretores.
Considera-se uma profissional completa?
Mesmo cantando, atuando e dançando, acredito
que preciso me aprimorar em todos os sentidos sempre penso que não sei, ser
completa é muito difícil.
Quais as suas principais recordações do filme ‘Lavoura Arcaica’?
Toda a preparação, o trabalho e o envolvimento
das pessoas, o local, tudo foi inesquecível.
Muitos profissionais que trabalharam neste filme consideram este
trabalho como um marco em suas carreiras. E com você?
Pra mim realmente foi um marco na minha
carreira e na minha vida e acredito que muito mais que todos os outros pelo
fato de não ter feito outro longa depois dele.
O filme foi realizado inteiramente em uma locação,
em uma fazenda do interior de Minas Gerais. Nela, vocês (os
atores) e a equipe técnica passaram nove semanas, durante as quais aprenderam a
trabalhar a terra, ordenhar, fazer pão, bordar e dançar como uma família de
origem libanesa.
Toda essa preparação foi idealizada pelo Luiz Fernando Carvalho?
Foi, o Luiz Fernando
sempre acreditou que a preparação ajuda muito o ator a construir seu personagem
de forma mais profunda e a obra só ganha com isso, a preparação no Lavoura
começou em caso um ano antes da nossa ida a fazenda, na minha casa, o Raul e o
Léo iam até lá fazer aulas e íamos a lugares que fazem parte da cultura
libanesa para pesquisa e aprofundamento, a Simone ia três vezes por semana para
fazer aulas de dança, musica e atividades femininas. Na realidade ficamos dois
meses preparando e dez semanas filmando. Depois ainda participei da gravação da
trilha cantando as musicas das festas.
O filme não se tornou um sucesso de público e
esteve em exibição em poucas salas de cinema no ano de sua estreia. Muitos
atribuem isso à longa duração, à lentidão ocasionada pelas muitas cenas com
ausência de diálogos, à fotografia quase abstrata em alguns momentos e à
interpretação teatral. Você acha que o público brasileiro não está preparado
para fruir um trabalho deste porte?
Acredito que exista um
público específico para esse tipo de obra, mesmo fora do nosso país, são
pessoas que conseguem ver arte livre de condições, como local, tempo, ritmo,
trilha, volume e visual.
Mesmo consagrado, o ator Selton Mello sempre se
refere ao filme Lavoura Arcaica como o seu melhor trabalho. Luiz Fernando
Carvalho é sempre elogiado pelos atores, qual é o seu diferencial?
O valor que ele dá para
atuação, sem maquiar com cenário, com luz, com trilha, com figurino. Ele está
sempre aberto a sugestões do ator ou mesmo do artista envolvido na produção.,
desde que o mesmo mostre interesse e pesquisa na obra. Todos aprendem muito com
ele, mesmo os mais experientes e ele também costuma dar oportunidade para muita
gente nova em todas as áreas da atuação a área técnica,
Você continuou trabalhando com Luiz Fernando em “Hoje é dia de Maria”,
gostaria que falasse desse trabalho.
Fiz como atriz Hoje é dia de Maria (primeira
jornada), fazendo parte do elenco de apoio, onde conheci e trabalhei com ótimos
atores, foi um trabalho feito com muito cuidado, muita pesquisa, o texto ótimo
do Sofredini, os figurinos lindos de Luciana Buarque.
“A pedra do reino”, outra
produção em que você e Luiz Fernando trabalharam juntos, já não teve o mesmo
impacto que “Hoje é dia de Maria”, o que você atribui isso?
Ele me deu essa nova oportunidade de exercer
meu lado preparadora, na minissérie 'A
Pedra do Reino', ficamos três meses em Taperoá, na Paraíba, onde trabalhei com os atores e figurantes e
usando técnicas corporais e rítmicas para a construção dos personagem. Acredito
que o que mais prejudicou a finalização foi o estilo de edição, infelizmente
não posso falar muito a respeito, porque não participei nem de longe dessa
parte, e também me pareceu muito equivocada a visão alegórica para um obra tão
real.
Como foi a experiência de trabalho na TV Cultura?
Na TV Cultura fiz 'Piano e Ganzá' o mundo
musical de Mario de Andrade com o grupo as Marias de Andrade e fiz parte da
equipe de cenografia do 'Vila Sésamo', 'Cultura é currículo' e 'Almanaque Educação'.
Em teatro fiz e faço muitas coisas, adultos, de rua e infantil.
Sua filmografia em curtas-metragens é muito interessante, gostaria que
falasse sobre alguns trabalhos:
'Antes da Chuva' – o roteiro foi muito bem escrito, a equipe bem
sintonizada e interessada, em que tudo funcionasse, mas não houve direção em muitos
momentos.
'Scrapers' – essa produção foi muito melhor cuidada em comparação
com a outra, e a direção foi ótima, todos gostaram muito de participar.
Como é a sua preparação para trabalhar em curtas-metragens que têm a
síntese na sua essência?
Sempre peço o texto antes e procuro conversar
com o diretor, claro que tudo depende do ator interessado e que busca
referências para o seu personagem, fiz um outro curta depois, que ainda não foi
mostrado e que tivemos até ensaios semanais.
Você canta e atua. Há um tempo profissionais com essas características
sofriam preconceito. Como está a situação nos dias de hoje?
Hoje em dia existe uma valorização desse
profissional, mas também tem preconceito com o tipo de interpretação, muitos
acreditam que quem faz musicais não consegue fazer outra coisa e com outra
medida de atuação. No meu caso agora o agravante são os poucos personagens com
idade.
Acredita que um dia a população, de todas as regiões do Brasil, terá
acesso igualitário à cultura?
Acredito que existe por parte principalmente
dos artistas essa preocupação, que não depende só deles, mas isso já é um
começo para mobilizarmos também os órgãos públicos sei também que muitas
regiões não tem nem o que comer e beber.
O que tem a dizer para aquelas pessoas que pensam que sucesso na
carreira de atriz é aparecer na televisão?
A cobertura que a mídia dá para alguém que
apareceu apenas porque causou um transtorno para um grupo pequeno de pessoas é
inacreditável, e a falta de esclarecimento de que isso não acrescenta nada na
vida das pessoas é outra coisa que não dá pra entender. Acredito que isso abala
a formação de quem está começando a fazer parte da sociedade e de quem
“contribuir” não faz parte do vocabulário, essa pessoa aprende que ser honesto
e bom não leva ao sucesso, que ganha pouco quem ensina, então as relações ficam
sem base alguma, porque o que acontece quando encontramos pessoas no dia a dia
é um ensinar e aprender, existe um interesse no outro, em acrescentar alguma coisa ao outro e o que o
outro pode acrescentar si mesmo, mas isso não dá “ibope” então sempre me
perguntam qual novela fiz, porque não estou na TV, vivo do quê,
profissionalmente faço o quê.....Para quem tem a arte como forma de
manifestação o sucesso é a última coisa, ser bem sucedido e reconhecido no seu
trabalho faz parte de todas as carreiras, e na arte não é diferente.
Encontrar o melhor trabalho, melhor remunerado
(o que não acontece na TV) muitas vezes
é aquele que visto apenas por alguns
“sortudos”.
Para finalizar, gostaria de saber como analisa a produção audiovisual
brasileira. Estamos vivendo um bom momento?
Sem duvida, o momento é muito especial para
essa área, vejo e acompanho muitos trabalhos, e realmente temos que aproveitar
e fazer com que só melhore! Fazendo trabalhos bem cuidados, profissionalmente
inquestionáveis!