Ator e cineasta.
Construiu uma sólida trajetória no Teatro. No cinema atuou no curta-metragem ‘Café
Turco (2011)’, entre outros trabalhos.
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Trabalho como ator há mais de quinze anos. Tive a
chance de ver um pouco deste cruel e apaixonante mercado no Brasil e Europa,
pois morei quatro anos na França estudando e trabalhando em cinema e teatro. Para
espanto de muitos, a carreira de ator lá fora não mais fácil como muitos
imaginam. Existe sim uma grande diferença na forma como o artista é visto e seu
papel na sociedade. No Brasil, é ainda muito marginalizada, engatinhando
em termos de profissionalização do artista. Aqui, a diferença do ator
profissional do amador é possuir seu registro junto ao sindicato, não na forma
que ganha a vida. As escolas ensinam apenas a interpretar, mas não preparam o
profissional para o mercado, construir uma carreira a longo
prazo. Diferente das outras carreiras, o ator não tem estágios, trainees,
crescem, viram gerentes juniores, dentre outros.
A maioria vê a profissão de forma muito
ilusória e ingênua, o que não condiz com a realidade. Por isso, tantos começam,
porém poucos se mantém. Uma carreira longa e duradoura se faz com muito
trabalho, dedicação e amor, mas principalmente, de paciência. Muitos confundem
ter sucesso com ser uma celebridade. A fama pode ajudar muito o artista
preparado e consciente, mas também pode ser péssimo ao deslumbrado e imaturo.
Pode até sufocar e destruir uma carreira promissora de um talentoso
profissional mal preparado.
Os curtas-metragens, na maioria das vezes,
não podem e muitas vezes nem querem contratar atores renomados. Pela
possibilidade de exploração de linguagens que os curtas oferecem, orçamentos
reduzido ou inexistentes, abrem espaço para novos talentos e cobrem essa lacuna.
Permitem que novos profissionais sejam vistos, aprendam. Por isso,
participar de curtas metragens é praticamente obrigatório para os que desejam
explorar e trabalhar nesta área, como forma de aprendizado e até mesmo a
oportunidade de testar seus talentos. Mostrar seu potencial. Perceber e viver a
realidade e se preparar para o mercado.
Por que os curtas não têm espaço em
críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Na verdade isso esta mudando. A qualidade
das produções de curtas tem aumentado muito, assim como a quantidade,
proporcionado pelas novas tecnologias e formas de divulgação e exibição que
tornam essa arte mais acessível. Além disso, os curtas até então era
vistos apenas como filmes menores, mais curtos, não como um produto
totalmente diferente. Não tinham muito apelo comercial, exceto os da
publicidade. E estes, pelo caráter puramente comercial, não mereciam se
enquadrar como legítimas representações da mistificada "Sétima Arte".
O que é um paradoxo, uma vez que os longas recebem possuem esse grande espaço
de mídia e crítica, justamente por seu possibilidade de exploração
comercial. Os curtas nunca foram produzidos para garantirem bilheteria. Eram
formas de explorar novas linguagens de filmagens, apresentar novos diretores,
uma espécie de estágio para cineastas. Isso teve sua importância e ainda vai
ter sua importância no futuro, porém não como única forma de exploração.
Atualmente, a veiculação e distribuição estão se inovando e expandindo, novos
mercados vão se abrir. Principalmente para histórias curtas. A forma que vemos
o cinema esta mudando, e os curtas metragens terão papel fundamental nesta
transformação.
Na sua opinião, como deveria ser a exibição
dos curtas para atingir mais público?
Para atingir mais público, precisamos mudar sua
forma de distribuição e comercialização. Não ver os curtas como filhos pequenos
de longas metragens. Os Festivais de cinema estimulam muito sua produção, o que
é ótimo. Fazem com que pessoas percebam o potencial de explorar essa linguagem,
mas só é eficaz se conseguir se sustentar. Este apoio faz com que tenhamos mais
intimidade e acesso a esse filho marginalizado. Mas penso que, assim como as
Leis de Incentivos Fiscais, são apenas comburentes para o fogo, não o
combustível. Para que o fogo sobreviva, precisamos do combustível que alimente
a energia necessária para continuar queimando. Devemos inovar não somente na
forma de produzir, mas em todas as áreas agregadas a sua difusão e
comercialização. Assim como grandes obras como "Dom Quixote" são publicadas
e possuem um público que a sustenta e faz existir, contos e crônicas tem seu
mercado garantido em jornais, blogs, panfletos. E ambos fazem parte da grande
"Literatura". Quando ousarmos mais, explorar a vasta possibilidade
comercial dos curtas metragens, encontrando seu mercado, vendo-os não somente
como filmes menores, descobrir novas formas de exibição e distribuição,
explorando todas formas possíveis e seu poder de comunicação, teremos
identificado um público que dará o combustível que falta para este fogo,
aceso há muito tempo. Vamos poder descartar os fósforos e desfrutar deste
poderoso fogo que se manterá por muito tempo já que não vai mais poder se
apagar.
É possível ser um cineasta só de
curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Pois é, como disse anteriormente, esta era a única forma de
explorar os curtas. Mas com certeza ser cineasta de curta-metragem será muito
diferente da forma que vemos hoje. Assim como temos cronistas excelentes hoje
em dia que talvez não pretendem escrever Epopeias, satisfeitos e realizados com
o que fazem, o curta-metragista vai encontrar sua forma sincera de se
expressar.
O
curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Sim
e não. Na verdade creio que é mais marginalizado pela forma em que os próprios
realizadores se posicionarem muitas vezes como aprendizes, treinando para realizem
longas-metragens. Como os curtas ainda são produzidos sem explorar seu pleno
potencial de comunicação e distribuição, tornam-se apenas escolas. Mas podemos
ir muito além disso, se explorarmos seu potencial de penetração junto a um
público ávido por rapidez e comunicação direta. Tenho visto diversos curtas
metragens com roteiros, direção, interpretação geniais... mas raríssimos os que
exploram a forma de comunicação com a parte fundamental deste ciclo, seu
público.
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Sim,
claro! Já dirigi alguns programas e curtas, gosto muito disso. E com certeza,
está nos meus planos. Assim que encontrar um roteiro que me pegue, certamente
colocarei toda minha energia para vê-los nas telonas... ou não!