Roteirista. Fez sua estreia em roteiros de longa-metragem no
documentário ‘O velho, a história de Luiz Carlos Prestes’ (1997),
dirigido por Toni Venturi, cineasta com quem voltaria a trabalhar em
diversos filmes, como ‘Latitude zero’ e ‘Cabra cega
– ambos vencedores da categoria melhor roteiro do Festival de Brasília.
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Independente do formato, da bitola ou do tamanho, meu primeiro
critério é sempre que o filme carregue uma boa história, até por isso mesmo me
tornei roteirista. A história é mãe de tudo e de todos no cinema e por ela
fazemos qualquer tipo de sacrifício... Tenho alguns roteiros escritos para
curta-metragem, alguns inclusive filmados, todos de ideias originais, diferente
de meus projetos de longa onde na maioria das vezes trabalho por encomenda.
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia
em geral?
Além de injusta esta segregação, acho tremendamente contraproducente para o
cinema brasileiro. O curta é o território da experimentação e, no Brasil,
é também o da formação profissional, já que temos deficiência na área acadêmica
e nas ofertas do mercado de trabalho. Este tipo de preconceito só prejudica a indústria
no seu todo. A meu ver, isso acontece, dentre outras tantas coisas, por falta
de uma grade especifica de exibição.
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais
público?
Um dos únicos exemplos que me vem à cabeça, de sucesso como modelo funcional
e de aproximação do público, é o do “Curta Petrobras às Seis”. Experiência que
juntava alguns curtas, em sessões de uma hora, exibidos em alguns circuitos
comerciais de cinema. Acho que precisamos sempre tentar familiarizar, aproximar
plateia & filmes, isso aumentaria naturalmente a popularidade, o
conhecimento e o interesse pelo cinema nacional.
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre
um trampolim para fazer um longa...
Conheço alguns exemplos de cineastas que construíram suas carreiras quase
que exclusivamente com curtas-metragens. Só que eles não fizeram isso por
simples opção, mas sim levados pelas dificuldades práticas de produzir
longas-metragens. É um sistema impiedoso, porque sacrifica grandes talentos, nascidos
no curta, que ficam colocados à margem da produção cinematográfica brasileira
por pura falta de oportunidade.
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Acho que sim, tenho a impressão de que muitos acham uma subcategoria, um trabalho
escolar, experimental... Isso é um erro grave, porque mesmo diretores
renomados, como Antonioni, Bertolucci, Kurosawa, Lelouch... mesmo depois de
estabelecerem carreiras consagradas foram produzir curtas. O curta não deve ser
encarado como ensaio ou rascunho de longa-metragem, mas sim como uma obra
cinematográfica independente, especifica em sua dramaturgia.
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Apesar de ter dedicado minha vida profissional ao roteiro, tenho algumas
experiências de direção de documentários e vejo como grande possibilidade
dirigir curtas no futuro. Estes desejos, no entanto, sempre estarão
condicionados a falta de tempo, oportunidade e infraestrutura, mas seriam
absolutamente interessantes como exercício de linguagem, da procura de uma
narrativa própria, do discurso sintético e principalmente do desafio de contar
uma boa história, independente de seu tamanho.