quarta-feira, 10 de julho de 2013

Di Moretti

Roteirista. Fez sua estreia em roteiros de longa-metragem no documentário ‘O velho, a história de Luiz Carlos Prestes’ (1997), dirigido por Toni Venturi, cineasta com quem voltaria a trabalhar em diversos filmes, como ‘Latitude zero’ e ‘Cabra cega – ambos vencedores da categoria melhor roteiro do Festival de Brasília.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Independente do formato, da bitola ou do tamanho, meu primeiro critério é sempre que o filme carregue uma boa história, até por isso mesmo me tornei roteirista. A história é mãe de tudo e de todos no cinema e por ela fazemos qualquer tipo de sacrifício... Tenho alguns roteiros escritos para curta-metragem, alguns inclusive filmados, todos de ideias originais, diferente de meus projetos de longa onde na maioria das vezes trabalho por encomenda.
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Além de injusta esta segregação, acho tremendamente contraproducente para o cinema brasileiro. O  curta é o território da experimentação e, no Brasil, é também o da formação profissional, já que temos deficiência na área acadêmica e nas ofertas do mercado de trabalho. Este tipo de preconceito só prejudica a indústria no seu todo. A meu ver, isso acontece, dentre outras tantas coisas, por falta de uma grade especifica de exibição.
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Um dos únicos exemplos que me vem à cabeça, de sucesso como modelo funcional e de aproximação do público, é o do “Curta Petrobras às Seis”. Experiência que juntava alguns curtas, em sessões de uma hora, exibidos em alguns circuitos comerciais de cinema. Acho que precisamos sempre tentar familiarizar, aproximar plateia & filmes, isso aumentaria naturalmente a popularidade, o conhecimento e o interesse pelo cinema nacional.
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Conheço alguns exemplos de cineastas que construíram suas carreiras quase que exclusivamente com curtas-metragens. Só que eles não fizeram isso por simples opção, mas sim levados pelas dificuldades práticas de produzir longas-metragens. É um sistema impiedoso, porque sacrifica grandes talentos, nascidos no curta, que ficam colocados à margem da produção cinematográfica brasileira por pura falta de oportunidade.
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Acho que sim, tenho a impressão de que muitos acham uma subcategoria, um trabalho escolar, experimental... Isso é um erro grave, porque mesmo diretores renomados, como Antonioni, Bertolucci, Kurosawa, Lelouch... mesmo depois de estabelecerem carreiras consagradas foram produzir curtas. O curta não deve ser encarado como ensaio ou rascunho de longa-metragem, mas sim como uma obra cinematográfica independente, especifica em sua dramaturgia.
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Apesar de ter dedicado minha vida profissional ao roteiro, tenho algumas experiências de direção de documentários e vejo como grande possibilidade dirigir curtas no futuro. Estes desejos, no entanto, sempre estarão condicionados a falta de tempo, oportunidade e infraestrutura, mas seriam absolutamente interessantes como exercício de linguagem, da procura de uma narrativa própria, do discurso sintético e principalmente do desafio de contar uma boa história, independente de seu tamanho.