CÂNTICO ÀS TRÊS VAMPIRAS
Rubens
Francisco Lucchetti
Da
poeira que se elevava
e flutuava à luz do luar,
à hora mais fria, fantasmal,
“da meia-noite que apavora”,
elas, as três, entrelaçadas
num abraço, tomaram forma.
Certamente damas eram,
por suas posturas e atavios.
Olhos pálidos de safira
nas fisionomias marmorizadas,
e sorrisos tentadores
nos lábios de rubi.
No velado amarelo do luar,
as três damas a olhar.
E ouvi-as cantar,
decerto a evocar
doce melodia de um passado secular.
Eu, junto a um dos cantos,
suas belezas a contemplar.
Meu pensamento estava longe,
certamente a sonhar
com as lindas damas a me embalar.
E o inquietante desejo
de que todas elas
– as três damas de cabelos negros –
me beijassem,
a um só tempo.
Sonho ou realidade?
perguntava-me,
na inquietude a contemplar
as
três visões, que,
com seus cantares, me transportavam
ao paraíso que todos buscam
um dia encontrar.
As três damas do luar –
Palmira,
Raíssa e
Isolda –,
que vieram na Terra habitar.
Ah, como eram lindas e jovens!
Lembravam o mais puro lírio e
o mais saboroso morango
– de um canteiro ou pomar –,
cujo perfume e sumo
todos desejam um dia provar.
Sonho ou realidade?
Perguntava-me,
junto a um dos cantos,
na inquietude a contemplar
as três lindas damas a me embalar
com suas doces melodias de ninar.
O halo que as rodeava
tinha o esplendor da Lua.
Em suas vestes diáfanas,
estavam a flutuar
os raios do luar.
A terceira, Isolda
– a mais ansiosa –,
era de uma beleza rara...
como a mais rara beleza
que se possa encontrar.
Isolda...
Etérea, suave como o luar.
De dentes fulgurantes
como as pérolas.
De olhos grandes, penetrantes.
De hálito doce –
Uma doçura que recendia a mel – e cálido.
Sob
a claridade do luar,
em êxtase
e numa ânsia mórbida, aniquilante,
fiquei a olhar
aquele ser da noite.
E pude contemplar sua boca escarlate
e o rubor de sua língua
a se desdobrar
sobre meus lábios.
Sob a luz do luar,
numa densa e deliciosa ansiedade,
permaneci a olhar
como se quisesse
dessa dama os segredos roubar.
E as outras duas,
com risadas argentinas,
a nos contemplar.
Sonho ou realidade?
Perguntava-me.
E, numa vibrante ansiedade,
com pálpebras cerradas,
fiquei a ouvir
suas risadas argentinas,
sem ousar as três damas
contemplar.
De repente, elas
– as três,
de formas oscilantes,
como um raio a flutuar –
desvaneceram-se
na esteira do luar.
Ah, como eram jovens e belas!
E triste é meu despertar.
Irão elas voltar?
Perguntava-me.
E, então, vi o Corvo entrar,
e sobre o busto de Pallas se sentar,
e falar como jamais falou:
“Nunca mais! Nunca mais!”