José
Joaquim Salles
Diretor de produção
Como
surgiu o convite para trabalhar com Os
Trapalhões?
Foi
logo após o Collor cancelar/destruir a Embrafilme... Ninguém acreditava...
Marco Altberg, grande amigo, companheiro de trabalho e um dos diretores da
Embrafilme, me deu uma carona de volta da Embra. Os dois estávamos arrasados.
Ele me disse, então, que estava em negociações com Os Trapalhões. De
imediato, coloquei-me à disposição dele, que tomou um susto e me disse: “Mas você é muita areia para o meu
caminhão...”
Eu respondi: “Mas nem caminhão eu tenho!!!”
Foi aí que tive a oportunidade de trabalhar como diretor de produção, proposta
que aceitei imediatamente. Pelo menos por um tempo, ganhei uma sobrevida no cinema.
Tempos difíceis aqueles. Hoje, em pleno século XXI, as coisas continuam, por motivos
absolutamente diversos, parecidas como antes. O bom cinema de longa-metragem
para sala de cinema nacional se rarefaz enormemente. E eu sem caminhão ou
areia.
Antes
de iniciar essa parceria profissional com Os Trapalhões, você
já acompanhava os seus filmes?
Claro!
Eram os heróis de meus filhos, conhecia praticamente todos seus filmes. Virei
herói da família!!!!!
Quais
as suas principais recordações dos bastidores de filmagens com Os Trapalhões?
Muito
boas!!!!! Equipe excelente: direção do José Alvarenga Júnior (com assistência do
Luís Henrique), produção executiva do Marco Altberg, fotografia do Walter
Carvalho, direção de arte do Marcos Flaksman... Só esse time já é uma seleção...
E o resto que conheci na produção e todos os outros que participaram transformaram
nosso trabalho num prazer!!!!!
Por
que os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos
Trapalhões?
Nunca
dei importância à opinião dos recalcados. Para mim, o mais importante eram as
opiniões de meus filhos e amigos!!!!!
Como
classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Sempre
a tentativa de trazer entretenimento e brasilidade a seus trabalhos dirigidos inicialmente
para as crianças. Mas eu, como pai, sempre tive prazer em assistir.
Qual
o legado histórico que o cinema dos Trapalhões
deixou para o país?
Só a
história poderá responder essa pergunta... Na minha opinião, só tenho a agradecer
seu esforço de trazer graça e divertimento a este mundo tão cruel!!!!
Os Trapalhões sempre
“brincaram”
em parodiar filmes e clássicos estrangeiros de sucesso para o cinema. Que pensa
a respeito dessa linha que eles seguiram?
Acho
que a maioria dos artistas citam, inspiram-se e, até mesmo, copiam outros
grandes artistas. Anões em ombros de gigantes vão mais longe!!!!!
Acredita
que, pela importância que o quarteto possui no cinema, há pouca bibliografia a
respeito deles?
Como
não conheço muito dessa literatura, não me considero apto a responder, a não
ser dizer que deveria ter. Não se escreve a história do cinema nacional, sem um
capitulo importantíssimo de sua história.
O
cinema dos Trapalhões foi
importante, fundamentalmente, por ter formado público e plateia para o cinema
nacional?
Também!!!!
Mas como formariam público e plateia, sem serem importantes? O público não é
idiota!!!!
Uma Escola Atrapalhada foi
o último filme com a participação de Zacarias, que faleceu naquele ano. A
aparição dele no filme é melancólica, muito magro, abatido, numa cena curta.
Como foi o seu contato com ele? Ele já estava doente?
Infelizmente,
quando iniciei minha participação profissional, Zacarias já não estava entre
nós. Mas não me esqueço das obras em que suas participações eram um dos ângulos
do quarteto.
Como
era o seu contato com eles?
Só
participei de duas produções: O
Mistério de Robin Hood e Os Trapalhões e a Árvore da Juventude.
Sem Zacarias, minha relação era mais próxima do Dedé e Mussum. Didi era mais discreto e
afastado da equipe, talvez até por ser o Renato Aragão, de certa forma, o chefe da
turma!!!
Que
representava, naquele período, trabalhar num filme dos Trapalhões, que eram
certeza de sucesso de bilheteria?
Para
quem gosta de trabalhar em cinema, ainda mais no Brasil, o que se precisa é ser
picado pelo veneno do desejo artístico. Nunca fiz um filme tendo como alvo a
sua bilheteria, e sim o prazer de com quem trabalhava... Mas sucesso, em
princípio, não faz mal a ninguém...
Quem
era o maior comediante do grupo?
O
grupo!!!! Tire o pé de uma mesa. Ela pode continuar a se equilibrar, mas só com
três pés?!?!?!