Izabella
Bicalho
Atriz
Quais
as suas lembranças do filme Os
Vagabundos Trapalhões?
Muito
boas! Adorava filmar, estar interpretando; mas criança fica muito impaciente, e
achava cansativo esperar. Mas, na maioria das vezes, era uma grande diversão.
Teve uma filmagem no chafariz da Candelária, e acabei tomando banho junto com
Renato e Louise Cardoso. Foi incrível! Eu adorava fazer essas coisas
inesperadas. Acho que isso é uma coisa que encanta o ator sempre.
Como
surgiu o convite para trabalhar com o quarteto?
Fiz
testes, fui indicada para a produção do filme por alguém da Globo. Já tinha
feito uma novela.
Como
foi a sua participação no filme?
Foi
ótima. Eu fiz uma órfã que mora com Os
Trapalhões numa caverna. E, depois, tinha um
namorico de criança com o menino filho do mocinho (Edson Celulari) que ia parar
no bando dos vagabundos.
Os Vagabundos Trapalhões está
inserido em um momento de preocupação com temáticas sociais do grupo. Isso
ficou explícito durante as filmagens?
Um set de filmagem é complexo
e precisa de muita atenção das pessoas e organização e técnica para fazer as
coisas acontecerem. Ali, não acredito que se desenvolva a temática; ela foi
discutida antes, quando foi feito o roteiro. O trabalho no set é muito mais técnico.
Mas é verdade que estar vestida de menina de rua e interpretar aquela realidade
dura de desamparo e pobreza acaba trazendo à tona a discussão sobre a questão e
fazendo a gente refletir! Isso é certo.
Renato
Aragão retoma seu personagem Bonga, de Bonga,
O Vagabundo (1969), agora acompanhado dos três Trapalhões, para narrar
a história de um grupo de vagabundos (esse termo está associado à pobreza
principalmente) que acolhe crianças abandonadas e que as direciona para
famílias ricas. Recorda-se da repercussão do filme?
Não
me lembro. Era muito nova. Lembro-me de discutir a temática, refletir sobre o
que passa na cabeça de uma criança nessas condições. Mas não gostava de usar
figurino de mendiga e me sujar.
A
grande bilheteria desse filme confirma o grande potencial de comunicação com o
público (através do humor e do auxílio do poder televisivo), até mesmo no
tratamento de questões nacionais mais delicadas. Na sua análise, qual é a
importância histórica que Os
Trapalhões possuem no nosso cinema?
Foram
um dos precursores de filmes direcionados ao público infantil. Sobreviveram a
várias crises e contribuíram enormemente para a formação de plateia nos
cinemas. Ou seja, fazem parte da história do cinema brasileiro.
Quais
as lembranças de bastidores do filme? Que tem a falar do quarteto (Didi, Dedé,
Mussum e Zacarias)?
Adorava
trabalhar com eles. Eram muito divertidos e brincalhões. Eu fazia também umas
participações no programa de tevê, e era um dos meus programas preferidos.
Onde
esse filme foi filmado?
Rio
de janeiro. No Centro e no Alto da Boa Vista
Quem
era o maior comediante do grupo?
Acho
que todos eram ótimos!!!
Gostaria
que falasse do cineasta J. B. Tanko, que dirigiu grandes clássicos do quarteto.
Só
tive essa experiência com ele. Era muito criança. Mas sei que foi um grande
cineasta, inclusive na época de ouro da Atlântida. Foi um privilégio ter trabalhado
com ele.
Para
finalizar, gostaria que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público
que tenha presenciado como testemunha ocular.
Teve
uma filmagem no centro do Rio de Janeiro e eu estava sentada em frente a um
prédio, esperando pra filmar; e passou uma pessoa conhecida, um amigo da minha
família que me conhecia bem. Então, eu o chamei. Ele olhou para mim e não me
reconheceu. Achou que eu estava pedindo dinheiro. Tive que chamá-lo de novo. E
minha mãe, que estava por perto, falou para ele: “Olha a Izabella ali.” Ele me olhou e levou
um susto!! Achei engraçado. Eu estava vestida de menina de rua, e ele pensou
que eu fosse realmente uma menina de rua!!! Adoro a capacidade do ator de se
transformar. Já me divertia com isso desde criança.