João
Bourbonnais
Ator
Como
surgiu o convite para trabalhar no filme Atrapalhando a Suate?
Que
eu me lembre foi o Dedé Santana que me convidou, depois de ver um comercial que
fiz em 1986 (passava nos intervalos das transmissões da Copa do Mundo). Era um
comercial de lâmina de barbear e tinha uns mafiosos; eu aparecia ao lado do
ator Alceu Nunes.
Antes
de iniciar esse trabalho, você já acompanhava os filmes dos Trapalhões?
Sim,
vi alguns filmes e via o programa na televisão, desde criança, com a primeira
formação com Ivon Curi, Wanderley Cardoso e Ted Boy Marino.
O
filme é uma sátira à série policial de tevê Swat, na qual um
batalhão especial de polícia era destacado para missões perigosas. Os Trapalhões sempre
se caracterizaram por fazer paródias. Como ator, que você achava dessa linha,
da fórmula que eles imprimiram em seus filmes?
Embora
tenha trabalhado mais em teatro, com dramaturgia e temas mais complexos, sempre
simpatizei com essa linha mais popular do trabalho deles, mais ingênua,
originária do circo.
Atrapalhando a Suate é
o único filme que não consta oficialmente da filmografia dos Trapalhões. Quais as
suas principais recordações dos bastidores desse filme?
Acredito
que não conste, por não ter a participação do Renato Aragão e ter sido
produzido pela DeMuZa, a produtora dos outros três. Tenho ótimas recordações!
Fui muito bem recebido por eles. O Mauro Gonçalves era muito simpático e,
parece-me, mais ator. Transformava-se, ao assumir o personagem Zacarias. O
Mussum também era uma simpatia e tinha um humor incrível. E o Dedé era o líder
e produtor do grupo. Sou amigo até hoje de alguns atores e atrizes do filme,
como a Lucinha Lins, com quem gravei depois a novela Esmeralda no SBT.
Sou também amigo do marido dela, Claudio Tovar, e alguns outros. Até meu irmão,
Blaise Bourbonnais, participou do filme, como um dos agentes da Suate.
Onde
esse filme foi realizado?
Foi
todo rodado no Rio de Janeiro. Na cidade do Rio e principalmente em Angra dos
Reis.
Como
foi a experiência de atuar em uma produção envolta de tantas polêmicas, como a
separação do quarteto? Eles comentavam algo com você?
Foi
tranquilo, e as questões da separação não interferiram em nosso trabalho. Nada
que a gente pudesse notar, e eles também não comentavam comigo.
Havia
uma disposição de Dedé, Mussum e Zacarias de mostrar ao Renato que eles também
sabiam produzir um filme?
Acredito
que talvez pudesse haver, embora todos tivessem experiência de ter filmado
bastante... antes.
A
DeMuZa Produções foi criada com o intuito de apenas gerir os negócios dos três
humoristas (Dedé, Zacarias e Mussum)?
Que
eu saiba, sim. Lembro que era a produtora que agendava os shows dos três, quando o
Renato não podia fazer.
Eles
acreditavam que poderiam ser bem-sucedidos sem o Renato Aragão?
Não
tenho como responder, mas creio que sim, queriam fazer um bom trabalho. Embora
acho que acreditavam que a separação era temporária.
Na
sua análise, por que a separação durou apenas seis meses?
Acho
que porque perceberam que eram mais fortes juntos. Já havia a identidade dos Trapalhões com os
quatro.
Havia,
nos bastidores, um clima de tristeza pela separação?
Se
havia, não chegava até mim, que era um ator convidado, que não os conhecia
muito bem pessoalmente.
Tião
Macalé, que atuou nesse filme, era considerado o quinto trapalhão. Quais as
lembranças dele.
Lembro
que ele fez uma rápida aparição, uma homenagem dos três. Mas foi numa cena em
que eu não estava. Não tive contato com ele.
Tião
Macalé é substimado?
Não
creio que fosse subestimado por eles, era um grande amigo.
Os Trapalhões tinham
também outra proposta: inserir diversas atrações midiáticas do momento, com a
intenção de atrair para as salas de cinema o maior número possível de
espectadores dos mais diferentes gostos e faixas etárias. Isso era o melhor a
fazer, pensando na visão de um exigente e diversificado público
infanto-juvenil?
Pelo
que fui vendo nos filmes, essa é uma prática comum adotada por vários artistas
e comunicadores (Xuxa, Angélica etc.) que fazem seus filmes. Acho que fazem isso
por questões de mercado, orientadas pelos produtores e por amizade também.
Dedé,
Mussum e Zacarias tinham como característica a irreverência. Até nos bastidores
das filmagens, eles brincavam muito. Isso procede? As filmagens eram
descontraídas?
Eram,
sim. Eram bastante divertidos, e o ambiente era muito bom.
Como
foi o seu contato com o trio (Dedé, Mussum e Zacarias)?
Foi
bom, restrito ao trabalho. O Dedé, muito atencioso e profissional. O Mauro,
muito simpático e acolhedor. O Mussum, mais reservado.
Que
representou para você trabalhar em Atrapalhando
a Suate?
Foi
muito importante. Uma das minhas primeiras experiências com cinema. Um
personagem bom, ao lado de artistas muito populares.
Quem
era o maior comediante do grupo?
Talvez,
comediante, na acepção teatral do termo, fosse o Mauro Gonçalves, que fazia uma
verdadeira composição com o seu Zacarias.
Por
que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e
estrelados pelos Trapalhões?
Acho
que, principalmente, porque os críticos e acadêmicos já têm uma certa reserva
em relação a tudo que é arte popular.
Como
classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Antes
de tudo, popular. Às vezes, ingênuo demais para o gosto de alguns. Mas não
podemos esquecer que são dirigidos às crianças.
Gostaria
que contasse alguma curiosidade da sua trajetória com Os Trapalhões, em
especial do seu trabalho.
Acho
que aconteceram várias coisas pitorescas. Lembro que, na luta com as tortas no
final, eu achei que fosse escapar; mas, no momento final, levei uma torta na
cara, enquanto beijava a Lucinha. Cena que está nos créditos do filme.