quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Os Trapalhões: Leila Chaves


Leila Chaves
Cenógrafa assistente do programa


Como e em que circunstância recebeu o convite para trabalhar no programa dos Trapalhões na TV Globo?
Fui estagiária na TV Globo durante três anos. Nos últimos seis meses de 1986 fui convidada para estagiar no programa dos Trapalhões com a cenógrafa titular, Leila Moreira. Éramos duas Leilas no programa. Para diferenciar, chamavam me de Leilinha. Foi um sonho conhecê-los, porque eles fizeram parte da minha infância, e naquele momento eu estava trabalhando com eles. Em 1987 eu me formei em Arquitetura e logo virei funcionária.

Antes de iniciar esse trabalho, você já acompanhava os filmes e o próprio programa dos Trapalhões?
Adorava assistir ao programa e aos filmes também.

Você trabalhou como cenógrafa assistente durante cinco anos (1987-1992), o último período da formação original dos Trapalhões. Quais as suas principais recordações de trabalho, nesse período?
Era muito divertido e tenso também. Lembro que uma vez desenhei um boneco de neve para caber dentro de uma geladeira. O boneco ficou maior que a geladeira. Como era de isopor, conseguimos resolver. Foi tenso.

Como era o seu dia a dia no programa?
Geralmente, eu chegava em dia de gravação às quatorze horas, e as gravações iam até as duas horas da manhã. Havia um revezamento com a outra cenógrafa assistente. Nos outros dias, produzíamos os cenários para as gravações.

O programa dos Trapalhões na televisão era caracterizado por poucos cenários. Que tipo de desenvolvimento vocês faziam para as cenas?
Não eram poucos cenários. Eram muitos. Fazíamos mutações de cenários a noite toda. Um quarto virava escritório, que virava sala; e, assim por diante. Isso tudo porque gravávamos vários programas em um dia.

Que era terminantemente proibido e o que não podia faltar nos cenários dos Trapalhões?
Não lembro de nada que era proibido. O que não podia faltar eram os móveis de pita (madeira que quebra fácil, acho que vem do Nordeste), garrafas de vidro de açúcar para quebrar na cabeça de alguém e porrete de pita. Ficavam tão perfeitas as cadeiras de pita, que um dia o diretor Wilton Franco sentou numa, achando que era de verdade e se estabacou no chão. Seguramos o riso.

Renato Aragão “descontruía” o cenário em vários esquetes. Isso era combinado previamente ou pegava vocês de surpresa?
Muitas vezes já fazia parte do roteiro, outras ele improvisava na hora.

Eram raras as externas no programa. Por quê?
Externa com Os Trapalhões seria complicado. Acredito que não combinava com o esquema do programa.

Quando o programa passou a contar com a presença do público na plateia, como vocês se organizaram para produzir os cenários?
Quando o programa passou a ter plateia, o cenário passou a ser um palco grande. Como gravávamos vários programas em um dia, fazíamos várias mutações; e o público ficava esperando. Era tenso.

Como era o seu contato, a sua relação profissional com Renato Aragão, Dedé Santana, Mussum e Zacarias?
Era um contato bem profissional; porém, tinha uma amizade maior com Dedé e Mussum. Achava que o Renato era um ícone e tinha um pouco de timidez de me aproximar muito. Quando fui fazer A Turma do Didi, perdi essa timidez. Somos amigos, até hoje.

Gostaria que falasse também de Carlos Kurt, Roberto Guilherme, Jorge Lafond e Tião Macalé.
Com Carlos Kurt e Tião Macalé só tive contato profissional. Roberto Guilherme, devido a ele ter feito parte de A Turma do Didi, tenho mais amizade. Jorge Lafond tive bastante contato na época. Ele era muito divertido. Acho que tenho uma foto com ele.

Como a equipe reagiu com a morte de Zacarias?
Foi muito triste, na época. Ficou um vazio no programa.

Acredita que, com a ausência de Zacarias, ainda tinha sentido fazer o programa?
Tinha sentido, sim. Afinal de contas, Mussum, Dedé e Renato eram comediantes maravilhosos.

Depois de muito tempo você foi promovida a cenógrafa e foi trabalhar no programa A Turma do Didi. Como foi isso?
Já tinha feito alguns programas (inclusive, um especial com Renato Aragão) como cenógrafa titular, mesmo sendo cenógrafa assistente. Estava fazendo a novela Esperança, eu acho, quando fui chamada pra fazer o programa A Turma do Didi como cenógrafa titular. Era a minha chance de ser promovida. Foi a volta do Renato Aragão à televisão... Acho que foi em 1997.

Quais as recordações de trabalho no programa A Turma do Didi?
Era muito trabalho. Fazia de oito a dez cenários novos por semana. Éramos uma família. Fiquei lá por quase doze anos. Nesse período, fiz três minisséries com Renato, fiz um especial de Natal com Roberto Farias, fiz a novela Lado a Lado. Isso tudo junto com o A Turma do Didi. Ganhei prêmio de melhor cenografia com a novela.

Quem era o maior comediante do grupo?
Renato Aragão.

Por que você nunca teve a oportunidade de trabalhar com Os Trapalhões no cinema?
Seria muito difícil conciliar as duas coisas. Cinema requer dedicação total, durante as filmagens. E também nunca fui convidada. A produtora dos filmes deles já tinha uma equipe montada.

Renato Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Ele acompanhava tudo e opinava no figurino, produção de arte e cenário.

A televisão se ressente de programas de humor igual ao feito pelos Trapalhões?
A geração de hoje não se interessaria por esse tipo de programa. É ligada em outras coisas, como internet, tevê a cabo etc.

Gostaria que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha presenciado como testemunha ocular.
Lembro do Mussum cozinhando para a galera do almoxarifado e para a equipe também. Como gravávamos até tarde, tínhamos uma pausa para o jantar. De vez em quando, Mussum levava um peixe enorme e cozinhava pra gente e os almoxarifes. Montávamos mesinha de bar e jantávamos junto com ele. Era muito bom. Pra mim, ele era o mais engraçado fora do programa. Tinha muita história pra contar. Pena ele ter morrido tão novo.