Leila
Chaves
Cenógrafa assistente do programa
Como
e em que circunstância recebeu o convite para trabalhar no programa dos Trapalhões na TV
Globo?
Fui
estagiária na TV Globo durante três anos. Nos últimos seis meses de 1986 fui
convidada para estagiar no programa dos Trapalhões
com a cenógrafa titular, Leila Moreira.
Éramos duas Leilas no programa. Para diferenciar, chamavam me de Leilinha. Foi
um sonho conhecê-los, porque eles fizeram parte da minha infância, e naquele
momento eu estava trabalhando com eles. Em 1987 eu me formei em Arquitetura e
logo virei funcionária.
Antes
de iniciar esse trabalho, você já acompanhava os filmes e o próprio programa dos
Trapalhões?
Adorava
assistir ao programa e aos filmes também.
Você
trabalhou como cenógrafa assistente durante cinco anos (1987-1992), o último
período da formação original dos Trapalhões.
Quais as suas principais recordações de trabalho, nesse período?
Era
muito divertido e tenso também. Lembro que uma vez desenhei um boneco de neve
para caber dentro de uma geladeira. O boneco ficou maior que a geladeira. Como
era de isopor, conseguimos resolver. Foi tenso.
Como
era o seu dia a dia no programa?
Geralmente,
eu chegava em dia de gravação às quatorze horas, e as gravações iam até as duas
horas da manhã. Havia um revezamento com a outra cenógrafa assistente. Nos
outros dias, produzíamos os cenários para as gravações.
O
programa dos Trapalhões na
televisão era caracterizado por poucos cenários. Que tipo de desenvolvimento
vocês faziam para as cenas?
Não
eram poucos cenários. Eram muitos. Fazíamos mutações de cenários a noite toda.
Um quarto virava escritório, que virava sala; e, assim por diante. Isso tudo porque
gravávamos vários programas em um dia.
Que
era terminantemente proibido e o que não podia faltar nos cenários dos Trapalhões?
Não
lembro de nada que era proibido. O que não podia faltar eram os móveis de pita
(madeira que quebra fácil, acho que vem do Nordeste), garrafas de vidro de
açúcar para quebrar na cabeça de alguém e porrete de pita. Ficavam tão
perfeitas as cadeiras de pita, que um dia o diretor Wilton Franco sentou numa,
achando que era de verdade e se estabacou no chão. Seguramos o riso.
Renato
Aragão “descontruía”
o cenário em vários esquetes. Isso era combinado previamente ou pegava vocês de
surpresa?
Muitas
vezes já fazia parte do roteiro, outras ele improvisava na hora.
Eram
raras as externas no programa. Por quê?
Externa
com Os Trapalhões seria
complicado. Acredito que não combinava com o esquema do programa.
Quando
o programa passou a contar com a presença do público na plateia, como vocês se
organizaram para produzir os cenários?
Quando
o programa passou a ter plateia, o cenário passou a ser um palco grande. Como
gravávamos vários programas em um dia, fazíamos várias mutações; e o público
ficava esperando. Era tenso.
Como
era o seu contato, a sua relação profissional com Renato Aragão, Dedé Santana,
Mussum e Zacarias?
Era
um contato bem profissional; porém, tinha uma amizade maior com Dedé e Mussum.
Achava que o Renato era um ícone e tinha um pouco de timidez de me aproximar
muito. Quando fui fazer A Turma do Didi,
perdi essa timidez. Somos amigos, até hoje.
Gostaria
que falasse também de Carlos Kurt, Roberto Guilherme, Jorge Lafond e Tião
Macalé.
Com
Carlos Kurt e Tião Macalé só tive contato profissional. Roberto Guilherme,
devido a ele ter feito parte de A Turma
do Didi, tenho mais amizade. Jorge Lafond tive bastante
contato na época. Ele era muito divertido. Acho que tenho uma foto com ele.
Como
a equipe reagiu com a morte de Zacarias?
Foi
muito triste, na época. Ficou um vazio no programa.
Acredita
que, com a ausência de Zacarias, ainda tinha sentido fazer o programa?
Tinha
sentido, sim. Afinal de contas, Mussum, Dedé e Renato eram comediantes maravilhosos.
Depois
de muito tempo você foi promovida a cenógrafa e foi trabalhar no programa A Turma do Didi. Como
foi isso?
Já
tinha feito alguns programas (inclusive, um especial com Renato Aragão) como
cenógrafa titular, mesmo sendo cenógrafa assistente. Estava fazendo a novela Esperança, eu acho,
quando fui chamada pra fazer o programa A Turma
do Didi como cenógrafa titular. Era a minha
chance de ser promovida. Foi a volta do Renato Aragão à televisão... Acho
que foi em 1997.
Quais
as recordações de trabalho no programa A
Turma do Didi?
Era
muito trabalho. Fazia de oito a dez cenários novos por semana. Éramos uma família.
Fiquei lá por quase doze anos. Nesse período, fiz três minisséries com Renato, fiz
um especial de Natal com Roberto Farias, fiz a novela Lado a Lado. Isso tudo
junto com o A Turma do Didi.
Ganhei prêmio de melhor cenografia com a novela.
Quem
era o maior comediante do grupo?
Renato
Aragão.
Por
que você nunca teve a oportunidade de trabalhar com Os Trapalhões no
cinema?
Seria
muito difícil conciliar as duas coisas. Cinema requer dedicação total, durante as
filmagens. E também nunca fui convidada. A produtora dos filmes deles já tinha
uma equipe montada.
Renato
Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Ele
acompanhava tudo e opinava no figurino, produção de arte e cenário.
A
televisão se ressente de programas de humor igual ao feito pelos Trapalhões?
A
geração de hoje não se interessaria por esse tipo de programa. É ligada em
outras coisas, como internet,
tevê a cabo etc.
Gostaria
que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha
presenciado como testemunha ocular.
Lembro
do Mussum cozinhando para a galera do almoxarifado e para a equipe também. Como
gravávamos até tarde, tínhamos uma pausa para o jantar. De vez em quando,
Mussum levava um peixe enorme e cozinhava pra gente e os almoxarifes. Montávamos
mesinha de bar e jantávamos junto com ele. Era muito bom. Pra mim, ele era o
mais engraçado fora do programa. Tinha muita história pra contar. Pena ele ter
morrido tão novo.