Lenine
Músico
Como
surgiu a oportunidade de trabalhar como produtor musical no filme Os Trapalhões no Reino da Fantasia?
Naquela
época, eu já tinha uma relação muito próxima com Caxa, Duda e Paulinho, todos
três filhos de Renato Aragão. A gente já tinha uma relação, e era natural isso
migrar para a R. A. Produções. A gente vivia lá e foi natural que isso virasse
uma hipótese real. A gente sempre estava ali... eu com os filhos de Renato, fazendo
música num estudiozinho que funcionava no local.
Antes
de iniciar esse trabalho, você já acompanhava os filmes dos Trapalhões?
Quem
não acompanhava, né? Nessa época, Renato fazia dois filmes por ano. Era o filme
das férias do meio do ano e o filme das férias do final do ano. E sempre foi
uma comoção. Eram filas e mais filas. Ele era extremamente popular, era uma
máquina de fazer filmes.
Os
vocais originais da banda Heavy Traps, dublados por Zacarias na apresentação dos
Trapalhões no
orfanato, são seus. Fale desse trabalho.
Eu,
Lula Queiroga, Caxa Aragão, Duda Aragão, acho que Sartori também está nessa.
Era uma banda chamada Xarada, que nós criamos por causa do filme, mas que no
filme é Heavy Traps.
Você
teve contato direto com Os
Trapalhões?
Sim,
tinha muito contato. Frequentava a casa deles, conhecia a família; e eles eram
um núcleo muito familiar. Era tudo em volta, tudo familiar, era bem prazeroso.
Sou amigo pessoal de todos. E frequentei a casa de Renato aos domingos. Nos
churrascos que ele fazia, íamos todos. E era muito bacana conviver com todos
eles, o Mussum, Zacarias e o Dedé sem o filtro da televisão. Porque aí não
tinha o filtro, né? Não tinha muita censura, era divertidíssimo. Já não tinha
tanta censura na tevê; então, você imagina na casa deles...
Os Trapalhões no Reino da Fantasia combina
o uso de live action e
animação tradicional. Como você foi escolhido para desenvolver esse trabalho?
Foi
uma experimentação para o filme seguinte, Os
Trapalhões no Rabo do Cometa, que foi
feito com o Mauricio de Sousa, se não me engano. Teve aquela experimentação ali
para o filme seguinte, que seria todo em animação. E a gente, o Xarada, também
colocou uma canção para esse outro filme.
Por
que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados
pelos Trapalhões?
Por
causa desse sucesso popular. Incomoda. Tom Jobim já dizia a respeito: “No Brasil, sucesso é ofensa pessoal.”
Deveríamos celebrar uma produção nacional que
fazia dois filmes por ano, que era sucesso com milhões de espectadores de bilheteria, nos três meses iniciais de
lançamento... é isso que interessava. A Academia não pode negar o sucesso disso aí, não. E
não sei se a Academia nega, os Trapalhões
tinham essa coisa de ser popular; e o
popular sempre incomoda de alguma
maneira a intelligentsia.
Gostaria
que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha presenciado
como testemunha ocular durante o desenvolvimento deste trabalho.
É
uma coisa muito longínqua pra mim. Mas fica uma memória afetiva e carinhosa de
todos aqueles momentos que vivemos próximos a eles, a delicadeza da pessoa, da
família, do núcleo familiar, da honestidade no lidar. De alguma maneira, eu e
Lula Queiroga fomos recebidos naquela casa (do Renato Aragão), e a frequentamos
por muito tempo. E eu tenho um carinho muito especial por toda essa memória que
tenho.