“Quando você crescer, as penas de suas asas vão cair, até que você perca pra sempre a capacidade que tem de voar.”
O que eu ando ensinando pro meu filho… eu o incentivo o suficiente? Será que já falei pra ele o quanto ele é um cara especial tantas vezes quanto ele merece ouvir? Será que eu falei pra ele hoje que sem ele não seria possível ou não teria a menor graça a ponto de não ser nem necessária a existência? Falei que por ele eu sou com certeza absoluta uma pessoa melhor a cada dia ou que eu faço meu melhor e por isso já vale a pena? Será que eu percebo todos os potenciais dele?
Que será que eu ensinei hoje… ou desensinei… deseduquei… desestruturei… nele ou em mim?
Tantas teorias e opiniões, tantos caminhos e escolhas.
Será mesmo que a gente tira pena por pena a cada dia que passa de uma criança? Talvez…
O tempo todo a gente tem que se adequar, alinhar, entrar nos eixos da sociedade que nos impõe obediência total ou a exclusão social, você pode escolher!
Ser alguém em quem não se pode confiar simplesmente por não saber quem se é ou o que se quer de verdade. Porque a falta de escolha gera frustração e disso tenho vergonha, tenho medo da frustração, não a quero dentro da minha casa.
Então vou ensinar pro meu filho a não se envergonhar de si próprio em prol de um sistema que nunca está do lado dele, porque eu como mãe e desobediente social ensino pro meu filho que a gente deve ser aquilo que se quer, porque independente disso as sociedades vão continuar se digladiando, as pessoas vão continuar se denegrindo e se menosprezando como se isso os fizesse mais poderosos ou melhores, eu ensino pra ele que não precisa ser o melhor, ensino que ele tem que se sentir pleno independente do que o mundo quer pra ele, porque existem dois mundos: o interior racional e o exterior e abstrato, aquele lunático que nos tira da realidade que deveria ser absoluta, impenetrável mas sempre mutável.
Acredito que isso de se ser exatamente o que se quer e sente, evitaria esse progresso desmedido que cresce em disparada, porque se busca fora o que se deve ser preenchido de dentro pra fora.
Não vou fazê-lo cometer a barbárie de se auto regulamentar pra se enquadrar.
Existe! Tem que existir uma facção de pessoas disposta a ganhar força sustentável, pra amadurecer sustentavelmente sem canibalismo e autofagia. Deve existir gente que não precisa controlar o próximo, como se viver a própria vida não fosse suficiente pra suprir as próprias necessidades, como se tivessem o direito de manter o próximo em estado cerebral vegetativo e controlado, obediente.
Cansei de tantas mentiras, cansei de ver tanta gente fingida, eu olho pra algumas pessoas não sei dizer muito bem o que sinto, se tristeza ou raiva, tanta prepotência… eu posso abrir uma janela onde eu bem entender e não vou me importar com a segurança de ninguém porque a minha vida, o meu dinheiro e a minha ganância são muito mais importantes do que a minha ou a sua própria vida.
Se pensar diferente disso é ser fraco, eu prefiro morrer assim, com a certeza de que sou plena, justa (dentro do meu parâmetro marginal de justiça), e verdadeira comigo e com as pessoas que me cercam.
Enfim… não sei se certo ou errado, mas quero que meu filho aprenda a ser fiel com ele mesmo, pra nunca, jamais sentir vontade de controlar quem quer que seja, vou ensinar o amor livre, aquele incondicional onde a gente acolhe e não julga, porque viver assim é bem mais gostoso!
Gostei muito de assistir “Raízes e asas” do Renato Cabral e Luis Felipe Pimenta, que me fez sentir a sensação de liberdade que tanto amo com imagens lindas, me fez lembrar que eu amo o fato de não ter matado a minha criança interior, aquela que me deixa suportar o peso das pequenas coisas e que me faz enxergar a beleza da vida! Quero meu filho assim, feliz sempre, pra conhecer pessoas encantadoras e se encantar o tempo todo. Obrigada a equipe desse filme por me fazer sentir tudo isso!
http://www.youtube.com/watch?v=P-nqKOMzUHg
Kassandra Speltri é atriz, dramaturga, diretora, artista plástica e colunista do blog ‘Os Curtos Filmes’.