Você posou nua em algumas revistas. Como era esse trabalho?
O nu para mim no cinema veio sempre quando estava escudada por uma
personagem, sempre foi muito fácil, mas o chamado ensaio sensual das revistas
onde o intuito é somente mostrar o corpo, nunca me satisfez por inteiro, embora
naquela época o nu era bem mais recatado, digamos...
Mas como fotografei com
grandes profissionais da época como Cinira Arruda, Dimas Schitinni, considerados profissionais de grande prestigio, achei a experiência bem
interessante e, como achava meu corpo bonito para mostrar, tenho que confessar
que algo do meu ego narcisista de artista se sobressaía...rs
Por que você era uma
das atrizes mais requisitadas na Boca?
Acho que qualquer trabalho desenvolvido com
responsabilidade, camaradagem, respeito e, sobretudo, amor pelo que se faz,
torna um profissional digno de respeito e por tanto, recebe em troca aquilo que
oferece.
O que fazia, dentro
dezenas de mulheres, você se destacar tanto?
Pois quase respondo o mesmo da pergunta acima, mas vale
lembrar que, embora se requeria para aqueles papéis atrizes com um belo corpo,
também se valorizava todas estas qualidades, tendo em vista que os produtores
faziam filmes com recursos próprios.
Quais eram os
principais ingredientes para uma atriz se tornar uma Musa da Boca do Lixo?
Não se pode negar que em principio buscassem atrizes com
corpos esculturais, atributos que exigia o público que lotava as salas de
cinema do centro de São Paulo para ver suas musas nas chamadas pornochanchadas. Coisa que continua acontecendo hoje em novelas até em horário impróprio, porque
parece que o ser humano tem essa predisposição de cultuar o erotismo em
todo tipo de arte. Algumas daquelas atrizes se tornaram Musas porque foram
vistas por algum caça-talentos da época e foi por puro acaso. No meu caso,
primeiro estudei, fiz teatro e depois fui para onde estava a Meca...rs
Mas foi
melhor assim...
Fale a respeito do
filme Império do Pecado
Este filme tinha um enredo muito bom, foi dirigido pelo
Marcelo Motta (o mesmo que dirigiu Chapeuzinho Vermelho), e foi produzido por
Rafaelli Rossi (que fez o, Coisas Eróticas, e ficou milionário produzindo
filmes de sexo explicito na posterior etapa do cinema da Boca. Hoje se
intitula, 'O império do sexo explícito', contendo até cenas de zoofilia, o qual
me nego a assistir. É muito triste ver um trabalho deturpado desta forma...
Fale a respeito do
ator Oásis Minitti.
Quando conheci Oásis Minitti, ele era advogado, mas
também trabalhava como ator, era casado e me pareceu uma pessoa encantadora,
embora, na minha humilde opinião deixasse muito a desejar como ator.
Protagonizamos dois filmes juntos e ele foi o único ator com quem contracenei
que tive dificuldades no set por questões óbvias. Se um ator não ‘incorpora’
bem o personagem dificulta para o colega. Ele se tornou depois o maior ator de
filmes pornográficos daquela segunda etapa da Boca e quando voltei da Europa
soube que ele havia morrido de Aids. Foi uma desagradável surpresa pra mim que
o conheci nos seus começos.
Como viu a chegada do
sexo explicito no cinema?
Como o anúncio da decadência do nosso cinema em todos os
sentidos. Na arte é inadimissível que se faça um trabalho pior que outro. Os
profissionais que se corromperam, talvez vizando só o lado comercial daqueles
filmes, cavaram não só a sua própria cova como também enterraram outros que não
aceitaram participar daquele seguimento.
Sempre digo que qualquer um tem o direito de vender sua
alma ao diabo desde que venda só a sua. Ademais, fizeram um cinema pobre,
esteticamente patético, sem conteúdo e, de certa maneira subestimando um
público que pagava pra ver aquilo. Nunca entendi essa decisão de alguns
profissionais que poderiam ter se oposto àquele mercado e fortalecido nossa
fábrica de sonhos. Começaram assim a implantar a Cracolândia onde deveríamos ter hoje nossa Calçada da Fama.