Cineasta. Diretora do premiado curta-metragem "Que Queijo você Quer?".
Qual
a importância do formato de curta-metragem na filmografia brasileira?
Filmes de curta-metragem são importantes em quaisquer filmografias
de quaisquer países e por vários motivos: experimentação de linguagem, estudo
do cinema, prática de produção, movimentação dos mercados de trabalho,
festivais de cinema... No entanto, e acima de tudo, algumas histórias não
servem para serem contadas em duas horas, mas em alguns minutos.
O que te
faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
O processo de produção do curta é mais rápido que do longa-metragem.
Portanto em um determinado tempo eu consigo fazer mais filmes de curta duração,
aprendendo sempre mais em cada projeto que trabalho. Na fase em que me encontro
hoje, o aprendizado - aliado à prática e à experimentação - é fundamental e
constante.
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em
geral?
Os longas são mais comentados e criticados pois possuem mais possibilidades de
distribuição e exibição tendo, por consequência, mais público. Quando há
janelas de exibição para os curtas-metragens, há também visibilidade na mídia e
em críticas especializadas, como ocorre em cobertura de festivais de cinema,
por exemplo.
Na
sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Acredito que, além do circuito de festivais, os curtas poderiam
ser exibidos em salas de cinema comerciais através de uma reformulação da Lei
do Curta (1975). Na minha opinião, os curtas deveriam ser exibidos ao final do
longa-metragem, para que o espectador não o receba como uma obrigação e sim
como um convite. Quem quiser ficar para assistir ao curta após a sessão fica.
Quem não quiser, vai embora, sem causar grandes revoltas. Seriam curtas até 15
minutos, como determina a ANCINE, a serem selecionados pela parte do exibidor
ou patrocinador do projeto. Em Porto Alegre existe um projeto bastante
pertinente nessa via, que é o Curta nas Telas. A televisão também é sempre uma
opção. Há alguns canais que exibem curtas em sua programação, no entanto são
poucos e também é pouca a divulgação em torno dos filmes. Depois de passar por
festivais também é interessante pensar na exibição pela internet, novas mídias
e mídias alternativas, como espaços de metrôs, aviões, etc...
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um
trampolim para fazer um longa...
Embora eu reduza o curta dessa maneira, ele é sim tratado como um trampolim
para se filmar um longa. Mas eu acredito que o curta é um filme como qualquer
outro, no entanto, com duração menor. Não é porque dura menos que é menos
Cinema, menos filme. Um conto não é menos literatura que um romance. É a duração
e a maneira de contar a história - e suas ferramentas narrativas - que podem
mudar. Pior é fazer um filme de curta duração que mais parece um pedaço de um
longa, ou então um longa arrastado e interminável, que teria sua história
melhor estruturada em um tempo de 15 minutos. Pode existir um cineasta
apenas de curta, apenas de longa, apenas de documentário, de ficção, de
animação, transmídia... São muitos os formatos, que devem se adequar à história
a ser contada e partilhada com o público.
O
curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Por alguns cineastas sim, por outros não... Difícil generalizar. Eu encaro o
curta-metragem como um desafio narrativo. Não é tarefa fácil contar uma
história que estabeleça um diálogo com o público e o satisfaça em quinze
minutos.
Pensa em
dirigir um curta futuramente?
Claro. Tenho algumas histórias que são perfeitas
para narrativas curtas. Eu gosto de trabalhar em torno da história. Quando
escrevo um argumento, ou leio algum de outro roteirista, logo penso qual é a
melhor maneira de trabalhar o enredo. Prefiro trabalhar com a forma em função
da história, e não o contrário.