segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Cíntia Bittar

 
Cineasta. Diretora do premiado curta-metragem "Que Queijo você Quer?".
 
Qual a importância do formato de curta-metragem na filmografia brasileira?
Filmes de curta-metragem são importantes em quaisquer filmografias de quaisquer países e por vários motivos: experimentação de linguagem, estudo do cinema, prática de produção, movimentação dos mercados de trabalho, festivais de cinema... No entanto, e acima de tudo, algumas histórias não servem para serem contadas em duas horas, mas em alguns minutos.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
O processo de produção do curta é mais rápido que do longa-metragem. Portanto em um determinado tempo eu consigo fazer mais filmes de curta duração, aprendendo sempre mais em cada projeto que trabalho. Na fase em que me encontro hoje, o aprendizado - aliado à prática e à experimentação - é fundamental e constante.
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Os longas são mais comentados e criticados pois possuem mais possibilidades de distribuição e exibição tendo, por consequência, mais público. Quando há janelas de exibição para os curtas-metragens, há também visibilidade na mídia e em críticas especializadas, como ocorre em cobertura de festivais de cinema, por exemplo.
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Acredito que, além do circuito de festivais, os curtas poderiam ser exibidos em salas de cinema comerciais através de uma reformulação da Lei do Curta (1975). Na minha opinião, os curtas deveriam ser exibidos ao final do longa-metragem, para que o espectador não o receba como uma obrigação e sim como um convite. Quem quiser ficar para assistir ao curta após a sessão fica. Quem não quiser, vai embora, sem causar grandes revoltas. Seriam curtas até 15 minutos, como determina a ANCINE, a serem selecionados pela parte do exibidor ou patrocinador do projeto. Em Porto Alegre existe um projeto bastante pertinente nessa via, que é o Curta nas Telas. A televisão também é sempre uma opção. Há alguns canais que exibem curtas em sua programação, no entanto são poucos e também é pouca a divulgação em torno dos filmes. Depois de passar por festivais também é interessante pensar na exibição pela internet, novas mídias e mídias alternativas, como espaços de metrôs, aviões, etc...
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Embora eu reduza o curta dessa maneira, ele é sim tratado como um trampolim para se filmar um longa. Mas eu acredito que o curta é um filme como qualquer outro, no entanto, com duração menor. Não é porque dura menos que é menos Cinema, menos filme. Um conto não é menos literatura que um romance. É a duração e a maneira de contar a história - e suas ferramentas narrativas - que podem mudar. Pior é fazer um filme de curta duração que mais parece um pedaço de um longa, ou então um longa arrastado e interminável, que teria sua história melhor estruturada em um tempo de 15 minutos.  Pode existir um cineasta apenas de curta, apenas de longa, apenas de documentário, de ficção, de animação, transmídia... São muitos os formatos, que devem se adequar à história a ser contada e partilhada com o público.
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Por alguns cineastas sim, por outros não... Difícil generalizar. Eu encaro o curta-metragem como um desafio narrativo. Não é tarefa fácil contar uma história que estabeleça um diálogo com o público e o satisfaça em quinze minutos.
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Claro. Tenho algumas histórias que são perfeitas para narrativas curtas. Eu gosto de trabalhar em torno da história. Quando escrevo um argumento, ou leio algum de outro roteirista, logo penso qual é a melhor maneira de trabalhar o enredo. Prefiro trabalhar com a forma em função da história, e não o contrário.