domingo, 27 de janeiro de 2013

Laddy Francisco

Foto recente da atriz.
 
Lady, a primeira pergunta é inevitável: como era a sua vida antes de ingressar na carreira artista? O que fazia, quais eram as suas ambições?
Comecei garotinha, tipo nove anos, cantando num programa chamado ‘Gurilandia’ na Rádio Guarany de Belo Horizonte. Cantava uma musica chamada, ‘O Sorriso do Paulinho’, e uma poema ‘Os Lírios’, todo domingo as 9h da manhã estava na rádio.
 
E assim levei minha vidinha, no colégio participava das festinhas e sempre comandava as apresentações, cantando dançando, falando... sempre!! Em casa brincava de teatro no quintal com cortinas cadeiras e banquinhos, as empregadas e vizinhas vinham assistir, cantava com minha irmã Leylah duetos muito engraçadinhos, sempre quase toda tarde. Mais tarde com a vinda da TV Itacolomi do Dr. Chateaubriand em Belo Horizonte, estava eu com 13 anos mais ou menos ,tive um programa infanto-juvenil, ainda na fase experimental da TV, eu e o Dr. Juscelino Kubitschek neste canal fiz vários programas ,o de maior sucesso foi o teatro Lourdes, a Praça é Nossa com Chico Anísio e varias outras coisas. Paralelo, fui enfermeira, trabalhei nas Rádio Minas e Rádio Inconfidência onde também fui diretora artística e tive vários programas lideres de audiência, fui aeromoça e eleita miss aerovias e muitas outras miss!!
 
Em que circustância virou atriz?
Depois de fazer de tudo nas Minas Gerais, em teatro e televisão, quis alçar novos voos e em 72 no fim do ano vim pro Rio de Janeiro , com as duas mãos atrás, comer o tal pão que o diabo amassou, mas venci.
 
Como decidiu criar o nome artistico ‘Lady Francisco’?
Na minha casa ´Leylah, Lyedem e eu que no cartório escreveram como Leyde, mas desde do jardim se escreve e sempre usei Lady. O Francisco é do meu pai plebeu, pois os restos do nome são da mãezinha Brazonado. Já tentei mudar no numerólogo, mas achei bobo, e voltei, naquele que já está no cosmos a tempos.
 
Seu primeiro trabalho na televisão foi em 'Jerônimo, o Herói do Sertão'. Quais as suas recordações deste trabalho?
Antes de Jerônimo fiz muita coisa na Itacolomi, muito teatro, seriado e trabalhei no palco muitas peças, muito recital de poesias, além e declamadora sou também poeta. De Jerônimo só tenho doces recordações, elenco de primeira, uma família, uma cumplicidade, um tudo. Tenho muitas saudades deste inicio aqui no Rio, desta querida novela.
 
Por que só depois de três anos você voltou a fazer televisão, em ‘Cuca Legal’? o que lembra deste trabalho?
Desculpa, acho que foi minha entrada na TV Globo, estou em duvidas, sei que foi um sucesso pois até a Escola Império Serrano, a minha escola, me homenageou, criou uma Ala chamada Cuca Legal.
 
De 1975 a 1984 você engrana praticamente uma novela na outra. Pecado Capital (1975), O Feijão e o Sonho (1976), Escrava Isaura (1976), Locomotivas (1977), O Pulo do Gato (1978), Pecado Rasgado (1978), Marron Glacê (1979), Baila Comigo (1981), Louco Amor (1983) e Transas e Caretas (1984). Quais os motivos que te levaram a ter uma sequencia quase frenética de trabalhos?
Trabalhei muito de 75-84 acredito era e sou boa profissional, nunca dei trabalho, respeitava todos e estava sempre pronta, texto decorado, uma perfeita mineira, e depois gente, não havia este mutirão de artistas, eram poucos, agora é artista pra da no pau. Só que atrizes e atores são poucos.
 
Em 1990, depois de um hiato de quase seis anos, você volta a fazer telenovelas ‘Barriga de Aluguel’. Parte da crítica considera que este seja o seu maior trabalho na TV. O que tem a falar?
Confesso que sou uma atriz sem padrinhos, e tanta coisa que passa na TV que sei que faria igual ou melhor, nunca tive grandes chances de um puta papel que me marcasse, mas o que me dão eu consigo aparecer e somar. Barriga não era pra mim, não sei o motivo que a outra desistiu, mas eu adorei!!!! Ate orei pra colega, amei ser aquela mulher forte, guerreira e dava sempre conselhos, broncas etc. Amei gravar com minha querida Claudia Abreu, a Dani Peres, que me queria muito, vinha sempre aqui em casa, e assistindo agora no Canal Viva descobri que sou uma atriz interessante e que a televisão não me deu o que eu merecia e mereço: oportunidades.
 
Logo em seguida você trabalhou em ‘As Noivas de Copacabana’, ‘Explode Coração’, entre outras produções na Globo, onde manteve um vinculo profissional por anos. Gostaria que comentasse a respeito desta relação.
Minha relação era sempre de amor á TV Globo, era funcionária ganhava uma merreca, mas ter meu cantinho era mais importante que um puta salário. Tanto que quando a Globo colocou a Sra....e a tal senhora me mandou embora, sem justa causa, quase morri, me senti órfã,’ tive uma grande úlcera que me maltratou ate eu dizer basta, ai sarei e ela coitada ficou doente, oro por ela.
 
Ai fui pra TV Record fazer um novela, contrato por obra, ‘Marcas da Paixão’, era no interior da Bahia em Jungo, uma experiência única, era um lugar sem conforto muita aranha, cobra corredeira ,mas vivi uma super amizade com os porquinhos e cabras de lá, íamos pro local de ônibus eles me esperavam, era uma festa, roubava comida para eles do hotel isto é pedia aos colegas que enchessem bastante nos pratos pra eu tirar. Confesso que chorei muito quando a novela terminou e eu me despedi deles, amo muito qualquer animal.
 

 
Após esses anos todos na Globo você foi contratada pela TV Record. Como foi trabalhar lá?
A minha participação com a Record foi só externa nunca tive contato maior nos estúdios, com diretores e autores, portanto o que eu vivi fora foi ótimo, tive maravilhosos colegas, direção ótima, foi uma boa experiência.
 
A TV Record tem a ambição de produzir telenovelas e miniséries com o mesmo pradão de qualidade e excêlencia da TV Globo. Pelo que viu ali, acha possível conseguir esse objetivo?
Eles têm tentado, mas acredito que falta muito para ter a qualidade da TV Globo a melhor do mundo em telenovelas e seriados, mas eles chegarão lá, o jornalismo é muito bom na TV Record. Em 2004 fiz um lindo trabalho em ‘Almas Gêmeas’, Dona Generosa, depois fiz um mini participação em ‘Duas Caras’ e ai fiquei de molho outra vez (6 anos) é duro amigo, mas ...
 
Seu mais recente trabalho na TV Globo foi na novela ‘Cheias de Charme’, onde viveu uma vidente contratada por Chayene (Claudia Abreu). Em algumas entrevistas li que você se emocionou com o retorno e confessou: 'Na hora do 'gravando', esqueci quem eu era, esqueci tudo'. Como foi isso?
Agora apareceu a vidente, uma pequena participação que me mostrou como sou amada e querida do público, me senti como estivesse estrelando a novela tantas foram as manifestações, recados, meu face “bombou”, e adorei!!! Fazer Kastrup. Agradeço a quem se lembrou de mim. Beijos para Miguel e Isabel autores.
 
Nessa novela você contracenou com a atriz Claudia Abreu, com quem viveu momentos marcantes profissionalmente e como amigas. Considera a atriz a maior expoente da tevê neste momento?
Na hora que Denise falou gravando a emoção me cegou, não sabia quem era, “emoções, coisas de atriz,” somos assim mesmo, meu reencontro com Cacau foi maravilhoso, há 20 separadas, fomos muito cumplices em Barriga ,ela é uma atriz generosa, linda e cada vez melhor como atriz. Foram duas grandes emoções abraçar Claudia e entrar no estúdio, que delicia!!!
 
Em 2011 você ficou com depressão pela falta de oportunidade de trabalho. Hoje, depois deste período, consegue entender por que ficou sem trabalhar? Quais as razões de terem escasseados os convites?
Não sei por que trabalho pouco será a idade? Mas se tem papeis pra mais velhos!! Não sei meu amor, tenho muita vergonha de pedir aos autores e diretores, às vezes falo numa entrevista, como agora e só sei que o que vier será sempre um presente, sei que tenho meu público e que nunca os decepcionarei. É tive depressão e estou segurando pra não ter recaída, pois ainda estou sem contrato... fazer teatro preciso também, de tudo alias... tudo, convite, etc.
 
Grande parte do seu trabalho é voltada para a comédia, que muitos consideram o gênero mais difícil de se trabalhar.  Mas ao que parece, é a sua preferência. É isso mesmo?
Não tenho preferência, só que adoro fazer meu povo rir, digo que sou uma palhacinha de Deus, mas sei fazer drama também e muito bem, tenho vários prêmios, desta forma. Não desanimo ainda vai ter um autor que vai me dar uma vilã, o sonho de toda atriz, amei Yara de ‘Barriga’ e Gisela de ‘Louco Amor’ que me fez viver um tempo na Europa representado naquele lindos palcos.
 
Você posou nua. Como foi esse trabalho?
Não posei no Playboy, fiz outras revistas como ‘Status’, ‘Elle’, ‘Sexy’, etc. tudo mais sensual. Gostei quando me convidaram pra Playboy achei que já estava madura demais fui boba, mas passou.
 
Assistindo a reprise de ‘Barriga de Aluguel’ que foi veiculada há mais de vinte anos e te vendo hoje em ‘Cheias de Charme’, parece que você não mudou nada. Você é vaidosa?
É verdade muitas pessoas dizem o mesmo ,mas mudei sim, acho que as pernas, o cabelo, o meu eterno sorriso são os mesmo, mas a bunda já não e´ a mesma (risos). Na sou muito vaidosa, acho até que sou ainda meio caipira, as vezes perua, lavo cabelo as vezes com sabão de coco, vou três vezes por ano retocar o cabelo, pois pinto da mesma cor que era deste mocinha. Não faço unha, pois não gosto que peguem em minhas mãos, sinto gastura. Agora uma coisa sou vaidosa, com a minha saúde, de 6 em 6 meses, vou ao dentista, acredita que tenho ainda 3 sisos, o quarto perdi este mês, ginecologista de 6 em 6 mês e toda a rotina de exames; não bebo, não fumo,(fumei quando jovem de piteira era chique), não tomo drogas, nem calmantes, nem antidepressivo, Adoro o meu Facebook, sou fácil de fazer amizade, sou protetora de animais, há mais de 55 anos, não tomo refrigerantes, nem como carne, levanto ás 6 da manha e bebo meio litro de agua com ameixas, agora querido, coloco logo batom vermelho antes de tudo e uma gotas de perfume Paris, coloco uma roupinha qualquer e vou tratar dos animais e passear com eles .
 

Ser considerada um símbolo sexual “abalou” sua trajetória artística? Como trabalhava a sua sensualidade?
Achava o máximo ser símbolo sexual, me envaidecia quando passava em obras e os peões paravam e mexiam comigo, mas só isso, vaidade mesmo de fêmea. Na verdade nunca fui provocativa, tinha uma sensualidade paralela a minha vida
 
Você trabalhou em filmes como  Sexo Selvagem dos Filhos da Noite’, ‘O Verdadeiro Amante Sexual’, ‘ Anjos do Sexo’, ‘Viúvas Precisam de Consolo’. Esses títulos nunca correspondiam ao seu conteúdo. Como você via isso?
É verdade trabalhei num montão de filmes que nada tinham a ver comigo, mas na verdade eu via estes filmes como uma experiência interessante, se fazia cinema por amor mesmo ,não tinham quase dinheiro, quase nada ganhávamos, mas curtíamos muito e olha... tinha é publico,! Podes crer,!. Já viu a lista de atores destes filmes? Top de linha, como se diz agora, tenho o maior orgulho de ter trabalhado nesta época!!
 
Sua vida está prestes a ser transformada em um documentário para o cinema, que levará o mesmo nome que seu livro, "Nunca fui Santa". Normalmente essas homenagens ocorrem quando uma determinada pessoa falece. Como recebeu esse convite?
Pois é de repente vendo um curta que fiz em Gramado “A Casa Errada”, com o diretor Maciel Brum, na produtora de Carlos de Andrade, o Carlão, da Vison Digital, e conversa vai e vem, fui contando “causos” da minha vida e o Carlão adorou, riu muito sugeriu o documentário, fiquei super feliz mas achei meio perigoso em se tratando de uma única personagem mas estão estudando uma forma criativa para o publico. Sim , simplesmente adorei a ideia; ainda mais estando viva, forte e consciente. Os dois decidiram contar minha historia, e sei que tenho publico para ir assistir, só que sem que um soubesse de outro, tive mais 4 convites pra mesma coisa: documentário. No momento estou na espera, mas parece ser do diretor Maciel, estou com tesão é claro. Chamará ‘Nunca Fui Santa’ ,o nome do meu livro que lancei final de 2004
 
Você fez filmes no cinema na época da Chanchada e Pornochanchada. Gostaria que falasse sobre o seu trabalho como atriz nesses dois períodos do cinema.
Pornochanchada ou Chanchada, tudo meio puro, só um seio podia aparecer, nada de explicito demais, tudo de leve, eram estórias que pareciam historias, era na verdade bom demais, nada de monopólio, como hoje, para alguns protegidos, todos trabalhavam, todos éramos felizes, estou contando e sentindo uma vontade louca de viver aqueles momentos.
 
Uma das maiores polêmicas da sua carreira foi no filme "Os Foragidos da Violência", de Luís Miranda, você estava decidida a recorrer à Justiça para que o filme não fosse exibido, afirmando que foi enganada nas cenas de lesbianismo. Pode contar sobre isso? A cena com Cátia Carneiro, é isso?
A única coisa falha foi ‘Os Foragidos da Violência’, teve uma cena surpresa de lesbianismo. Fiquei meio puta, mas fiz como profissional e a Cátia, lembro bem, uma dama de educada. Saiu linda a cena. Entrei sim na justiça, não por isso imagina!, Entrei, pois o diretor não me pagou uma merreca se quer, nunca fui atriz de reclamar de cachê, pois sempre adorei ajudar participando, pois quase sempre os idealistas tinham bolsos vazios mas este não, tinha cobertura,, mas entrei para ter o mínimo de dignidade como atriz.
 
Ai contratei na época considerado bom advogado, fazia um programa e TV, o Dr. Roberto Jéferson, o do mensalão! Tinha certeza que receberia o que me deviam, mas... para resolver era ótimo na época, ai ele entrou na política, ganhou e me abandonou, e ficou pro isso mesmo.
 
Vamos finalizar?
Vou te contar duas “coisitas” da atriz Lady. Eu fui a ultima atriz que fez teatro de revista no Rio, ou melhor, no Brasil no Teatro Carlos Gomes na pça. Tiradentes, era sucesso todos os dias, super lotado, texto inteligente, lindas coreografias, muita critica política, cada cenário de dar água na boca
 
Fiz ‘De Topless a coisa Cresce’ e “Tem Coisa na Abertura’, amei fazer, adorava tenho muitas saudades, foram as ultimas nesta época, Acabou o Teatro de Revista, quem viu, viu, que não viu nunca mais vera era único.
 
Pra terminar mais uma colher de chá: trabalhei com Beto Carreiro no circo, no globo da morte, era tipo 8 entradas por dia. Outra experiência deslumbrante, aliás já notou que gosto de tudo que faço e sempre com amor, com dinheiro sem dinheiro. Com conforto ou não amo minha profissão, que é minha missão.