Foto recente da atriz.
Lady, a primeira pergunta é inevitável: como era a sua
vida antes de ingressar na carreira artista? O que fazia, quais eram as suas
ambições?
Comecei garotinha, tipo nove anos, cantando num programa chamado ‘Gurilandia’
na Rádio Guarany de Belo Horizonte. Cantava uma musica chamada, ‘O Sorriso do
Paulinho’, e uma poema ‘Os Lírios’, todo domingo as 9h da manhã estava na rádio.
E assim levei minha vidinha, no colégio participava das festinhas e
sempre comandava as apresentações, cantando dançando, falando... sempre!! Em casa brincava de teatro no quintal com cortinas cadeiras e
banquinhos, as empregadas e vizinhas vinham assistir, cantava com minha irmã Leylah
duetos muito engraçadinhos, sempre quase toda tarde. Mais tarde com a vinda da
TV Itacolomi do Dr. Chateaubriand em Belo Horizonte, estava eu com 13 anos mais
ou menos ,tive um programa infanto-juvenil, ainda na fase experimental da TV, eu
e o Dr. Juscelino Kubitschek neste canal fiz vários programas ,o
de maior sucesso foi o teatro Lourdes, a Praça é Nossa com Chico Anísio e
varias outras coisas. Paralelo, fui enfermeira, trabalhei nas Rádio Minas e Rádio
Inconfidência onde também fui diretora artística e tive vários programas
lideres de audiência, fui aeromoça e eleita miss aerovias e muitas outras
miss!!
Em que circustância virou atriz?
Depois de fazer de tudo nas Minas Gerais, em teatro e televisão,
quis alçar novos voos e em 72 no fim do ano vim pro Rio de Janeiro , com as
duas mãos atrás, comer o tal pão que o diabo amassou, mas venci.
Como decidiu criar o nome artistico ‘Lady Francisco’?
Na minha casa ´Leylah, Lyedem e eu que no cartório escreveram
como Leyde, mas desde do jardim se escreve e sempre usei Lady. O Francisco é do
meu pai plebeu, pois os restos do nome são da mãezinha Brazonado. Já tentei
mudar no numerólogo, mas achei bobo, e voltei, naquele que já está no cosmos a
tempos.
Seu primeiro
trabalho na televisão foi em 'Jerônimo, o Herói do Sertão'. Quais as suas recordações deste trabalho?
Antes de Jerônimo fiz muita coisa na Itacolomi, muito teatro, seriado e
trabalhei no palco muitas peças, muito recital de poesias, além e declamadora
sou também poeta. De Jerônimo só tenho doces recordações, elenco de primeira, uma
família, uma cumplicidade, um tudo. Tenho muitas saudades deste inicio aqui no
Rio, desta querida novela.
Por que só depois
de três anos você voltou a fazer televisão, em ‘Cuca Legal’? o que lembra deste
trabalho?
Desculpa, acho que foi minha entrada na TV Globo, estou em duvidas,
sei que foi um sucesso pois até a Escola Império Serrano, a minha escola, me
homenageou, criou uma Ala chamada Cuca Legal.
De 1975 a 1984
você engrana praticamente uma novela na outra. Pecado Capital (1975), O Feijão e o Sonho (1976), Escrava Isaura
(1976), Locomotivas (1977), O Pulo do Gato (1978), Pecado Rasgado (1978),
Marron Glacê (1979), Baila Comigo (1981), Louco Amor (1983) e Transas e Caretas
(1984). Quais os motivos que te levaram a ter uma sequencia quase frenética de
trabalhos?
Trabalhei muito de 75-84 acredito era e sou boa profissional,
nunca dei trabalho, respeitava todos e estava sempre pronta, texto decorado,
uma perfeita mineira, e depois gente, não havia este mutirão de artistas, eram
poucos, agora é artista pra da no pau. Só que atrizes e atores são poucos.
Em 1990, depois de um hiato de quase seis anos, você volta a fazer
telenovelas ‘Barriga de Aluguel’. Parte da crítica considera que este seja o
seu maior trabalho na TV. O que tem a falar?
Confesso que sou uma atriz sem padrinhos, e tanta coisa que passa na TV
que sei que faria igual ou melhor, nunca tive grandes chances de um puta papel
que me marcasse, mas o que me dão eu consigo aparecer e somar. Barriga não era
pra mim, não sei o motivo que a outra desistiu, mas eu adorei!!!! Ate orei pra
colega, amei ser aquela mulher forte, guerreira e dava sempre conselhos,
broncas etc. Amei gravar com minha querida Claudia Abreu, a Dani Peres, que me queria
muito, vinha sempre aqui em casa, e assistindo agora no Canal Viva descobri que sou
uma atriz interessante e que a televisão não me deu o que eu merecia e mereço:
oportunidades.
Logo em seguida você trabalhou em ‘As Noivas de Copacabana’, ‘Explode
Coração’, entre outras produções na Globo, onde manteve um vinculo profissional
por anos. Gostaria que comentasse a respeito desta relação.
Minha relação era sempre de amor á TV Globo, era funcionária ganhava uma
merreca, mas ter meu cantinho era mais importante que um puta salário. Tanto
que quando a Globo colocou a Sra....e a tal senhora me mandou embora, sem justa
causa, quase morri, me senti órfã,’ tive uma grande úlcera que me maltratou ate
eu dizer basta, ai sarei e ela coitada ficou doente, oro por ela.
Ai fui pra TV Record fazer um novela, contrato por obra, ‘Marcas da Paixão’,
era no interior da Bahia em Jungo, uma experiência única, era um lugar sem
conforto muita aranha, cobra corredeira ,mas vivi uma super amizade com os
porquinhos e cabras de lá, íamos pro local de ônibus eles me esperavam, era uma
festa, roubava comida para eles do hotel isto é pedia aos colegas que enchessem
bastante nos pratos pra eu tirar. Confesso que chorei muito quando a novela
terminou e eu me despedi deles, amo muito qualquer animal.
Após esses anos todos na Globo você foi contratada pela TV Record. Como
foi trabalhar lá?
A minha participação com a Record foi só externa nunca tive contato
maior nos estúdios, com diretores e autores, portanto o que eu vivi fora foi
ótimo, tive maravilhosos colegas, direção ótima, foi uma boa experiência.
A TV Record tem a ambição de produzir telenovelas e miniséries com o
mesmo pradão de qualidade e excêlencia da TV Globo. Pelo que viu ali, acha
possível conseguir esse objetivo?
Eles têm tentado, mas acredito que falta muito para ter a qualidade da
TV Globo a melhor do mundo em telenovelas e seriados, mas eles chegarão lá, o
jornalismo é muito bom na TV Record. Em 2004 fiz um lindo trabalho em ‘Almas
Gêmeas’, Dona Generosa, depois fiz um mini participação em ‘Duas Caras’ e ai
fiquei de molho outra vez (6 anos) é duro amigo, mas ...
Seu mais recente trabalho na TV Globo foi na
novela ‘Cheias de Charme’, onde viveu uma vidente
contratada por Chayene (Claudia Abreu). Em algumas entrevistas li que você se
emocionou com o retorno e confessou: 'Na hora do 'gravando', esqueci quem eu era,
esqueci tudo'. Como foi isso?
Agora apareceu a vidente, uma pequena participação que me mostrou como
sou amada e querida do público, me senti como estivesse estrelando a novela
tantas foram as manifestações, recados, meu face “bombou”, e adorei!!! Fazer
Kastrup. Agradeço a quem se lembrou de mim. Beijos para Miguel e Isabel
autores.
Nessa
novela você contracenou com a atriz Claudia Abreu, com quem viveu momentos
marcantes profissionalmente e como amigas. Considera a atriz a maior expoente
da tevê neste momento?
Na hora que Denise falou gravando a emoção me cegou, não sabia quem era,
“emoções, coisas de atriz,” somos assim mesmo, meu reencontro com Cacau foi
maravilhoso, há 20 separadas, fomos muito cumplices em Barriga ,ela é uma atriz
generosa, linda e cada vez melhor como atriz. Foram duas grandes emoções
abraçar Claudia e entrar no estúdio, que delicia!!!
Em 2011
você ficou com depressão pela falta de oportunidade de trabalho. Hoje, depois
deste período, consegue entender por que ficou sem trabalhar? Quais as razões
de terem escasseados os convites?
Não sei por que trabalho pouco será a idade? Mas se tem papeis pra mais
velhos!! Não sei meu amor, tenho muita vergonha de pedir aos autores e
diretores, às vezes falo numa entrevista, como agora e só sei que o que vier
será sempre um presente, sei que tenho meu público e que nunca os
decepcionarei. É tive depressão e estou segurando pra não ter recaída, pois
ainda estou sem contrato... fazer teatro preciso também, de tudo alias... tudo,
convite, etc.
Grande
parte do seu trabalho é voltada para a comédia, que muitos consideram o gênero
mais difícil de se trabalhar. Mas ao que
parece, é a sua preferência. É isso mesmo?
Não tenho preferência, só que adoro fazer meu povo rir, digo que sou uma
palhacinha de Deus, mas sei fazer drama também e muito bem, tenho vários prêmios,
desta forma. Não desanimo ainda vai ter um autor que vai me dar uma vilã, o sonho
de toda atriz, amei Yara de ‘Barriga’ e Gisela de ‘Louco Amor’ que me fez viver
um tempo na Europa representado naquele lindos palcos.
Você
posou nua. Como foi esse trabalho?
Não posei no Playboy, fiz
outras revistas como ‘Status’, ‘Elle’, ‘Sexy’, etc. tudo mais sensual. Gostei quando
me convidaram pra Playboy achei que já estava madura demais fui boba, mas
passou.
Assistindo
a reprise de ‘Barriga de Aluguel’ que foi veiculada há mais de vinte anos e te
vendo hoje em ‘Cheias de Charme’, parece que você não mudou nada. Você é
vaidosa?
É verdade muitas pessoas dizem o mesmo ,mas mudei sim, acho que
as pernas, o cabelo, o meu eterno sorriso são os mesmo, mas a bunda já não e´ a
mesma (risos). Na sou muito vaidosa, acho até que sou ainda meio caipira, as
vezes perua, lavo cabelo as vezes com sabão de coco, vou três vezes por ano retocar
o cabelo, pois pinto da mesma cor que era deste mocinha. Não faço unha, pois
não gosto que peguem em minhas mãos, sinto gastura. Agora uma coisa sou vaidosa,
com a minha saúde, de 6 em 6 meses, vou ao dentista, acredita que tenho ainda 3
sisos, o quarto perdi este mês, ginecologista de 6 em 6 mês e toda a rotina de exames;
não bebo, não fumo,(fumei quando jovem de piteira era chique), não tomo drogas,
nem calmantes, nem antidepressivo, Adoro o meu Facebook, sou fácil de fazer
amizade, sou protetora de animais, há mais de 55 anos, não tomo refrigerantes,
nem como carne, levanto ás 6 da manha e bebo meio litro de agua com ameixas,
agora querido, coloco logo batom vermelho antes de tudo e uma gotas de perfume
Paris, coloco uma roupinha qualquer e vou tratar dos animais e passear com eles
.
Ser
considerada um símbolo sexual “abalou” sua trajetória artística? Como
trabalhava a sua sensualidade?
Achava o máximo ser símbolo
sexual, me envaidecia quando passava em obras e os peões paravam e mexiam
comigo, mas só isso, vaidade mesmo de fêmea. Na verdade nunca fui provocativa,
tinha uma sensualidade paralela a minha vida
Você trabalhou em filmes como ‘Sexo
Selvagem dos Filhos da Noite’, ‘O Verdadeiro Amante Sexual’, ‘ Anjos do Sexo’, ‘Viúvas Precisam
de Consolo’. Esses títulos nunca correspondiam ao seu conteúdo. Como você via
isso?
É verdade trabalhei num montão de filmes que nada tinham a ver comigo,
mas na verdade eu via estes filmes como uma experiência interessante, se fazia
cinema por amor mesmo ,não tinham quase dinheiro, quase nada ganhávamos, mas
curtíamos muito e olha... tinha é publico,! Podes crer,!. Já viu a lista de atores destes
filmes? Top de linha, como se diz agora, tenho o maior orgulho de ter trabalhado nesta época!!
Sua vida está prestes a ser transformada em um documentário para o cinema, que
levará o mesmo nome que seu livro, "Nunca fui Santa". Normalmente
essas homenagens ocorrem quando uma determinada pessoa falece. Como recebeu
esse convite?
Pois é de
repente vendo um curta que fiz em Gramado “A Casa Errada”, com o diretor Maciel
Brum, na produtora de Carlos de Andrade, o Carlão, da Vison Digital, e conversa
vai e vem, fui contando “causos” da minha vida e o Carlão adorou, riu muito
sugeriu o documentário, fiquei super feliz mas achei meio perigoso em se
tratando de uma única personagem mas estão estudando uma forma criativa para o
publico. Sim , simplesmente adorei a ideia; ainda mais estando viva, forte e
consciente. Os dois decidiram contar minha historia, e sei que tenho publico
para ir assistir, só que sem que um soubesse de outro, tive mais 4 convites pra
mesma coisa: documentário. No momento estou na espera, mas parece ser do
diretor Maciel, estou com tesão é claro. Chamará ‘Nunca Fui Santa’ ,o nome do
meu livro que lancei final de 2004
Você fez
filmes no cinema na época da Chanchada e Pornochanchada. Gostaria que falasse
sobre o seu trabalho como atriz nesses dois períodos do cinema.
Pornochanchada ou
Chanchada, tudo meio puro, só um seio podia aparecer, nada de explicito demais,
tudo de leve, eram estórias que pareciam historias, era na verdade bom demais, nada
de monopólio, como hoje, para alguns protegidos, todos trabalhavam, todos
éramos felizes, estou contando e sentindo uma vontade louca de viver aqueles
momentos.
Uma das maiores polêmicas da sua carreira foi no filme "Os Foragidos da Violência", de Luís Miranda, você estava decidida
a recorrer à Justiça para que o filme não fosse exibido, afirmando que foi
enganada nas cenas de lesbianismo. Pode contar sobre isso? A cena com Cátia Carneiro, é isso?
A única
coisa falha foi ‘Os Foragidos da Violência’, teve uma cena surpresa de
lesbianismo. Fiquei meio puta, mas fiz como profissional e a Cátia, lembro bem,
uma dama de educada. Saiu linda a cena. Entrei sim na justiça, não por isso
imagina!, Entrei, pois o diretor não me pagou uma merreca se quer, nunca fui
atriz de reclamar de cachê, pois sempre adorei ajudar participando, pois quase
sempre os idealistas tinham bolsos vazios mas este não, tinha cobertura,, mas
entrei para ter o mínimo de dignidade como atriz.
Ai
contratei na época considerado bom advogado, fazia um programa e TV, o Dr.
Roberto Jéferson, o do mensalão! Tinha certeza que receberia o que me deviam,
mas... para resolver era ótimo na época, ai ele entrou na política, ganhou e me
abandonou, e ficou pro isso mesmo.
Vamos finalizar?
Vou te
contar duas “coisitas” da atriz Lady. Eu fui a
ultima atriz que fez teatro de revista no Rio, ou melhor, no Brasil no Teatro
Carlos Gomes na pça. Tiradentes, era sucesso todos os dias, super lotado, texto
inteligente, lindas coreografias, muita critica política, cada cenário de dar
água na boca
Fiz ‘De
Topless a coisa Cresce’ e “Tem Coisa na Abertura’, amei fazer, adorava tenho
muitas saudades, foram as ultimas nesta época, Acabou o Teatro de Revista, quem
viu, viu, que não viu nunca mais vera era único.
Pra
terminar mais uma colher de chá: trabalhei com Beto Carreiro no circo, no globo
da morte, era tipo 8 entradas por dia. Outra experiência deslumbrante, aliás já
notou que gosto de tudo que faço e sempre com amor, com dinheiro sem dinheiro. Com
conforto ou não amo minha profissão, que é minha missão.