O roteirista é um dos nomes mais requisitados do
cinema nacional. ‘Estômago’;
‘Dois Sequestros’ e; ‘E Aí, Comeu?’, são alguns filmes que ele assina o
roteiro.
Qual é a importância histórica que o
curta-metragem tem no cinema brasileiro?
O curta tem importância história no mundo
todo. É como se começa a experimentar a técnica, a narrativa, os preceitos
básicos do cinema. É o começo de tudo.
Por que os curtas não têm espaço em
críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Acho que por vários motivos. Pelo formato,
que dificulta o encaixe nos cinemas. E consequentemente, o acesso do público e a
relevância de tudo em si. E pelo amadurecimento dos "curteiros", que
logo partem pro longa, abandonando o formato.
Na sua opinião, como deveria ser a
exibição dos curtas para atingir mais público?
Mais mostras de curtas-metragem, com material
de qualidade. Como são os livros de contos de escritores consagrados. Luis
Fernando Veríssimo não publica tudo que escreve - só os melhores. Ou horários
alternativos em cinemas com o melhor dos curtas naquele semestre. Ou que se
coloque curtas de qualidade antes dos filmes brazucas, no cinema, como já se
fez. Acho que um bom exemplo é o que a Pixar faz: sempre um curta genial antes
dos filmes (também geniais).
É possível ser um cineasta só de
curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
É possível, ué. Curta é cinema também. Mas o
diretor ficará com público e potencial comercial muito limitado.
O curta-metragem é marginalizado entre
os próprios cineastas?
De modo algum. É, como você disse, visto por
todo mundo como um trampolim, um exercício importante a ser feito. Mas eu e
muitos outros vemos como parte de um processo. Que não deveria se findar nele
mesmo, neste começo. Mas se o diretor gosta do formato, se ele domina o
formato, pode ficar só no curta. Sabendo que ele será não marginalizado, porque
sou contra a palavra em si (me remete ao cinema glauberiano, que não gosto), mas
sim limitado pelo próprio formato e mercado.
Você é um dos roteiristas mais
solicitados no cinema nacional. Seu trabalho está muito ligado ao
longa-metragem. Que tipo de característica marca um roteiro de curta e de um
longa?
A rigor, o longa metragem é construído em
três atos - ou mais, dependendo do projeto e da loucura do roteirista. Mas
o comum é escrever um longa em três atos. Isso não fui eu quem inventou -
foram os gregos, três mil anos atrás, conforme está descrito por Aristóteles, no
"Poética". O curta é resolvido em um ato só. O básico é isso.
Como
é trabalhar com a síntese no roteiro de um curta-metragem?
Não
acho que o curta seja síntese. Acho só que é uma história que está sendo
contada em um ato só. Se o roteirista imaginar o cruta como um primeiro ato, e
imaginar as implicações deste primeiro ato na vida do protagonista - tirando
destas implicações os outros dois atos, temos um longa. O curta é como um conto
literário, e tem sua grandeza também.
Qual
é a grande diferença em escrever um curta e um longa?
Olha,
nunca escrevi curtas. Escrevi contos. Acho que, sem ter a experiência, posso
imaginar que é menos trabalhoso, porque tem menos páginas a se escrever. Em
todos os casos, incluindo longa, curta, novela, conto, o que for, o difícil é
ter uma boa história.
Pensa
em dirigir um curta futuramente?
Puxa,
acho que minha praia é só escrever. Vivem me perguntando quando vou dirigir um
longa. Acho que nunca. Eu tento dominar a técnica de roteiro, que já é
complicada. Pra dirigir, ainda tem fotografia, que é uma arte em si, ainda tem
a montagem, outra arte em si, tem a trilha, a direção de ator, nossa mãe. Dá
medo só de pensar.