Tânia
Alves
Atriz
Você
trabalhou com Os Trapalhões no filme O Cangaceiro Trapalhão. Como
e por quem recebeu o convite para trabalhar com eles? Como foi a experiência?
Faz muito tempo, mas creio que o
convite partiu ou da própria empresa do Renato Aragão ou do diretor Daniel
Filho. Foi pelo telefone. Eu lembro que alguém ligou para me dar esse
presente... A experiência foi maravilhosa!
Que
representava, naquele período, trabalhar em um filme com Os Trapalhões, que
eram certeza de sucesso de bilheteria?
Eles eram a maior bilheteria da época,
disputando com as pornochanchadas. O sucesso é sempre bem vindo! Além disso,
trabalhar com Os Trapalhões representava, para mim, a certeza de
momentos deliciosos contracenando com eles, sendo dirigida pelo grande diretor
Daniel Filho e fazendo uma versão cômica (adoro comédias!) do papel mais
importante da minha vida, a Maria Bonita. Estar nesse contexto significaria um upgrade
na carreira de qualquer ator, em termos de prestígio e popularidade.
Onde essa
produção foi filmada?
Em Quixadá, cidade no interior do
Ceará.
Durante as
filmagens havia muita improvisação?
Acho que isso sempre foi uma
característica do jogo cênico dos Trapalhões. Faziam isso o dia inteiro,
mesmo fora das filmagens.
Quais as
recordações que possui do filme?
Eu terminava o dia com minhas
bochechas doendo de tanto rir deles. Todos nos divertíamos muito o tempo todo!
Antes, durante e depois do trabalho.
Como foi o
seu contato com o quarteto?
Incrível! Uma simpatia mútua! Muito
respeito e carinho!
Você e
Nelson Xavier parecem que nasceram para os respectivos papéis. Como foi
contracenar com Nelson nesse filme?
Contracenar com Nelson Xavier em
qualquer coisa é uma experiência única de aprendizado e transcendência. Estar
com ele é estar perante a verdadeira Beleza do grande artista. Além disso, sua
generosidade em compartilhar é incomensurável! Deixa os parceiros muito
confortáveis. Temos uma grande química!
Seguindo a
ideia de pegar carona no sucesso da literatura, cinema e televisão brasileira
para compor paródias, o grupo Os Trapalhões chegou em 1983 ao mundo do
cangaço. A fórmula foi tão pensada que aproveitaram até mesmo você e Nelson
Xavier para repetir o casal Lampião e Maria Bonita que haviam interpretado no
ano anterior na minissérie da Rede Globo. Isso foi proposital?
Lampião e Maria Bonita também são
certeza de sucesso, pois estão no imaginário do brasileiro. Talvez acrescido a
esse fator, os empresários tenham intuído todo o potencial de situações que uma
paródia dessas proporcionaria; e também devido ao fato de Renato ser nordestino
e conhecer bem sua cultura. Soma-se a tudo isso uma boa história, com atores
importantes como Regina Duarte, Tarcísio Meira, Bruna Lombardi, José Dumont,
num cenário muito louco como o sertão estranhamente rochoso de Quixadá, e temos
um grande filme, que, inclusive, ganhou prêmio na Rússia.
Por que,
na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados
pelos Trapalhões?
A Comédia nunca foi respeitada pelo
segmento mais acadêmico e conservador da crítica. Sempre foi relegado a segundo
plano... em detrimento do Drama. O mesmo acontece com obras destinadas ao público
infantil. Perdem com isso a oportunidade de entender Os Trapalhões como
representantes legítimos e importantes da cultura brasileira e nordestina de
inspiração circense e dar a eles o devido e merecido crédito.
Como
classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Comédia infanto-juvenil, simplesmente
por ter sido esse o público-alvo; mas também eram consumidos por muitos adultos
e talvez devessem entrar na mesma classificação de Os Irmãos Marx, O Gordo e O
Magro e outros antológicos representantes do humor na história do cinema
mundial.