Tomislav
Blazic
Produtor
executivo na J. B. Tanko Filmes
Você foi
produtor executivo na J. B. Tanko Filmes. Como surgiu a oportunidade de
trabalhar lá?
J. B. Tanko era meu tio; e, na época,
eu estava empolgado com o que ele fazia.
J.
B.Tanko, antes de dirigir Adorável Trapalhão, seu primeiro filme em
parceria com Renato Aragão e o terceiro na filmografia do comediante, já tinha
dirigido dezoito filmes. Como você classificaria a filmografia de Tanko antes
da parceria com Os Trapalhões?
Tanko já vinha de uma grande escola e
já fazia parte do clube dos grandes diretores e estava sempre com todos da
Atlântida e Vera Cruz.
Quais os
clássicos nessa lista? Todos esses filmes foram produzidos na Herbert Richers?
Não me lembro de detalhes; mas, sem
dúvida, Os Trapalhões é que passou a ser a grande referência e ele
sempre trabalhava na Herbert.
A J. B.
Tanko Filmes era considerada uma das maiores produtoras de filmes e comerciais
do Rio de Janeiro. Como era trabalhar lá?
Graças a ela, hoje sou um produtor com
uma vasta gama de experiência; e, sem dúvida, essa escola é impagável. Era
extremamente prazeroso. Infelizmente, hoje não tenho mais meu tio por perto.
A J. B.
Tanko Filmes foi fundada em 1969 e tinha como característica a produção de
comédias para adolescentes. Quem estabeleceu essa diretriz na produtora?
O Tanko, na minha opinião, já era
visionário e, ao mesmo tempo, crítico de o cinema estar sempre vinculado a
questões governamentais. Ele achava que, em algum momento, as produções seriam
terceirizadas e haveria um novo modelo de negócio. Hoje, estamos vendo estas
mudanças. Na verdade, ele estava na frente de seu tempo, pois, somente há
alguns anos estamos vendo essas mudanças com os canais fechados e agora com os
abertos.
Como era a
sua relação profissional com Alexandre Tanko, fundador da J. B. Tanko Filmes?
Alexandre não era fundador. Seu nome
estava no contrato social, mas ele não exercia nenhuma função. O Alexandre se
formou em Engenharia e, nessa época, tinha o seu próprio negócio. Depois que eu
saí da Tanko e J. B. já estava debilitado, é que o Alexandre pegou firme na
empresa e caminhou para a publicidade, não fazendo mais cinema, somente como
coprodutor em equipamentos, estúdio etc. Nesse mercado, ele conseguiu ter uma
expressividade. Era um bom técnico em equipamentos.
J. B.
Tanko era croata e veio ao Brasil já adulto. Como era a comunicação dele com
vocês? Como era o entendimento nas horas das filmagens?
Somos todos refugiados de guerra, e
ele fazia parte da nossa família. Portanto, sempre estávamos juntos nas
ocasiões de família. Nas filmagens, ele era extremamente rigoroso e bravo,
quando não estava tudo como ele desejava; mas, ao mesmo tempo, era o nosso
passaporte nas pós-produções, porque não permitia falhas, fazendo com que na
finalização tivéssemos menos problemas. Como eu era jovem, no primeiro momento
foi traumático. Porém, depois aprendi que deveria ser da forma como ele
conduzia, pois tudo funcionava bem. Com isso, o nosso trabalho passou a fluir
com segurança, cumprindo os cronogramas. E tudo ficou prazeroso.
É verdade que
ele veio ao Brasil porque perdeu toda a família na Segunda Guerra?
Quase toda, pois nós éramos o restante
do que sobrou e éramos poucos. Hoje, somos menos ainda.
Franco
Zampari, italiano, veio ao Brasil e ajudou a fundar o Teatro Brasileiro de
Comédia (TBC) e a Companhia Cinematográfica Vera Cruz. Ziembiski, polonês, é
considerado um dos fundadores do moderno teatro brasileiro, além de ter deixado
importantes contribuições no cinema e na televisão também. Citei dois grandes
expoentes estrangeiros que contribuíram de maneira valiosa para o
desenvolvimento artístico no Brasil. E quanto a J. B. Tanko, que podemos falar
dele?
Não tenho tanta referência sobre isso.
O que sei é que essas pessoas eram amigas dele e sempre estavam juntos falando
das questões culturais e ao mesmo tempo eram amigos de saírem para jantar,
teatro, projetos etc. Na minha visão, ele era um expoente no nosso mercado,
juntamente com Ziembinski e outros. Fez a diferença. Uma curiosidade: o Tanko
sempre levava ao set de filmagem uma garrafa térmica. E todos, sempre
curiosos, achavam que era café. E, volta e meia, alguém pedia um gole. Mas, em
hipótese nenhuma ele servia, sempre tinha uma desculpa. E, nos intervalos da
filmagem ele despejava um pouco do conteúdo da garrafa em sua canequinha e
tomava um gole. Somente os mais próximos (ou seja, eu, Renato e a cuidadora do
Tanko) sabiam o que havia na garrafa: um 1/3 era uísque; o restante, suco de
laranja. Aquilo era um estimulante para ele. O Tanko só ingeria a mistura nos
intervalos das filmagens. Ele não era alcoólatra e muito menos ficava fora de
si, até porque uma garrafa térmica não daria para isso.
Você
presenciou os momentos mais marcantes da parceria de J. B. Tanko com Os
Trapalhões. Ao todo foram dez filmes que vocês produziram, desde a abertura
da produtora. Como conseguiram estabelecer uma parceria tão duradoura com Os
Trapalhões?
O Tanko tinha uma química muito boa
com o Renato, e Os Trapalhões ainda não eram conhecidos. Graças ao
trabalho de ambos, Os Trapalhões se tornaram ícones em sua época; e; até
hoje, ninguém conseguiu chegar aonde eles chegaram. Depois que o Renato foi
para TV Globo, o Tanko já me dizia que o tempo da parceria iria terminar, pois,
o Renato deveria tomar o seu caminho. E assim foi. O Tanko tinha um apego grande
com o Renato, gostava dele muito como pessoa e, ao mesmo tempo, como
profissional. Portanto, o tempo de validade para ele já estava consumado. Ficou
triste, quando houve a separação, mesmo já me falando sobre isso. Por mais que
esperemos a morte, ela não é conformista e somente o tempo se encarrega. Tenho
certeza de que, para ele, foi marcante essa parceria e também para o Renato,
pois, depois disso, fui trabalhar com eles.
Em 1973
vocês produziram o primeiro filme, Aladim e a Lâmpada Maravilhosa. Quais
as suas recordações desse filme?
Não tenho muitas recordações, até
porque sou ruim de memória. Mas lembro perfeitamente de que estavam
preocupados, com medo de como seria a recepção do público, imaginando se iria
dar. Todas as possíveis indagações eram consideradas. Inclusive, se daria para
fazer o segundo filme. Todos acabaram felizes.
Robin
Hood, O Trapalhão da Floresta é o segundo filme da série que vocês
realizaram. Em muitos desses filmes, vocês trabalharam com paródias de
clássicos da literatura universal. Gostaria que comentasse a respeito dessa
linha adotada por vocês e Os Trapalhões.
O Tanko e o Renato é que adotaram essa
linha. O Renato sempre foi um grande estudioso da Comédia e sempre esteve
atualizado. Portanto, a dupla, nesse aspecto, tinha uma grande afinidade. Os
dois sabiam bem o que desejavam; além de o Renato sempre interferir nos roteiros,
o que era muito importante, devido ao seu talento.
No ano
seguinte, vocês filmaram O Trapalhão na Ilha do Tesouro. Esse é o último
filme que Renato Aragão e Dedé Santana trabalharam em dupla, já que no ano
seguinte eles ganharam a companhia de outro integrante, o Mussum. Como era o
relacionamento de Renato e Dedé, durante as filmagens?
Isso era ímpar, pois eles todos sempre
estavam brincando entre si ou com todos da equipe. Portanto, as filmagens
sempre eram divertidas, apesar do trabalho árduo. Digamos assim, a sacanagem
era a vida entre eles.
Em 1976,
vocês filmaram Simbad, O Marujo Trapalhão. Quais as recordações dessa
produção?
Não me lembro de detalhes, pois,
então, já estávamos em um ritmo alucinante de trabalho.
No mesmo
ano, Mussum se juntou a Renato Aragão e Dedé Santana e estreou no cinema em O
Trapalhão no Planalto dos Macacos. Para muitos, esse é um dos piores filmes
da parceria J. B. Tanko e Os Trapalhões. Qual é a sua avaliação a
respeito?
Não concordo, pois os números não
indicavam isso e eles sempre estiveram super animados com o filme. É evidente
que, numa série de filmes, alguns se sobressairão mais, como O Trapalhão nas Minas
do Rei Salomão, Os Saltimbancos Trapalhões, etc. Ganhar todas as
partidas é impossível, mas nunca deixaram de ser a grande bilheteria do cinema
nacional.
Em
contrapartida, em 1977, vocês produziram o filme que é o maior sucesso da filmografia
do grupo, O Trapalhão nas Minas do Rei Salomão. Vocês imaginavam que
estariam filmando um sucesso absoluto de público e que ainda hoje figura entre
as maiores bilheterias de todos os tempos do cinema nacional?
Alguns filmes acabam deixando um legado.
Esse filme teve muitos ingredientes que ajudaram bastante. Pelo levantamento da
Embrafilme na época, hoje somente Tropa de Elite teria um número
comparável. Aproveitamos e também fizemos um barulho muito grande na época. Tudo
isso e outros fatores foram fundamentais, além do roteiro ser bem feliz.
Falando em
bilheteria, naquele tempo o controle não era tão rígido como hoje. Imagina que
os filmes dos Trapalhões atingiram mais público do que as estatísticas nos
mostram?
Sem sombra de dúvida. Tínhamos que
colocar nos cinemas muitos fiscais com os reloginhos. Com poucas exceções, como
nos cinemas do Luiz Severiano Ribeiro e mais um e outro, o roubo era grande e inclusive
alguns fiscais nossos eram comprados. O interior, então, era algo inacreditável.
Se fôssemos colocar a real estatística, os números seriam outros; mas, mesmo
assim, os filmes se superavam. Hoje, temos a tecnologia que facilita bem a
vida.
Vocês
tinham alguma metodologia para a aferição de bilheteria?
Tínhamos um controle manual da renda
de todos os cinemas no Brasil, mesmo parametrizados com o roubo. Exemplo: se o
Cine São Luiz fazia cento e cinquenta mil num fim de semana, caso baixasse
muito o faturamento, corríamos para o local e começávamos um novo controle.
Daí, a bilheteria subia novamente. Tudo era sempre tenso com os exibidores, mas
eles nunca nos dispensavam.
Gostaria
que explicasse a razão do hiato entre o sucesso de O Trapalhão nas Minas do
Rei Salomão e o clássico Os Saltimbancos Trapalhões. Por que ficaram
tanto tempo sem filmar?
Não me lembro de muitos detalhes, mas
tínhamos um entrave grande com a tevê na renovação de contrato do grupo, pois a
TV Globo desejava deter também os direitos e mais algumas outras questões
jurídicas, criando esse hiato. Por fim, todos de alguma forma desejavam pegar
uma fatia do sucesso que o cinema fazia.
Em Os
Saltimbancos Trapalhões, a produção já contava com a participação do Zacarias,
formação que se tornou histórica. Como era trabalhar com os quatro integrantes
no set de filmagem?
Era ótimo, sadio, prazeroso e
engraçado, apesar do trabalho intenso. E a entrada do Zacarias foi de grande
expectativa, pois havia sempre a surpresa de como o público iria reagir.
Considera Os
Saltimbancos Trapalhões o melhor filme que já produziu?
Considero esse e O Trapalhão nas
Minas do Rei Salomão.
Em 1982,
vocês produziram Os Trapalhões na Serra Pelada, com cenas rodadas no
próprio garimpo, no ápice da exploração. Como foi o processo de produção desse
filme? Foi o maior desafio da sua carreira?
Não participei dessa produção. O
Renato já estava produzindo os seus filmes; e eu estava com o Dedé, Mussum e
Zacarias, coordenando-os na área de shows e eventos. Sei que foi muito
difícil, pelo que diziam meus colegas e tive que dar alguma ajuda. Acho que a
produção sofreu muito. Não se tinha estrutura suficiente para fazer um filme
naquele local, além daquele mar de gente. Imagina os garimpeiros vendo o grupo
de humoristas. Somente o coronel é que conseguia controlá-los; caso contrário,
seria um desastre.
No mesmo
ano vocês filmaram Os Vagabundos Trapalhões, filme com uma temática
social forte, muito cara às crianças. Não era um tema muito espinhoso falar de
crianças abandonadas em um filme cujo público-alvo eram as próprias crianças?
Eu já não estava mais nas filmagens e
já nem lembro mais do filme.
Com o
lançamento de dois filmes por ano, como era montado o cronograma para estrear
um filme nas férias escolares do meio do ano e outro no final do ano?
Tínhamos uma estrutura muito bem
montada com duas equipes; e, apesar dos problemas, funcionava muito bem. Tudo
era estratégico.
Em quanto
tempo, normalmente, era concebido um filme: da ideia à realização?
Na faixa de dois anos, como ainda
hoje. Depois, tivemos que encurtar esse tempo.
Vocês
passaram, quase no final da parceria, a trabalhar com muitas celebridades, como
Gugu e o grupo Dominó, notadamente não-atores. Não era muito arriscado para o
filme ter atuações que poderiam comprometer a produção?
Eu já não estava mais com eles, passei
para grande eventos fora dos Trapalhões.
Chegamos
agora ao Atrapalhando a Suate, que é o único filme que não consta oficialmente
da filmografia dos Trapalhões. Quais as suas principais recordações dos
bastidores desse filme?
Foi traumática, pois foi o momento em
que o Dedé, Mussum e Zacarias se separaram do Renato. Manter um grupo unido por
muito tempo e vivendo junto mais de quinze por dia é muito difícil. Tudo foi
conturbado: a TV Globo pressionando e assim por diante. As questões sempre
giram em torno do dinheiro. Mas, na minha humilde opinião, foi um grande erro.
E eu participei desse erro, pois, era eu quem controlava os três. Depois,
muitas influências externas, muitas promessas mágicas e assim por diante. Foi
um aprendizado; porém, com uma penalidade grande para todos nós. O bom senso
acabou prevalecendo, e o grupo voltou a se unir. Todos os grupos ou duplas etc.
devem receber tratamentos de terapeutas, psicólogos especializados para que
possam fazer com que as suas carreiras seja duradouras, além de se
profissionalizar.
Como foi a
experiência de trabalhar em uma produção envolta de tantas polêmicas, como a
separação do quarteto? Eles comentavam algo com você?
Claro, eu era empresário dos três.
Tudo muio difícil e sempre tendo que colocar uma estrutura que procurasse
blindá-los da influência de terceiros que tinham interesses comerciais e de
propostas mirabolantes. O mais centrado deles todos sempre foi o Renato. E, a
bem da verdade, o escritório do Renato também tentava ajudar para evitar todas
essas influências. E tínhamos ainda o hoje falecido Beto Carrero, cujo nome
verdadeiro era Sérgio Murad, e seu irmão (ele ainda esta vivo e é dono da
agência de propaganda Murad e mora em São Paulo; mas não o vejo há muitos anos),
foram também importantes na ajuda da reconciliação do grupo.
Havia uma
disposição de Dedé, Mussum e Zacarias de mostrar ao Renato que eles também
sabiam produzir um filme?
Isso não existiu. O que houve é que,
na separação, eles não desejavam perder o espaço como comediantes e o espaço no
cinema. Por esse motivo, optou-se em fazer o Atrapalhando a Suate.
A DeMuZa
Produções foi criada com o intuito de apenas gerir os negócios dos três
humoristas (Dedé, Zacarias e Mussum)? Por que durou tão pouco?
Sim. Não fazia sentido; mas, naquele
momento, a estratégia visava dar a eles um pouco mais de oportunidade, pois os
três gostavam muito de fazer shows de circo pelo Brasil e o Renato já
selecionava mais. Portanto, o critério do Renato, era mais conservador; e os
três nunca paravam. Por esse motivo, foi montada a DeMuZa, além de outras
questões tributárias, contratuais com a TV Globo e jurídica. Depois, todos
tomaram a consciência que essa estratégia não era boa.
A questão
toda da separação foi puramente financeira ou também para estrelar os filmes?
Protagonizar não era o caso.
Financeiro existia; mas, na verdade, era o desgaste pessoal, ou seja, o tempo
de validade.
Eles
acreditavam que poderiam ser bem-sucedidos sem o Renato Aragão?
Tudo não passava de um devaneio, por
influência de terceiros.
Na sua
análise, por que a separação durou apenas seis meses?
Na medida em que o público começou a
criticar, começou a cair o Ibope e o financeiro começou a impactar. Todos
começaram a cair na realidade. Tudo isso faz parte do crescimento individual.
Se não é pelo amor, é pela dor.
Havia, nos
bastidores, um clima de tristeza pela separação?
Muitíssimo forte, pressão da imprensa,
patrocinadores e principalmente da sociedade.
Tião
Macalé atuou nesse filme. Ele era considerado o quinto Trapalhão. Quais as
lembranças que você tem dele?
As lembranças sempre foram boas, pois
era mais um que agregava força ao grupo; e entre eles a convivência era de mais
um brincalhão.
Tião é subestimado?
Do meu ponto de vista, de maneira
alguma. Ele era parte de uma estrutura dos roteiros e da estratégia do
programa. Mas era impossível todos serem os protagonistas.
O último
filme de J. B.Tanko com Os Trapalhões é Os Fantasmas Trapalhões. Tanko
já tinha mais de oitenta anos, quando dirigiu esse filme. Como foi para ele
conduzir todo esse processo?
Boa pergunta. Acho que, por se tratar
do último filme (penso que ele já pressentia isso), parecia um jovem de trinta
anos. É evidente que a idade pesa, mas ela não atrapalhou em nada. Muito pelo
contrário, o empenho do Tanko foi enorme. Desejava encerrar a carreira com o
Renato muito bem. E assim o foi.
Em todos
os filmes dos Trapalhões, os cartazes eram assinados por José Luiz
Benício. Como era a relação de vocês com esse profissional? Benício tinha
liberdade total para criar?
Era a pessoa de confiança do Tanko, e
o Renato também gostava dele. Portanto, era parte do time.
Quem era o
maior comediante do grupo?
Todos eram ótimos comediantes; mas,
evidentemente, o líder era o Renato. Portanto, todo o trabalho era feito para o
protagonista, com exceção do Dedé, que era o “escada” de todos, peça
importante para poder gerar as piadas e situações cômicas.
Por que,
na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados
pelos Trapalhões?
As comédias até hoje são rejeitadas
pelos analistas de cinema. Hoje, vivemos uma febre de comédias no cinema. Tinha
um código entre nós, ou seja, uma torcida para que a crítica fosse ruim, pois
aí é que os filmes faziam mais sucesso.
Como
classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Para a sua época, foi brilhante, pois
as crianças adoravam. E isso podíamos sentir nas salas dos cinemas,
principalmente nas sessões beneficentes.
Gostaria
que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha
presenciado como testemunha ocular.
Para ser sincero, não lembro, neste
momento. A única coisa que me deixava impressionado era quando viajávamos pelo
interior do país e eu via a multidão querendo estar com eles. Lembro que, no
interior do Rio Grande do Sul, na cidade de Pelotas, estivemos em um circo
grande, o Vostok, com uma grande capacidade de público e com boa
infraestrutura. Chegamos para duas sessões e acabamos fazendo cinco sessões.
Quando terminamos, já era de madrugada. Não conseguimos atender a todos e não
podíamos ficar para o outro dia, pois tínhamos gravação na TV Globo. O circo
ficou mais uma semana; e tivemos que alterar o nosso calendário de show,
retornando no final de semana e novamente todas as sessões de sexta a domingo
super lotadas. Isso era mágico e isso aconteceu também em outras localidades. O
pior é quando estávamos nos aeroporto, muitos pais chegavam como se fossem
amigos de longa data e mesmo hiper cansados eles desejavam que um deles fizesse
uma graça. Tivemos um momento em que estávamos jantando e um dos pais chegou e
deu um tapa para cumprimentar o Mussum, que ele enfiou o rosto no prato, como se
fosse uma cena de filme/tevê sem o menor constrangimento e ainda apontou para o
filho achando graça. Aí, tínhamos que interceder, pois, a falta de respeito, ultrapassa
o limite do bom senso e educação.