quarta-feira, 14 de março de 2012

Beatriz Seigner


Beatriz é diretora e produtora. Foi a responsável pela primeira coprodução Brasil-Índia, com o filme "Bollywood dreams".


O que te faz aceitar participar de uma produção em curta-metragem?
Para participar de qualquer produção a "história-idéia-conceito- porquê" do projeto precisa me tocar, independentemente do tempo de duração do produto final. Acho que isso vale para curta, média, longa, videoarte, websérie, para pintar um quadro, para fazer uma dança, para fazer um teatro de sombras, de bonecas, de pessoas vivas, para tomar um café ou compartilhar uma conversa - algo de muito íntimo e de muito íntegro precisa estar me movendo. Algo como um ato de amor e de extrema curiosidade pela humanidade. E visto a saturação audiovisual que vivemos em nossa época, acredito que a pergunta de "por que determinada obra necessita existir?" é de suma importância. Vivemos todos sob constante fadiga e stress entre tantos estímulos de poluições visuais e sonoras, que não damos conta de absolver. Eu, pelo menos, não dou conta.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?

Não faço a menor idéia. Aliás tem muita coisa que precisava ter mais espaço na mídia em geral e que também não tem. Vale a pena lembrar que "mídia em geral" são empresas, em sua maioria privadas, que visam o lucro e vão dar espaço àquilo que acreditam lhes trazer mais lucro. Como escândalos. Faça um curta metragem sobre algum escândalo histérico com alguma celebridade do momento que seguramente a "mídia em geral" o veiculará.

E no meio desta cultura de histeria de massa, existem jornalistas e críticos sérios que tentam exercer sua profissão com a dignidade e humanidade que esta merece. No caso do cinema acho bastante importante a troca entre as pessoas que fazem os filmes, e aqueles que os assistem - tanto público, quanto críticos, que por princípio amam cinema e assistem a milhares de filmes. Acho que têm muito a dizer, quer gostem ou não do filme, isso é o de menos. O importante é a troca. É o filme ser relevante. É o eventual aprimoramento em busca da essência e intrinsecalidade do próprio filme. A final de contas, esta é uma arte meio metafísica: só existe quando alguém a está assistindo, e depois continua a viver na memória das pessoas, nas conversas e etc. Quanto aos espaços para os curtas... falei, falei e continuo sem saber.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?

Acho que as plataformas digitais estão indo bastante em direção ao curta ou curtíssimo. Um capítulo de websérie, por exemplo, tem em torno de 3 minutos. Mas para curtas mesmo, acho bem relevante sites como o PortaCurtas. E acho interessante quando vejo curtas antes de algum desenho animado, no cinema. Acho que pode ser algo a ser explorado também com filmes.

Nos ônibus e metrôs poderiam ter um sinal wireless que transmitisse curtas para você escolher e assistir em seu celular? É uma idéia...

Vale salientar a importância dos curadores neste caso, para que todos os nichos de interesse sejam contemplados...

Existem também os longas feitos com vários curtas... Quase como um livro com uma coletânea de contos...

Quando gosto de um diretor, vou normalmente atrás dos curtas que também dirigiu ou que dirige... normalmente é um espaço onde se pode arriscar mais, com orçamentos menores, e menos pressões.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...

Existem cineastas cuja pegada é de curta mesmo... na literatura, Jorge Luis Borges é completo, íntegro, inspirador, genial, tendo escrito praticamente "só" contos. Ser sucinto é um dom.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?

Isso eu também não sei. É difícil generalizar. Existem cineastas movidos por princípios tão diferentes entre si. O que é centro e o que é margem para cada um deles, eu não sei.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Se me vier uma idéia que me peça este formato, sim, com certeza.