quarta-feira, 7 de março de 2012

CURTA PASSIONAL - Carlo Mossy


ELEMENTAR PRODUÇÃO À DERIVA


A famigerada preguiça apossou-se do meu sempre celulóidico ser, monopolizando-o, inibindo o seu lado inventivo e intelectual, o que me fez culposamente ficar devendo um breve texto para esse prestigioso e passional Blog: “Os Curtos Filmes” do Rafael Spaca. Desculpem-me, e, também, o meu alter mandrião, leitores queridos.

Que tal adentrarmos na complicada fase do –inevitável- universo à enlouquecedora Produção?

Bem, como todos devem saber, a produção de um filme seja longa ou curta, engloba integralmente a fabricação de seu conteúdo e de sua ampla criação, até o projeto terminante, entregando a obra e/ou o projeto à distribuição - outro item assaz complicado e, por sua vez, claro, inexorável. No Brasil os curtas têm pouco espaço nos cinemas pra não dizer nenhum. Sobrevivem nos Festivais e cine-clubes.

Acontece que o papel de um tradicional produtor, ao longo dos anos, modificou-se em virtude das Leis e de legislações prolmugadas, modificando radicalmente sua estrutura estratégica primeira, como sendo produtores tradicionalmente de cinema. A estética moral/comercial metamorfoseou-se, inibindo sua contumaz performance como sendo cineasta. Hoje, um produtor em Pindorama, tem que virar um sórdido burocrata (advogado, contador e matemático), para que seu projeto exista e prossiga seu “natural” trajeto às telas.Os custos iniciais são elevadíssimos, e poucos, pouquíssimos se aventuram profissionalmente.

Em princípio, uma produtora se encarrega de administrar os custos de uma produção fílmica. Claro que hoje em dia, e de acordo as leis sancionadas há subvenções monetárias, que através de editais, captações e afins (nem sempre democraticamente subsidiadas às vezes às –merecidas- produtoras) locupletam uma produção cinematográfica de forma ágil, seja ela de longa-metragem ou de curta-metragem.

No meu específico caso, tratando-se de um longa que estou dirigindo e todavia filmando um docudrama intitulado GAROTA DE IPANEMA - O BAR, consegui verbas iniciais com dois comerciantes que não fazem parte do universo cinematográfico, e que podem ser intitulados como sendo Raros-Mecenas-Culturais. É raro, mas acontece existir.

O segundo angustiante passo é obter o Certificado de pontuação da empresa produtora, na ANCINE, e à sequência, o Certificado e autorização à captação de recursos financeiros para o filme em questão: oficias ou particulares. Trata-se, no meu tradicional e ainda romântico ponto de vista como visceral cineasta, uma via-crúcis que poucos conseguem atingir.

O inevitável cansaço burocrático e sem fim, perpetuado pelo diretor/produtor de um curta, aos enlouquecedores ditames burocráticos, os quais devem ser suplantados pelo cineasta ao longo de sua epopéica “luta” cinematográfica, se tornam um impiedoso obstáculo intelectual à sua sequência inventiva, e, sem saber, sempre movido pela paixão de realizador, seu produto fílmico se transforma num produto menor, se esse ainda conseguir ser finalizado. A ditadura escravocrata burocrática é o maior entrave à criatividade de um cineasta e à sua posterior continuidade, sobretudo para os importantes e talentosos curta-metragistas.

Carlo Mossy é diretor, ator, produtor, roteirista de cinema e colunista do blog Os Curtos Filmes.