Depoimento para o
blog ‘Os Curtos Filmes’.
Como diretor (mas não me considerando como tal) fiz dois filmes;
um curta e um media-metragem...sendo que o tempo de duração de cada filme foi
determinado tanto pelo tamanho da ideia que queria expor, como pela quantidade
de dinheiro disponível para realizá-lo. Na época não passou pela minha cabeça
que eu estava me 'preparando' para dirigir um longa-metragem, tanto que nunca
dirigi e acho que nunca vou dirigir... (mas, nunca diga nunca!!). Eu era, e
queria ser um fotógrafo e eu amava o fazer do cinema como um todo. Acho que
isso deve ser uma verdade para a maioria dos curtas-metragistas.
Ao mesmo tempo, acho que um das funções do curta-metragem (mas
certamente não a única) é ser um 'mordedor' para a coceira criativa de um jovem
cineasta. A vontade de fazer cinema nasce cedo, mas a capacidade técnica de
fazê-lo bem exige muito tempo de pratica e experiência - e na medida que fazer
cinema custa muito dinheiro (algo dificílimo de conseguir) a opção para fazer
um filme pequeno faz parte da necessidade pratica e evolutiva de um realizador.
A existência e ampliação dos prêmios estímulos e a multiplicidade dos festivais
dedicados a esse formato são exemplos do reconhecimento da importância do
curta-metragem nesse processo.
Com isso não quero dizer que eu considero o curta só um espaço
de aprendizagem, pois há curtas (e muitos) de grande valor artístico e técnico.
É um formato ideal para a experimentação, para a síntese e o impulso poético, para
a expressão de ideias que não caberiam ou se perderiam estendidas num filme de
longa duração. O curta pode representar em cinema o mesmo rigor e beleza de um
conto na literatura, e há importantíssimos escritores de contos que nunca
escreveram ou quiseram escrever romances. Guardo comigo a lembrança de alguns
curtas que me tocaram profundamente e que alimentaram minha vontade e
entusiasmo de continuar a fazer cinema, apesar de todas as dificuldades.... e,
sem duvida, fazer cinema é difícil.
Acho que essencialmente o cineasta é um artista, (opinião muito
pessoal)... mas, entendemos que o cinema (como muitas expressões artísticas
hoje em dia) é sobretudo e por natureza uma atividade comercial regida pelas
leis, exigências, limitações e preconceitos do mercado. É muito difícil para o
artista aprender se expressar dentro dessas condições...pois, exige uma
capacidade e persistência extraordinária para seguir adiante nessa floresta
complexa e escura (alguns diriam, nesse deserto!) sem se perder a visão e o
impulso original.
O curta-metragem é um
dos caminhos para aprender essa difícil tarefa.... e como tal tem uma importância
vital para a saúde e maturidade de nossos cineastas e nosso cinema.
Por fim, para concluir... Não penso atualmente em dirigir um
curta, mas, a vontade de realizar um filme - seja do que tamanho, bitola,
ou natureza - é um constante na minha vida, como uma coceira de mordida de carrapato
que não para de coçar.
Adrian
Cooper é fotógrafo
e diretor de arte inglês radicado no Brasil desde 1975, é um dos raros
profissionais de cinema que se alterna entre as duas funções.