Sara é uma das maiores expoentes das artes cênicas do país. É
atriz, produtora e autora. Seu último trabalho é o monólogo ‘Negrinha’,
adaptação baseada no conto de Monteiro Lobato.
O que te faz aceitar participar de
produções em curta-metragem?
Aceitei as oportunidades que me apareceram, como uma boa amante
de cinema ávida por experiências. E vou
entendendo que o curta é como uma capsula que a gente toma, as vezes tão
rápida..e o que conta é a reverberação no corpo.
Entender como aqueles instantes condensados podem marcar
iluminar e comunicar. A experiência, o desafio da síntese, imprimir os
mergulhos verticais em instantes, naqueles pequeninos momentos respirações e
olhares capazes de darem o prisma de toda uma vida... isso para um ator é muito
instigante não é? No ano passado, fiz três curtas tão lindos e tão diferentes!
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e
atenção da mídia em geral?
Tanta
coisa boa produzida no Brasil, tanta sensibilidade. Mas a mídia não esta muito
no compasso da arte, mas da mercadoria, como bem sabemos, naquilo que
pode vender e convenhamos que curta não tem muito apelo comercial.
A prioridade da mídia é a superfície e não a formação cultural de um povo ou seja, está coerente a seus propósitos, infelizmente.
A prioridade da mídia é a superfície e não a formação cultural de um povo ou seja, está coerente a seus propósitos, infelizmente.
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para
atingir mais público?
Fala-se muito que o cinema hoje padece com essa questão da
exibição da obra, tanta coisa produzida de qualidade e tão pouco vista. É fato.
A própria internet hoje é um veiculo tão forte e o curta se adequa ao tempo do
computador, da televisão também, são veículos que não substituem a experiência e o ritual de ver filme no
cinema, mas podem ajudar na difusão! Mas para mim a grande questão não paira só
na exibição, mas na formação de um público interessado. As coisas devem correr
paralelas, mas não podemos olhar para a exibição e distribuição sem olhar com
grandeza para a educação e a cultura.
Os problemas- acho que quase todos residem aí - é na base da pirâmide.
Não na curva final do produto até chegar ao espectador... Mas, na própria
formação dos sujeitos. Daquele que vê atiçar a fogueira do interesse pela arte
em cada um, eis um desafio, porque o lugar da arte é o espelho, momentos de
reflexão, sublimação, momentos fundamentais para a expansão de toda sociedade e
todo ser humano.
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o
curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
È
claro que o curta por suas proporções é um portal para o longa, um convite de
entrada para a empreitada, uma possibilidade de experiência. Mas se ele só for encarado
assim pode ser perigoso do ponto de vista artístico.
A questão gira em torna da inviabilidade deste país em produzir cultura. O descaso e a falta de verba faz com que o curta seja uma escolha muito mais econômica do que artística. O resultado vai revelar essa nossa dificuldade de produção. E o artista não deveria estar submetido a esses imperativos econômicos, sem dúvida.
A questão gira em torna da inviabilidade deste país em produzir cultura. O descaso e a falta de verba faz com que o curta seja uma escolha muito mais econômica do que artística. O resultado vai revelar essa nossa dificuldade de produção. E o artista não deveria estar submetido a esses imperativos econômicos, sem dúvida.
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Voltamos a questão da produção. Se os meios fossem mais simples
muitos artistas optariam pelo curta como opção puramente artística, atento ao
material e a obra. Como a decisão de um
escritor quando opta por um conto ou um romance, um haikai ou uma poesia, são
linguagens e opções estéticas que não deveriam ser hierarquizadas. Fazer um bom
curta deveria ser tão desafiante como fazer um longa.
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Dirigir ? Sou uma atriz-autora, tenho muitas ideias, penso muito
mais em roteiros e argumentos do que na direção propriamente e com tanto
cineasta bom espalhado pelo nosso Brasil... Parcerias sim, quem sabe? Ainda há muito
que se fazer e gosto de portas abertas... e desafios!