quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Georgia Guerra Peixe


Diretora de cinema que lançou recentemente seu documentário ‘O Samba que Mora em Mim’.
 
Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
O Curta-metragem é fundamental para o desenvolvimento do cineasta, para que ele descubra a sua linguagem visual e narrativa antes de entrar no Longa . E na vida do cinema  brasileiro  é ele que  mexe e movimenta, o mercado,  com sua  quantidade de filmes e festivais.  O curta é  prestigiado  no Brasil e visto com muito carinho por muitos formadores de opinião. Hoje com a possibilidade dos novos formatos de captação (vídeos) temos mais e mais filmes interessantes.  E  quando falo de curtas, não falo somente dos 15 minutos tradicionais, falo de 1 minuto, de 3 e 5 minutos , também! Tem espaço para vários formatos e  tempos em  diversos festivais pelo Brasil e mundo.  Cada vez mais por trás dos festivais de curtas estão pessoas interessantes que olham para esse formato com carinho e com a esperança de ver ali uma nova linguagem do cinema Brasileiro. 
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
No meu caso a paixão por filmar. Nesse momento  tenho um grupo de assistentes (15 de diferentes idades e formação) e todos nós estamos realizando nossos curtas. A cada três meses mais um curta é pensado e produzido. Acabei de lançar meu primeiro longa-metragem, porém o meu curta, do grupo, será realizado daqui ha três meses e me preparo para ele.  Aliás, esse ano pretendo fazer  3 curtas: Um de 5 minutos que faz uma sátira ao meu trabalho de documentarista:  entrevistarei um carrinho de supermercado. O outro  é um filme de 5 minutos  que  conta a história de um jovem  romântico e desajeitado  com as mulheres ( esse farei com um dos meus assistentes que é roteirista). E por fim , o último é um exercício para o meu próximo longa que  é  um filme de 15 minutos,  em 35mm ,  que farei para desenhar a linguagem narrativa do longa. Ou seja , por que faço curtas ? Para exercitar a mim e aos meus assistentes. 
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Se você prestar bem a atenção nem os curtas  nem o cinema documental nem de ficção brasileiros,   realizado por pessoas  novas sem  atores famosos, tem pouco espaço na mídia.  A mídia se interessa por tudo que  "renda assunto além do próprio filme", esse é o problema. Quando o filme é o assunto em si e deve ser divulgado por isso. Confesso que tive MUITA sorte com o SAMBA QUE MORA EM MIM. Um documentário, sem com anónimos do morro de Mangueira, sem a Mangueira escola de samba, sem samba e sem música conhecida, contudo teve uma ENORME visibilidade na mídia. Não sei por que mais o filme saiu em vários jornais, revistas e  programas de TV. Fez um enorme barulho. Acho que foi pela linguagem. Acho que foi pelo tema. Não sei. Mas foi inesperado!  A verdade é que  documentário, curtas e  ficção sem pessoas famosas ou assuntos "que rendem assunto além do filme"a mídia tem dificuldade.  Acho que isso está mudando. Ao menos é o que espero. 
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Na minha infância tinha um lance que penso que deveria voltar: antes de qualquer filme de ficção era exibido um curta nos cinemas. Isso era incrível. Acho que hoje seria fundamental para o diretor e a qualidade e a quantidade de filmes (bacanas)  no gênero curta metragem no Brasil é enorme e  temos produção (linda) para exibir e fazer bonito na telona.  Acho que esse seria o caminho. 
 
Outra possibilidade é a TV, acho que a GLOBO, RECORD , SBT e BAND, deveriam ceder  minutos na sua   grade de comerciais , a partir das 22 horas, todos os dias (menos final de semana) , para  que fosse projetado curtas de 1 minuto. Seria incrível. Estaríamos  colocando a arte do  cinema dentro das casas e com o tempo as empresas veriam isso e patrocinariam os filmes  e os diretores   ganhariam um mercado de visibilidade importante.
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Acho difícil por que o próprio diretor aos poucos vai se preparando para o seu longa, para contar histórias de forma mais complexa e com mais profundidade  narrativa.  Mas é possível ser como eu, fazer longa e continuar  realizando curtas. 
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não sinto isso. Sinto que os curtas são vistos com carinho e ao contrário muitos cineastas ficam de olho nas revelações. A partir dos curtas surgem novos olhares, atores, musicas linguagem de montagem e etc... Espero que cada ano que passe eu tenha mais curtas para assistir, pra ajudar a produzir e pra realizar. Quero que os curtas ganhem espaço e assim o cinema brasileiro vai se exercitando e crescendo.