Diretora de cinema que lançou recentemente seu documentário ‘O
Samba que Mora em Mim’.
Qual é a importância histórica
que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
O Curta-metragem é fundamental
para o desenvolvimento do cineasta, para que ele descubra a sua linguagem visual
e narrativa antes de entrar no Longa . E na vida do cinema brasileiro
é ele que mexe e movimenta, o mercado, com sua
quantidade de filmes e festivais. O curta é prestigiado
no Brasil e visto com muito carinho por muitos formadores de opinião.
Hoje com a possibilidade dos novos formatos de captação (vídeos) temos mais e
mais filmes interessantes. E quando falo de curtas, não falo somente
dos 15 minutos tradicionais, falo de 1 minuto, de 3 e 5 minutos , também! Tem
espaço para vários formatos e tempos em diversos festivais pelo
Brasil e mundo. Cada vez mais por trás dos festivais de curtas estão
pessoas interessantes que olham para esse formato com carinho e com a esperança
de ver ali uma nova linguagem do cinema Brasileiro.
O que te faz aceitar
participar de produções em curta-metragem?
No meu caso a paixão por
filmar. Nesse momento tenho um grupo de assistentes (15 de diferentes
idades e formação) e todos nós estamos realizando nossos curtas. A cada três
meses mais um curta é pensado e produzido. Acabei de lançar meu primeiro
longa-metragem, porém o meu curta, do grupo, será realizado daqui ha três meses
e me preparo para ele. Aliás, esse ano pretendo fazer 3 curtas: Um
de 5 minutos que faz uma sátira ao meu trabalho de documentarista:
entrevistarei um carrinho de supermercado. O outro é um filme de 5
minutos que conta a história de um jovem romântico e
desajeitado com as mulheres ( esse farei com um dos meus assistentes que é
roteirista). E por fim , o último é um exercício para o meu próximo longa que
é um filme de 15 minutos, em 35mm , que farei para
desenhar a linguagem narrativa do longa. Ou seja , por que faço curtas ? Para exercitar
a mim e aos meus assistentes.
Por que os curtas não têm
espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Se você prestar bem a atenção
nem os curtas nem o cinema documental nem de ficção brasileiros,
realizado por pessoas novas sem atores famosos, tem pouco espaço na
mídia. A mídia se interessa por tudo que "renda assunto além
do próprio filme", esse é o problema. Quando o filme é o assunto em si e
deve ser divulgado por isso. Confesso que tive MUITA sorte com o SAMBA QUE MORA
EM MIM. Um documentário, sem com anónimos do morro de Mangueira, sem a
Mangueira escola de samba, sem samba e sem música conhecida, contudo teve uma
ENORME visibilidade na mídia. Não sei por que mais o filme saiu em vários
jornais, revistas e programas de TV. Fez um enorme barulho. Acho que foi
pela linguagem. Acho que foi pelo tema. Não sei. Mas foi inesperado! A
verdade é que documentário, curtas e ficção sem pessoas famosas ou
assuntos "que rendem assunto além do filme"a mídia tem dificuldade.
Acho que isso está mudando. Ao menos é o que espero.
Na sua opinião, como deveria
ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Na minha infância tinha um
lance que penso que deveria voltar: antes de qualquer filme de ficção era
exibido um curta nos cinemas. Isso era incrível. Acho que hoje seria
fundamental para o diretor e a qualidade e a quantidade de filmes (bacanas)
no gênero curta metragem no Brasil é enorme e temos produção
(linda) para exibir e fazer bonito na telona. Acho que esse seria o
caminho.
Outra possibilidade é a TV,
acho que a GLOBO, RECORD , SBT e BAND, deveriam ceder minutos na sua
grade de comerciais , a partir das 22 horas, todos os dias (menos final
de semana) , para que fosse projetado curtas de 1 minuto. Seria incrível.
Estaríamos colocando a arte do cinema dentro das casas e com o
tempo as empresas veriam isso e patrocinariam os filmes e
os diretores ganhariam
um mercado de visibilidade importante.
É possível ser um
cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para
fazer um longa...
Acho difícil por que o próprio
diretor aos poucos vai se preparando para o seu longa, para contar histórias de
forma mais complexa e com mais profundidade narrativa. Mas é
possível ser como eu, fazer longa e continuar realizando curtas.
O curta-metragem é
marginalizado entre os próprios cineastas?
Não sinto isso. Sinto que os
curtas são vistos com carinho e ao contrário muitos cineastas ficam de olho nas
revelações. A partir dos curtas surgem novos olhares, atores, musicas linguagem
de montagem e etc... Espero que cada ano que passe eu tenha mais curtas para
assistir, pra ajudar a produzir e pra realizar. Quero que os curtas ganhem
espaço e assim o cinema brasileiro vai se exercitando e crescendo.