Ney
Fernandes
Edição de som, assistente de montagem
Como
surgiu o convite para trabalhar com Os
Trapalhões?
O
primeiro convite foi da Dominique Pâris, para fazer assistência de montagem.
Quem
era Dominique Pâris?
Dominique
Pâris é uma montadora francesa que morava no Brasil.
Antes
de iniciar essa parceria profissional com Os Trapalhões, você
já acompanhava os seus filmes?
Sim.
Os Trapalhões eram
o grande sucesso de bilheteria, e todos queriam trabalhar com eles.
Os
cachês de trabalho com Os
Trapalhões eram maiores, iguais ou menores que os de
outras produções em que você trabalhou?
O
cachê era maior. Podia ser comparado com produção internacional.
Que
representava, naquele período, trabalhar em um filme com Os Trapalhões, que
eram certeza de sucesso de bilheteria?
Representava
o mesmo que trabalhar numa produção internacional.
Seu
primeiro filme com Os Trapalhões
não foi bem com Os Trapalhões. Você
chegou em um momento conturbado da história do quarteto, quando eles se
separaram. Você trabalhou com Renato Aragão em O Trapalhão na Arca de Noé,
que teve direção de Del Rangel. Quais as suas principais recordações desse
trabalho?
A
recordação mais marcante era de muita correria, porque tínhamos que finalizar antes
do filme da DeMuZa.
Todos
na produção do filme O Trapalhão
na Arca de Noé tinham a consciência da
competição que havia com a DeMuZa? Como chegava essa informação até vocês?
Sim,
porque estavam produzindo simultaneamente. As informações chegavam através do
próprio meio de trabalho.
É
verdade que Renato Aragão queria fazer de O Trapalhão na Arca de Noé o
filme da sua vida, para mostrar ao Dedé, Mussum e Zacarias que poderia ter uma
carreira no cinema sem eles?
Creio
que sim.
Como
era o clima no set de
filmagem?
Sobre
isso eu não posso falar, porque não era minha área de atuação. Mas na montagem
e na edição de som o ambiente era muito bom.
O
Renato marcava presença na montagem?
Quando
era possível.
Havia
a possibilidade de Sérgio Mallandro se tornar fixo na trupe dos Trapalhões? Aventaram
essa possibilidade?
Sim,
o Sérgio Mallandro estava começando uma carreira de sucesso.
Logo
depois, você voltou a trabalhar em um filme do Renato Aragão. Mas dessa vez com
todos os integrantes. Foi em A
Filha dos Trapalhões, com direção de Dedé
Santana. Quais as lembranças que tem desse filme?
Era
um ambiente bom, alegre. O Dedé é uma pessoa muito comunicativa e vibrava muito
com o filme.
Em
A Filha dos Trapalhões,
você trabalhou como assistente de edição de som e assistente de montagem. Conte
a respeito disso. Que faz um assistente de edição de som e de montagem?
O
assistente organizava todo o copião. Escrevia em um caderno as sequências, planos
e takes.
Depois sincronizava o som (transcrito para magnético 17/5) com a imagem.
Durante a montagem, guardava as sobras que estavam na banheira (lugar onde
ficavam os cortes de imagem e som). Abria pista para som direto, dublagem,
narração, música, ambientes, fx (efeitos) e fazia o mapa de mixagem.
Dedé
Santana dirigiu esse filme. Como foi o processo de direção dele?
O
Dedé fez uma direção talentosa e segura. Ele teve como assistente de direção Ari
Fernandes, que tinha dirigido o seriado Vigilante
Rodoviário.
Como
foi trabalhar com Dedé Santana na montagem do filme A Filha dos Trapalhões? Ele
entendia do assunto?
Foi
muito tranquilo, porque ele sabia o que queria. Ele entendia do assunto.
Renato
Aragão, Dedé, Mussum e Zacarias tinham como característica a irreverência. Até
nos bastidores das filmagens, eles brincavam muito. Isso procede? As filmagens
eram descontraídas?
Acredito
que sim, mas eu não participava das filmagens.
Como
era o seu contato com o quarteto (Didi, Dedé, Mussum e Zacarias)?
Meu
contato maior foi com Dedé, porque ele foi o diretor de um dos filmes. E foi
muito divertido. Quanto aos outros, meu contato era somente quando tinha dublagem
e era um contato normal, profissional.
Quem
era o maior comediante do grupo?
Mussum.
Seu
último filme com Os Trapalhões
foi em Os Trapalhões no Reino da Fantasia,
também com direção de Dedé Santana. E dessa vez você fez a edição de som. Fale
a respeito desse trabalho.
Foi
meu primeiro trabalho como editor de som. Eu estava muito nervoso com a responsabilidade.
Mas o Dedé me ajudou muito na concepção do som do filme. E, no final, deu tudo
certo. E tornei-me um editor de som.
Por
que esse foi seu último filme com Os
Trapalhões?
Eu
não estou bem certo se foi nessa época que eles passaram a ser produzidos por
outras produtoras, que escolheram outros profissionais.
Renato
Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Sim,
ele, na medida do possível, acompanhava a montagem e edição.
Você
trabalhou em dezenas de filmes, com os maias variados cineastas e estilos, como
Lúcia Murat, Paulo César Sarraceni , Cacá Diegues, Sérgio Bianchi, Walter Lima
Júnior, David Neves, Leon Hirszman, para citar apenas alguns cineastas. O que Os Trapalhões têm de
diferente e de comum com esses cineastas?
A
responsabilidade é o fator igual para todos. A diferenciação está na forma de trabalhar.
Com Os Trapalhões,
tudo era muito divertido, além de sabermos que era sucesso garantido e ganhávamos
muito bem.
Por
que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados
pelos Trapalhões?
Porque
era considerado filme popular.
Como
classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Um cinema alegre,
divertido e popular.
Gostaria
que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha
presenciado como testemunha ocular.
O
futebol, que rolava aos sábados. Jogava o Renato, filhos, amigos e os
funcionários da empresa.