Paulo
Souza
Gaffer de fotografia
Você
trabalhou como gaffer de
fotografia no filme Os Trapalhões
e o Rei do Futebol. Como e em que
circunstância recebeu o convite para trabalhar nesse filme? Como foi a
experiência?
Nesse
filme, eu não fui o gaffer.
Fui chamado pelo produtor do filme, Caíque Ferreira, para fazer as filmagens do
Maracanã, já que era um set enorme
e precisava de várias equipes de eletricistas.
Braço
direito do diretor de fotografia no set
de filmagem, o gaffer é uma função pouco
conhecida para quem não está envolvido diretamente com cinema. Pode nos contar
o que ele faz exatamente?
No
Brasil, a função gaffer começou
basicamente comigo. Até então, chamavase chefe de elétrica. Na década de 1980,
fiz vários filmes estrangeiros e vi que tinha essa função, que era a que eu
exercia no Brasil. A diferença é que o gaffer
é como um diretor de fotografia assistente. Ele ajuda no conceito, entende de
colorimetria, fotometria, lidera toda a equipe de eletricistas e maquinistas,
gelatinas, distribuição de energia elétrica no set.
Falando
especificamente do filme Os
Trapalhões e o Rei do Futebol. Foi um desafio
para você o número excessivo de externas? Como foi trabalhar nas cenas iniciais
(partida de futebol num campo de várzea) e nas finais (no Estádio do Maracanã)?
Posso
falar da parte do Maracanã. Foi muito trabalhoso. Era tudo muito longe. E, como
filmamos à noite e não tínhamos os recursos de hoje, “mundo digital”, tinha
que iluminar quase todo o estádio.
Os Trapalhões e o Rei do Futebol foi
o último filme dirigido por Carlos Manga. Gostaria que falasse a respeito dele.
Não
tive muita intimidade com o Manga. Fiz uns comerciais para a Tigre, aqueles com
o inspetor Ted Tigre. Eu era muito amigo da assistente de direção dele, Marcia
Burg, já falecida. Teve um episódio muito engraçado no primeiro dia no
Maracanã. Estávamos nos preparando para filmar, e as coisas começaram a dar
errado em alguns departamentos no set.
Ele parou a filmagem e chamou toda a equipe no meio do campo e falou: “Vocês estão bons é para trabalhar
com polaroid.”
Nessa
produção, destaque para dois não-atores: Luiza Brunet e Pelé. Qual a sua avaliação
deles no desenvolvimento do filme?
Eu
já havia trabalhado com o Pelé em um filme que ele mesmo produziu: Pedro Mico. Com todo
o respeito, ele como ator foi um ótimo jogador. Quanto à Luiza Brunet... Trabalhei com ela em um
curta-metragem: S. O. S. Brunet!.
Nesse tipo de
filmes, não precisava ser ator; bastava fazer sucesso na mídia.
Que
representava, naquele período, trabalhar em um filme com Os Trapalhões, que
eram certeza de sucesso de bilheteria?
A
equipe não tinha essa visão. 99% eram freelances.
Seu
último filme com Os Trapalhões
é também o último filme deles com a sua formação
tradicional: Uma Escola Atrapalhada.
Como surgiu a oportunidade de trabalhar nesse filme?
Na
época, eu já era um dos melhores gaffers do
Brasil e tinha muitos amigos que iriam fazer o filme e eles me perguntaram se
eu estava afim de fazer. Fiz e adorei. O diretor de fotografia, Walter
Carvalho, eu já conhecia há muito tempo, desde 1983, quando ele foi câmera em Quilombo, filme dirigido por
Cacá Diegues.
Quais
as suas lembranças do filme Uma
Escola Atrapalhada?
Foi muito
divertido fazer. Acho que não tenho nenhuma lembrança específica, com exceção
de uma cena em que quase morreram os quatro. Foi assim: a galera dos efeitos
especiais pediu para o produtor Caíque Ferreira vinte e cinco litros de
gasolina, porque tinha uma cena de explosão do carro. E o Caíque disse: “Nem pensar. Vou dar apenas cinco.”
Assim foi feito. Fomos filmar. O carro estava estacionado, e os quatro passavam
por trás. Quando se acionou o botão do explosivo, foi um cogumelo de fogo que
lambeu tudo e Os Trapalhões foram
parar longe e por pouco não viraram churrasquinho.
Como
foi trabalhar com Del Rangel, que dirigiu esse filme?
O
Del é um cara muito bacana. Gosto muito dele. É um exemplo de profissional e
amigo.
O
filme foi o último com a participação de Zacarias, que faleceu naquele ano. A aparição
dele no filme é melancólica, muito magro, abatido, numa cena curta. Como foi o
seu contato com ele? Ele já estava doente?
Realmente,
ele filmou pouco. Não tive muito contato com ele. Eu tinha mais contato com
Renato e Dedé. Não percebi que o Zacarias estava com problemas. Ele fazia as
cenas numa boa. Conversava com todo mundo.
O
personagem de Zacarias, assim como os de Dedé Santana e Mussum, fizeram apenas
uma breve aparição. A sensação é que pareciam figurantes no filme. Isso
procede?
Não.
Esse filme foi basicamente escrito para a Angélica e o grupo Polegar. Os Trapalhões fizeram uma
participação.
Apesar
do sucesso de bilheteria, o filme é considerado pela crítica o pior filme antes
da morte de Zacarias. Qual é a sua opinião a respeito?
Acho
que esse tipo de filme não tem essa de ser bom ou ruim. São filmes para dar
dinheiro. São filmes comerciais. Veja pelo elenco: grupo Polegar, Gugu, Supla...
Quem
era o maior comediante do grupo?
Renato
e Mussum.
Renato
Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Sim.
Esse é um dos motivos do grande sucesso dos Trapalhões.
Por
que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados
pelos Trapalhões?
Porque
são os únicos que davam bilheteria. Acho que, às vezes, precisamos nos tocar que
ainda somos um país com um nível muito grande de analfabetos e semianalfabetos,
ou seja, povão! E povão quer é sorrir e não ficar vendo filme-cabeça.
Como
classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Chaplim,
Mazzaropi, Oscarito, Grande Otelo, Chico Anysio, Golias, Os Trapalhões... Para
mim, estão todos no mesmo nível, em diferentes épocas.
Gostaria
que falasse o que representou para você trabalhar com Os Trapalhões, que
carregaram, por muito tempo, o cinema nacional nas costas.
Fiz Os Trapalhões e o Rei do Futebol, Uma Escola Atrapalhada,
Didi, o Cupido Trapalhão.
Fico muito feliz de ter participado de um pouco dessa escalada. Um grupo de artistas que fez o Brasil
sorrir por muito tempo. Lembro quando morava em
Minas, eu ainda criança, meus pais sentados em frente à televisão esperando a hora de começar o programa dos Trapalhões.
Passaram-se os anos, e eu aqui
com eles. Não é maravilhoso? E ainda sou amicíssimo do Paulinho Aragão, filho do Renato, que é um cara muito
gente boa.