Oswaldo
Lioi
Cenógrafo
Gostaria
de saber como e em que circunstâncias surgiu o primeiro convite para trabalhar
com o grupo.
Eu
já tinha um encantamento pelo cinema, enquanto era aluno de Anísio Medeiros, grande
diretor de arte de Macunaíma, Dona Flor e Seus Dois
Maridos, Lição de Amor etc.). Eu cursava
Arquitetura e Cenografia; e ele foi o meu grande incentivador, fazendo a
apresentação da primera exposição que fiz como artista plástico pela Funarte.
Em seguida, depois de experimentar o Super-8 e Animação; conheci Tizuka
Yamasaki na Cal, onde fizemos um clipe. E ela me indicou para Yurika Yamasaki,
com quem tive o primeiro contato com longas (o Leila Diniz). E Yurika
logo me convocou para o primeiro filme assinando.
Você
trabalhou em diversas produções do grupo. É um dos poucos profissionais que
possui longa parceria com o quarteto. Quais foram os filmes que mais o marcaram
e por quê?
Com
certeza, o primeiro: Os Fantasmas Trapalhões.
Dirigido por um ícone do cinema brasileiro, J. B. Tanko, esse filme é um delicioso
projeto, que ainda tem Zezé Macedo. Destaco também O Casamento dos Trapalhões e
Os Trapalhões
e a Luz Azul.
Esses dois filmes marcaram pela complexidade das construções em estúdio: como a
cidade tomada de neons e cores; e no Luz Azul,
a grande caverna e a cidade cenográfica, possíveis com imensa pesquisa material
e de soluções nascidas e desenvolvidas ali.
A
que se deve essa longa trajetória com Os
Trapalhões?
Vejo
pelo gosto de trabalhos com e para crianças... E também pela longa parceria com
Yurika Yamasaki.
Renato
Aragão tem como cartacterística o perfeccionismo no seu trabalho. Ele acompanha
todos os detalhes do filme. Como foi trabalhar com ele?
Sempre
um prazer. Nada se compara a trabalhar com e para alguém que sabe como ninguém
aonde quer chegar. Daí, a longevidade.
Como
foi a sua relação de convivência com os quatro atores, durante os períodos de
filmagem?
Inesquecíveis.
Cada qual com seus personagens, eternos clowns...
bem brasileiros e adoráveis, numa relação de extremo profissionalismo,
seriamente palhaços.
Muito
se fala que havia ciúmes entre Os
Trapalhões. Chegou a detectar isso?
Não
vejo dessa forma. O grupo cresceu. Chegaram a fazer filmes separados; mas voltaram
a ficar juntos, depois. Sobrou a dupla Didi e Dedé, e os que se foram não
puderam ser substituídos à altura.
Como
era a convivência com a equipe (técnicos, atores etc.) fora do set de filmagem?
Bastante
profissional na relação, como quaisquer atores/técnicos. O Mussum talvez fosse
bem mais anárquico dentro e fora. Total harmonia.
Você
mantinha contato com eles, após os trabalhos? Fez amizade com algum deles?
Normalmente,
mesmo reencontrando fora, mantinha uma distância. Acho importante preservar
esse espaço profissional.
Por
que os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Pelo
mesmo motivo pelo qual, durante muito tempo, esses filmes e, em geral, todos
aqueles feitos no Brasil para crianças, serem desconsiderados pelos festivais ou
considerados descartáveis ou menores: preconceito tolo. E lembro bem de ter dificuldades
nos anos 1980 de tirar o registro profissional no sindicato, por ter trabalhado
em três filmes dos Trapalhões...
Como
classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Tenho
o maior carinho por esse tipo de cinema. É um cinema único, do anti-herói- atrapalhado.
Uma fatia difícil de se preencher com a frequência que tínhamos. Hoje, o
mercado americano continua preenchendo a lacuna.
Qual
o legado histórico que o cinema dos Trapalhões
deixou para o país?
Acho
bem difícil imaginar cinema no Brasil sem a Comédia, sem Mazzaropi, sem Zezé
Macedo, sem Dercy Gonçalves, sem Didi Mocó e Dedé. Seria como não ter Macunaíma. Eles
ainda são nossos maiores clowns.
Sem eles, essa história não seria completa.
Podemos
considerar Renato Aragão um dos maiores e melhores produtores de cinema do
país?
É
ainda a maior longevidade de produção para criança, talvez única na frequência que
teve. Difícil repetir essa saga.
Os Trapalhões sempre
“brincaram”
em parodiar filmes e clássicos estrangeiros de sucesso para o cinema. Que pensa
a respeito dessa linha que eles seguiram?
A
paródia aos clássicos é uma maneira deliciosa de fazer rir, sem medo, e não só
no cinema. Em Barcelona, existe um Museu Picasso. Lá há somente pinturas de
Pablo Picasso, parodiando os quadros clássicos e dos amigos, uma verdadeira
aula de bom humor.