Marco é designer e cineasta. ‘Cet Été’ é um curta de três minutos onde o artista fez o roteiro, a animação, a produção, montagem e direção.
Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Acredito que o curta-metragem sempre foi uma saída para quem quer produzir porém não possuí muitos recursos, o que é o caso da maioria dos cineastas e videoartistas brasileiros. Essa escassez de recursos, na minha opinião, apesar de triste, pode se tornar interessante à medida em que força os realizadores a adaptarem sua linguagem, tentando conciliar os meios de produção à suas idéias e tornar isso o mais coerente e coeso possível. E é isso que por muitos anos foi a identidade do cinema nacional, o abandono de quaisquer técnicas complexas e caras de produção e a valorização do conteúdo.
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Ter espaço para crítica em jornais e receber atenção da mídia em geral são duas coisas de certo modo diferentes. Muita arte que pode até ser considerada de vanguarda têm espaço para críticas em jornais; não acontece tanto quanto gostaríamos, na verdade, bem menos do que gostaríamos; e a vanguarda que consegue aparecer não é tão vanguardista também. Mas pela pretensão de alguns jornais em terem cadernos voltados para um público mais intelectual, acho que não seria difícil conseguir espaço para tal, também porque essa pretensão independe do gosto e das preferências do grande público.
Já receber atenção da mídia em um âmbito maior, que se dirija à um público não tão segmentado, é muito mais complicado, pois a princípio a maioria da audiência não tem interesse em curtas-metragens. Acredito que até gostariam se vissem algum depois da novela das oito, mas quem irá convencer uma pessoa arriscada a perder milhões de reais em publicidade? Atualmente o maior veículo é mesmo a internet, muito eficiente em veicular as produções para todos que se interessam por cinema, porém incapaz de alcançar pessoas fora desse público segmentado.
Um outro aspecto que também ainda não é muito visto no curta metragem é usá-lo como publicidade. Não estampando um logo no final, nem fazendo merchandising durante, mas apenas ligando a identidade de uma marca ao curta. Um bom exemplo é o ‘I'm Here’, do Spike Jonze, que foi bancado pela Absolut Vodka, e cujo enredo não tenta vender, nem lembra em nenhum momento a marca. Um dos grandes problemas de qualquer forma de arte no Brasil é a falta de interesse da iniciativa privada em patrocinar artistas, projetos e eventos. Depende-se muito de editais, que acabam por homogeneizar as obras devido ao processo de seleção aplicado ser sempre o mesmo. Adoro curtas-metragens, assisto muitos; mas sempre que aparece um logo de lei de incentivo nos créditos iniciais eu já sei que vai ser apenas mais um. Não vai haver nada de experimental nem inovador, muito menos alguma acidez crítica no conteúdo. Insistir em usar sempre a mesma linguagem, e um conteúdo que em 10 minutos não se diferencia dos restantes é o que causa a falta de empatia de muitas pessoas por curtas-metragens.
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Na minha opinião o espaço mais viável seria nas salas de cinema. Não existe nenhuma empresa grande, como Kinoplex ou Cinemark que veicule curtas-metragens no começo das sessões. Seria um grande atrativo para o público e um espaço para se divulgar as produções.
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Curtas-metragens são uma forma muito mais flexível, e aberta a mais experimentações do que o longa. E não acho que realizá-los seja tarefa apenas de cineastas, e diga-se de passagem os mais interessantes que eu já vi não eram feitos por cineastas. É uma forma de um indivíduo começar a se vender como diretor, mas também é uma forma de se fazer experimentações e de se produzir pelo simples prazer em se fazer isso. Alguns encaram como treino, ou um meio até atingir um estágio "maior". Acho que esse é um dos grandes fatores que os torna iguais. Pensar em um curta como um longa, porém de menor duração, é um erro. Isso impede o indivíduo de usar o formato da maneira mais experimental e diferente que ele consiga. O resultado final são trechos de um enredo que não se explica direito, não diz de onde veio nem pra onde vai.
O curta-metragem precisa ser encarado como um formato consolidado, e não com pretensão de se tornar outro. A impressão que tenho é como se o diretor tivesse a vontade de fazer um longa, mas como não tem recursos faz um curta. Para esses, o curta metragem será apenas um treino, e não uma forma final de expressão. Não deveria ser encarado como um desafio de como se espremer um roteiro que deveria ter 90 minutos em 10.
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Nunca ouvi nada do tipo. Pelo contrário, acho que todos dão valor. Todo cineasta que se preze já fez um curta!
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Meus "curtas" tem um caráter mais experimental, envolvendo, design e computação gráfica. Um curta com um enredo comum, uma história linear... talvez.