Em que
momento da sua vida você descobriu o interesse pela carreira artistica?
No colégio, dizendo poesia num grupo que criamos.
Chegou a capitular?
Não
capitulei, mas já saí de um trabalho.
Você se
graduou em Artes Dramáticas pela Unirio. Qual a importância na graduação para o
desenvolvimento do ator?
São 4 anos
em que o ator tem noções de todos os elementos que se relacionam ao oficio de
interpretar: corpo, voz, história do teatro e teorias teatrais.
Seu primeiro
trabalho profissional foi com o Flávio Rangel, no espetáculo ‘Amadeus’. Isso
foi em 1982. Quais as lembranças desse trabalho.
Trabalhar
com o mestre Flávio me deu a oportunidade de aprender como uma produção
profissional se dá. Observar o processo da produção. Fazia um dos criados da
corte, sem falas e contra-regragem . Observei a criação da iluminação, que
Flávio dominava divinamente. O respeito e admiração que êle tinha e recebia de
volta dos técnicos. A importância de um bom cenotécnico. Da direção de cena. Da
disciplina que tínhamos que ter, incluindo tabela por algum descuido. O texto
que Flávio escrevia, antes da estreia agradecendo a todos que participaram do
processo E, numa tarde um ator teve um problema pessoal que o impediu de fazer
a vesperal. Raul Cortez, que também produzia o espetáculo, consultou Flávio, me
chamou no camarim e disse:- João, você tem que fazer o papel do imperador hoje.
Gelei mas lá estava eu me apertando no figurino. Labanca descolou um sapato que
tinha em casa como acervo, do tamanho do meu pé. Me "enfiei" nas
cenas que estavam no texto e quando vi, já estava entrando em cena e cumpri até
o fim a tarefa. Essa beleza de uma equipe que tem paixão e respeito pelo
trabalho e pelo público que já tinha comprado os ingressos foi uma lição que
trago comigo até hoje. É o famoso: o show não pode parar.
‘Aracy de Almeida, no
País de Araça’, texto e direção de Eduardo
Wotzik, foi um dos primeiros espetáculos a homenagear nomes expressivos da
nossa cultura popular. Comente sobre esse trabalho.
"Aracy
de Almeida, no país de Araca" foi uma experiência excelente. Eduardo
escreveu e dirigiu e muito emocionante o espetáculo.
‘U! Madureza e Omelete’, texto e
direção de Hamilton Vaz Pereira. Quais as recordações dessa comédia?
‘U!Madureza’ foi uma leitura dramatizada que realizamos a partir de
oficinas com Hamilton. Fizemos 6 apresentações no Teatro Glória. Me colocou em
contato com o universo de Hamilton. Eu protagonizava e a turma era de primeira.
Sinto não termos seguido carreira mais longa. Já, em ‘Omelete’ substitui
Eduardo Lago para a temporada de São Paulo. O espetáculo foi um sucesso
absoluto. Infelizmente sofri um acidente em cena e tive que sair. Eduardo
voltou. Até hoje eu agradeço pelo fato de ter sido num domingo o acidente. Fiz
o terço final da peça pulando num pé só.
Pela participação na campanha publicitária do
Unibanco, você ganhou projeção nacional. Ela foi dirigida pelo cineasta João
Moreira Salles. Quais as dores e as delicias de protagonizar campanhas como
aquela? Não teve receio de ficar estigmatizado?
Foi delicioso. Fiz um teste muito rigoroso e passei. João tem uma
sensibilidade extraordinária. O público amava e ser "marido" de Drica
foi uma das experiências mais intensas de cumplicidade e empatia cênica. Ela é
divina. O medo de estigmatização sempre ocorre, mas na época fui eu que optei
por me dedicar apenas a campanha.
Protagonizar uma campanha publicitária ajuda
também a equilibrar as contas. Muitos acreditam que a vida de um artista,
principalmente aqueles que trabalham na Rede Globo, é de glamour. Atualmente,
como é o seu dia-a-dia, você vai embusca de trabalho ou eles aparecem?
Considero que todo trabalho profissional tem que ter retorno financeiro.
Claro que o mercado está sobrecarregado e principalmente no teatro, penso que
temos que discutir e ficar atentos aos procedimentos de captação de patrocínios
e também de como o governo pode paternalizar e tirar proveito do nosso oficio
nos deixando com pouca chance de termos lucro. Quanto ao glamour me agrada mais
a palavra lúdica, já que nos expomos, somos instrumentos de uma linguagem
subjetiva, que lida com o inconsciente, com a alma, com os mistérios internos
da condição humana. Agora, se glamour significar reconhecimento do feito tudo
bem. Mas é uma profissão que deve nos sustentar como qualquer outra. Hoje em
dia, vou em busca e também sou convidado.
Mas,
coincidentemente, enquanto você estava no ar nesse comercial, não rolaram
chances na tevê. Teve alguma relação? Isso aconteceu só com você ou com a Drica
Moraes, sua companheira nesse trabalho?
Quanto à pergunta sobre
a Drica prefiro não falar por outro colega. Na pergunta sobre obras que saí
prefiro não falar sobre.
Com Maria Gladys em "Aracy de Almeida no País de Araca".
Grande parte da sua carreira é marcada por
papéis voltados para a comédia. Qual a razão disso?
Um velho
palhaço me disse uma vez, ao me ouvir ensaiando o espetáculo "Quem matou o
leão?" que eu tinha diapasão de palhaço. Me senti profundamente honrado.
Mas quero fazer mais drama e mesmo uma tragédia.
Seu personagem Gildo, de ‘Um Anjo Caiu do Céu’ foi o seu grande papel da televisão?
O Gildo foi um papel que me deu muito prazer. Está na galeria dos meus
favoritos.
Na Rede Globo você também trabalhou no ‘Zorra
Total’, em alguns episódios do ‘Você Decide’ e miniséries. Essa variedade de
trabalhos foram uma circunstância que criou?
A Rede Globo me deu oportunidade de navegar por vários gêneros. Não se
deve negligenciar nenhum.
Já chegou a recusar trabalhos?
Sim. Já recusei trabalhos.
Como analisa a nossa atual produção audiovisual?
Nossa
produção áudio visual vai de vento em popa. A televisão brasileira está entre
as melhores do mundo e o cinema tem grandes realizadores. Novos diretores
surgem com tudo! Quanto mais patrocínio melhor. Que venham!!!!!!
Seu primeiro trabalho
em telenovelas foi em ‘Vale Tudo’, considerada por muitos como a melhor já
produzida até hoje. Onde essa novela foi filmada? Como recebeu o convite para
atuar nessa produção?
Vale Tudo é
uma novela magnifica. Meu primeiro trabalho na TV. Tem a qualidade de ser
eterna, no sentido de que a função da arte é questionar o status quo e isso a
novela cumpriu belamente. Quanto ao Reginaldo Farias ele foi muito generoso
comigo. Me deu dicas como o uso do olho para a câmera. O olhar, que pele lente
fica muito mais aproximado literalmente pelas lentes. Um colega que tenho muito
à agradecer! Compus o personagem Freitas como costumo fazer: criando uma
história do passado do personagem e usando de intuição, que considero 50 por
cento da receita. Nada é fácil, tanto na vida quanto na arte. Na sua realização tendo como
objetivo o produto final. Compor uma personagem tem a ver com tudo isso.
Entender a história do Homem. Observar, sempre. Usar a intuição. Se possível
ler os teóricos do teatro. E praticar é mesmo a melhor escola. Nunca paramos de
aprender.
Seu personagem Freitas cresceu á medida que a novela ia chegando ao fim, como compôs esse
personagem? Acompanhou a repercussão da reexibição de ‘Vale Tudo’? Por que ela
ainda gera tanta audiência? ‘Vale Tudo’ é um soco no estômago do Brasil, dos
brasileiros. Sua temática continua atual e ao que tudo indica, continuará por
muito tempo, concorda? Em algumas entrevistas você mencionou a importância do Reginaldo
Faria nesse trabalho em ‘Vale Tudo’. Pode nos relatar como foi essa parceria?
Vale Tudo
será eterna porque é uma boa novela. A vida é um soco no estomago mas é bela
também. Reginaldo foi um colega generoso nessa obra. Foi minha primeira novela
e ele me deu conselhos e exemplo. Tivemos uma parceria legal. Burocracia é
chata, mas se quisermos produzir, seja com incentivo do Estado ou da iniciativa
privada temos que encará-la. Estudar teatro é importante mas sem talento não
adianta.
Outra produção marcante da TV é ‘A História de
Ana Raio e Zé Trovão’, onde interpreta Tavinho Goiabada. Como foi trabalhar
nessa produção que incomodou tanto a Rede Globo?
Quanto a
"Ana Raio..." foi uma experiência fascinante. O super Jaime liderando
uma verdadeira caravana pelo Brasil. Gostei muito de fazer o Tavinho. Trabalhar
com o sotaque, com o universo do interiorzão do país. Penso que a concorrência
é muito saudável. Uma emissora ameaçando a outra. Faz o mercado ficar
"apimentado" e abre campo de trabalho para os profissionais do ramo.
Com Maria Paula, Iris Bustamante e Lena Brito.
Como surgiu o convite para trabalhar na TV Record? É
verdade que você, com tantos trabalhos no currículo, teve que fazer teste para
ingressar na novela ‘Bela, a Feia’
Quanto ao fato de ter feito teste é verdade. Fui convidado e fiz o teste
de imagem para o personagem Haroldo Palhares. Daí, "Bela..."
A disciplina e a paciência são fundamentais para se
construir uma trajetória de sucesso na vida artística?
Quanto a
disciplina e paciência são fundamentais. Um binômio no qual me amparo também é
foco-relaxamento.
‘Carlota Joaquina, Princesa do Brazil’ foi considerado o
filme que marcou a retomada do cinema brasileiro. Você participou dessa
produção, foi o seu primeiro trabalho em cinema. Como foi isso?
Quanto ao cinema, cresceu muito a produção depois do período negro da
ditadura. Panelas sempre existiram, mas penso que também tem a ver com um
mercado sobrecarregado. Poucas produções em relação aos talentos que temos.
Gostaria de ter mais oportunidades no cinema. Fiz muito pouco. Em Carlota
Joaquina fiz um papel pequeno, mas me agradou o resultado.
De 1994 para cá o que mudou no cinema nacional?
Quanto ao cinema
nacional me parece que a melhora tem a ver com a democracia em contraponto a
ditadura que vivemos no Brasil.
O cinema
é a área onde sua participação é mais tímida. Muitos atores consideram que há
uma “panela”. O cinema é para poucos, isso é fato?
Quanto as panelas,
existem, mas é um termo pejorativo. Prefiro o conceito de que os grupos se
formam também pela confiança, e pelo talento de ambas as partes. O afetivo
também conta e muito. Penso que devemos reclamar menos e realizar mais.
Você têm se destacado como
produtor teatral. Primeiro, com o ‘Fui’, junto com o Roberto Bataglin. Depois produziu e também
dirigiu ‘O Filho da Mãe’, da
Regiana Antonini. Como é esse exercício?
O Bataglin
me animou para produzir. Agradeço muito a ele. Acho que todos os atores
deveriam se aventurar na produção. É uma pedreira mas a sensação de ter
escolhido a obra e vê-la montada é de um prazer inigualável. Dirigir foi uma
nova escola para mim. Me fez valorizar mais o oficio ao ver de fora os atores
se empenhando no processo.
Como é
lidar com a burocracia que muitas vezes na está na natureza da alma do artista?
Quanto a
pergunta da burocracia, é algo que requer também muita paciência e gostaria de
citar a diretora de produção, Edda Taranto, fundamental para que a tivesse
êxito a realização de "O Filho da Mãe". Nada é fácil, tanto na vida quanto na
arte. Na sua realização tendo como objetivo o produto final.