Rossana, sabemos que nasceu na Itália e veio ao Brasil
com apenas sete anos. O que não sabemos é por que e em que circustância veio
para cá?
Toda a família veio migrada, a
pedido do meu cunhado casado com minha irmã mais velha.
Seu inicio na carreira artistica foi como
garota-propaganda. Quais as recordações desse período?
As recordações são de carinho e
saudades das pessoas que foram importantes na minha carreira.
No seu currículo consta também trabalhos com fotonovelas,
que muitas pessoas desta geração não fazem ideia nem do que seja. Como foi esse
trabalho?
Fazer fotonovelas era um trabalho
divertido e prazeroso, a diferença era na interpretação, tinha que chegar ao
ideal e congelar a pose.
Durante um ano você foi modelo profissional da agência McCan
Ericsson. Nesse momento você vislumbrava a possibilidade de ser
atriz ou estava realizada como modelo?
Na verdade as coisas foram acontecendo naturalmente, o Vitor Lima, o primeiro
diretor com o qual trabalhei como atriz, me viu fazendo uma apresentação de uma
dança num filme americano rodado no Rio(Las Vegas a Noite) e de imediato me
contratou para estrelar 3 filmes: ‘Paraíba, Vida e Morte de um Bandido’; ‘Patas
Assassinas’ e; ‘007 no Carnaval’.
Aí não parei mais.
Esse trabalho na McCan Ericsson foi logo após ter ganho o
concurso de Miss Objetiva?
O trabalho na McCanEricsson, foi muito bom, fui contratada por um ano de
exclusividade, para ser modelo das grandes campanhas publicitarias, e para
apresentar um programa infantil na extinta TV Rio que se chamava agarre o que
puder, que era patrocinado por uma marca de creme dental, eu era muito jovem, não
tinha noção de responsabilidade, e este trabalho me deu a consciência
profissional que me faltava.
Como lidava com a sua beleza nesse período?
Eu não tinha noção de que era
bonita, então nunca usei a beleza como arma para conquistar espaço de qualquer
natureza.
Sua estreia no cinema foi em 1966 com o filme "Paraíba,
Vida e Morte de um Bandido". O que lembra deste trabalho?
Lembro que VITOR LIMA foi um grande mestre, me ensinando com a maior paciência,
e também da bofetada que Jece Valadão me deu numa cena que abriu um corte nos
meus lábios, ficando 3 dias com a boca inchada.
Imaginava que em "Paraíba,
Vida e Morte de um Bandido" você estava iniciando uma
trajetória que contaria com mais de quarenta filmes?
Não, claro que não, sabia que era o que eu queria continuar fazendo ate
morrer, até agora foram 57 filmes, mas pretendo fazer pelo menos mais 100.
A década de 70 foi a mais proficua, você fez um filme
atrás do outro em produções nacionais e em co-produções. O que a década de 70
lhe traz de recordação?
Eu acredito que foi a década mais rica do cinema nacional, também foi a
época mais glamorosa, com grandes festivais internacionais comandados por
DURVAL GARCIA , então presidente do INC e da Embrafilmes, trazendo para abrilhantar
a festa ,grandes nomes do cinema mundial, como URSULA ANDRIOX, RAFF VALONE
,ROGER MURR, RACHEL WELH, TONY CUTRS mais os diretores VON STERNBERG e outros tantos.
Sua participação no teatro, se comparada ao cinema, é
tímida. Quais as razões disso?
Nenhuma razão especifica só falta de tempo, mas estou corrigindo isto
agora, com u belo projeto para teatro que se chama (UM MERGULHO NO UNIVERSO DA
LEILAH ASSUPCAO).
"A Úlcera de
Ouro" e "Cinderela
do Petróleo", foram duas peças de teatro que atuou. Conte-nos
sobre elas.
Foram musicais maravilhosos, que me deram uma grande experiência de
movimento cênico, também tive o privilégio de ser dirigida por diretores
fantásticos, como LEU JUSE e JOAO BITENCOUERT, ainda tem o grande prazer de ter
contracenado com monstro sagrados do teatro brasileiro.
Você também estrelou shows produzidos por Carlos Machado. Como eram esses shows?
CARLOS MACHADO era o rei das noites carioca, montava shows grandiosos, com
cenários e figurinos deslumbrantes, foi uma época maravilhosa, e estar em cena com IRENE
RAVACHE, GRANDE OTELO, ARI FONTOURA e outros de igual valor e inesquecível.
Maurice Capovila, Anselmo Duarte , Alfredo
Sternheim Ody Fraga, Cláudio Cunha e Fauzi Mansur foram alguns dos diretores
que você trabalhou. Como é, para uma
atriz, de “adequar” a temperamentos, personalidades e dinâmicas de trabalhos
tão distintas?
Trabalhar com todos esses diretores maravilhosos, foi o que me
enriqueceu como atriz, eles tiveram muito a me ensinar, eu garanto foi uma experiência
e um aprendizado que nenhuma faculdade de belas artes pode proporcionar.
Em 1970, você integra a galeria de musas de Khouri
em ´Palácio dos Anjos´, onde divide a cena com Adriana Prieto, Norma Bengell e
Joana Fomm – dez anos depois, volta a trabalhar com o cineasta no ´Convite ao
Prazer´. Como era a sua relação pessoal e profissional com o cineasta, tido
como um dos mais exigentes?
WALTER HUGO KHOURI, era um gênio do nosso cinema, além de entender de
uma produção, era extremamente culto, e tinha a magia de tratar as suas musas
como verdadeiras estrelas. Minha relação com Walter sempre foi maravilhosa,
porque havia respeito e admiração de ambas as partes, quando em cena eu era disciplinada
e cumpridora das minhas obrigações como atriz, e fora de cena éramos grandes
amigos.
Os anos 80 no Cinema nacional seriam marcados,
sobretudo, pela profícua produção das comédias eróticas – as chamadas
pornochanchadas. E você se tornou uma de suas maiores musas. Como lidava com
esses títulos? Como era trabalhar nas pornochanchadas?
A pornochanchada como foi apelidado o gênero, (injustamente na minha opinião)
era um gênero de filmes alegres, divertido, porquê tratavam o
cotidiano do brasileiro, principalmente o carioca, com toda a sua malandragem e
jeitinho, mas eram, também tremendamente ingênuos,
como já tinha a TV, era preciso arrancar de casa o expectador, então o cinema
tinha que mostrar o que a televisão não
podia na época, nada mais atraente para os machões brasileiros do que lindas
mulheres seminuas em cena picantes, eróticas
cheias de tesão. Os donos dos cinemas riam de orelha a orelha, porque os cinemas
viviam lotados, em todas as sessões.
Um dos seus principais trabalhos nessa época foi no
filme ´Lucíola, o Anjo Pecador`, de Alfredo Sternheim, caprichada produção de época (final do séc. 19) baseada
no romance de José de Alencar. Quais as recordações desse
trabalho?
Era um desafio, ter que falar o português da época, a postura, os
cabelos, e tudo o mais que compõem uma personagem. As recordações são as mais
positivas, principalmente no que se refere ao trabalho, o Alfredo é um diretor
maravilhoso, com seu carinho e atenção me ajudou a compor uma Luciola sensível e inesquecível.
Era diferente compor uma personagem para trabalhos
nesse gênero?
Sim, e diferente, por se tratar de uma época que não foi
vivenciada, requer mais pesquisa, para não erar, ai entra o trabalho do
diretor, dosar as pinceladas para não exagerar nas cores.
Em “Carnaval Barra
Limpa”, você trabalha com J. B. Tanko, o que tem a falar do diretor?
As melhores referencias, um diretor maravilhoso em tudo que fazia, além
de inteligente era gentil e educadíssimo, guardo em minha memoria as melhores lembranças.
Você participou do
ambicioso “Quelé do Pajeú”, de Anselmo Duarte, primeiro filme brasileiro rodado
em 70mm, mas que não obteve o sucesso esperado. Hoje, depois desse hiato, o que
acha que aconteceu para o filme não “vingar”?
Participar da produção do único filme brasileiro rodado em 70mm, foi uma
grande honra, o filme foi produzido pela Columbia em coprodução com uma empresa
brasileira, por alguma razão que desconheço, os produtores em algum momento discordaram,
no que resultou que a Columbia se apoderou dos negativos não deixando no Brasil
nem uma cópia em 16mm.
Mas discordo de que o filme não tenha vingado, ele foi distribuído no
mundo inteiro, também foi ele que representou o Brasil em grandes festivais,
como Nova Delhi, onde eu e Rui Pereira da Silva (um dos produtores brasileiros)
fomos recebidos com todas as horas e pompa, por ninguém menos que Indira Gandi
e toda a cúpula do governo, e mais o filme concorreu em igualdade com grandes
diretores internacional como Pasolini é etc.
Muitos críticos
consideram que as suas melhores interpretações foram nos dramas “Pureza
Proibida”, como uma freira acusada de manter relações sexuais com um pescador
negro e “Lucíola, O Anjo Pecador”; na comédia de humor negro “O Vampiro de
Copacabana”, de Xavier de Oliveira e em “Snuff, Vitimas do Prazer”, de Cláudio
Cunha. Você concorda com essas análises?
Pureza Proibida foi o 1* filme que eu produzi é interpretei, e os outros
dois foram como é de minha natureza trabalhos que fiz com muita seriedade, mas
devo dizer que na minha galeria de personagens maravilhosos, a critica se
esqueceu de filmes como ANA TERRA / BEBEL /MEMORIAS DE UM GIGOLO, E tantos
outros que parece a critica não viu, pena.
“O Inseto do Amor”, de Fauzi Mansur, uma das
mais surrealistas comédias eróticas da Boca. O elenco feminino desse filme é
uma atração à parte: além de você tem Angelina Muniz, Helena Ramos, Zélia
Diniz, Ana Maria Kreisler, Claudette Joubert, Liza Vieira, Alvamar Taddei,
Misaki Tanaka etc., todas tendo seus belos bumbuns devidamente picados pelo
mosquito Anophelis Sexualis. Um verdadeiro clássico!!! Pode nos contar sobre
essa produção?
Fauzi é um diretor, que merece toda a minha admiração, sempre
correto e atencioso, gostei de trabalhar com ele, conseguiu, em um único filme
reunir tantas estrelas, que elas nem se deram conta que a verdadeira estrela do
filme era o mosquito.
Com o sexo explícito dominando totalmente a produção de filmes da Boca do Lixo,
você, assim como muitas outras atrizes, abandonou o cinema. O que tem a falar
desse período?
Eu tenho certeza que para a maioria dos profissionais, foi um período
triste, o que todos queriam era trabalhar em filmes maravilhosos, que divertissem
o publico, que as famílias pudessem se divertir juntas. O sexo explicito foi
uma deformação da cabeça de alguns diretores malucos, que acabaram confundindo
as coisas não tenho nada contra que faz, mas fazer comedia erótica é uma coisa,
fazer pornô e outra completamente diferente,
cada gênero tem seu espaço. Eu não abandonei o cinema, mesmo porque trabalhar
com arte é a única profissão que tenho, foi o cinema que por um longo período
me deixou de lado.
Quais as razão que a fizeram se afastar das telas
no final dos anos 90?
Bom: tenho certeza que a maioria dos profissionais da indústria
cinematográfica, involuntariamente claro, teve que parar de fazer cinema e dedicar
o seu tempo a outras áreas da arte, como TV, teatro ou documentários até mesmo
publicidade, com a chegada de Collor à presidência, todas as portas foram
fechadas, a Embrafilme, o INC, e ate as distribuidoras que eram parceiras dos
produtores, a maioria fechou as portas, o cinema ficou órfão até que se criasse
um novo modelo, que é o que permanece ate hoje, espero que continue.
Você tem uma produtora de filmes, a Verona Filmes,
que produziu seu último filme “Adágio ao Sol”. Como é o seu trabalho na
empresa?
Além de ser sócia, dirijo a empresa.
Sente falta de trabalhos como atriz?
Muito, o trabalho de atriz me da grande prazer, a vida seria muito
triste se não pudesse mais trabalhar.
É reconhecida nas ruas? Se sim, qual é o perfil das
pessoas que te reconhecem?
Por incrível que possa parecer as pessoas ainda me reconhecem, recebo
varias mensagens pelo Facebook, a maioria de jovens que viram os meus filmes no
Canal Brasil, e também muitos da minha geração.
Para finalizar, gostaria de saber como é o seu dia
a dia.
O meu dia a dia, esta longe de ser o que as pessoas imaginam, levo uma
vida igual a todo mortal, vou a academia, cuido da casa e também da empresa, além
de ter tempo para a família e os amigos.
Agora estou empenhada num projeto teatral, que se chama (UM MERGULHO NO
UNIVERSO DE LEILAH ASSUPCÃO) vamos fazer 10 leituras dramatizadas das pecas que
já foram publicadas, com galeria de fotos, e encenar RODA COR DE RODA.