sexta-feira, 7 de junho de 2013

Claudio Cavalcanti

Ator, diretor de TV, produtor teatral, escritor, tradutor, cantor, dublador, radialista e político. Falta mencionar mais alguma coisa?
(Só uma correção: em televisão é o cortador que é denominado, “diretor de TV”. Quem dirige os atores e as cenas é apenas “diretor”. então o melhor seria dizer: ator, diretor de teatro e de televisão, etc.) Só faltou mencionar “letrista”. Tenho letras gravadas por Martinho da Vila (Diz que Tamos) e Ângela Maria (gosto do passado). Aliás, adoro escrever letras para musicas. Tenho umas 20 na gaveta.
 
A que se deve tantas funções na sua trajetória profissional?
Às oportunidades que foram surgindo e à minha imensa vontade de explorar campos novos, arriscar.
 
Como foi o inicio da sua carreira no Teatro Brasileiro de Comédias (TBC)? Foi ali que você conheceu e atuou ao lado de Nathália Timberg, Sérgio Britto e Fernanda Montenegro?
Eu tive muita sorte. Quando comecei a ensaiar minha peca de estreia, “Nossa Vida com Papai”, o espetáculo que estava em cartaz no TBC (Teatro Brasileiro de Comédia) era “A Casa da Chá do Luar de Agosto” . Dessa forma eu tive a oportunidade de conviver com Ítalo Rossi, Milton Moraes, Maria Helena Dias , Fernando Torres, Fabio Sabag, além de Nathalia, Sergio , Fernanda e Fregolente , que ensaiavam comigo. Os ensaios começaram em setembro e estreamos em dezembro. E já em dezembro estreei em televisão no “Vesperal Trol”, dirigido pelo Sabag e no “Grande Teatro Tupi” dirigido por Fernando Torres, Flávio Rangel e Sérgio Britto . Foi assim que em dois meses eu conheci praticamente todos os atores do Rio de Janeiro.
 
No seu currículo são 41 peças, 39 novelas e 35 filmes. É possível destacar os maiores trabalhos?
 
Acho que são mais.
 
Quanto aos destaques:
 
Novelas: Véu de Noiva, Irmãos Coragem, Água Viva, Roque Santeiro e A Viagem. Fora as minhas prediletas: O Feijao e O Sonho e Maria Maria.
 
Teatro: O Bem Amado (de Neil Simon), Era Uma vez nos Anos 50, Disque M para Matar, Obrigado pelo Amor de Vocês e Freud e o Visitante.
 
Cinema: Contos Eróticos (Joaquim Pedro de Andrade), A Cama ao Alcance de Todos (Daniel Filho), e os grandes sucessos populares: Memórias de um Gigolô e Ascensão e Queda de um Paquera.

 
 
Há um claro equilíbrio de trabalhos nas três áreas – teatro, televisão e cinema. Isso foi proposital ou os convites se encarregaram disso?
Nada foi proposital na minha vida. As coisas acontecem.
 
Quais as suas principais recordações da telenovela ‘Irmãos Coragem’?
Eu teria que ocupar todo o seu espaço para começar a responder a essa pergunta.Sintetizando: foi um fenômeno. 328 capítulos durante os quais lancei meu primeiro livro, gravei meu primeiro disco e fiz shows em estádios lotados. Inclusive no Maracanazinho.
 
‘Pai Herói’ e ‘Dona Xepa’, estão na galeria de grandes trabalhos realizados?
Dona Xepa foi um trabalho simpático, Pai Herói eu adorei fazer pelo fato de ser uma coisa inteiramente nova para mim. Eu nunca tinha desmunhecado e foi um sucesso. Da minha casa eu ouvia as gargalhadas dos vizinhos. Ai percebi: não é a minha rua que esta rindo comigo. É a cidade. É o país.
 
Recentemente foi reprisada a telenovela ‘Roque Santeiro’. Como surgiu o convite para atuar nessa produção? Você estava escalado já na primeira versão, que foi censurada pela Ditadura?
Não, não estava escalado na primeira versão ate porque não existia o padre albano na primeira versão. Foi mais um grande papel que caiu no meu colo, escrito por Aguinaldo Silva. De repente, devido à polemica do celibato eu me vi capa de ‘Veja’, enfim, revistas que não abordavam televisão.
 
Em ‘Roque Santeiro’ você interpreta um padre comunista. O papel de padre apareceu outras vezes para você atuar. Qual é a razão disso?
Que eu me lembre só fiz mais um. O cardeal na minissérie O Padre Cicero.
 
Outra característica marcante na sua carreira é a extensiva galeria de papéis de bom moço. Seu tipo físico, timbre de voz e postura sugerem esse tipo de personagem?
Realmente não sei. Devem sugerir.
 
Em Teatro protagonizou ‘Era Uma Vez nos Anos Cinquenta’ (Troféu Mambembe de melhor ator). Quais as lembranças desse trabalho?
Todas maravilhosas e inesquecíveis. Sou amigo do Domingos desde 1959 e sempre trabalhamos muito sintonizados.
 
O que os prêmios representam para você? O que faz com eles?
Para dizer a verdade não ligo muito para prêmios. Sei que a maioria se deve a marketing. Mas, é claro, guardo todos com muito carinho. Afinal, são um reconhecimento de trabalho.

 
‘Disque M para Matar’, ‘Estou Amando Loucamente’, ‘A Primeira Valsa’, ‘Freud e o Visitante’, são algumas das peças que você atuou. O que é o teatro para você?
Disque M foi minha primeira direção em teatro e um trabalho muito ousado . Eu também era o protagonista e tinha monólogos de vinte e oito minutos. Além disso era uma encenação com efeitos especiais que adorei criar. Mas em todas essas peças que você citou eu tive uma colega em cena e fora de cena que foi de enorme ajuda, com sua amizade e seu talento: Maria Lúcia Frota, com quem trabalhei em várias outras pecas e dirigi em televisão.
 
No espetáculo ‘E Agora o que Faço como o Pernil?’, você atua ao lado da atriz Rosamaria Murtinho. Assisti esse espetáculo à época, vocês ficaram pouco tempo em cartaz. Hoje é mais difícil fazer teatro?
Você esta enganado. Cumprimos longa temporada no teatro Maison de France no Rio e depois viajamos pelo Brasil, do Rio Grande do Sul até o Maranhão. Em São Paulo fizemos uma temporada de só dois meses. Mas, certamente, hoje é quase impossível fazer teatro de texto no Brasil. Como você mesmo falou em sua entrevista the attention span está cada vez menor e as pessoas estão ficando afásicas. Fora a falta de espaço para a divulgação, a meia-entrada e as burocracias para se conseguir patrocínio.
 
É difícil viver de cultura no Brasil?
Com diria Guimaraes Rosa : ... “ é impossível. O que vemos, salvo melhor raciocínio, é apenas milagre”.
 
Como escritor tem 5 livros publicados dentre os quais 3 antologias. Pensa um dia escrever uma biografia?
Uma autobiografia só vale se houver coragem para contar toda a verdade sobre todas as pessoas e eu acho que acabaria poupando algumas. Por esse motivo prefiro que os outros escrevam sobre mim, como já o fizeram Simon Khoury, Gláucio Gil, Pedro Nava e Sérgio Britto.
 
Como cantor foi campeão de vendas como o Long Play "Claudio Cavalcanti" em 1971. Como foi isso? Por que não investiu para valer na carreira de cantor?
Gravei esse LP no meio das gravações de Irmãos Coragem. Não havia tempo para mais nada. E depois a vida me levou por outros caminhos. Mas tenho que deixar registrado o fato de ter como produtor de meu disco o grande Durval Ferreira e como arranjador, Luizinho Eca, um gênio, mas que me desafiou não dando nenhum apoio melódico nas gravações. Grande aventura, o máximo!
 
Você se considera ou se considerou um galã?
Sempre me considerei um ator, para quem davam papeis de gala. E não houve um único gala que eu não tentasse humanizar de alguma forma.
 
Acha que, mesmo com o seu currículo recheado de trabalhos importantes, é substimado pelo mercado de trabalho?
Não. Por exemplo desde 2000, quando fui eleito para meu primeiro mandato como vereador, tive que recusar inúmeros trabalhos por serem incompatíveis com as atividades parlamentares. E essas recusas sempre me custaram muito. Consegui ao menos continuar o trabalho no teatro que, por ser concentrado nos finais de semana , era conciliável.
 
Em 1994 você trabalha ao lado de Xuxa em ‘Xuxa Especial de Natal – Crer para Ver’, no qual interpreta o Palhaço chorão. Como foi trabalhar com ela?
Foi uma gravação e no máximo duas horas nas quais Xuxa e eu trocamos no máximo dez palavras. Mas ela é linda e simpaticíssima.
 
Gostaria que falasse do seu trabalho no filme ‘Como nos Livrar do Saco’.
Era um filme de diretor estreante e Fernanda Montenegro sempre me aconselhou a investir nos estreantes. Para você ter uma ideia, foi filmado no Piauí.
 
‘Tiradentes, o Filme’ é considerado um dos grandes filmes da nossa história. O que tem a falar sobre ele?
Quando o Oswaldo Caldeira me chamou, aceitei por admirar seus trabalhos anteriores e durante as filmagens já pude perceber a dimensão que viria a ter.
 
O cinema é o campo mais difícil de permanecer? O que é preciso fazer para ter tantos trabalhos e convites para atuar lá?
Volto a responder como antes. Não sei. As coisas acontecem se você estiver aberto para elas.
 
Você costuma “colaborar” com jovens cineastas que lhe convidam para atuar em curtas-metragens
Até hoje só me chamaram para fazer um curta: A Agressão. Aceitei no ato.
 
O que acha desse formato?
O curta-metragem esta para o longa-metragem assim como o conto esta para o romance, ou seja, o autor tem que ter o talento da síntese. Há curtas geniais.
 
Concomitantemente com suas atividades artísticas, em outubro de 2000 foi eleito vereador da cidade do Rio de Janeiro, pelo então PFL, atual DEM, com a plataforma "Por uma política de respeito aos animais". Por que decidiu ingressar na carreira politica?
Exatamente pelo respeito que tenho aos direito dos animais e pela inexistência, na época, de politicas publicas e legislação que os defendessem. Tenho orgulho das trinta leis que criei e que estão em vigor e sei que nos - minha mulher, Maria Lucia Frota, como a titular da pasta da primeira secretaria de estado de defesa dos animais do mundo e eu, como legislador - fizemos a grande diferença. Abrimos um caminho provando que e possível ganhar eleições sem dinheiro ou manobras, quando se tem a coragem para levantar uma bandeira que ate então era considerada ridícula. Nas eleições para deputado estadual obtive quarenta mil votos com uma campanha na qual dispendi R$ 5.000,00. Isso é um exemplo de voto realmente democrático.
 
Para finalizar, gostaria que contasse quais são as suas perspectivas para o futuro.
Continuar com a cabeça aberta e a coragem para enfrentar novos desafios, sejam eles nas artes ou na politica.