Ator, diretor de TV, produtor
teatral, escritor, tradutor, cantor, dublador, radialista e político. Falta
mencionar mais alguma coisa?
(Só uma
correção: em televisão é o cortador que é denominado, “diretor de TV”. Quem
dirige os atores e as cenas é apenas “diretor”. então o melhor seria dizer:
ator, diretor de teatro e de televisão, etc.) Só faltou mencionar “letrista”.
Tenho letras gravadas por Martinho da Vila (Diz que Tamos) e Ângela Maria
(gosto do passado). Aliás, adoro escrever letras para musicas. Tenho umas 20 na
gaveta.
A que se deve tantas funções na sua
trajetória profissional?
Às oportunidades
que foram surgindo e à minha imensa vontade de explorar campos novos, arriscar.
Como foi o inicio da sua carreira no
Teatro Brasileiro de Comédias (TBC)? Foi ali que você conheceu e atuou ao lado
de Nathália Timberg, Sérgio Britto e Fernanda Montenegro?
Eu tive
muita sorte. Quando comecei a ensaiar minha peca de estreia, “Nossa Vida com
Papai”, o espetáculo que estava em cartaz no TBC (Teatro Brasileiro de Comédia)
era “A Casa da Chá do Luar de Agosto” . Dessa forma eu tive a oportunidade de
conviver com Ítalo Rossi, Milton Moraes, Maria Helena Dias , Fernando Torres,
Fabio Sabag, além de Nathalia, Sergio , Fernanda e Fregolente , que ensaiavam
comigo. Os ensaios começaram em setembro e estreamos em dezembro. E já em
dezembro estreei em televisão no “Vesperal Trol”, dirigido pelo Sabag e no
“Grande Teatro Tupi” dirigido por Fernando Torres, Flávio Rangel e Sérgio
Britto . Foi assim que em dois meses eu conheci praticamente todos os atores do
Rio de Janeiro.
No seu currículo são 41 peças, 39
novelas e 35 filmes. É possível destacar os maiores trabalhos?
Acho que
são mais.
Quanto
aos destaques:
Novelas: Véu de Noiva, Irmãos Coragem, Água Viva, Roque
Santeiro e A Viagem. Fora as minhas prediletas: O Feijao e O Sonho e Maria Maria.
Teatro: O Bem Amado (de Neil Simon),
Era Uma vez nos Anos 50, Disque M para Matar, Obrigado pelo Amor de Vocês e
Freud e o Visitante.
Cinema: Contos Eróticos (Joaquim
Pedro de Andrade), A Cama ao Alcance de Todos (Daniel Filho), e os grandes
sucessos populares: Memórias de um Gigolô e Ascensão e Queda de um Paquera.
Há um claro equilíbrio de
trabalhos nas três áreas – teatro, televisão e cinema. Isso foi proposital ou
os convites se encarregaram disso?
Nada foi
proposital na minha vida. As coisas acontecem.
Quais as suas principais recordações da telenovela
‘Irmãos Coragem’?
Eu teria
que ocupar todo o seu espaço para começar a responder a essa pergunta.Sintetizando: foi um fenômeno. 328 capítulos durante os quais lancei meu
primeiro livro, gravei meu primeiro disco e fiz shows em estádios lotados.
Inclusive no Maracanazinho.
‘Pai Herói’ e ‘Dona Xepa’, estão na
galeria de grandes trabalhos realizados?
Dona Xepa foi um trabalho simpático, Pai Herói eu adorei fazer pelo fato de
ser uma coisa inteiramente nova para mim. Eu nunca tinha desmunhecado e foi um
sucesso. Da minha casa eu ouvia as gargalhadas dos vizinhos. Ai percebi: não é
a minha rua que esta rindo comigo. É a cidade. É o país.
Recentemente foi reprisada a telenovela
‘Roque Santeiro’. Como surgiu o convite para atuar nessa produção? Você estava
escalado já na primeira versão, que foi censurada pela Ditadura?
Não, não
estava escalado na primeira versão ate porque não existia o padre albano na
primeira versão. Foi mais um grande papel que caiu no meu colo, escrito por
Aguinaldo Silva. De repente, devido à polemica do celibato eu me vi capa de
‘Veja’, enfim, revistas que não abordavam televisão.
Em ‘Roque Santeiro’ você interpreta um
padre comunista. O papel de padre apareceu outras vezes para você atuar. Qual é
a razão disso?
Que eu me
lembre só fiz mais um. O cardeal na minissérie O Padre Cicero.
Outra característica marcante na sua
carreira é a extensiva galeria de papéis de bom moço. Seu tipo físico, timbre
de voz e postura sugerem esse tipo de personagem?
Realmente
não sei. Devem sugerir.
Em Teatro protagonizou ‘Era Uma Vez nos
Anos Cinquenta’ (Troféu Mambembe de melhor ator). Quais as lembranças desse
trabalho?
Todas
maravilhosas e inesquecíveis. Sou amigo do Domingos desde 1959 e sempre
trabalhamos muito sintonizados.
O que os prêmios representam para você?
O que faz com eles?
Para dizer a verdade não ligo muito para
prêmios. Sei que a maioria se deve a marketing. Mas, é claro, guardo todos com
muito carinho. Afinal, são um reconhecimento de trabalho.
‘Disque M para Matar’, ‘Estou
Amando Loucamente’, ‘A Primeira Valsa’, ‘Freud e o Visitante’, são algumas das
peças que você atuou. O que é o teatro para você?
Disque M foi minha primeira direção em
teatro e um trabalho muito ousado . Eu também era o protagonista e tinha
monólogos de vinte e oito minutos. Além disso era uma encenação com efeitos
especiais que adorei criar. Mas em todas essas peças que você citou eu tive uma
colega em cena e fora de cena que foi de enorme ajuda, com sua amizade e seu
talento: Maria Lúcia Frota, com quem trabalhei em várias outras pecas e dirigi
em televisão.
No espetáculo ‘E Agora o que Faço como o
Pernil?’, você atua ao lado da atriz Rosamaria Murtinho. Assisti esse
espetáculo à época, vocês ficaram pouco tempo em cartaz. Hoje é mais difícil
fazer teatro?
Você esta
enganado. Cumprimos longa temporada no teatro Maison de France no Rio e depois
viajamos pelo Brasil, do Rio Grande do Sul até o Maranhão. Em São Paulo fizemos
uma temporada de só dois meses. Mas, certamente, hoje é quase impossível fazer teatro
de texto no Brasil. Como você mesmo falou em sua entrevista the attention span está cada vez menor e
as pessoas estão ficando afásicas. Fora a falta de espaço para a divulgação, a
meia-entrada e as burocracias para se conseguir patrocínio.
É difícil viver de cultura no Brasil?
Com diria
Guimaraes Rosa : ... “ é impossível. O que vemos, salvo melhor raciocínio, é
apenas milagre”.
Como escritor tem 5 livros publicados
dentre os quais 3 antologias. Pensa um dia escrever uma biografia?
Uma autobiografia
só vale se houver coragem para contar toda a verdade sobre todas as pessoas e
eu acho que acabaria poupando algumas. Por esse motivo prefiro que os outros
escrevam sobre mim, como já o fizeram Simon Khoury, Gláucio Gil, Pedro Nava e
Sérgio Britto.
Como cantor foi campeão de vendas como o
Long Play "Claudio Cavalcanti" em 1971. Como foi isso? Por que não
investiu para valer na carreira de cantor?
Gravei
esse LP no meio das gravações de Irmãos Coragem.
Não havia tempo para mais nada. E depois a vida me levou por outros caminhos. Mas
tenho que deixar registrado o fato de ter como produtor de meu disco o grande
Durval Ferreira e como arranjador, Luizinho Eca, um gênio, mas que me desafiou não
dando nenhum apoio melódico nas gravações. Grande aventura, o máximo!
Você se considera ou se considerou um
galã?
Sempre me considerei um ator, para quem davam papeis de gala. E não houve um único
gala que eu não tentasse humanizar de alguma forma.
Acha que, mesmo com o seu currículo
recheado de trabalhos importantes, é substimado pelo mercado de trabalho?
Não. Por exemplo desde 2000, quando fui eleito para meu primeiro mandato como
vereador, tive que recusar inúmeros trabalhos por serem incompatíveis com as
atividades parlamentares. E essas recusas sempre me custaram muito. Consegui ao
menos continuar o trabalho no teatro que, por ser concentrado nos finais de
semana , era conciliável.
Em 1994 você trabalha ao lado de Xuxa em
‘Xuxa Especial de Natal – Crer para Ver’, no qual interpreta o Palhaço chorão.
Como foi trabalhar com ela?
Foi uma gravação
e no máximo duas horas nas quais Xuxa e eu trocamos no máximo dez palavras. Mas
ela é linda e simpaticíssima.
Gostaria que falasse do seu trabalho no
filme ‘Como nos Livrar do Saco’.
Era um filme de diretor estreante e Fernanda Montenegro sempre me aconselhou a
investir nos estreantes. Para você ter uma ideia, foi filmado no Piauí.
‘Tiradentes, o Filme’ é considerado um
dos grandes filmes da nossa história. O que tem a falar sobre ele?
Quando o Oswaldo Caldeira me chamou, aceitei por admirar seus trabalhos
anteriores e durante as filmagens já pude perceber a dimensão que viria a ter.
O cinema é o campo mais difícil de permanecer?
O que é preciso fazer para ter tantos trabalhos e convites para atuar lá?
Volto a responder como antes. Não sei. As coisas acontecem se você estiver
aberto para elas.
Você costuma “colaborar” com jovens
cineastas que lhe convidam para atuar em curtas-metragens
Até hoje só me chamaram para fazer um curta: A Agressão. Aceitei no ato.
O que acha desse formato?
O curta-metragem esta para o longa-metragem assim como o conto esta para o
romance, ou seja, o autor tem que ter o talento da síntese. Há curtas geniais.
Concomitantemente com suas atividades
artísticas, em outubro de 2000 foi eleito vereador da cidade do Rio de Janeiro,
pelo então PFL, atual DEM, com a plataforma "Por uma política de respeito
aos animais". Por que decidiu ingressar na carreira politica?
Exatamente pelo respeito que tenho aos direito dos animais e pela inexistência,
na época, de politicas publicas e legislação que os defendessem. Tenho orgulho
das trinta leis que criei e que estão em vigor e sei que nos - minha mulher, Maria
Lucia Frota, como a titular da pasta da primeira secretaria de estado de defesa
dos animais do mundo e eu, como legislador - fizemos a grande diferença. Abrimos
um caminho provando que e possível ganhar eleições sem dinheiro ou manobras,
quando se tem a coragem para levantar uma bandeira que ate então era
considerada ridícula. Nas eleições para deputado estadual obtive quarenta mil
votos com uma campanha na qual dispendi R$ 5.000,00. Isso é um exemplo de voto
realmente democrático.
Para finalizar, gostaria que contasse
quais são as suas perspectivas para o futuro.
Continuar com a cabeça aberta e a coragem para enfrentar novos desafios, sejam
eles nas artes ou na politica.