Esse texto tem uma
curiosidade a respeito de um pensamento de R.F.Lucchetti, uma autêntica
premonição.
Lembro-me do
primeiro conto que eu escrevi. Intitulava-se “O Corcunda”, uma mescla de “A
Bela e a Fera” a qual foi contada pela minha professora do primário, D.Tomazia
Bruni e “O Anão Amarelo”, um livrinho que pertencia à minha irmã Célia, e que
fazia parte da famosa Biblioteca Infantil da Companhia Melhoramentos com aquela
clássica e inesquecível imagem da avozinha cercada pelos netinhos. Essa foi uma
coleção muito popular nos anos 30 e 40.
A ideia desse
conto não nasceu propriamente das duas histórias citadas. Perto de minha casa
onde morava na Lapa, havia um anãozinho corcunda. Todos os garotos da
vizinhança tinham medo dele e corriam sempre quando ele aparecia, mas eu ficava
olhando-o num misto de curiosidade e piedade. Uma vez ele me dirigiu a palavra,
perguntando-me porque eu não fugia dele como os demais meninos? Por quê haveria
fugir? Respondi-lhe. Desde então ele passou a me cumprimentar com um sorriso no
seu semblante triste. Nesse meu conto eu quis demonstrar que as pessoas nunca
devem ser julgadas pela sua aparência física.
Mandei o
contato para “O Tico-Tico” que era a mais tradicional revista infantil da
época. Não se passou muito tempo e ele me foi devolvido com uma atenciosa carta
escrita de próprio punho e assinada pelo Galvão de Queiroz. Primeiro ele
comentou que eu devia ter me inspirado em alguma história, depois aconselhou-me
de que antes de começar a escrever eu devia ler muito, principalmente os bons
autores e estudar sintaxe.
A emoção de receber a carta foi muito maior do que seu o meu
conto houvesse sido publicado. Eu conhecia o Galvão de Queiroz dos contos que
ele escrevia para “O Tico-Tico”
e dos livrinhos infantis como “Pedrinho, o Pequeno Corsário”. Até hoje eu
guardo essa carta com muito carinho.