Ator. Em cinema atuou em: "Linha de Passe", "O Ano em Que
meus Pais Saíram de Férias", "Não por Acaso" e "Entre Vales
e Montanhas". Em TV, atuou em "A Justiceira", "Carga
Pesada", "A Grande Família", "João Miguel",
"Guerra e Paz", "Malhação" e "Força Tarefa".
O que
te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Invariavelmente o talento de quem faz o convite. Há uma geração
de realizadores muito profissional e que dentro do formato do curta
tem trabalhado a síntese dos elementos, articulados com ótima
produção. São células de preparação e foco. Percebo que as equipes estão cada
vez mais entrosadas. E quando as condições de trabalho são claras, os
resultados aparecem e é bom fazer parte disso.
Por que os curtas não
têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Talvez não tenham o espaço pela quantidade e variedade de
linguagens dos filmes produzidos. Não há uma padronização reconhecível,
graças à Deus. O curta é o espaço da experimentação por excelência.
Experimentação com rigor de narrativa, linear ou não. Já
a grande mídia é institucionalizada. São amantes que falam línguas
diferentes. Mas os canais digitais estão ai. Estão até coadjuvando
a queda de ditaduras. Vivemos tempos de revolução em relação ao
tempo, formato e local de exibição do áudio visual. Como diz o poema
épico dos indianos: "Há muitas auroras que não brilharam ainda".
Na sua opinião, como
deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
A única forma é como vocês dizem: "botar o filme em baixo
do braço", ou botar os filmes no HD. Juntar e articular esforços para os
canais que já existem e pensar novas maneiras, principalmente a comunicação
digital. A outra questão é: se quer falar com mais gente use a subjetividade
sim, mas não isole sua obra para um gueto ou só para si. Numa época de
saturação de narrativas, deve-se fazer uma obra não para agradar o público, mas
tente conversar com ele. Nem que seja para provocá-lo.
É possível ser um
cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para
fazer um longa...
Não sou realizador da área.
Produzo meus trabalhos no teatro. Se é possível só fazer curtas? Acho que sim.
Conheço gente que faz isso apaixonadamente. Quando ao longa-metragem, os custos
são altos e é uma questão de oportunidade. O mercado brasileiro é "chapa
branca". Depende de dinheiro do Estado. Não há uma dinâmica,
principalmente em relação à distribuição, que permita um trabalho continuado de
um criador. São poucos os que conseguem, infelizmente.
O curta-metragem é
marginalizado entre os próprios cineastas?
Meu convívio com "a classe" é pontual e se reduz,
basicamente, ao momento do trabalho. Não tenho como responder. Mas se isso ocorre,
é dai? Quem faz curtas é que deve se valorizar. A melhor maneira disso
acontecer é problematizar a própria atividade e seguir em frente. Estrela, só
no céu.
Pensa em dirigir um
curta futuramente?
Tenho um projeto de trabalhar textos de teatro do século 19 num
média metragem. Sei que o termo "teatral" é empregado nos sets de
filmagem como algo pejorativo. Pouca gente de cinema lê teatro. Na verdade,
pouca gente lê. Disso resulta que o conceito de "real" ou
"realismo" no cinema brasileiro acaba ficando pobre e
ingênuo. Geralmente resulta em diálogos inverossímeis, cujo dramatismo ainda
depende muito do documentário. Isso é falta de um maior contato com outras
fontes de narrativa: a literatura e o teatro. O excesso de lentes e luzes, por
vezes, deixa o pessoal do cinema no escuro.