Ator.
Qual é a sua formação como ator?
Comecei a fazer teatro na escola, muito novo. Minha mãe e minha avó faziam meu
figurino em peças da aula de História, no colégio Stella Maris. Aos onze anos
eu entrei para o Tablado, onde mantenho amigos até hoje. Aos dezessete, morei
por um ano no interior da Inglaterra, onde estudei teatro numa High School. De
volta ao Rio, estudei Interpretação na UNE RIO e Cinema na Estácio de Sá. Porém
não me formei em nenhuma das duas faculdades pois meu trabalho de ator já
tomava a frente, exigindo ser prioridade nas minhas escolhas.
Quais as referências que possui?
Minha grande paixão na adolescência foi o cinema, de todos os gêneros. Via
todos os filmes em cartaz, sem preconceito. Assinava a revista Set e saía de um
filme querendo ser elegante como o Daniel Day-Lewis. Mas no dia seguinte ia ver
um filme com a Woopy Goldberg e queria ser espalhafatoso como ela. No teatro e
nos grupos que participei na adolescência, fui apurando esse olhar. Minhas
referencias são muitas vezes ideias de ícones que eu nem conheço tanto. Por
isso, eles me inspiram com uma certa dosagem de imaginação. O Kasuo Ono é um
exemplo disso. Nunca vi uma peça dele mas penso nele quase todos os dias. Seu
jeitinho sagrado, sentado na cadeira, meio lânguido. Com o Rubens Corrêa também é assim.
Em 1998 você atuou no
elenco principal da série de TV ‘A Turma do Pererê’, de Ziraldo, a série foi
exibida entre 1999 e 2001 na TVE Brasil, sendo ainda é exibido na TVE Brasil,
na TV Cultura e em outras TVs públicas. Como foi a experiência?
Foi muito importante, foi a primeira vez que experimentei ficar um mês
fora de casa, filmando por esse Brasil enorme! Mantenho amigos até hoje deste
projeto!
Aos 17 anos você foi
para a Inglaterra, onde estudou Interpretação, Dança e Literatura Inglesa na
Hanley Castle School. Comente sobre essa passagem por lá? Quais as motivações
te levaram a ir para lá?
Fui fugido de casa, fugindo da relação familiar, porque eu era filho rebelde e
meus irmãos eram mais rebeldes do que eu. E fui buscando novas experiências.
Acreditei no enriquecimento cultural e ideológico de uma experiência deste
tamanho. Eu tinha dezessete anos e nunca tinha saído do Brasil. Saí pela
primeira vez para morar um ano no interior da Inglaterra. Me transformou muito.
Fui pra longe pra ver de perto.
Você também cursou
Cinema na Universidade Estácio de Sá, especializando-se em roteiro e
interpretação na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Acredita que não basta
ter vocação, é preciso buscar a técnica para se formar um grande profissional
no nosso audiovisual?
É muito importante não parar de estudar nunca pois os obstáculos vão
sempre surgir e nessa profissão, saber nunca é demais. Senão viramos mero
instrumento do acaso e ficamos muito limitados. A técnica merecia outro nome
pois ela é o caminho pra muitas liberdades.
Como ator, você atua nos espetáculos "Capitães da
Areia", "Lição de Anatomia", "Desesperados",
"Entre Quatro Paredes", "O Lobo da Estepe", e "Jornada
de um Poema", entre outros espetáculos. O que é o teatro para você?
Amigos da tevê,
dizem que não fazem teatro pois, mesmo admirando, não conseguem repetir a mesma
história toda noite e dizer o mesmo texto durante meses. Bem, o teatro vem
passando por enormes transformações! Acho revolucionário falar um texto
diferente nos estúdios, sou apaixonado por esse ofício, mas me sinto muito
revolucionário também quando faço a peça "Talvez” em Portugal, por
exemplo. Uma peça solo, onde escrevi o texto e dou meu depoimento pessoal pro
Mundo e mexo no texto de acordo com os acontecimentos atuais à apresentação. É
um risco muito grande. Busco um teatro mais ligado ao acontecimento que à
repetição.
Como foi trabalhar com um dos
seus ídolos, Marco Nanini, em ‘Pterodátilos’?
Foi muito importante em muitos aspectos. Meu
personagem nessa peça era muito difícil. Enquanto os outros personagens tinham
uma energia trabalhada pra fora, o meu construía por dentro, o que dava
bastante trabalho! Foi uma época de muita aprendizagem e tenho muito orgulho
dessa peça.
Você é um
dos atores mais acionados para trabalhar em cinema, fez
"Tropa de Elite", de José Padilha, "O Maior Amor do Mundo",
de Cacá Diegues, "Apenas o Fim", "Mateus o Balconista",
"Não se Pode Viver sem Amor", de Jorge Duran, e "Carioca",
de Júlio Sechin, “O Palhaço”, de Selton Mello, “Qualquer Gato Viralata Tem uma
Vida Sexual Mais Saudável que a Nossa”, de Tomás Portella, entre outras. A que
se deve isso?
Não sou tão
acionado assim! Mas isso se deve à minha paixão por filmes, desde criança. Meu
avô era um cinéfilo incansável. Tinha uma câmera super 8 e projetava seus
filmes caseiros no muro da vila onde morava, no Meyer. Revelava seus filmes no
quarto de empregada, que estava sempre com a luz vermelha acesa e me causava
grande curiosidade na infância.
Muitos atores da sua geração estão seguindo o caminho da direção,
no cinema. Você já dirige no teatro. Pensa em fazer o mesmo no cinema?
Dirigi o
primeiro curta em 35mm da Estácio de Sá da Barra da Tijuca, quando tinha
dezenove anos. Depois dirigi o curta " Imagem", com Mateus Solano,
produzido pela Cavideo. Esses filmes estão no YouTube. Penso em me expressar de
maneiras diferentes, mas não defino se virarei isso ou aquilo no próximo ano, não
tenho essa clareza de ideia. Atuar é meu desafio secreto, ainda quero fuçar
mais a ciência do ator, os outros veículos são canais para diferentes formas de
expressão.
A crítica te considera um verdadeiro operário das
artes. O que significa isso e o que acha disso?
Quem disse
isso foi uma repórter que foi me entrevistar num teatro do Rio, onde eu estava
fazendo o solo Talvez, em Botafogo. Umas hora antes da peça ela me viu lá
sozinho, arrumando cenário, lavando uns copos e escreveu isso.
Você trabalhou em ‘O Palhaço’, dirigido e estrelado por Selton
Mello, e como o divertido Wilson, confidente e melhor amigo do Pedrão, também
vivido por Selton, na série A Mulher Invisível, da TV Globo. O que tem a falar
de Selton, ele é uma referência para você?
Ele também é minha referencia! E um grande talento! Ele passeia bem pelo
popular e o erudito e isso é raro no Brasil. O filme O Palhaço foi bem recebido
por todas as classes sociais. Grande ator e grande artista.
‘Talvez’, o monólogo escrito e
estrelado por você está nos seus planos para ir ao cinema. Sua intenção é
justamente formar uma nova parceria com o Selton Mello e lavar o texto para o
cinema?
Como ainda
estou escrevendo o roteiro, fica difícil saber quem serão os parceiros. mas
posso dizer que. Selton é uma cara que eu vou querer trabalhar pra sempre!
Apesar da assiduidade na tela
grande, é no teatro que você se sente em casa?
Não tenho
isso não. A ciência do ator e a aventura humana me interessam. Talvez no teatro
eu tenha atingido lugares mais secretos da alma e isso leva a pequenos êxtases.
Mas acho possível essa opinião mudar de acordo com as experiências.
Você já fez uma série de
trabalhos na televisão, mas disse que não tem o aparelho em casa. Qual é o
motivo?
Agora tenho!
Com o inicio da assiduidade de convites para atuar em tevê, fui imediatamente
levado a uma curiosidade sobre como se atuava para novela, que é diferente do
realismo e do naturalismo, tem sua especificidade. Tenho tevê há menos de um
ano. Já chorei vendo fantástico e adoro o canal Brasil.
Sua carreira é bem equilibrada,
você atuou no teatro, na televisão e no cinema (quase que de maneira igual, em
quantidade). Isso é proposital para não ficar marcado por um gênero?
Não. Na
internet aparecem as principais pecas. Se somarmos esse número às peças
amadoras da minha juventude, veremos que foi no teatro onde eu mais estive.
Para finalizar, gostaria de
saber o que faria recusar um trabalho.
Desinteresse
pela aventura de estar nele.