Ator, cineasta,
produtor e roteirista. Allan é um expoente do audiovisual nacional.
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Na verdade, desde 2011 já tinha ideia de rodar um longa
metragem, mas para isso não poderia me arriscar tanto. Por isso resolvi colocar
em prática minhas ideias e loucuras em histórias pequenas para entender um
pouco desse universo, para ai sim me arriscar no longa que em breve saíra da
gaveta. O meu curta ‘Ópio’ com Marcello Gonçalves, Lino Camilo, Day Porto e o
Alexandre Contini, que assina o roteiro comigo, está rodando festivais e já
ganhamos um prêmio no festival de São Simão.
Conte sobre a sua experiência em trabalhar em produções em
curta-metragem.
Tivemos boas experiências. Falo tivemos, pois tenho uma grande
parceira nessa história, que é a minha sócia Fernanda Etzberger. Juntos abrimos
a Ikebana Filmes e já produzimos dois curtas, o Ópio e estamos finalizando o
516 com a Gisele Fróes, Igor Cosso e Nivea Stelmann no elenco. Eu sinceramente,
acho que não estaria indo para o meu terceiro projeto se não fosse ela. Nós
temos uma parceria muito respeitosa, nos ouvimos bastante e isso já é muito
importante para o trabalho acontecer. Outra coisa que ajudou muito é que somos
bem comunicativos, então com esse jeito acredito que muitas pessoas acabaram
nos ajudando muito para a realização desses projetos de baixo orçamento. Desde
a nossa parceria atual que são o Estúdio Quanta, a Visom Digital e amigos de
trabalho.
Por
que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em
geral?
Porque os curtas não têm atenção devida no mercado, E o que
sustenta esse mercado é a massa. A mídia em geral quer vender o que é vendável
e curta não é! Ainda assim, essas pessoas que conhecem esse mercado tratam o
curta metragem como filme experimental, ainda! Gostaria de mudar essa
concepção. Se não existir nenhum tipo de incentivo para isso, ninguém vai
saber. Conheço muitas pessoas fora do meio artístico que não sabem o que é um
curta e nem para que serve! E, na verdade, nem têm obrigação de saber, pois não
trabalham com isso. As vezes confundem curtas com documentários. Isso só
é uma questão de incentivo.
Na
sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Eu li uma matéria tempos atrás falando de como as salas de
cinema ganham dinheiro. Eu achei um absurdo como as distribuidoras de filmes
ganham dinheiro com isso. A distribuidora do filme chega a ganhar mais de 80%
de bilheteria. E como as empresas de cinema ganham dinheiro? Com guloseimas.
Por isso o preço da pipoca é tão cara. Eu faço essa analogia igual ao posto de
gasolina. Onde os donos de postos ganham com isso? Nas lojas de conveniência,
pois os impostos de gasolinas são caríssimos. Aonde quero chegar? Acho que
deveria ter alguma forma de incentivo cultural para seleção de curtas antes da
exibição de longas ou até mesmo reservar uma data de casa mês para apresentação
desses filmes nas salas de cinema. Não existe a cota de filme nacional nas
salas de cinema? E porque não poderia existir uma cota para curtas? Isso
poderia partir até mesmo dos próprios cinemas para estimular público (massa)
para conhecer esse mercado. Mas isso é uma questão de incentivo a longo prazo.
O curta-metragem para um profissional (seja ele da
atuação, direção ou produção) é o grande campo de liberdade para
experimentação?
Sim. No filme curto a primeira coisa a se fazer é contar uma boa
história com um tema relevante e em poucos minutos e isso já é muito complicado.
Depois disso, antes das filmagens, acho que entra o segundo desafio: o diretor
desenvolver uma concepção, uma linguagem a seguir. É esse período que me
agrada. Nele você pode transformar o seu filme no que você quiser. Logo após
isso, vem o trabalho com os atores. Por eu ser ator também, gosto do processo
de laboratório com eles, ou seja, sou um diretor-ator de processo e
laboratório. Depois de tudo isso, no dia da filmagem, acredito que o diretor já
fez grande parte do que tinha que fazer. Ele, naquele momento vai e brincar e
viver, pela telinha, a atuação, o tempo de cena se é compatível ao que ele
espera. No campo da área de produção a minha sócia, Fernanda Etzberger, é o meu
lado racional do trabalho, Já passamos juntos quedas de locação um dia antes da
filmagem, e tendo uma produtora de confiança ao seu lado, faz muita diferença.
O curta-metragem é um trampolim para fazer um longa?
Sem sombra de dúvida. A melhor coisa a se fazer antes de um
longa são os curtas. Falo isso por experiência própria. Nele o diretor pode
arriscar mais o seu trabalho e experimentar, desenvolver sua linguagem,
conhecer a equipe com quem pretende trabalhar nos futuros projetos, essas
pessoas acabam virando uma família. Com minha experiência inicial nesses dois
curtas, digo que consegui uma equipe para o meu próximo projeto. Eles são minha
base, quem tem uma equipe tem tudo. E outra, conseguir guiar uma equipe no set
de filmagem é complicado. Sempre estamos correndo o risco de algo grave
acontecer, como extrapolar orçamento, cair locação, aparelhos que param de
funcionar...Se em um curta é complicado, imagina em um longa. Acredito que tive
muita sorte nesse ponto, consegui juntar uma família de profissionais que
acreditam no meu trabalho e se dão muito bem uns com os outros.
Qual
é a receita para vencer no audiovisual brasileiro?
Receita ainda não sei, se souber me avisa (rsrs), mas o que
venho pesquisando sobre o cinema brasileiro é que nesse ponto acho que faltam
diretores com suas próprias assinaturas. Existem, mas são poucos como Claudio
Assis que admiro seu trabalho. Gosto muito de Tarantino, Guy Ritchie,
Kubrick, Bergman. Neles eu vejo, cada um na sua época, uma concepção visual.
Quando você espera um novo filme do Tarantino que você imagina? É nisso que
venho pensando bastante ultimamente.
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Bom, eu já dirigi dois curtas. Tenho um novo projeto de curta na
gaveta que penso em realizá-lo em breve que retrata o universo da eutanásia.
Mas esse é um projeto bem delicado, dependo de algumas circunstâncias para
produzi-lo. Um tema que me interesso bastante. Mas, na verdade, nesse momento
estou escrevendo um roteiro para o meu primeiro longa metragem. Nesse projeto
estarei como codiretor desenvolvendo a concepção com o diretor Cassiano
Carneiro. Entrarei como ator junto com o André Gonçalves. Uma coisa que poderei
dizer é que serão apenas somente dois personagens na história. Estou
escrevendo o roteiro junto com o Gustavo Resende e Armênio dias Filho para o
meu primeiro longa.